Após ter algumas aventuras não tão agradáveis no Viveiro Xanadu, Amorina retornou para Pallet Town onde teve uma estadia mais prolongada que o esperado. Isso se deu pois ela estava num momento reflexivo sobre as próprias atitudes, além de se questionar se estava pronta para ficar - possivelmente - alguns dias longe de qualquer cidade. O que a deu um pequeno alívio foi descobrir que após a Rota 01 já havia mais uma cidade, então, com sorte, ela ficaria bem.

Nesse meio tempo, a coordenadora ainda acabou por conhecer uma doce treinadora que a entregou um Budew de presente, o que também a obrigou a levar três Pokémon fora das Pokébola. Snom ainda era tão calma quanto uma criatura invernal poderia ser, o que a contrastava com Passimian, que era bem mais enérgico, apesar de tentar imitar ao máximo o inseto por acreditar que são da mesma espécie. Budew, por outro lado, era um espírito livre, sempre saindo na frente da Amorina, que por vezes tinha que acelerar o passo para acompanhá-la. Internamente, ela achava bem surpreendente como um bebê Pokémon podia ser tão ágil.

Após uma boa caminhada pela rota 01, cansada, a magnata se recostou embaixo de uma árvore para recuperar a energia. Ela notava que aquele ambiente estava bem vívido, provavelmente sendo responsabilidade da primavera, que abria belíssimas flores nos arbutos e permitia que as árvores reluzissem um verde vivo que revigorava qualquer um. O vento, apesar de frio, era agradável para quem sentia o sol queimar nos períodos depois do meio-dia.

Neste repouso, Amorina colocou o Berry Pot para fora da bolsa e ficou bem contente em ver que sua produção já havia se concretizado. Ela rapidamente abriu a cúpula de vidro e apanhou as três frutas rosadas, conhecidas como Persim Berry. Era tentador comer aquela fruta, porém mal fazia duas horas da última refeição, então ela preferiu apenas se hidratar e também hidratar seus Pokémon que estavam caminhando. A garota riu quando Snom tocou na água e congelou a língua de Passimian, que desferiu um soco para quebrá-lo, depois começou a lamber como se fosse um picolé. Budew absorveu pouca água, depois se pôs a ficar no sol.
Quando a adolescente foi pegar a estufa portátil, sentiu seu dedo encostar num corpo molenga e enrugado. Quando se virou, deu de cara com um Wurmple selvagem, que se encolheu rapidamente e por alguns centímetros não tinha enfiado a mão nos espinhos traseiros do Pokémon. Após tentar adivinhar porque o selvagem se aproximou, ela notou que a criatura estava indo diretamente até o pote, então decidiu retirar duas folhas do pé de Persim e deixá-las na frente do Pokémon e se levantou para seguir em frente.

A menina apenas avisou seus Pokémon que estava na hora de ir, porém mal deu três passos de volta à trilha e sentiu uma coisa grudar em sua mochila e puxá-la para trás. Wurmple, que estava com uma das folhas mastigadas na frente do corpo, havia disparado um fio de seda para prender o item da menina.

- Sinto muito amiguinho, mas não posso te dar a árvore toda. Aqui, deixe que eu te dê mais algumas folhas - disse a menina, voltando a mexer no Berry Pot.

Porém, dessa vez, Wurmple disparava perigosas agulhas envenenadas na direção da menina, mas Passimian dava um salto nas costas da dona, derrubando-a no chão a tempo de não ser pega pelo movimento. Nessa queda, uma das pokébolas da menina girou e se abriu, liberando a furiosa Drifloon, que balançava as mãos de corda em repúdio ao inseto.

vs

- Ninguém pode dizer que não tentei ser gentil - murmurou pra si mesma. - Drifloon começaremos com Focus Energy, depois use Gust, por favor!

Drifloon inflou o corpo e murchou lentamente, sendo coberto por uma perigosa aura avermelhada que se focou na nuvem em sua cabeça, deixando uma aparência curiosa de que o balão estava queimando de raiva. Wurmple revidava disparando as já conhecidas agulhas envenenadas, que pareciam que iam estourar o corpo da fantasma, porém mal penetravam sua camada.

