Biskka havia se inscrito para uma expedição guiada pela Dark Cave. Aparentemente, não era uma aventura para treinadores amadores, dado o nível de perigoso que esse evento poderia oferecer, uma vez que a proposta era descer até os confins das cavernas e isso poderia significar encontro com Pokemon selvagens poderosos e, é claro, sempre existia a possibilidade de encontrar alguma espécie inédita. O local do encontro era logo à frente do Centro Pokemon nas primeiras horas da manhã, o que não fazia muito o estilo da mulher - odiava acordar cedo. Pois bem, ela não havia sido a primeira a chegar, tampouco seria a última então estava tudo bem, no local do encontro já se encontrava um homem e duas mulheres; o homem era alto, corpulento e barrigudo, mas não dos tipos que eram zoados por sua aparência, não mesmo! Ele tinha braços fortes e musculosos, assim como seu peitoral definido e carregava com facilidade uma mochila que facilmente caberia uma pessoa, mas apesar disso tudo o seu olhar era calmo, de feições gentis. Já uma das mulheres parecia esnobe, estava de braços cruzados e demonstrava clara impaciência, apesar da pouca idade. Seus cabelos eram verdes e curtos, sua pele era clara como a neve, vestia-se como uma típica treinadora viajante, utilizando peças que mais apelavam para a praticidade do que para a moda e isto incluía calças jeans, camisa regata e tênis, além da típica mochila que era praxe todo treinador possuir. Por último, tinha lá uma outra jovem que parecia ser mais frágil do que a primeira, de aparência simples ela tinha cabelos loiros que iam até metade das costas, vestia um vestido vermelho até pouco acima dos joelhos e um tênis branco, em sua cabeça ela possuía um lindo boné esportivo com uma Pokeball estampada na frente.

— Vocês acordaram com o Sol, hein... — Dizia Biskka enquanto bocejava. Ela não conhecia ninguém ali, mas agia como se tal, era o jeito dela. Atraiu o olhar daquela mulher mais rabugenta que apenas bufou e não lhe deu atenção, já o grandalhão gargalhou um pouco. Mas fora cumprimentada mesmo pela jovem de vestido que se aproximou estendendo sua mão.
— Oh, sim, eu cheguei bem cedo. Eu me chamo Nadine, é um prazer. — Biskka sorriu e retribuiu o aperto de mão, apresentou-se também. Enturmou-se ali mesmo, conversando com todos com a exceção da outra que não parecia querer muito papo e isso foi-lhe respeitado. Passados alguns minutos a mais, o tão esperado guia chegou anunciando que a expedição seria somente eles cinco, o outro treinador teve um pequeno imprevisto que o próprio não passou ademais informações ao Petrick, o Guia. Pois bem, a partida foi dada.

A expedição pela Dark Cave Para Treinadores Avançados, ou "DCTA" como Petrick, o animado guia, chamava, não se tratava somente de explorar a caverna, mas também de entender os seus mistérios, sentir a energia mística que o local transmitia e ver alguns Pokemon raros, principalmente os do tipo pedra e terrestre e essa última parte era a que mais interessava para a jovem treinadora Biskka. Já não sabia quantas horas estavam andando pelos túneis do local, já haviam enfrentado um furioso Onix que Beldor, o treinador musculoso, facilmente derrotou ao ordenar que seu Conkeldurr utilizasse suas poderosas vigas de pedra para afastar rapidamente o grandalhão de pedra. A mais nova do grupo se interessava pelas pinturas e fósseis que achavam pelas paredes e teto, já a outra rabugenta não parecia se interessar por nada daquilo, sempre caminhando com as mãos atrás da cabeça como se não quisesse que ela caísse do pescoço, além do semblante de tédio constante. — Qual é a dela? — Se perguntava Biskka ao olhá-la de canto de olho. De fato era interessante ter uma visita guiada pelo lugar, uma vez que quando a jovem atravessou, seguiu somente a trilha comum que todo e qualquer pessoa faz para chegar ao outro lado, mas aqui era diferente, Petrick conhecia aquilo tudo como se fosse parte de si, entravam em galerias cravejadas de pedras preciosas, coloridas, locais que amplos que dava a impressão que o teto era o céu abastado de estrelas. Muito se engana quem pensa que a Dark Cave é apenas um lugar terroso, sem belezas naturais.

