Pallet Town

Verão | Dia

Não dormi, a noite ao relento não me fez bem. Disfarcei as olheiras com a maquiagem da bolsa, mas o espelho pequeno tornou difícil fazer tudo. Detive-me em fazer uma coisa mais simples, até porque era dia.

O que tenho pra comer é uma pequena barra de cereais que nada vai tirar a minha fome. Costumava ser suficiente, mas não com uma noite toda em claro. Comer aquilo amenizaria e daria para aguentar algumas horas... Até que alguma padaria abrisse demoraria. No meio tempo eu deveria iniciar a interação com o Pokémon que peguei? Tanto tinha evitado pensar que existiam, tanto tinha evitado pensar que estava num novo mundo rodeado por eles e agora necessitava desse contato inicial. Como eu vivi meses assim? Os aparelhos que tinha comigo eu aprendi bem, inclusive Pokéballs que envolvia diretamente os Pokémon, mas ainda era inconcebível ver algo que no meu mundo era um desenho existir. Você não é assim, Clair, coragem. [...] Falar é muito fácil... Entrava em contradição ciente que teria que fazer de todo jeito, então mesmo de mão trêmula fechei os olhos e apertei para liberar o penguim azulado.

Abri os olhos. A luz vermelha ainda saia da Pokéball e pude ver perfeitamente o corpo literalmente se materializando. Era bizarro. Pensei logo nas milhões de aplicabilidades, podiam inclusive se teletransportar! O maior sonho do meu mundo aqui era muito fácil, estava na palma das mãos e acontecia em centros de saúde para Pokémons o tempo todo. Meus olhos com certeza brilharam para aquela cena, senti-me como uma garotinha a ver um número de mágica que para outras pessoas era batido. Naquele mundo nunca antes se teve uma reação como á minha. Ou teve? A possibilidade de ter outras pessoas numa situação semelhante á minha me ajudaria... Esse e outros pensamentos ficariam para depois.

Ainda boquiaberta via Piplup emitir o primeiro som e agir como se esperasse uma resposta. Eu mesma não sabia o que responder, mas da minha boca saiu um oi. Não pensei que fosse entendida, mas o penguinzinho abriu um sorriso e cachoalhou a asa, estava claro que ele entendia sim, depois a cabeça dele estava inclinada esperando por mais diálogo, mas eu estava me ponto na posição de uma criança que descobria o mundo pela primeira vez, estava espantada e curiosa, queria saber mais, então me ajoelhei próxima para observar todas os jeitos e feições, era a primeira vez que eu vi Piplup realmente por querer ver, das outras eu evitava cruzar o olhar no laboratório. Por falar nisso, minha escolha foi somente pelo pinguim ser o que menos me dava medo das opções que tinha. Enfim, retornando para a cena, agora eu quase caia para trás quando o Pokémon veio apoiar o corpo em minhas pernas. Congelei. Nenhum músculo meu movia, era besteira minha, mas eu não tinha como saber, tinham me dito sobre o que os animais desse mundo o que podiam fazer e eu tinha medo, era natural. Custou, mas percebi que era um momento que o pinguim só queria um pouco de colo e carinho. Pensando nos interesses futuros, ofereci-lhe um afago na barriga. Para não surtar estava tentando o ver como um animal de estimação.

Será que é macho ou fêmea? Falei esquecida que podia ser entendida, porém a resposta foi um "não" com a cabeça e os sons que o Pokémon geralmente fazia que eu não entendia. Macho? Outro não foi resposta. Fêmea então? Finalmente um sim vindo da Piplup, eu tinha uma pinguim e de todas a informação do gênero era a mais tranquila de se processar. A conversa acontecia ainda com a Pokémon em minhas pernas, então foi fácil para ela perceber quando minha barriga tremeu e roncou. A reação dela foi sair das minhas pernas e olhar para mim sorrindo. Não tínhamos conexão alguma, mas consegui entender facilmente que ela estava esperando que eu me levantasse para irmos comer.

Não tinha passado quase tempo nenhum. Continua muito cedo, provavelmente faz no máximo duas horas desde o primeiro raio de sol, ainda não esperava nada aberto. Mas é uma cidade interiorana... Eu podia estar me iludindo, mas naquele momento queria apostar na matutinidade de Pallet para encontrar uma vendinha, restaurante, banca ou qualquer lugar que pudesse encontrar um bom café da manhã.

Observações importantes:
• É um isekai. Clair passou algum tempo junto de pesquisadores do laboratório, mas ainda falta muito senso comum do mundo Pokémon;
• Clair não sabe batalhar ainda, favor levar em consideração esse fato.

Pallet Town

Verão | Dia

Demorei a achar devido á localização, era próximo demais do laboratório que eu queria quebrar o vínculos, mas o lugar ao qual me esgueirei tinha uma sofisticação confortante, sem perder toques simples necessários. Ali dentro desde o chão até o cheiro era amadeirado, tudo conforme uma imagem visual muito bem construída da cafeteria. – E eu que pensei que encontraria no máximo um bar acabado...

