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Memórias Póstumas de Red - Publicado Seg 30 Mar 2020 - 11:30

Introdução:

Memórias Póstumas de Red Jogo-dos-campeoes-18636191-270220201601

''Bons homens morrem, mas a morte não apaga vossos nomes''
- Antigo ditado, origem desconhecida.

---------(=0=)---------

Eu to bem, mas tô cansado disso.

De tudo isso. Dos joguinhos, das intrigas, e da tortura. Eu vou falar.

Eu vou contar a vocês uma história. A minha história. Se não, as respostas que vocês procuram não farão sentido.

Respostas são como pedras preciosas: só se sabe o valor real delas depois de preparadas, cortadas e polidas. E não quero ser chamado de joalheiro ruim. Ou vocês se contentam com as respostas que a história irá lhes dar, ou com nenhuma.

Vamos começar com uma introdução. Eu conheço vocês dois, mas com certeza vocês dois não me conhecem. No máximo, ouviram falar de mim.

Podem me chamar de Red — obviamente Red não é o meu nome — é um apelido, aquele apelido que te colocam na infância, e ele se enraíza em você, fincando-se até se tornar uma parte inseparável da sua identidade. Todo mundo tenta descobrir a origem, mas é realmente uma história bem simples, começo simples e final simples.

Eu tenho olhos vermelhos. Tecnicamente é genético, e não, eu não sou albino, como você pode ver, meu cabelo é preto-carvão, e não clareou um fio, não importando quantas tardes quentes eu passasse debaixo do sol no rancho de pesquisa do Professor. Eu sei que a parte ''tecnicamente é genético'' chamou sua atenção, mas eu vou chegar nessa parte da história no seu devido tempo.

À medida que você cresce, essas coisas tendem a importar menos, mas quando você é criança, é mais que suficiente para separá-lo das outras crianças. Talvez em outro lugar ou outra era, isso possa ter sido considerado atraente, mas não neste Mundo Pokémon. Aqui, os olhos vermelhos são característicos de várias espécies, algumas particularmente nem dóceis, nem amigáveis.

Minha mãe e eu nunca fomos uma parte central da Cidade de Pallet. Ao contrário, éramos novos na cidade. Minha mãe se mudou para Pallet sozinha, me carregando, notavelmente sem nenhum parceiro humano, apenas com seu Pokémon. Minha mãe não conhecia nenhuma profissão, além da manutenção da nossa casa e do nosso jardim, e também nunca fez nenhum esforço para se integrar à cidade rural, apesar dos incentivos, principalmente por parte dos homens solteiros do povoado.

Nós éramos pobres. Mas graças aos vários trabalhos temporários que minha mãe arrumava na cidade, nos não passávamos fome. Porém, pagar a mensalidade da única escola da cidade deixava nossas finanças no limite. E logo, aprendi a agradecer todas as pequenas coisas que minha mãe fazia. Com um sorriso, agradecia até os remendos nas minhas roupas, para não deixa-la triste ou com culpa.

Pallet não é uma cidade ruim. Ela é uma cidade sonolenta, com pessoas normais, tão imperfeitas quanto qualquer outra, e que na maioria das vezes guardam seus problemas para eles próprios. Eu não era incomodado, discriminado ou perseguido. Eu só era sozinho.

Bem, quase. Deixe-me falar sobre Blue.

Obviamente, Blue também não é o nome dele. É um apelido que eu lhe dei em troca. Vai fazer sentido logo.

Blue era o garoto de ouro de Pallet. Você provavelmente o conhece, pelas biografias e entrevistas. Não era exagero dizer que não havia criança mais amada que ele em toda a Cidade de Pallet. Ele era um Carvalho, neto do venerável Professor. Ele sempre andava pela cidade com um bando de crianças o seguindo. Naquela época ele não gostava tanto da atenção quanto ele gosta hoje. Blue nasceu para ser o centro das atenções. Ele era um fanfarrão vaidoso e convencido, e ainda irá se declarar isso em alto e bom som até o dia que morrer.

Ouvi dizer que aqueles que o conhecem às vezes o chamam de valentão. Isso é curioso, para não dizer engraçado. Blue é um valentão do mesmo jeito que os políticos são mentirosos; ele sabe o que quer, e sabe como conseguir. As pessoas não têm direito de reclamar de uma pessoa que tem coragem e busca aquilo que deseja sem pudor

Ele era um gênio. Nomeava todos os Pokémon de Kanto e a maioria dos de Johto com nove anos de idade. Com onze, ele já comandava Growlithes e Pidgeys na milicia da cidade, e sempre terminava em primeiro lugar nos concursos de arremesso de Pokebola.

Desde que começou a andar ele já buscava a licença de treinador. Ele queria viajar cinco anos antes do normal permitido, seguindo os Youngsters, depois que a idade legal para se conseguir uma licença foi baixado de dezesseis para onze, mas seu avô não permitia. Nessa época os dois discutiam bastante frequentemente. Blue tinha milhões de ideias, não gostava de ficar estacionado em Pallet. Sempre foi do tipo que muda o mundo, em vez de deixar o mundo muda-lo.

Lutador virtuoso, campeão impetuoso, e revolucionário silencioso. Esse é o Blue.

O dia em que trocamos apelidos, foi um dia em que ele teve uma briga feia com seu avô. Era fim de tarde, e o restante das crianças já havia ido para casa jantar. Eu não. Eu sempre ficava até mais tarde. Minha mãe nunca reclamava, talvez por confiar em mim ou na segurança da Cidade de Pallet, ela sempre me deu bastante liberdade, algo que me deu auto-confiança e eterna gratidão a ela. Minha razão de ficar até tarde era bem simples. Eu queria jogar uma rodada na Muralha Pokémon.

Muralha Pokémon era o nome informal que a parede lateral dos banheiros do parque havia recebido ao longo de anos de grafite e giz. Oficialmente, não era permitido desenhar nessas paredes, mas se tornou um passatempo tão popular, que os policiais deixavam isso para lá. A Muralha Pokémon, era coberta de representações infantis dos maravilhosos e terríveis monstros que dominavam nossa terra. Mas não era isso que importava, e sim o jogo.

Pegue Todos tinha regras muito simples e fáceis de seguir. Primeiro, com um giz, você deveria cobrir a parede com desenhos de diversos Pokémon. Vinte, trinta desenhos, dependia de quantas pessoas estivessem jogando. Mas deveriam ser tipos únicos, fogo ou inseto, água ou voador. Tipagem dupla sempre acarretava discussões. Dragões também eram excluídos, já que todos concordavam que eles eram desbalanceados.

Então, você pegava uma bola de tênis e tentava acertar o desenho. Se você acertar o Pokémon na parede, e pegar a bola no ricochete, antes de ela atingir algo, você captura aquele Pokémon. Você escreve as iniciais no desenho e continua o jogo. Você também pode pegar bolas ricocheteadas de outras pessoas, e capturar aquele Pokémon. Mas todos só fazem isso mais pra frente, já que se você encostar na bola e deixa-la escapar, o Pokémon é liberado e te devora se você não tiver capturado nenhum outro Pokémon. Se você tiver capturado algum, e seu Pokémon tiver fraqueza contra aquele que você deixou escapar, ele te devora do mesmo jeito. Se não há vantagem de tipo, você perde seu Pokémon, mas não morre. Se seu Pokémon tem vantagem de tipo, você ganha aquele Pokémon para você. O jogo continua até restar apenas duas pessoas, e o vencedor é decidido por vantagem de tipo ou discussões imaginárias de batalhas.

Eu era muito bom nesse jogo. Quando eu conseguia me infiltrar em partidas grandes com as crianças, sempre chegavam ao final eu e Blue. Ele sempre me vencia, de algum modo sempre conseguindo as vantagens de tipo no final. Isso continuou até que uma vez eu finalmente o venci, mas em seguida, uma garota do grupo dele isolou minha única bola em um telhado. Por isso, parei de brincar por lá.

Comecei a brincar sozinho. Por muito tempo procurei pelos cantos e lixeiras uma bola de tênis que alguém houvesse jogado fora, encontrei uma vazia e a enchi de areia até que ficasse mais ou menos com o peso de uma Pokebola real, utilizei como base a Pokebola da minha mãe, que continha nosso Mistermime, um Pokémon cuja importância eu ainda não compreendia naquele momento, e até mesmo hoje, ainda tenho dificuldade em compreender.

Peguei alguns restos de giz que sobraram na loja,  e desenhei círculos na parede de diferentes tamanhos. Eu fiquei na distância esportiva, e comecei a capturar como um louco os malditos Pokémon desenhados. Não lembro de ter errado uma bola.

Depois de cerca de vinte arremessos, percebi que eu tinha audiência.

Ele não era o Blue, ainda. Ele era o estimado Gary Carvalho. Não me lembro exatamente o que pensava dele naquela época, apenas que era consideravelmente menos caridoso do que esperava. Eu ainda meio que o culpava pelo incidente do telhado. Me perdoe. Eu era jovem.

Ele tinha um sorriso perverso no rosto, como se não estivesse desaparecido desde a manhã. Os jeans dele estavam empoeirados, e descobri mais tarde que ele havia corrido todo o rancho Pokémon por causa de uma briga com seu avô.

— Você tem um braço bom, Red. — Ele disse. — Aceita um adversário, ou prefere enfrentar uma parede?

Ignorei a provocação, e perguntei sobre o porquê do ''Red''

Ele deu de ombros. — Duh, seus olhos. — Disse.