Movimentando-se com toda a graça pelo ar, apesar da raiva, Drifloon conduzia os ventos à sua vontade, enviando um pulso de vento que empurrou a lagarta contra uma árvore, que pareceu sofrer graves danos, pois se mexia com muita dificuldade. Mesmo assim, ela revidou disparando um fio grudento que pareceu apenas incômodo para a fantasma, mas suportável.

- Finalize-a com mais um Gust! O mais gracioso que tiver

O balão fantasma ouviu as ordens da treinadora como uma provocação, então obviamente ela aproveitou o estado debilitado de seu adversário para obedecê-la. Drifloon mais uma vez começou a girar em torno de si mesma, porém a oscilação do vento na atmosfera parecia mais visível que costumava ser. Puxando até mesmo um pouco da poeira, das folhas e grama, o balão se desvencilhou do mini tornado que criou para que ele abraçasse sua adversária. Wurmple foi puxada por ele, girando alguns metros do chão antes de ser lançada mais uma vez em uma direção qualquer, desmaiando na mesma hora.

Batalha:

Após o combate, Drifloon flutuou alguns centímetros acima de Wurmple e começou a rodar em torno do corpo. Amorina sabia que aquele era um "ritual" para compreender se já era hora de coletar aquela alma ou não. A magnata sentiu arrepios quando o nariz em x do Pokémon começou a reluzir, parecendo que estava aspirando algo no ar. Sem demora, a treinadora recolheu a fantasma.

- Desculpa querida. Pode ser a hora dele, mas não estou pronta para assistir - finalizou, guardando a pokébola em segurança na bolsa.

Quando retornou a caçar os Pokémon que estavam fora da Pokébola, ela encontrou Passimian e Snom num galho alto de árvore, aparentemente temendo a fantasma, assim como Budew, que havia se enterrado no chão e deixado apenas o broto para fora. Pegando todos no colo, ela deu um abraço forte e seguiu em frente, explicando que a personalidade de Drifloon era excêntrica, mas bondosa.

Dormir nunca fora tão desagradável quanto naquela madrugada. Amorina já havia acordado mais de uma vez por conta de pesadelos, o que a permitiu notar que seus Pokémon pareciam sofrer do mesmo efeito: Passimian tremia e fazia movimentos bruscos, Snom batia as presas como se tentasse afastar algo que a atacava e Budew estava ficando numa coloração quase amarelada, como se perdesse a vida.

Quando o dia amanheceu, nada parecia ter melhorado. O sono picotado só fizera todos terem ainda mais cansaço, porém tinham que se mexer para voltar o mais rápido possível até a cidade. Enquanto caminhava, a magnata ativou o Itemfinder, ainda que sem grandes esperanças, porém consegui rastrear algo por perto, já que o aparelho apitava como louco já na primeira oportunidade. Os rastros levaram a menina até uma espécie de ninho no chão, feito de galhos empilhados e com uma pokébola no meio. Ainda que estivesse contente, ela não conseguia esboçar quase nenhuma reação positiva, então apenas agachou para apanhar o item.

Na mesma hora que tocou a esfera, ela sentiu uma dor forte em sua mão: uma criatura que parecia com um cachorro estava mordendo-a com toda a força. Quando os Pokémon fora da pokébola tentaram intervir, a treinadora ainda foi bicada na cabeça por uma criatura voadora. Amorina puxou a mão num só movimento, fazendo com que os dentes do cão fizessem um arranhão que liberava uma pequena quantidade de sangue.

- Mas o que está acontecendo hoje? - reclamou confusa, depois viu que as criaturas pareciam extremamente raivosas. Antes que eles pudessem realizar mais um ataque, a menina ordenou: - Passimian, Snom, vamos lá!

vs

- Passimian use Focus Energy! Snom use Powder Snow!

A gaivota era a mais ágil do grupo, batendo asas por cima do inseto gélido, ela disparou do bico um tiro focalizado de água, que causava algum dano (Water Gun). O primata de Alola agia logo em seguida, batendo o pequeno coco que carregava no chão, ele ganhava uma aura avermelhada pelo corpo. Na sequência, Lillipup deu uma balançada no próprio corpo, como se tirasse poeira, depois recebeu um aumento corporal leve (Work Up). Snom ganhava um gracioso brilho nos espinhos do casulo, depois assoprava um vento gélido em ambos adversários.