— Aqui dentro pode-se dizer que... Existe um outro mundo, sabe? É algo místico, existe tanta coisa para ver aqui e tantos mistérios para desvendar que poderíamos viver aqui os restos das nossas vidas e ainda não conseguiríamos ver tudo. — A voz de Petrick ecoava pelas paredes cravejadas de pedras coloridas que brilhavam vez ou outra, parecendo se revezaram para isso. Petrick, o guia da expedição era um rapaz um pouco mais velha que Biskka, era loiro de magro, ainda que forte para a idade. Vestia um macacão cinza de corpo todo como se fosse um minerador.
— Sério? Você viveria aqui a sua vida inteira? — Perguntou Biskka em tom de ironia. Para ela era difícil imaginar viver num lugar só por tanto tempo, principalmente sendo uma caverna.
— HAHAH, eu sou um homem grande, preciso de mais espaço do que uma caverna para viver. — Dizia a grave voz do grandalhão, mas gentil Beldor. E assim iniciou-se uma discussão totalmente aleatória sobre lugares bons para se viver enquanto eles faziam uma pausa. Todos trocavam cantis de água e bebidas, petiscos e sanduiches que haviam trazida. Aquela era uma merecida pausa.
— Err, eu acho que o meu cantil caiu pelo caminho, será que... você poderia me dar um pouco de sua bebida? — A mais nova do grupo chegou até Biskka, sua voz era gentil e calma, assim como parecia ser sua personalidade.
— Uh? Isso? Ah, é claro, pode tomar sim. — Ela retribuiu a gentileza da menina com um sorriso de irmã mais velha, logo passando-lhe um cantil de metal. Talvez aquela não tenha sido a melhor decisão que Ellen havia tomado naquele dia... O líquido que Biskka tomara tinha uma cor âmbar e um forte cheiro etílico que só foi percebido pela menina após um grande gole que a fez cuspir tudo para frente como se sua boca estivesse pegando fogo.
— O-O-O-O QUÊ É ISSO?? — Gritava a menina com os olhos esbulhados, tentando obter alguma resposta da treinadora.
— É conhaque de gengibre. — Respondeu simplesmente. — Eu não sou sua mãe, você só pediu pra beber, não perguntou o que era... — Ela tomou de volta o cantil de metal para logo após virar mais um gole da bebida, dando de ombros para a repercussão que talvez aquilo pudesse causar. Mas graças a Petrick e Beldor, Ellen foi assistida com um gelado refresco.

O problema vinha agora... O clima calmo de confraternização deu espaço para uma atmosfera de tensão e alerta quando fortes passadas puderam ser sentidas no tremor do solo. Biskka e a rabugenta se levantaram, Petrick logo em seguida e Beldor, o gentil, tomara Ellen para trás do seu corpo como um pai protege uma filha. Todos olhavam para o mesmo lugar: um enorme buraco escuro na parede no extremo oposto da galeria onde estavam.
— Tem algo vindo... —
— Sim, ele chegou. — Aquelas haviam sido as primeiras palavras da mulher rabugenta em toda a expedição. Ela parecia esperar por aquilo, sorria de canto de boca enquanto uma gota de suor caia por sua testa. Talvez já imaginasse o que estava por vir, talvez estava lá tentando a sorte de encontrar algo.

Foi então que ele surgiu, um enorme Pokemon com chifres que pareciam ser de metal, posto em quatro patas e olhar frenético. Ela caminhava lenta e pesadamente em direção ao grupo que recusava alguns passos. Era tão corpulento que a sensação que passava era de que poderia esmagar qualquer um ali como se fosse uma barata, apesar de não ser tão alto quanto sugerisse.
—Calma, é um Terrakion, ele vive aqui... Não vai nos fazer mal se nós formos respeitosos com a sua presença. — Dizia Petrick tomando a dianteira do grupo, com cautela e cuidado. Ele tentava se aproximar do poderoso Pokemon que parecia reconhecê-lo, pois, apesar de ainda o olhar de cima com desconfiança, pareceu mais brando com ele.
— Viram? Ele só está deixando claro que estamos em seu território. Heheheh — A risada amarela pós-susto é típico do ser humano. Terrakion também parecia se acostumar com a presença dos humanos ali, nenhum tinha a intenção de fazer mal algum à ele ou a sua casa. Todo mundo, menos alguém...