Eu pensei sobre isso e, em seguida, rebati que então ele era o Blue. Blue franziu a testa.

Eu quis dizer algo no sentido de ele ser o ídolo rico e eu o vagabundo sujo do lado pobre da cidade. Mais tarde, ele me disse que julgou que eu queria dizer algo assim, porque eu tinha mãe, não tinha pai e cabelos escuros, enquanto ele tinha um pai (mais ou menos) não tinha mãe, cabelos espetados e mais claros. Blue podia ser muitas coisas, mas nunca foi um elitista. Ele nunca discriminou alguém só por discriminar. Ele me contou o que havia acontecido com ele e seu avô, e pelos Lendários, juro que vi uma pequena partícula brilhante descendo de seus olhos naquele dia. Mas segundos depois ele se sacudiu e inclinou a cabeça, dando de ombros.

— Bem, vamos começar então. — Disse Blue.

E foi isso.

O jogo foi brutal. Jogamos em escala real, todos os Pokémon conhecidos de Kanto, incluindo tipos duplos e dragões. Tivemos que parar para debater combates várias vezes, e foram discussões acaloradas. Foi intenso, foi cansativo, ficamos roucos de discutir e com os braços doloridos de arremessar. Foi o melhor dia da minha vida.

Jogamos do por do sol até o inicio da madrugada, onde a lua cheia estava tão brilhante que era como se o dia ainda não tivesse acabado. Eventualmente, minha mãe apareceu. E em vez de nos parar, ela parou e assistiu. Depois de alguns minutos, ela telefonou para alguém. Minutos depois, a pesada caminhonete velha do Professor Carvalho desceu ruidosamente pela rua, estava procurando seu neto o dia todo, ele desceu, e também assistiu. Nenhum deles falou. Eles apenas assistiram enquanto eu e Blue tentávamos Pegar Todos.

Tínhamos acabado com os Pokémon de Kanto, e estávamos em Johto. Nós tínhamos que continuar jogando — parar iria quebrar a magia daquela partida. Lembro que o último combate foi entre um Dragonite e um Salamance, e nós dois sabíamos que a discussão não teria fim…

Os detalhes não são importantes. A noite em si é que foi importante. Foi uma noite mágica.

E no dia seguinte, o Professor Carvalho lançou a primeira Pokedex.

Bem, foi assim que ganhei o apelido de Red.

Oh, você quer saber meu nome verdadeiro?

Nem fodendo, Rocket desgraçado.


Última edição por Musashii em Sáb 6 Jun 2020 - 18:58, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Musashii)
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Re: Memórias Póstumas de Red - Publicado Seg 1 Jun 2020 - 13:42

Introdução:

Memórias Póstumas de Red Jogo-dos-campeoes-18643543-280220201824

''Há uma mulher na origem de todas as grandes coisas.''
- Alphonse de Lamartine.

---------(=0=)---------

— Por que nós não entramos e bagunçamos a mente dele com um Pokémon Psíquico e tiramos de lá o que precisamos?
— .....Você acha que não estamos tentando?

---------(=0=)---------

Minha jornada Pokémon começou quando eu tinha dezesseis anos. Costumava ser a idade mínima para conseguir a licença de treinador, e a idade que você poderia se inscrever para o serviço público nos Rangers ou na Milícia de Kanto. Se eu estivesse preocupado com minha segurança e estabilidade, poderia ter viajado para outras cidades e me matriculado na universidade, ou talvez procurado estágio no Laboratório de Kanto, mas não estava. Minha sede para viajar era insaciável desde o dia que vi os treinadores mais velhos da turma graduada se aventurando na grama alta. Deixei Pallet um dia depois de Blue, e pelos Lendários, aquele único dia de diferença pareceu uma eternidade para mim.

Você sabe que ele enfrentou a Elite dos Quatro? E é claro, o Campeão. Lance, o Rei dos Dragões. Todos caíram como dominós.

Blue, o Grande Campeão. Invicto.

Bem, quase invicto. Mas estou devaneando.

Voltando, dezesseis anos. Foi quando tudo começou…

Suponho que um bom lugar para começar, seria o dia da formatura. Foi um pouco depois da cerimônia final, onde eu e a maior parte da turma assistimos Blue e vários outros alunos mais velhos da Cidade de Pallet receberem seu Pokémon inicial e seguirem para o norte através da grama alta em direção à Rota 1. Havia quatro alunos este ano, número bastante inferior em relação à taxa do ano passado, duas dúzias, por causa do movimento Youngster.

Cinco anos atrás, a Liga Indigo estava em apuros. O registro de treinadores havia baixado em número recorde, e todos os jovens promissores eram novos demais para solicitar uma licença ou serem contratados por empresas públicas ou privadas. O lançamento da Pokedex, facilitou os treinadores ativos a se aposentarem e partirem para papéis de apoio, já que a Pokedex tornou o trabalho dos pesquisadores e observadores muito mais fácil, era um avanço gigantesco, nada havia alavancado a pesquisa Pokémon assim desde o lançamento da Ultraball.

Fiquei sabendo disso pelos jornais, nos quais o rosto do Professor Carvalho ficou estampado por meses, e com bastante frequência também nos anos seguintes. As estradas estavam se tornando cada vez menos seguras com a aposentadoria dos Rangers e Milicianos, então o Congresso da Liga Índigo aprovou a Lei de Registro de Jovens Treinadores, que reduziu a idade legal da licença de treinador de dezesseis para onze com a devida demonstração de aptidão para treinar e batalhar. Os jovens treinadores recém registrados seriam limitados a rotas já patrulhadas, e era exigido que eles fornecessem relatórios frequentes nos centros das cidades de como eles estavam de saúde física e mental. Isso era uma medida paliativa, até que eles tivessem idade suficiente para se alistar nos Rangers ou na Milícia com salários substancialmente mais altos e grandes bônus. Então, a primeira geração de jovens treinadores, apelidados de Youngsters, foram graduados com as primeiras Pokedexes comerciais em mãos.

Foi, como vocês dois sabem, um completo desastre.

A definição de ''Aptidão para Pokémon'' foi jogada de um lado para outro no campo político como pinball. Relatórios apareciam todo dia, noticiando corpos de crianças encontrados na natureza, atacados até a morte por Pokémon que eles trataram do mesmo jeito que os domésticos enquanto exploravam. Os jovens que não foram mortos fora das estradas, morreram por falta de disciplina, fome ou simplesmente azar. Eles podiam ter bastante aptidão técnica, mas eles não tinham idade para cuidar de si mesmos.

A Lei foi atingida de todos os lados por criticismo injurioso. Era chamado de Programa de Soldado Infantil, ou comparado a jogar bebês em um moedor de carne. Foi proibido na maioria das cidades, e melhor regulamentado em outras.

Essa melhor regulamentação das cidades tiveram uma variedade de efeitos. Embora tenha diminuído os ataques de Pokémon nas rotas, aumentou-se o número de crimes, abusos e a brutalidade dos treinadores, mas ao menos, estacionou a taxa de mortalidade.

Tem que se dar crédito ao Professor Carvalho — ele sentiu o cheiro de merda de longe, e usou sua influência para excluir Pallet da lista de assentamentos que adotavam a lei inicial. Embora, isso não impediu que vários estudantes viajassem para Viridian e se registrassem de qualquer maneira. Ouvi dizer que alguns deles sobreviveram aos primeiros anos.

Atualmente, um dos requisitos para os treinadores de Pallet era pagar a taxa da prova e a Pokedex. Economizei o dinheiro para ambos ao longo de muitos anos — economias que acabaram sendo usadas quando um bando de Pidgeots começaram a brigar, e a tempestade que eles criaram derrubou uma árvore na nossa pequena casa antes do Professor e da Milicia espanta-los da cidade. Eu ajudei a reconstrução com aquele dinheiro, e agora, meus bolsos estavam vazios. Demoraria anos para guardar dinheiro só para a taxa da prova, e imagina para Pokedex.

E isso me levou para outro lugar, estava descansando em uma pilha de palha do lado de fora dos estábulos de Ponytas no rancho do Professor. Fui contratado como auxiliar do rancho, superando muitos outros colegas de classe que esperavam por um trabalho parecido. Foi um sonho, até mesmo as partes mais sujas do Rancho Pokémon.

Eu sei que vocês, Rockets, pensam em Pokémon como bestas. Animais, que servem apenas para serem explorados como qualquer outra criatura na terra, incluindo a raça humana. Vocês têm razão, eles são carne e osso como qualquer outra criatura.

Mas é aí que toda semelhança termina. Pokémon não são nada iguais as outras coisas que caminham sob esta terra, nem em meios, nem em métodos. O poder deles, a própria presença deles, significa ideias de tal magnitude que nem eu, que roubei segredos do âmago da história, conseguirá entende-los completamente. Eles são muito mais do que suas minúsculas mentes corporativas podem imaginar.

Vocês se lembram de quando viram um Pokémon pela primeira vez? Algum de vocês se lembra da admiração ou temor que sentiram? Não? Então vocês já perderam. Corpo e alma.

E é por isso que continuarão perdendo, não importa o que façam comigo.

Não, não vou explicar.
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Re: Memórias Póstumas de Red - Publicado Seg 8 Jun 2020 - 0:38

Introdução:

Memórias Póstumas de Red Jogo-dos-campeoes-18680703-050320201721

Uma sala branca com só uma saída
Luzes ofuscantes.
Uma parede de vidro embaçado.
Três guerreiros sentados á mesa, dois de um lado, um do outro.
Apenas um falava a verdade.