- Agora use Rock Smash Passimian! Snom continue com Powder Snow!

Wingull olhava tudo de cima, porém se limitava a disparar mais um cuspe de água focalizado em Snom, que começava a ignorar o dano ínfimo que sofria. Passimian então avançou, ganhando uma aura vinho nos punhos, desferia um soco reluzente na cabeça do cão, que sofria graves danos e começava a rosnar. No retorno, Lillipup avançou num encontrão corpo-a-corpo com o primata, empurrando de volta para a dona. Snom mais uma vez fechava o turno, com o sopro de pedaços congelantes que causavam verdadeiros arrepios em seus alvos.

- Passimian agora prossiga com Vital Throw! Mais um Powder Snow, Snom!

Wingull trocava a estratégia para dar um voo rasante e giratório em direção ao inseto gélido, que por sua vez, se encolhia para manter o casulo de gelo bem exposto, o que parecia amenizar os danos. Lillipup então agiu, dando mais um empurrão contra Passimian, porém sem tirar o foco do primata, que aguardava sua vez de agir. Snom assoprava mais uma brisa que causava calafrios nos adversários, desmaiando o cão e deixando a gaivota com ferimentos graves. Enfim, o foco de Passimian se manifestava num soco preciso na gaivota, que ainda no ar se surpreendeu, porém logo desmaiou.

Batalha:

Após o fim do combate, Amorina pareceu compreender melhor tudo que aconteceu por ali: o ninho no chão provavelmente era para permitir que aquele casal ficasse unido, por mais improvável que pudesse ser. Apesar de normalmente se emocionar com situações como essa, Amorina sentiu um grande vazio no peito, então apenas recolheu o item perdido do ninho e deixou as criaturas desmaiadas.

Minutos depois, ela repousou mais uma vez abaixo de uma árvore: nunca se sentira tão exausta em pouco tempo. Naquela pausa, ela notou que o céu não estava mais tão azul vivo, mas parecia ter uma nuvem mal formada de coloração cinza que cobria parte dele. Além disso, as flores nos arbustos estavam mais escuras, beirando a morte. As árvores num tom levemente amarelado, como se estivesse no início do Outono. A magnata então remexeu a bolsa, vendo mais uma vez seu Berry Pot cheio de frutas. Naquela mini estufa, a árvore parecia extremamente protegida e sua coloração deu um pequeno suspiro de alegria para a coordenadora.

"O que aconteceu desde a madrugada?" ela se perguntou, antes de começar a fazer carinho em todos os Pokémon que a acompanhava.

O brilho laranja opaco do céu denunciava que o dia correra mais rápido que Amorina podia contar. Por algum motivo ela se sentia constantemente indisposta, tendo que andar poucos minutos e descansar por pelo menos uma hora. Acessando o Rotom Phone, ela via apenas algumas notícias pipocarem sobre acontecimentos em Novus City, e, considerando que a garota havia uma missão a ser cumprida, ela já marcou o local como destino assim que chegasse em Solaceon.

Enquanto caminhava rumo à cidade, ela sentia o cansaço surgir mais rápido daquela vez: Passimian, que estava bem ferido, cochilava torto enquanto se agarrava na mochila da dona. Já Budew caminhava no chão e Snom estava bem alerta em cima do ombro esquerdo de Amorina. Por vezes, ela cruzava com alguns treinadores parados ou andando tão lentamente quanto ela, porém todos pareciam torcer o rosto para não ver uns aos outros. Era um alívio para a magnata, pois nem mesmo ela estava disposta a socializar.

No meio daquela monotonia e tédio de floresta com uma estrada de terra batida, Amorina rapidamente foi puxada por um cheiro adocicado. No fundo de sua memória, ela via nascer uma lembrança das feiras animadas de Alola, porém ainda assim não conseguia se animar. Instintivamente, ela seguiu o cheiro até alguns metros floresta à dentro. Os olhos da coordenadora reluziam assim que encontrou sua origem: uma criatura rosa, que mais parecia uma fruta, girava a todo vapor em cima de uma pedra, envolta por um campo florido. A cena era tão destoante de todo o cenário que encontrara desde que acordou que ela simplesmente chegou mais perto, revelando-se para o Pokémon.