— Blaziken, use Blaze Kick! — Surpreendendo a todos, um poderoso Blaziken surgia no cenário e sem hesitação ou medo algum, golpeou o corpo de Terrakion mirando suas costelas. O poderoso quadrupede de pedra pendeu-se para o lado, abalado pela surpresa de ser atacado de forma tão covarde e repentina.
— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? — Gritou Petrick.
— Saia do caminho, ele é meu! — A treinadora rabugenta se chamava Elize, provinda da antiga região de Hoenn, tinha a fama de ser poderosa o suficiente para peitar até mesmo Pokemon lendários, mas sua personalidade deixava muito a desejar. Terrakion reagiu ao seu adversário erguendo as duas patas dianteiras para logo em seguida pisar no chão com toda a sua força, fazendo surgir estacas de pedra pelo solo que obrigavam Blaziken a pular várias vezes para trás a fim de prevenir o golpe. Mas Terrakion seguia ser ainda mais rápido do que o lutador flamejante e isso se provou quando, num salto, ele encurtou a distância entre ele mesmo e o Blaziken, golpeando-o com violência utilizando seus pesados chifres de pedra, fazendo com que seu adversário fosse arremessado contra uma das paredes que fora marcada por rachaduras do impacto.

— Blaziken! — Gritou Elize perplexa. Agora Terrakion partida para cima do grupo como um rinoceronte selvagem corre na savana. Beldor foi rápido e trouxe à tona seu Conkeldurr novamente que, utilizando suas pesadas vigas, conseguiu retardar por ora o ataque do lendário. Biskka também foi ajudar, lançando Lucario para o campo de batalha.
— Já percebeu a pica que a gente se meteu, não foi? Aura Ofensiva e Aura Sphere! — Lucario fora envolto num manto azul celeste de pura energia que emanava do seu corpo enquanto juntava as mãos para concentrar uma esfera também de tonalidade azul; esfera esta que crescia mais do que o normal devido ao grande poder que Aura Ofensiva lhe dava e assim, foi lançada contra Terrakion logo após Conkeldurr pular para trás. Houve uma grande explosão neste momento.

— Em cheio! — Afirmou Hellen, a pequenina ainda atrás de Beldor.
— Não foi o suficiente... — Disse Biskka. O clima era de tensão, todos estavam olhando com atenção para o lugar da explosão onde a fumaça estava se dispersando aos poucos, revelando pouco a pouco o corpo intacto de Terrakion que estava mais furioso do que nunca! O contorno de Terrakion piscou em amarelo e ele bateu o as duas patas dianteiras no chão, criando rachaduras douradas brilhantes que viajavam para o grupo de Biskka que acompanhava tudo de olhos bem abertos, mas para a sorte de todos ali, Elize ainda não havia desistido de lutar! Seu Pokemon havia mudado de forma, estava maior, tinha chamas saindo de suas garras de pássaro e emanava poder. Era Mega Blaziken que rompeu o chão com um poderoso chute fazendo com que o ataque de Terrakion ficasse pelo meio do caminho.

O Mega Blaziken de Elize avançou contra o poderoso lendário de pedra que resistiu bravamente a mais um chute flamejante. E outro, mais um e mais um golpe! Era uma fantástica troca de golpes que ia se tornando unilateral à medida que Terrakion ia pressionando seu adversário, encurralando aos poucos um poderoso Mega Pokemon.
— É, é a nossa chance! Vamos sair daqui! — Petrick indicava a saída, foi obedecido por todos ali, exceto Biskka que olhava a batalha com um calafrio na espinha. — Ei, está me ouvindo?! Vamos logo! — Sua atenção na batalha foi superada pelo imediatismo na fala de Petrick que a puxava pelo braço, mas sem sucesso.
— Se deixarmos ela aqui... Ela... Eles vão morrer. Esse Pokemon é muito poderoso... — A voz de Biskka era trêmula, seu olhar era fixo na batalha Pokemon que acontecia à sua frente. Ela sabia que não tinha muito o que se fazer. O que poderia tentar? Se sacrificar para salvar uma desconhecida? Não, ela não era tão altruísta assim... Apenas resmungou e saiu correndo igual aos seus companheiros. Parecia que toda a Dark Cave tremia pela batalha (Ou Terrakion que fazia tremer?), estalactites se soltavam no teto, assim como rochas e lascas de rochas, menores. A medida que iam se distanciando da terrível batalha, as pedras que caiam logo atrás iam se acumulando e num último olhar para trás, Biskka viu por alguns segundos a cena do Mega Blaziken no chão sendo pisoteado pelas pesadas e imensas patas de Terrakion e no segundo seguinte, toda a entrada da galeria estava soterrada. Nada mais poderia ser feito por Elize e seu Pokemon..