---------(=0=)---------

Eu estava procrastinando em cima de uma pilha de palha, adiando a alimentação de Shiryuu, o Dragonite do Professor. Shiryuu era notoriamente temperamental para um Dragonite, e se divertia maliciosamente atacando os trabalhadores do rancho quando estava com fome.

Outra coisa que eu estava adiando, eram meus planos para o futuro. Eu sempre planejei sair hoje, ao lado de Blue. Não havia espaço para outra coisa sequer isso. Passei os últimos dias praticamente em um estado de catatonia, incapaz de acreditar que meus sonhos haviam sido levados tão rápido. Minha mãe havia me dado o meu espaço e, pela primeira vez, Ashford, o Mistermime de nossa família, não tinha brincadeiras que me distraíssem das dores da perda.

E então chegou o dia. Hoje de manhã, vi meu único rival entrar na grama alta para seguir sua própria jornada Pokémon. Ele até recebeu um pouco de atenção da mídia, uma entrevista ao vivo em nome dos treinadores iniciantes, sua saída havia virado assunto na cidade já há algumas semanas antes. Blue se foi e não olhou para trás uma única vez.

Eu estava perdido. Fiquei para trás, sem um propósito, à deriva em um mar de indecisão. Devo ir hoje? Devo esperar até juntar o dinheiro para o licenciamento?

Uma coisa era certa. Eu tinha que ir. Eu não aguentava mais ficar em Pallet.

Suspirei e peguei o jantar de Shiryuu no freezer, aceitando a tarefa como um método de ocupar minha mente, mesmo que por apenas alguns minutos. Peguei um par de chaves na prateleira, joguei a carne de Tauros na traseira de um dos vários buggys que os trabalhadores e assistentes usavam para atravessar o vasto rancho do Professor, e parti em direção aos penhascos.

O rancho de pesquisa era incrível, como esperado do Professor oficial de Kanto. Levaria anos de trabalho para apreciar completamente o quão difícil era manter tantos Pokémon diferentes juntos sem ocorrer uma catástrofe. De vez em quando ocorria algum incidente com as espécies mais agressivas, mas os cuidadores geralmente lidavam com isso, ocasionalmente, o próprio Professor precisava intervir para mediar.

E por mediar, é claro, quero dizer, liberar seu Gyarados e ameaçar soltar um Hyper Beam se eles não se acalmassem. Normalmente, o dever de intimidar os outros, era dividido entre Shiryuu e Gyarados, essa semana, era a vez do Gyarados. Shiryuu, nesse meio tempo, estava onde ele sempre ficava em seus dias de folga.

Estacionei o buggy a uma boa distância para não incomodar a grande fera. O dragão já havia destruído mais de um veículo por interromper seus cochilos e banhos de sol na beira do penhasco. Eu icei o saco de carne por cima do ombro com um grunhido e caminhei até onde ele estava cochilando na borda íngreme do platô.

Shiryuu era magnífico, um espécime antigo, com pele escamosa laranja-dourada e um estômago cor de creme coberto de cicatrizes e marcas de explosões, resultado de batalhas de um nível de poder indescritível, considerando o quão dura são as escamas de um Dragonite. Suas garras e chifre estavam lascados e arranhados, e uma de suas duas antenas, cortada na metade do comprimento da outra. Eu sempre me perguntei se tal defeito diminuía a força de seus terríveis ataques elétricos, ou se apenas os tornavam mais difíceis de controlar.

Suas asas irregulares se agitaram suavemente quando ele acordou, sentindo a minha aproximação.

Agora, não me lembro se foi imprudência ou desinteresse que me induziram a isso, mas algo me atraiu a olha-lo nos olhos quando ele acordou.

Shiryuu rolou no chão, e com a agilidade de uma serpente — lembrando de seus tempos de Dragonair — me derrubou em um único movimento fluído. Em um piscar de olhos eu estava preso no chão com uma garra maciça me segurando e um dragão rosnando na minha cara. Eu caí com força no chão, e meu boné saiu voando da minha cabeça. Eu ia tentar argumentar com ele, mas sabia que não adiantaria. Felizmente, eu não precisei.

Desviando o olhar, levantei ambas mãos, estendi meus dedos e os balancei em um gesto que aprendi com Ashford um dia na rua, quando ele foi encurralado por um Arcanine não muito feliz por ele estar bastante próximo de sua ninhada de Growlithes.

Os Mistermimes eram notórios por serem os únicos Pokémon que não falavam, nem mesmo utilizavam comunicação psíquica. Os pesquisadores não tinham certeza se era uma compulsão ou uma incapacidade biológica. O que se sabe era que eles se comunicavam de alguma maneira, e não simplesmente através de gestos com as mãos, cujas respostas os cientistas não tinham conseguido replicar. Naquela época, eu tinha a opinião de que eles não haviam copiado os movimentos corretamente, pois eles sempre funcionaram muito bem comigo.

Shiryuu deu mais uma baforada de hálito fedorento e quente de dragão na minha cara antes que seu rugido diminuísse em um ronco baixo, quando ele mudou de posição e perdeu o interesse em mim. Me levantei cautelosamente e peguei o boné no chão, sentindo a dor de hematomas que com certeza apareceriam mais tarde. Me acalmei e mandei oxigênio para os meus pulmões novamente, eu era um idiota por ter decidido olhar um Pokémon dragão nos olhos, já era uma má ideia fazer isso com qualquer espécie agressiva, imagina com dragões. Apenas o Professor, seu treinador, fazia isso sem consequências.

O Dragonite fungou e cheirou ansiosamente a bolsa fechada antes de eu tirar do caminho dele. Antigamente, ele comia com tudo, mas a bolsa não descia muito bem. Eu abri e peguei o primeiro bife grande de Tauros. As pupilas de Shiryuu se dilataram imediatamente quando ele sentiu o cheiro.

Joguei o bife para o alto, e o Dragonite o tostou habilmente no ar com uma rajada de fogo antes de pega-lo com suas mandíbulas, mastigando vigorosamente. A carne de Tauros era incrivelmente grossa e densa, tão densa que mesmo a mandíbula de um dragão, cheia de dentes como estalactites, e com músculos capazes de esmagar pedras, tinha problemas em mastigar. Era a mesma carne que era utilizada para fazer a carne seca dos Rangers. Inicialmente, eu adorava jogar o bife e vê-lo queimando no ar, mas esse truque para mim já havia perdido a graça faz tempo, então eu me sentei, sabendo que levaria um bom tempo para Shiryuu engolir a carne grossa.

Pensando que não era uma alternativa tão ruim, decidi perguntar a Shiryuu o que eu deveria fazer.

Previsivelmente, ele me ignorou completamente, concentrado em sua refeição. Pequenos jatos de fumaça e chamas escapavam de suas narinas enquanto ele mastigava a carne enegrecida com vontade.

Shiryuu terminou em cerca de trinta segundos, um novo recorde. Ele devia estar com fome. Obedientemente, joguei o próximo bife no ar, observando-o desaparecer em um flash de fogo e mordidas.

Analisei meus medos e receios. A opção mais segura seria esperar juntar dinheiro outra vez e me registrar. Eu nunca pensei em tentar uma bolsa para Ranger ou Milícia; por alguma lógica, decidi firmemente que eu tinha que ser um treinador, um viajante, livre de dívidas e obrigações explorando todos os lugares. Eu não tinha certeza do que procurava, mas isso não enfraquecia a força das minhas convicções. Uma pessoa não deve necessariamente estar procurando algo para encontrar.

A outra opção era me registrar em Viridian. Eu sabia, por pesquisas próprias, que o exame de licenciamento era muito mais barato lá por causa da grande população e do limitado número de Pokémon iniciais. Eles também não exigiam a compra de uma Pokedex junto com a licença. Se eu fosse para lá, poderia me tornar um treinador quase imediatamente, apesar de não ter um Pokémon inicial ou uma Pokedex. Não era uma coisa tão terrível, aprendia-se na escola a capturar um Pokémon sozinho, mas isso me colocava em uma tremenda desvantagem em comparação a Blue.

Mas, novamente, quando eu não estive em desvantagem em relação a Blue?

Blue. Sempre voltava a Blue.

Você já ouviu falar do termo “acordo tácito”? Blue e eu tínhamos algo assim. Nunca foi verbalizado ou dito em voz alta, mas nós dois sabíamos que sempre viria a isso. Eu contra ele, ele contra mim.

E olhe para nós agora. Hoje em dia eles estão chamando Pallet de ''A Cidade dos Campeões''. Vocês sabiam que o Professor Carvalho costumava ser um campeão?

Meu devaneio foi interrompido quando Shiryuu me cutucou com grosseria, obviamente esperando seu último bife. Pensei em uma coisa estranha ao entrega-lo.

Pense comigo. Shiryuu agiu de acordo com sua natureza me atacando. Ele obviamente não se importava com os problemas de algum humano que lhe trazia comida. Ao contrário da crença popular, a empatia não gera poder.

Talvez essa fosse a resposta que eu estava procurando para minha jornada, então? Seguir minha natureza.

Eu sei que parece banal, mas qualquer resposta parecia ser melhor que nenhuma. Me curvei para o dragão e dei um agradecimento meio sarcástico. Então carreguei os sacos de carne vazios para o buggy e voltei para a área principal.

Não, não corri imediatamente para começar minha épica jornada. No entanto, sai mais cedo do meu turno, utilizando dos muitos favores que os trabalhadores do rancho me deviam por eu trabalhar em seus turnos. A ''resposta'' me deu algo para ocupar meus pensamentos.