A princípio, a Pokémon ficou levemente tonta de tanto girar, o que a fez cair quando tentou fugir. Depois, ela pareceu estar assustada com o clima apático fora daquele campo florido, então retornou e começou a emitir um choro para a menina. Amorina não podia resistir a tanta fofura, assim, pela primeira vez ela abriu um sorriso animado e verdadeiramente caloroso. Bounsweet era uma espécie de Pokémon nativa de Alola, portanto a magnata conhecia de vista. Mas, uma coisa era fato: aquela Bounsweet parecia bem mais fofa que as demais.

vs

Sem nem tempo para reagir, a Pokébola de Drifloon se abria espontaneamente, liberando a balão que parecia bem mais assustadora que de costume. Era como se toda a aura negativa que estava no ambiente tivesse se acoplado no corpo da fantasma. Não era necessários ordens. Drifloon automaticamente girava em torno do próprio eixo, fazendo os ventos soprarem antes de liberar lâminas de ar contra a frutinha, que era lançada para trás (Gust). No momento que Bounsweet se recuperou do tombo, já fora do campo florido, ela recebeu uma coloração mais profunda nas bochechas, quase como se queimasse de raiva, influenciada pela negatividade que se instalou em todo o ambiente. A gramínea então começou a girar o próprio corpo, lançando-se contra a fantasma, porém simplesmente a atravessou, parando atrás da adversária (Rapid Spin).

- Drifloon pare! O que você está fazendo? - comandou a menina, porém já começando a sentir toda aquela animação ser sugada lentamente de seu corpo. - Não faça mais nada!

A princípio, Drifloon pareceu obedecer a dona, pois ficou completamente inerte no ar, mas logo em seguida uma aura avermelhada correu por seu corpo e se focou na nuvem de sua cabeça. Bounsweet então deu pulinhos no ar, criando notas musicais coloridas e translúcidas, que envolviam a fantasma e diminuía seu potencial ofensivo (Play Nice). Drifloon não pareceu gostar da brincadeira.

- Drifloon, por favor! Por favor! - pediu a magnata, começando a caçar no meio do mato a pokébola de sua Pokémon.

As suplicas não pareciam atravessar a energia negativa que fluía pelo balão, que mais uma vez começou a girar em volta do próprio eixo, porém agora as lâminas de vento pareciam bem maiores que as anteriores. As lâminas dançavam num pequeno tornado, porém o mais assustador era o brilho vermelho na cabeça de Drifloon. Era como se uma distorção tivesse aberto no ar, deixando uma luz escapar como um portal para um lugar ruim e vermelho. O balão então se aproximou de Bounsweet, puxando-a para dentro e cortando-a diversas vezes com o pulso de ar, que a fazia desmaiar na mesma hora.

Batalha:

Quando a selvagem caiu imóvel no chão, Drifloon parou o movimento, mas permaneceu com a ponta da cabeça reluzindo vermelho. Quando ela encarou a própria treinadora, viu a expressão de medo em Amorina. O balão então pareceu sentir vergonha, perdendo toda a aura negativa e correndo para a pokébola que estava alguns centímetros abaixo do pé, se recolhendo por conta própria.

A magnata não sabia o que tinha acontecido e se questionava se realmente queria saber. Ela então recolheu a pokébola de Drifloon e guardou com rapidez na bolsa. Seus olhos então correram até Bounsweet: com o desmaio da frutinha, o campo florido já parecia ter murchado levemente e todo o ambiente voltava a ter uma aura pesada. O céu já começava a se pintar numa imensidão escura. Não era hora de deixá-la ali. Amorina então sacou a pokébola e capturou o Pokémon.

Voltando a estrada, ela tentava não pensar em tudo o que aconteceu a alguns minutos atrás naquela batalha. Ela realmente estava assustada por ter perdido completamente o controle de Drifloon. Por um segundo, achou que ela até mesmo a atacaria. "Seja o que for, eu vou descobrir... e vou te salvar" pensou, mais determinada em ir a fundo do que estava acontecendo naquele dia, apertando o passo para chegar até Solaceon, mesmo exausta.