As suspeições de Mew estavam corretas, aquela aura era mesmo de um pokémon lendário, ele não conseguia identifica-lo como sendo um dos seus conhecidos por isso não sabia muito bem o que esperar desta interação. Eu e Ditto estávamos completamente em êxtase com a aparição deste majestoso pokémon, ele flutuava pelos céus sem qualquer dificuldade, o seu corpo vermelho e branco era de uma elegância invulgar, todos os seus movimentos eram efetuados com grande destreza. Porém ele não prestava atenção a nenhum de nós, a sua expressão demonstrava uma evidente preocupação e assim que sentia a presença de Mew começava a comunicar-se telepaticamente com ele.

- Ditto vou precisar de um favor teu! - dizia Mew compreendendo a situação difícil em que o seu compatriota mítico se encontrava - Parece que o teu desejo de te transformares num pokémon lendário se vai realizar, parabéns!

- FINALMENTE!!! - dizia a gosma rosada extremamente empolgado

Ditto observava bem o pokémon que se encontrava á sua frente, o seu corpo moldava-se à aparência lendária e em alguns segundos surgia um cópia praticamente perfeita do pokémon flutuador. Ditto tinha cumprido o seu sonho e pela primeira vez transformava-se num pokémon das lendas. Nem tudo era um mar de rosas e a expressão de preocupação do lendário não passava despercebida a Filii.

- Finalmente tenho a oportunidade de conhecer o famoso Latias! - dizia eu ajoelhando-me perante a divindade - A minha mãe contou-me tudo o que sabe sobre as divindades de Pokégea e pelo que eu me lembro sobre ti é que consegues ler na perfeição as emoções de quem está a tua frente, quero saber se encontras alguma forma de hostilidade para contigo na minha pessoa ou se eu estou no caminho certo para ajudar todos os pokémons! - dizia eu com um ar sério - Podemos seguir viagem quando quiseres, é claro que eu te vou ajudar em tudo o que precises, é um privilégio para mim poder ajudar uma das divindades de Pokégea!

Seguia voando nas costas de um dos meus ídolos, um dos protetores de Pokégea que eu tanto admirava, tanto eu como Ditto estávamos num estado de completo êxtase, a aparição de um pokémon lendário era bastante rápida e pelo que a minha mãe me tinha contado eles apenas aparecem aos mais puros de coração e se este Latias me tinha escolhido a mim era porque eu estava a fazer um bom trabalho. A viagem demorava algum tempo, tanto Latias como Ditto tinham de atravessar a cada vez mais densa floresta, com manobras aéreas de um elevado grau de dificuldade, o pokémon lendário conseguia atravessar a floresta sem um pingo de dificuldade, porém o Ditto não estava acostumado a flutuar e teve alguns acidentes de percurso, atingindo diversos ramos e arbustos no caminho por onde Latios nos guiava.

- Ei Ditto parece que vamos ter de te dar algumas aulas sobre voo, se continuas assim vais ficar cheio de nódoas negras! - dizia eu num tom irónico

- Para ti é fácil falar, gostava de te ver a ti tentar, esta floresta é como um labirinto não sei como é possível flutuar por aqui sem atingir nada! - apesar das claras dificuldades, Ditto continuava bastante contente pela oportunidade de voar como um Latias

Alguns minutos depois chegávamos finalmente ao destino, era esta a missão que Latias nos tinha proposto, era possível identificar uma Roselia a ser maltratada por dois outros pokémons, as marcas no seu corpo eram bem evidentes, pela minha primeira impressão este abuso física que ela sofria não era esta a primeira vez pois algumas das feridas pareciam já ter cicatrizado. No mundo pokémon não era de se admirar haver estas disputas entre pokémons, algumas vezes batalhavam por território, outras vezes por conflitos pessoais porém segundo a explicação de Latias os dois pokémons que estavam a atingir Roselia demonstravam um comportamento igual a humanos, talvez a proximidade entre o Viveira Xanadu e a civilização tenha levado a que estes pokémons tenham ganho os hábitos da peste que habitava na cidade.