Qual era a minha ''natureza''? Considerei a pergunta enquanto caminhava pela trilha que levava do rancho do Professor á Pallet . Minha bicicleta havia quebrado no verão anterior, eu ia a pé todos os dias desde então, quase 16 quilômetros para ir e voltar. Era um bom exercício. Quando passei pelo mercado, uma resposta começou a se formar.

Toda pessoa tinha um sonho. Às vezes grandioso, como se tornar uma celebridade ou uma estrela. Às vezes mais humilde, como criar uma família ou passar na próxima prova. Há outra coisa que todas as pessoas parecem ter em comum: desistir

Para onde eu olhava eu via derrota. Pessoas capitulando, se contentando com menos, chegando “muito perto”. Lembro-me de alguns exemplos disso que ficaram na minha mente quando passava por eles na rua.

O dono do restaurante era um homem magro e careca, com uma licença de treinador desatualizada pendurada na parede e um dedo faltando mão esquerda marcada com cicatrizes de queimadura. Você podia vê-lo todas as noites de torneios no bar, gritando a estratégia de batalha mais alto que todos. Ele já havia ganhado uma taça?

A barista raivosa, que você podia ouvir cantar pela janela na hora do fechamento, era talentosa, jovem e atraente. Ela já teve uma audiência?

Lembro de minha mente voltar ao rancho, e ao seu venerado dono. Samuel Carvalho era um nome escrito nos paralelepípedos no final da Estrada dos Campeões. Seu nome era para estar gravado em detalhes dourados e, embaixo, esculpida sua equipe, naquela idade, ele se tornaria o sétimo treinador mais jovem a se tornar campeão, isso era reservado exclusivamente para aqueles que conseguiram vencer a Elite dos Quatro. Mas ele então ingressou na faculdade, obtendo seus dois doutorados em Poke-Tecnologia e Poke-Biologia, graduando-se em primeira na sua classe. Os dias de batalha haviam passado e seu cabelo se tornara prematuramente branco. Ele era o único dos campeões a estar trabalhando — e não batalhando — quando a Elite dos Quatro e o Grande Campeão se reuniram para testar os treinadores com oito insignias e ver quem era poderoso o suficiente para cravar seu nome nas pedras do Plateau.

Mas, chegou na noite das finais, o Professor estava lá conosco, bebendo tranquilamente sua cerveja com o resto de nós no bar lotado, olhando melancolicamente os treinadores sendo massacrados ou se sobressaindo na televisão pixelizada. Ele alguma vez sonhou em dar o passo final, de ir lá pela quinta vez e convocar Lance para a arena? Apesar de todos os seus sucessos, ele era mais um homem com arrependimentos que nunca seria capaz de banir?

Perdido em pensamentos, eu nem percebi por onde andava. Eu não estava indo pra casa. Eu estava indo pra outro lugar.

O limite da Cidade de Pallet era um vasto e longo campo verde, cercado por uma floresta de carvalhos altos. Bem no finalzinho, em uma inclinação, você conseguia enxergar a grama alta, e o caminho de terra batida da Rota 1 lá embaixo. Todos os anos, no dia da formatura, os treinadores caminhavam pelo campo e iam embora, a caminho de Viridian, para enfrentar seus desafios pelas Cataratas da Vitória e começar sua jornada Pokémon. Teria sido mais seguro e prudente limpar o campo e pavimentar o resto do caminho, mas a tradição raramente é prudente. Além disso, de qualquer forma, o campo era varrido de Pokémon de antemão — assistir seus alunos serem atacados e feridos logo de cara não seria muito bom.

Eu tinha que olhar de novo, percebi. Eu não estava mais inanimado de tristeza. Eu tinha que olhar a grama alta da Rota 1 para encontrar meu futuro e sentir meus próprios desejos, minha própria natureza. A lógica não me ajudaria. Eu tinha que seguir meu instinto.

Eles ainda estavam tirando as decorações quando desci do campo de trás de Pallet em direção a grama alta. A festa de pós-graduação havia terminado e agora os adultos estavam fazendo as malas.

Alguns estudantes se demoraram, aproveitando o brilho dos sentimentos. Copos de plástico estavam espalhados nas laterais, vazios, esmagados, descartados. Fiz uma pausa para deixar algumas crianças passarem sem me derrubarem, eles estavam sendo perseguidos por outra criança que parecia absolutamente convencido de que sua pokebola de brinquedo guardava um lendário e sentiu a necessidade de gritar seu poder para todos ouvirem. Dois homens levantavam um refrigerador enquanto outro dobrava as mesas. O xerife, satisfeito por não haver nenhum bêbado, montou em seu Rapidash e partiu. Vi o Professor Carvalho conversando calmamente com alguns homens de terno branco, que não eram ajudantes e que eu não havia notado a presença na cerimônia.

Passei despercebido enquanto me arrastava sob a bandeira de despedida, sendo desmontada por dois homens em cima de escadas. Parei na beira da grama alta, ceifada bruscamente na manhã anterior em preparação. Daqui, eu mal podia ver a borda do campo.

Nada. Não senti nada.

Frustrado, entrei na grama alta, sentindo o desespero arranhando a minha mente. Tinha que haver uma resposta, e tinha que estar aqui — onde mais eu poderia ir encontrar os caminhos para os meus sonhos?

Eu estava a uns vinte metros dentro da grama alta quando o sol desceu no ângulo certo para me acertar diretamente nos olhos.

Piscando rapidamente, puxei meu boné sobre os olhos.

Alguém chamou meu nome. Eu me virei e vi o Professor, abrindo freneticamente a grama alta com as mãos para vir em minha direção, uma expressão tensa de medo em seu rosto. Meu pulso pululou. A única vez que eu havia visto aquela expressão de pânico no rosto do Professor foi quando ele tentou domesticar um Munchlax. Dei um passo para trás, ouvi um guincho e algo se moveu debaixo de mim.

Agachado ali, rosnando sob a base das ervas daninhas, estava um Pikachu selvagem. Congelei instantaneamente. Eu não estava com medo — apenas crianças pequenas ficam com medo — eu estava apavorado.

Para você, pode parecer bem cômico. Pikachus estão entre os Pokémon mais fracos, desafiando a correlação de poder-raridade.

Em média eles possuem meio metro de altura, e armazenam toda a sua eletricidade nas bochechas. A maior parte de sua popularidade vem de Concursos e Espetáculos Pokémon.

Esse Pikachu, no entanto, não era pequeno. Tinha mais ou menos um metro, e sibilou pra mim, balançando sua grande cauda. Eu sabia que estava muito encrencado. Normalmente, Pikachus são dóceis, animados e evitam o contato humano, mas eles eram extremamente protetores com a sua cauda, e por boas razões. Pikachus utilizavam a cauda como um condutor de proteção, escoando o excesso de eletricidade que o deixaria doente. Um Pikachu com uma cauda quebrada, estava condenado a uma morte lenta por auto-eletrocussão.

E eu havia acabado de pisar nela. A evidência do meu crime era a marca da pegada enlameada na cauda. O Pikachu estava obviamente puto.

Levantei minhas mãos lentamente e espalhei meus dedos no mesmo gesto que eu tinha usado com Shiryuu.

— Piiiiiiiiiiiiii-! —

As bochechas do Pikachu brilharam brevemente, e vi um forte chicote elétrico, mais rápido do que pude me proteger, e o mundo inteiro ficou branco. Meu corpo travou com força antes de eu desabar, meus músculos estavam falhando e saindo de meu controle. Parecia que alguém tinha ligado um aspirador dentro do meu intestino. A brancura se dispersou em explosões estelares de dor, me deixando paralisado na terra. Meus sentidos paravam gradualmente, lentos e incompletos, o mundo ao meu redor balançava e nublava, como se eu estivesse vendo tudo de dentro da água.

Eu podia ouvir o assobio agudo do Pikachu e o estrondo estático de uma Pokebola sendo liberada. Eu sentia um gosto estranho na minha boca. Minha pele parecia duas vezes mais grossa, roçando na terra e na grama pinicante. Minhas mãos, ao contrário do resto do corpo, queimavam. Estava tudo embaçado, até as cores.

Uma grande coisa de casaco branco se ajoelhou sobre mim, pressionando os dedos no meu pescoço. Que estupidez. Meu pescoço não estava machucado. Sim minhas mãos, minhas mãos, veem?

Tentei levantar meus braços, mas eles sofriam espasmos curtos como um Magikarp fora da água.

Distante, ouvi uma voz velha e familiar perguntar: — Você consegue falar, garoto?

Não conseguia, mas na minha opinião, respondi com um gemido muito bem articulado.

Fui erguido por braços fortes, e ouvi o Professor dizer a eles para me colocarem no seu caminhão: “ele vai ficar bem, apenas algumas queimaduras elétricas e paralisia, eu o levarei ao hospital” e “ligue para a mãe e conte o que aconteceu” e mais vários outros comandos rápidos que ele emitiu. Um dos homens de terno branco se aproximou e fixei os olhos no seu broche vermelho sem motivos específicos enquanto ele falava. Era um 'R' rodeado em dourado. O professor gritou para ele alguma coisa e ligou a caminhonete, então partimos.