Percebi que os aromas mudaram ao andar próxima do balcão, a comida e o café cheirava tão bem que minha barriga quase pediu por si própria, porém segui até uma mesa vazia e sentei ao lado da janela e evitei possíveis barulhos estranhos. Pretenda demorar a pedir para ter um lugar que pudesse descansar um pouco mais, porém a fome não deixou e meus olhos já estavam aficionados num bolo que via. Nem deveria, em condições normais minha alimentação seria mais controlado, tendo isso em vista eu pediria pelo menos uma fatia fina e frutas para acompanhar.

O atendimento chegou. Um barista de vestes elegantes me perguntava sobre o que tinha em mente, como eu podia ser ajudada, tudo de forma muito profissional, e claro que expus o que esta pensando ser o pedido. Tentei ser o mais simpática possível considerando o pouco sono e a grande fome, mas acredito que pelo menos a sensação de estar exausta eu passei sem querer. Era cedo e eu já estava naquela condição... pelas minhas contas eu não aguentaria ficar acordada á tarde, então era bom aproveitar a manhã.

Dentro do meu pedido também incluía comida Pokémon para a Piplup, então retirei a pinguinzinha da esfera de contenção e pedi que ficasse por perto. Ela optou por deitar no meu colo e ganhar o mesmo carinho de antes enquanto eu, com a outra mão, olhava pelo celular-rotom as notícias recentes. – Espera, um Pokémon gratuito no PokéCentro!? Minha admiração não era apenas aquela reportagem, só que dentro dos meus conhecimentos e das minhas habilidades era o de melhor que poderia me ajudar. O problema é que não sabia onde o lugar ficava na cidade e demoraria demais para achar, era possível que eu ainda enfrentasse alguma fila, então entrei em contato pelo Holocaster, enviei minha mensagem e esperava que estivesse tudo bem por eles.

– Oii! Soube da distribuição de um Pokémon gratuito pelo PokéCentro, seria possível enviar pro meu BOX? Não conseguirei ir á tempo    

– Nenhum problema, seu Pride Vivillon estará aguardando por você no BOX

Quando a comida chegou já tinha recebido a confirmação e estava mais feliz que nunca, portanto guardei o aparelho e me deliciei com cada sabor. Dizem que a fome é o melhor tempero da comida e aparentemente era o ditado mais certo, eu podia comprovar pois nunca tinha comido nada tão gostoso. A fatia fina tornou a ser pedida assim como o café, tudo estava do meu gosto. A satisfação de ter encontrado aquela cafeteria aumentava a cada segundo ali.

Ao fim da refeição ficava imaginando quanto tempo ainda era razoável ficar ali e uma inquietação me permitiu não apenas aproveitar a vista da janela, como também perceber os outros clientes, incluindo um leitor ao qual não desejava incomodar...

"Tive muita sorte de encontrar esse lugar..."

Observações importantes:
• Desculpe a demora, vou tentar me organizar pra postar um por dia ou um a cada dois dias, mas segundas, terças e quartas não posso prometer nada...;
• @sinhorelli.

Pallet Town

Outono | Dia

Uma outra cliente chegava. Pra mim era bom, ao menos ganhava mais um motivo pra ficar ali, não só um motivo, era o melhor lazer que cidades pequenas tem a oferecer: saber da vida alheia.

Conseguia escutar bem a conversa sobre ela estar triste, o que a levou a ganhar um cappuccino, só que era apenas isso a história. Eu estava ávida para saber mais, mas tudo terminou muito rapidamente, o barista retornou para preparar o pedido e ela se debruçou na bancada. Ver a conclusão chegando daquela forma foi como um balde de água fria jogada em mim, talvez assim aprenderia a não me meter na vida alheia, mas eu duvido demais que funcione.

Retornando pro meu mundinho, suspirei involuntariamente e fui notada pela Piplup, mas nada ela podia fazer, era só eu querendo saber o que fazer em seguida. Se eu levantasse dali pra onde iria? O que faria?

Tinha resolvido o problema mais forte que era a fome, mas só de pensar em levantar me fazia sentir o peso de várias responsabilidades que nem sabiam quais seriam. – Não tem jeito, preciso encarar de frente... mas o que?

Encostava a Pokéball na cabeça da minha pinguinzinha para que ela pudesse descansar enquanto eu resolvia o que fazer, não só por isso, mas porque era hora de me levantar e seria mais rápido sozinha. Encaminhei-me até o balcão, mais especificamente até o caixa, para que eu pudesse pagar a conta. Era provável que caso eu chamasse alguém viesse até mim, mas eu só não estava com vontade e quem sabe mais próxima da outra cliente eu pudesse ouvir alguma coisa mais.

Observações importantes:
• @sinhorelli.