- Isto acaba agora! - dizia eu numa expressão bastante séria enquanto descia das costas de Latios - Se vocês querem descarregar as vossas frustrações façam-no em mim! - dizia enquanto caminhava na direção de Roselia - Este pobre pokémon não tem culpa das vossas más decisões, por isso deixem-na fora disto, Mew podes fazer uns curamentos básicos com as ervas medicinais que tenho na mochila?

Não sabia ainda o motivo daqueles dois estarem a comportar-se assim, a primeira coisa que tinha de fazer era retirar a Roselia do perigo e iria tomar o sofrimento dela, mas também não queria desistir daqueles dois pokémons que se estavam a comportar como humanos, era a minha missão pessoal fazê-los perceber que os seus instintos naturais eram melhores para coexistirem na floresta, se apenas os derrotasse o salvasse a Roselia eles não iriam aprender verdadeiramente o que era compaixão.

- Mew e Ditto não intervenham no que se vai passar a seguir! - dizia eu com uma cara bastante séria enquanto espera que o Mew retirasse a Roselia para um local seguro - Contem-me a vossa história por favor, quero saber o que correu mal nas vossas vidas para que sequer considerem maltratar outro habitante da floresta, eu percebo pela vossa cara que estão com raiva de alguma coisa, por isso eu estou aqui para descarregarem as vossas frustrações, mas prometo-vos que vos vou mostrar uma nova forma de vier! - caminhava para o meio dos dois pokémons agressivos, não mostrava qualquer sinal de resistência e preparava-me para sofrer com a raiva deles até que eles percebessem que eu estava ali só para ajudar

Os dois rufias atiravam Roselia como se fosse lixo, o seu corpo estava coberto de hematomas e cicatrizes, esta situação já se devia arrastar à algum tempo, Ditto segurava nela e aplicava alguns primeiros socorros, utilizando uma sopa de ervas que eu tinha feito anteriormente, não era o tratamento ideal mas iria servir para aliviar um pouco da dor no momento e quando os problemas com os rufias passassem eu iria aplicar um tratamento mais especializado. Os dois brutos falavam para eu desaparecer dali, era possível sentir a raiva nas suas vozes, alguma coisa se tinha passado com eles pois normalmente os pokémons selvagens não agem desta forma e eu queria ajudá-los a voltarem a verem as coisas da maneira correta.

- Quando tens um território é a tua função protegê-lo e tratar bem os seus habitantes... - dizia eu enquanto sacudia da minha cara a terra e as frutas podres que eles atiravam contra mim - Se vocês são os governantes desta parte da floresta é vossa obrigação cuidar bem dela, não sei o que se passou com vocês para estarem a atacar desta forma outros pokémons mas isso vai parar hoje, aproveitem para descarregar todas as vossas frustrações em mim, mas a partir desse momento não voltaram a fazer isso com mais ninguém!

Latias e Mew observavam esta troca de ideias, percebiam que a minha intenção não era de combater e sim de tentar comunicar com aqueles dois para arranjar uma melhor solução, se apenas os derrotasse iria ser algo temporário, tinha de os fazer ver que não estavam a agir corretamente

Os rufias pareciam ficar cada vez mais incomodados com a minha presença, na visão deles eu era apenas mais um humano, mas isso não podia estar mais longe da verdade, eu odiava esses seres imundos tão ou mais que eles, e estava determinado em fazer com que aqueles dois percebem que eu apenas os queria ajudar. Continuavam a atirar fruta podre contra mim porém isso não me incomodava e eu apenas continuava a seguir em frente, encostando a cabeça a um deles.

- Não me compares a esses trastes, eu vivi sempre no meio de pokémons, a minha familia é pokémon, a minha afiliação é para com os pokémons e não à nada neste mundo que eu detesto mais que seres humanos, por isso podem dizer o que quiserem sobre mim, apenas não me comparem com eles... - dizia num tom extremamente sério sem afastar a cabeça do pokémon selvagem - Se não me aceitam e querem que eu me vá embora só têm uma opção, e não é atirar fruta podre contra mim que eu vou recuar, eu já vos disse que irei ajudar-vos e se vocês querem que eu vá embora daqui têm de me matar primeiro, podem fazer o que quiserem, eu não vou retaliar, se estão assim tão certos das vossas crenças como eu, vamos ver quem resiste mais tempo sem ceder...