Eu perdia e recobrava a consciência no caminho para o hospital, e meus lapsos de memória eram aleatórios: o professor trocando a marcha, o professor desfivelando o cinto de segurança, o professor em cima de mim enquanto eu era levado para o quarto. Com ele tão perto, notei traços sobre ele que nunca havia notado antes, linhas em seu rosto que não eram evidentes à distância. O Professor nunca pareceu, mas ele era velho. Velho e cansado. Você mal podia acreditar que ele tinha quarenta e poucos, seus cabelos eram brancos e seus olhos acabados.

Eu finalmente adormeci completamente antes de acordar cerca de uma hora depois, minhas roupas normais de alguma forma magicamente substituídas por uma roupa hospitalar. O canto dos grilos e a escuridão lá fora me informavam quanto tempo havia passado.

Flexionei as mãos enfaixadas e senti apenas uma leve pontada de dor, indicando o tratamento.

Encontrei minhas roupas na mesa ao meu lado e minha mãe em uma cadeira no corredor de fora.

Não irei enche-lo com as gentilezas e inquietações sobre minha saúde que ela fez. Minha mãe era minha mãe e ela se comportou na época como todas as mães teriam se comportado, a sua, a minha ou a de qualquer outra pessoa.

Bem… talvez não a sua.

Não faça cara feia, nós dois sabemos que você é uma puta sem coração. E você, eu não conheço sua mãe, mas a julgar pela sua ocupação, ou ela te abandonou, ou não sabia como criar um filho.

Continuando, finalmente voltamos para casa. Ashford estava preocupado, é claro, e estava fazendo sinais de tristeza com as mãos em todas as direções quando entrei.

Diferente de mim, Ashford sempre foi famoso na cidade. Mistermimes não eram uma escolha muito comum como Pokémon doméstico, devido a um estigma associado aos Tipo-Psíquico e aos Mistermimes em geral. Desculpa dizer isso, mas alguns Mistermimes eram verdadeiramente grotescos, com rostos congelados em caretas ou choro. Ashford teve sorte, seu exoesqueleto havia congelado em uma expressão condescende, não diferente de um mordomo irritante, sobrancelhas erguidas e olhos arregalados com um lábio superior rígido.

Eu rapidamente fiz um sinal de 'tudo bem' com três dedos na mão esquerda e depois mostrei minhas mãos, onde apenas manchas fracas de cicatrizes brancas indicavam que o encontro com o Pikachu havia acontecido, tudo graças às capacidades curativas de um extrato de Ovo de Chansey. O Mistermime ficou mais calmo e começou a preparar o jantar.

Parei de pensar em quanto seria a conta do hospital e me encarreguei do principal desafio da noite: me despedir da minha mãe.

Eu fiz isso na hora do jantar. Ashford colocou meu prato na minha frente e eu não toquei nele por um tempo. Meu estômago ja estava cheio de indecisões.

— Você não está com fome? — Minha mãe perguntou.

Eu disse a ela que não estava. Então eu disse a ela que estava indo embora amanhã para me tornar um treinador Pokémon.

Minha mãe pousou o garfo e limpou a boca com o guardanapo e não falou nada por um tempo. — É muito perigoso. — Ela disse.

Depois de uma pausa, ela acrescentou. — Você viu o que aconteceu hoje. O mundo não é como Pallet. Eu sei que você pensa que sabe, mas não sabe.

Eu disse a ela que sabia e que, mesmo que realmente não soubesse, nunca descobriria se não aprendesse sozinho.

— Há milhares de coisas que podem dar errado. — Ela disse.

Eu disse a ela que as coisas dão errado em todos os lugares, e eu não precisava ir além do andar de cima do meu quarto — recém reconstruído — para perceber isso.

— Eu não quero te perder. — Ela finalmente disse. E sua voz tremeu à beira das lágrimas.

Eu disse que também não queria perde-la, mas mais importante, não queria perder a mim mesmo.

Ela afastou o prato, levantou-se e foi para a cozinha, não querendo me encarar. Entendendo que o jantar havia acabado, Ashford pegou nossos pratos cheios e colocou as sobras na geladeira. Eu sabia que ela ainda tinha mais a dizer, então não me levantei. A tensão e a culpa me enraizaram na cadeira, mas a convicção e motivação me estimulavam.

Minha mãe finalmente se recompôs o suficiente para falar uniformemente. — Pra onde você vai?

Eu disse a ela que iria primeiro a Viridian, onde o exame era barato e o licenciamento gratuito, e depois emitir meu desafio na Estrada dos Campeões. Depois, pela Floresta de Viridian para Pewter, e enfim Cerulean. Ou talvez eu seguisse um caminho diferente. Realmente não importava. Eu daria um jeito.

— Você não pode esperar? Até que você possa pegar uma carona com alguém para Viridian. Não quero que você viaje sozinho por aí.

Eu disse que não, se não eu ficaria nisso pra sempre. À espera de uma carona, à espera de dinheiro. Sempre havia algo mais para me fazer ficar, eu disse, e tinha a sensação de que ela sabia. Amanhã eu pegaria meu último salário com o Professor e depois sairia, sem exceção.

Infelizmente eu podia sentir o coração da minha mãe quebrar com aquela decisão, e desviei o olhar enquanto ela chorava. Já havia previsto esse resultado e suportaria as consequências de minha decisão.

Minha mãe foi para seu quarto depois de um tempo. Senti que ela não voltaria. Meu apetite voltou depois de uma hora andando de um lado para o outro na casa, inquieto, preparando-me para a minha partida, então eu peguei o prato na geladeira, terminei de comer e fui para a cama.

---------(=0=)---------


Enciclopedia Pokémon de Kanto - Index #122 - Mr. Mime
Características Básicas: Tipo-Psíquico, humanoide bípede, andrógeno.

Descrição: O corpo e os membros são cobertos por um exoesqueleto branco/esbranquiçado. Resistente e macio. Os membros são conectados à seção do tronco circular/oval por grandes esferas exoesqueléticas vermelhas bulbosas projetadas para proteger da luxação das articulações e vibrar em alta velocidade, produzindo o efeito de "barreira". Orbes semelhantes são observados na ponta de todos os dedos, capazes de vibrações igualmente altas e capacidade de criação de barreiras. Dois tufos curtos de cabelos azul-índigo/escuro são extrudados do crânio. Duas manchas exoesqueléticas redondas e rosadas se projetam das bochechas. Os pés assumem formas semelhantes às de um bobo da corte, com consistência e semelhante a couro grosso, permitindo mobilidade e equilíbrio sem sacrificar a defesa. O rosto é humanoide, com traços congelados na expressão que o Mr. Mime estava quando nasceu. Os olhos têm cerca de 1,3 vezes o tamanho de um olho humano normal e, em todos os casos típicos, assumem um tom carmesim.

Apelidos: O Pokémon Barreira, O Pokémon Palhaço, O Pokémon Mudo, Mimeys, PokePalhaço.

“... O Mistermime é um espécime interessante e único que se destaca como peculiar mesmo entre a estranheza natural associada aos tipos psíquicos. Ele não emite nenhum som distinguível e não apresenta nenhuma capacidade vocal, apesar de possuir a capacidade biológica, dificultando a vida dos pesquisadores. Antigamente supunha-se que eles eram do Tipo-Normal até que se percebesse que as intenções dos Mistermimes eram perfeitamente claras sempre que eles desejavam se comunicar. Observando isso, os pesquisadores conseguiram discernir que eles  se comunicavam através de uma linguagem de sinais, embora não conseguissem estabelecer um alfabeto ou padrão, pois a replicação dos gestos não produziu nenhuma resposta discernível em outro Pokémon, mais uma vez despistando-os dos sonhos de decodificar uma linguagem Pokémon universal. Eles não são um pokemon doméstico popular, pois muitos acham sua aparência humanoide e expressões fixas desde o nascimento inquietantes, mas desfrutam de uso comum na defesa militar e são uma parte essencial dos limitadores nos estádios de batalha, embora seu objetivo exato seja mantido em segredo para impedir tentativas de sabotagem e trapaça. Os Mistermimes se reproduzem assexualmente, e sempre são pais severos mas bastante protetores...“


Última edição por Musashii em Seg 8 Jun 2020 - 0:39, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Musashii)
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Re: Memórias Póstumas de Red - Publicado Sex 10 Jul 2020 - 19:34

Introdução:

Memórias Póstumas de Red Jogo-dos-campeoes-epitafio-de-red-18757722-180320201317

Pois nunca, jamais vendi minha alma para ninguém! Ela é minha! Humana! Extraia de mim o que eu desejo, pois não é possível que eu deseje algo mau… '' — Piquenique na Estrada

---------(=0=)---------

Acordei no dia seguinte com o som da minha porta abrindo. Levantei da minha cama percebendo Ashford, que acabara de entrar no quarto. Eu não tinha dormido bem, então desejei ao Pokémon, verbalmente, um bom dia.

Em resposta, O Mistermime me estapeou.

Eu sei o que você está pensando. Um Pokémon doméstico, atacando um humano? Ultrajante. Mas, apesar da dor ardente, senti-me envergonhado, em vez de chocado ou furioso. Eu estava acostumado com isso.

Era nosso jogo. Eu não tinha aprendido a linguagem dos sinais só observando — isso seria ridículo. Ashford se encarregou de me ensinar seus sinais desde quando eu era mais novo, de modo que hoje em dia, era falta de educação eu me comunicar com ele verbalmente. Ele nunca tinha me batido perto da minha mãe, é claro, e também não tão forte a ponto de me machucar. Sempre foi um jogo, o preço de errar era um pouco alto, mas como dizem alguns, sem dor sem ganho.

Me corrigi fazendo os sinais para 'acordado' e 'manhã', adicionando uma saudação no final. Ashford se afastou da cama quando me levantei.

Ele levantou ambas as mãos, e espalmou-as. Eu não estava no clima para brincadeiras, então tentei passar por ele. Ele se moveu para esquerda e bloqueou a passagem.

Levantei a sobrancelha e tentei o outro lado. Também bloqueado.

Ashford agitou os dedos. Aparentemente, ele não iria me deixar sair até eu concordar em jogar. Confuso, imitei sua posição e postura. Nós não jogávamos o jogo dos espelhos desde quando eu era criança, mas parece que a minha partida desencadeou algum impulso nostálgico nele.

O jogo dos espelhos era simples. Eu tinha que copiar os movimentos dele o máximo que conseguisse. Parecia fácil, mas se eu ficasse para trás por muito tempo, ele me daria um tapa no rosto, dois por hesitar. O jogo foi ficando cada vez mais selvagem e complexo à medida que eu progredia. Ele sempre me deixava passar se eu conseguisse imita-lo por uma boa quantidade de tempo. Eu me tornei bom o suficiente para praticamente prever o próximo movimento dele, e foi nesse ponto em que ele parou de me desafiar e se concentrou em me ensinar os sinais

Ashford começou em um piscar de olhos, primeiro, torcendo e curvando os dedos em nós. Ele não estava para brincadeira, tomei a mesma posição que ele e instantaneamente ele se contorceu em outra, eu acompanhando-o apenas alguns milésimos atrás. Ele pulou em um pé só e eu o imitei em um piscar de olhos. Agachamento com só uma perna, seguido por segurar um pé nas costas e abaixar. Provavelmente eu poderia dar aula de ioga.

Ashford elevou a dificuldade. Flexões com uma mão só. Um suplex alemão. E em certo ponto ele fez um cartwheel parado. Cinco minutos de intenso movimento depois, ele levantou uma mão e nós dois fizemos o sinal de ''pronto''. Ainda estava meio recoso, porque ele já havia me enganado mais de uma vez fingindo que terminou e em seguida fazendo um movimento complexo.

Mas realmente havia acabado, limpei o suor da minha testa na manga do pijama e observei os dedos de Ashford se curvando para dentro e para fora em movimentos incertos, olhando para mim, para o chão, e para o gesso semi-acabado do teto.

O Mistermine bateu no lado da testa com dois dedos. Lembre-se, ele disse. Ele se aproximou e pegou uma de minhas mãos e tocou a testa dele. Lembre-se de mim.

Eu fiquei tão emocionado que não conseguiria falar nem se eu quisesse. Tristeza e arrependimento me invadiram sem aviso prévio. Eu sorri e fiz uma série de sinais; "Futuro", "Lembrar" e "Carinho".

Comicamente, isso pareceu irrita-lo. Ashford fez um sinal para eu prestar atenção e repetiu o gesto de 'lembrar', desta vez com 'passado' e imitação entusiástica de flexão e abdominal.

Eu não pude deixar de rir. Lembre-se do que eu te ensinei, ele dizia. Claro. Ashford nunca tinha sido do tipo sentimental. Fiz um sinal de 'não se preocupe' e algumas combinações aleatórias de sinais obscuros como 'Estou com fome, mas não disso' e 'seis meses, três dias e cinco horas atrás' e 'Estou sendo perseguido por um grande Arcanine zangado e acredito que devemos correr agora '.

O Mistermime levantou as mãos em sinal de rendição e se arrastou para o lado, deixando eu passar. Parei para pegar algumas maçãs na cozinha e saí.

Sabendo que essa seria a última vez que veria a minha não amada, mas memorável cidade natal, eu me demorei para ir até o rancho. Fiz questão de dar bom dia para algumas pessoas que conhecia — O alfaiate e seu tear, que consertava os rasgos do meu uniforme de trabalho no rancho; o ferreiro e o carpinteiro, que eu via com frequência nos últimos dias por causa da reconstrução da nossa casa; a bibliotecária e suas coleções, onde eu passava muitas folgas; o doceiro e o barman. Eram todos relacionamentos pequenos e tranquilos, e eu não queria esquecer de ninguém.

Isso me atrasou, mas eu não tinha intenção de trabalhar mesmo. Isso era importante, queria ir embora sem arrependimentos tardios.

---------(=0=)---------

Um dos trabalhadores me indicou a localização atual do Professor. Era estranho atravessar os corredores brancos da ala principal do laboratório pela última vez. O cheiro de desinfetante no ar sempre me lembrava um hospital.

Os assistentes e cientistas que passavam no corredor nem prestavam atenção em mim, concentrados em suas próprias tarefas; o Professor sempre os levava ao limite, quebrando muitos sonhos daqueles que pensavam que participar da Equipe de Pesquisa era algo fácil. Tinha uns que se eu não saísse da frente me atropelariam. Esse lugar tinha um profissionalismo solene, do tipo que eu não gostaria de ficar por muito tempo.

O escritório do Professor era humilde e discreto como sua personalidade. A decoração monótona do escritório apesar de simples visualmente, era lendário por ter figurado diversos documentários sobre o Professor e seu rancho. Eu sempre gostei desse lugar. Aos meus olhos, o escritório do Professor parecia perfeitamente adequado para seu objetivo, desde as estantes de aço ao relógio digital na parede acima do Professor, postado ali para que os visitantes não desviassem o olhar do Professor enquanto conversassem caso estivessem com pressa. A única coisa de cunho pessoal era uma janela alta e estreita no fundo da sala, que dava para os recintos Pokémon mais próximos do rancho. Decorações eram para casas, não para laboratórios, segundo o Professor, decorações atraiam falta de profissionalismo e relaxamento.

O Professor respondeu tão prontamente como se estivesse me esperando quando bati à sua porta.

— Entre, Gary. — Sua voz abafada atravessou a porta fechada. Hesitei um segundo antes de entrar.

O Professor estava como sempre, nenhum traço dos eventos do dia anterior no rosto dele. Eu nunca havia o visto sem camisa polo, calças sociais e o tradicional jaleco branco até o dia anterior da formatura, quando ele alugou um terno para a cerimônia de seu neto. Os olhos dele se arregalaram um pouco quando ele me viu.

— Ah, é você Red. — Ele se referiu a mim pelo meu nome de batismo — ele sempre o fazia — mas pelo bem desse registro, eu simplesmente substituirei pelo meu apelido. Sua voz era suave e ponderada. — Eu não estava esperando você. Quando você perdeu a hora, presumi que você tivesse tirado um dia de descanso. O que posso fazer por você?

Eu disse a ele que estava deixando a cidade e que estava lá para receber meu último salário. Eu não me incomodei em medir palavras ou dar explicações — mesmo com toda sua brandura, o Professor não gostava de conversas inúteis. Eu adicionei um 'senhor' no final, no entanto. Era um termo de respeito, e eu não respeitava ninguém como eu respeitava ele.

O Professor encarou isso com calma — como ele encarava tudo. Raramente ele era pego de surpresa por alguma coisa. Eu esperava uma rápida assinatura no cheque, e talvez uma pergunta superficial, se ele estivesse se sentindo curioso naquele dia. Mas ele fez outra coisa. O Professor levantou-se da cadeira, e colocou o jaleco debaixo do braço.

— Caminhe comigo. — Ele disse, e eu obviamente o acompanhei. Era impossível não adquirir o hábito de seguir às ordens do professor depois de passar tanto tempo com ele.

Andamos pelos corredores do complexo. O Professor levou um momento para pensar e conceituar mentalmente seu discurso enquanto andávamos aparentemente sem destino. Ele começou a falar quando viramos um corredor.

— Você nunca foi como os outros, Red, espero que saiba disso. Não é apenas o seu desempenho escolar, que admito rivalizar até com o do Gary, ou o seu trabalho aqui, onde nunca vi mãos mais firmes, não, não essas capacidades. Essas são apenas questões de diligência: já vi o mesmo em muitos outros, embora talvez não no mesmo grau que você.

Eu via jalecos brancos por toda parte. Cientistas e seguranças, curvando-se para um ancião corpulento. Eu assisti os cientistas atrás de nós procurando cartões de acesso para atravessar o posto de segurança pelo qual o Professor simplesmente passou andando, afastando os seguranças indicados pela Liga para longe como se estivesse limpando teias de aranha.

— É a mente que nos move. Para falar a verdade, Red, já estou de olho em você há um tempo — mais do que você imagina. Você é uma anomalia. O que você pretende fazer lá fora? Recuso-me a acreditar que uma vontade como a sua existe sem ambição para alimentá-la. Qual é sua ambição?

Tínhamos chegado a um laboratório vazio, cheio de grandes supercomputadores e máquinas piscantes. Parecia um santuário interno, uma lente pediu um código, que o Professor teve que completar para conseguir entrar. Talvez fosse minha imaginação, mas senti que podia praticamente sentir o progresso científico acontecendo enquanto estava ali entre as máquinas, o potencial dos Pokémon sendo explorado um pouco mais a cada segundo.

Eu queria me tornar um treinador, eu disse a ele.

O Professor bufou. — Andar um quilômetro é uma ambição maior que essa. Toda dona de casa possui uma Licença de Treinador hoje em dia. Não. Tem que ser algo mais.

Perguntei se ele tinha tanta certeza porque ele não me dizia então, já que minha resposta não valia de nada. Talvez tivesse sido mal educado, o Professor sempre foi um herói pessoal meu, e ouvi-lo menosprezar meu sonho doeu mais do que eu estava disposto a admitir, apesar de seus elogios generosos anteriores.

As sobrancelhas do Professor se ergueram antes de retornarem ao normal, ele suspirou e encostou as costas em uma mesa, com uma expressão que eu descreveria como envergonhada, se estivesse estampada em outra pessoa.

— Julgo que utilizei as palavras erradas. Não o convidei aqui para menosprezá-lo, Red, muito pelo contrário. Quero lhe oferecer um emprego, no meu laboratório.

Como você pode imaginar, fiquei um pouco chocado. As pessoas estudavam anos para ter a chance de concorrer a uma bolsa no laboratório do Professor. E só a nata conseguia atrair a atenção do Professor, e isso depois de anos de trabalho no campo. Se eu conseguisse uma bolsa de pesquisador sem um diploma seria algo completamente sem precedentes. E eu conhecia o Professor. Ele não faria essa oferta de brincadeira. Você teria que ser louco para dizer não.

Mas eu disse, eu disse não.

Era obviamente uma resposta à qual ele não estava acostumado, pela carranca que fez. Mas, como um bom cientista, ele recolheu esses novos dados, e retomou o fio da meada.

— Você deve se tornar um treinador, então. É algum ginásio que chamou sua atenção? Sei que não são os Rangers, a marinha, a polícia ou a milícia; caso contrário, você simplesmente teria conseguido uma bolsa de estudos facilmente — O Professor continuou, procurando respostas na minha declaração em branco. — Eu simplesmente gostaria de entender seus planos.

Eu procurei aprovação no rosto do Professor quando comecei a explicar meus planos, mas senti um crescente desconforto ao ver o rosto dele enrugar em uma expressão de desaprovação.

— Você está disposto a começar sem Pokémon ou Pokedex? — Ele perguntou baixinho, uma nota de descrença em sua voz. Ele tinha um bom motivo. Tentar me tornar um treinador sem um Pokémon inicial era uma jogada arriscada, na melhor das hipóteses — eu teria que pegar um selvagem e treiná-lo ou capturar um selvagem cujo preço de venda pudesse me dar o dinheiro suficiente para comprar um inicial, ambos eram negócios perigosos que exigiriam que eu me aventurasse na selva sem um Pokémon para me defender. Mas, eu tinha confiança na minha habilidade. Passei toda a minha infância na floresta de Pallet e sempre obtive a maior pontuação nos exercícios de caça e rastreamento na escola.

Eu disse isso e o Professor caiu em pensamento silencioso mas furioso. Ele apertou o queixo e balançou a cabeça negativamente.

— Não. Não, isso não vai ser bom. — O Professor virou-se para a mesa e abriu uma das gavetas. — Eu tenho um novo trabalho para você, Red, um que acho que você aceitará.

— Johto acabou de lançar a sua nova Pokedex de segunda geração há alguns meses, você deve lembrar. — O Professor disse. Eu assenti. Ele mostrou a Pokedex na mão. — Bem, ela está recebendo ótimas críticas, então o conselho de pesquisa tecnológica de Kanto começou a me pressionar para rivalizar com eles, interessados em uma competição amigável, pelo menos é o que me dizem. — Ele encolheu os ombros. — Cá entre nós, metade dos membros do conselho é separatista, por isso tenho certeza de que há alguma coisa política do tipo minha região é melhor que sua região acontecendo. No entanto, eu decidi concordar e acabar logo com isso, então aqui está: a segunda geração da Enciclopédia Pokémon de Kanto, com mensagens ilimitadas, desbloqueio por touch, joguinhos e todas as outras bobeiras que fizeram os treinadores de Johto babarem.

O Professor a colocou sobre a mesa e empurrou-a em minha direção.

— O problema é que ainda não foi testado por ninguém. Tenho certeza de que resolvi todos os bugs, mas cuidado em excesso nunca é demais. Eu gostaria que você ficasse com ela e escrevesse uma resenha depois. — Seu rosto então tomou o sorriso que o tornara o visitante favorito na escola de Pallet. — Eu não vou pedir para você fazer isso de graça. Que tal uma cópia antecipada e a isenção da taxa para o exame inicial de treinador?

Eu não conseguia falar. Foi perfeito. Foi a melhor coisa que alguém já havia feito por mim. Mas eu tinha que agradecer e recusar.

Que?

Claro que você não entende. Você nunca foi pobre. Quando você vive sem muita coisa, seu orgulho se torna tudo que você tem. Eu nunca havia aceitado caridade e não era hoje que eu começaria aceitar. Acreditava que se eu aceitasse, eu prejudicaria tudo que minha jornada representava.

Felizmente, fui impedido de cometer o maior erro da minha vida por ninguém menos que meu rival, atravessando a porta bem naquele momento.

— Eai, esse é um baita de um acordo, ein, Red. É melhor você não ser estúpido de recusar. — Blue falou esticado e com o sotaque característico da cidade rural de Pallet. Sua fala foi se tornando mais informal gradualmente, reflexo das tardes que passara com os oficiais da Milícia e dos Rangers. Seus braços estavam confortavelmente dentro da jaqueta, um pacote com uma tira ao redor do cotovelo. O Eevee de Blue, um inicial raro que sem dúvida fez o Professor suar para conseguir, seguia atrás dele obedientemente. — Saca, não é como ele estivesse dando pra você. Eu também tenho, e pode acreditar que ele vai me dar uma novinha em folha caso seja lançada.

— Olá Gary. — O Professor respondeu, acrescentando muito secamente. — Boa tarde para você também.

— E aí vovô. Aqui está o seu pacote, ou seja lá o que for isso — Blue jogou o embrulho em uma mesa, onde aterrissou com um estrondo. O Professor estremeceu. Blue me deu curto aceno com a cabeça. — Vovô me contou sobre o leve choque que você levou, então passei na sua casa para ter zoar por ter sido derrotado por um rato amarelo. Cheguei a tempo de ouvir você falando essa besteira de ir pra Viridian. Se liga, eu comecei na frente, com um Pokémon bom e raro. Como você espera me alcançar indo obter sua licença em Viridian? Vai economizar para a Pokedex e treinar um selvagem? Nem se de o trabalho. Se você fizer isso, eu já vou estar na metade da liga quando você começar.

— Gary pretende desafiar os Ginásios de Kanto. Ele já até contratou um mentor. — O avô explicou. Não havia orgulho em seu tom, mas o fato do professor sentir interesse em mencionar isso era revelador. — Ele diz que pretende desafiar a Elite dos Quatro.

— Pode apostar que vou. Irei me tornar o Grande Campeão, cara, Hall da Fama. — Blue sorriu. — Você vai me ver sempre que abrir sua carteira e pensar ''cara, eu queria ter aceitado aquele acordo quando eu era mais novo'' — A expressão de Blue mudou rapidamente de descontração para uma carranca. — Você não quer ser esse cara, Red. Aceite o trabalho.

Eu gostaria de dizer que passei muito tempo lutando com meus desejos conflitantes, meu orgulho e meu sonho, mas o tempo que passei ponderando foi uma desilusão. Minha mente já havia decidido no momento que Blue entrou naquela sala como o rei do mundo e de todos que habitam nele. Arrogante ou ambicioso, certo ou errado, eu queria isso, e queria muito. Qualquer atalho que me aproximasse desse objetivo eu pegaria, e foda-se o custo.

Hesitei por poucos segundos e silenciosamente peguei a Pokedex. Um grande sorriso provocativo se espalhou pelo rosto de Blue e ele me deu um tapa nas costas. — Esse é o espírito, Red! Carpe diem, faça ou morra, que se fo — Ele olhou incisivamente para o avô. — que se exploda as consequências. Quem quer viver para sempre?

— Menos, Gary. — O professor disse sarcasticamente, um sorriso irônico torcendo seus lábios. — Vou mandar trazer o exame.

— O que? Ah cara, você tá de brincadeira? Aquela coisa bizarra? — Blue reclamou, obviamente não querendo deixar a papelada estragar o clima. — Vamos lá, vovô, nós dois sabemos que o teste é uma piada. Esqueça onze anos, eu passaria até com dois. Você realmente vai perder tempo com esse papel higiênico?

O Professor parecia pronto para rebater, então eu intervi rapidamente, assegurando-lhe que estava feliz em fazer o exame.

— Obrigado, Red. É bom ver que há quem aprecie o valor de seguir o procedimento.

Após uma mensagem em um computador e uma breve espera, uma assistente trouxe uma cópia do ECTP de Pallet, ou Exame de Certificação de Treinador Pokémon. A assistente era magra e alta, com óculos redondos e sapatos de salto alto, Blue se recusava a deixá-la sair da sala sem tentar conquista-la. Ela fugiu antes que ele pudesse pensar na próxima cantada.

Levei cerca de meia hora para terminar o exame. Eu não precisei olhar mais de uma vez para uma pergunta de múltipla escolha, e as respostas longas eram risíveis. O exame se focava mais em evitar Pokémon do que treiná-los. Eu teria terminado antes, se Blue não tivesse soltado comentários adicionais toda vez que eu virava uma página; aparentemente ele havia memorizado o exame.

— Oh, página três? Confira a pergunta 23, você vai rir.

— Apresse-se e vire, cara, há um erro de digitação na pergunta 45 que você precisa ver.

— Oh, você chegou nas respostas discursivas, ótimo. Ei Red, cara, olhe para o número sete. "Em que horário seria o melhor momento para atacar um Snorlax"? Quem faz essa pergunta com certeza nunca encontrou um Snorlax.

Terminei e levantei para entregar o exame, mas Blue rapidamente interceptou e o pegou antes que pudesse agir, lendo e folheando como uma criança impaciente. O Professor passou a mão no nariz e suspirou irritado.

— Certo, certo, certo, certo, — declarou Blue, em um tom de tédio. — Certo, certo, um errado, dois errados — caramba, Red, o capítulo sobre direito Pokémon estava faltando em seu livro ou o quê? — continuou — Certo, certo, certo e certo. Respostas discursivas estão longas, então provavelmente estão certas, ou pelo menos fazem sentido. — Ele entregou o exame avô, pegando um chiclete no bolso e colocando-o na boca. — É agora que agimos com suspense como se ele fosse reprovar?

O Professor pegou o exame e começou a folhear quase na mesma velocidade que seu neto. As mentes dos Carvalhos pareciam funcionar em velocidade impressionante. Ele lecionou enquanto lia. — Não, Gary, simplesmente existe uma coisa chamada não comemorar antes do — Ele parou — Não tem nenhuma questão errada aqui, Gary, sobre o que exatamente você estava falando?

— Eu considerei a pergunta dos pokesteroides anabolizantes errada porque é. A única coisa que ilegalizar eles fez, foi leva-los para a comunidade criminosa. Você sabe quantos Pokémon morreram por causa de Doces Raros misturados? Você sabe quanto dinheiro Kanto poderia ganhar legalizando e taxando-os? — Blue deu de ombros. — Quero dizer, eles não vão parar de usar mesmo, ilegais ou legais. Metade dos militares os usam. Tudo que precisa ser feito é legaliza-los, taxa-los e reafirmar a regra de não uso na Liga com testes, para que os competidores se mantenham limpos. Fazendo isso você mata a receita vinda do contrabando e venda criminal, reduz as taxas de criminalidade, mortalidade e cria uma nova indústria, gerando mais empregos e dinheiro para a Liga. Tudo de uma só vez.

— Os testes mostraram que os Pokémon que usam pokesteroides são quase impossíveis de serem reintegrados na natureza.— O professor argumentou. — E isso sem falar do problema do vício.

— Uh, o que? Vícios a doces puros são sempre psicológicos. Os únicos vícios reais surgem de doces misturados com narcóticos, que não seriam permitidos se os Doces Raros fossem regularizados!

Sentindo sinais de uma longa discussão, eu rapidamente me intromei para perguntar meu desempenho no teste. O professor piscou e olhou novamente para o meu exame antes de colocá-lo na mesa.

— Uma pontuação perfeita, como eu suspeitava. Assim como meu neto aqui teria obtido se ele não estivesse muito ocupado levantando bandeira para a legislação dos drogados.

Blue franziu as sobrancelhas. — O argumento de reintegração nem sequer é um ponto válido. É raro até para criminosos liberar Pokémon na natureza. Nosso objetivo não é mais a expansão? Esquecemos que foram os Pokémon selvagens que criaram os Continentes Negros.

Perguntei rapidamente quando eu ia conseguir meu Inicial. O Professor desviou o olhar severo de Blue e esfregou o queixo, pensativo.

— Infelizmente, Red, eu só pedi os três iniciais para a graduação e, é claro, Blacky aqui. — A Eevee de Blue, recusando-se a ser ignorada, pulou sobre a mesa ao lado do Professor. Ele a acariciou abaixo do queixo. — Além do Pikachu capturado ontem, não tenho Pokémon de nível inicial no rancho. Posso fazer um pedido hoje, mas vai demorar alguns dias até chegar.

— Isso é péssimo, parceiro. Eu estava esperando uma pequena batalha antes de ir. — Blue enfiou as mãos nos bolsos. — Ah bem. Talvez sua mãe possa tolerar você por mais alguns dias, não é? A gente se vê por ai. — Ele assobiou bruscamente para Blacky, que saltou da mesa para se acomodar a seus pés.

Blue estava indo embora? Perguntei.

Blue esfregou a nuca sem jeito. — Bem, sim. Eu só voltei só para entregar o pacote do vovô e respirar um pouco. Dica de irmão, Red: o macete para desafiar os Ginásios é ir devagar. Mais da metade dos perdedores que você vê nos noticiários são aqueles que tentam ir direto ao ginásio, atravessando as rotas com pressa e só batalhando com outros treinadores. Isso não funciona. É preciso de experiência. — Ele cruzou os braços. — Vou atravessar a Floresta de Viridian. Será um bom lugar pra treinar Blacky e esse novo Pidgey que capturei. — Só naquele momento que percebi a Pokebola extra presa no clipe magnético do cinto. — Ele sorriu maliciosamente — Talvez se você se apressar, poderá me alcançar em Pewter. Mas acho difícil.

Ele então me deu um dos mais falsos e bajuladores ''joinha'' da história da mentira e virou-se para sair.

Virei para o Professor e disse a ele que ficaria com o Pikachu. Pode chamar isso de rivalidade, ou apenas cansaço de ser sempre menosprezado por Blue. Naquela época, eu não fazia ideia do que aquele Pikachu significaria para mim. Naquele momento, eu simplesmente me recusei a deixar o Blue sair por cima de novo. Certamente isso serviu para esse propósito. Blue ouviu, retrocedeu um passo e olhou para mim com uma cara estúpida. O Professor apertou as próprias mãos, preocupado.

— Você tem certeza, Red? Não tive nenhuma chance de domesticá-lo. É provável que a última memória dele seja de seu ataque. Estou perfeitamente disposto a fazer um pedido urgente de inicial, se estiver preocupado com a velocidade de entrega. E eu não posso em sã consciência lhe entregar um selvagem.

Não havia como retroceder agora. A ideia já havia se enraizado na minha mente. Eu venceria Blue; e faria isso começando com um selvagem. Eu assegurei ao Professor que ficaria com o Pikachu.

Blue gargalhou. — Ah cara, vovô, Red falou então tá falado!

— Fica quieto, Gary! — O Professor falou, finalmente perdendo a paciência com seu neto. Ele suavizou seu tom enquanto falava comigo. — Red, você tem certeza de que não está agindo precipitadamente? — Ele pensava que eu estava cometendo um erro tolo, tomando essa decisão de sangue quente, e estava meio certo.

Olhei para Blue e vi algo completamente diferente. Havia uma diferença na maneira como ele olhava para mim, um desafio tácito no jeito como ele ficava de pé, com as mãos no bolso, o rosto brilhando em antecipação. Antes, eu era o que ele havia superado e deixado para trás. Agora, com essa ação ousada, eu era seu rival renascido, igual, respeitado, para ser prudente, para ser temido.

Naquele momento, naquele lugar, eu senti que podia escalar o pico do Monte de Prata para sentir isso novamente, de mãos nuas e de rosto ensanguentado.

Perguntei ao professor quão rápido ele poderia trazer o Pikachu até aqui.

Blue sorriu de orelha a orelha. O Professor ficou sombrio, rancoroso, quase frio. — Então não há como dissuadi-lo. Bem. Vou buscar o Pikachu e o dinheiro de seus trabalhos no rancho, quaisquer consequências a partir de agora são problemas somente seus. Já basta de lidar com crianças por hoje.

Menos de uma hora atrás, tal dura declaração do Professor teria me intimidado — agora, era o descontente zumbido de um mosquito. Ganhei muito mais do que perdi naquela conversa, senti.

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Passei em casa, é claro. Como não poderia?

Vocês dois não iriam entender, já que nunca tiveram pais, não do tipo real, que você sabe que te ama; aquele amor como a gravidade, a água corrente e o próprio tempo; um amor que não pode ser medido ou mudado por nenhum ser, ou força existente nesse mundo.

Não direi a vocês nada sobre a despedida que ocorreu lá dentro, nem uma palavra sobre o que foi dito, nem sobre os sentimentos que foram compartilhados. Descrever para vocês a sensação de deixar um parente é o mesmo que explicar cores para um cego, ou cantar para um surdo. Mesmo que eu pudesse, eu não iria faze-lo. Ver vocês, Rockets, apodrecer pela própria ignorância é uma visão muito mais agradável a meus olhos.

Um pouco depois, eu estava de volta à rua, infelizmente, o sol não estava nem perto de se por, estava bem no topo, arruinando aquelas cenas bonitas de uma saída dramática.

Andei até a beira da cidade. Entrei sem hesitar. Foi um breve minuto até chegar ao outro lado, um período durante o qual pareci me tornar hipersensível a meus arredores. Eu podia ouvir todos os carvalhos e o vento sussurrante. Eu podia sentir a grama e as ervas daninhas através das minhas calças de viagem e provar o gosto do verão seco de Kanto. Eu podia sentir o cheiro da minha alma de adolescente deixando o corpo.

Primeiro, meu pé direito atingiu a poeira da Rota 1 e depois o esquerdo. As minúsculas nuvens de poeira que levantei pareciam flutuar para sempre.

Olhei para trás e vi meu passado exposto em uma grande desgraça.

Olhei para frente e vi a eternidade.


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1) Alfaiate e Ferreiro: Devido ao ódio dos Pokémons por locais grandes de fabricação, produção em massa e poluição, os assentamentos - como Pallet - sem uma muralha ou milícias fortes, tendem a regular práticas menores como essa, essenciais para a vida civilizada. Isso levou a um grande reavivamento em pessoas habilidosas e especializadas, muitas vezes auxiliadas por Pokémon.

2) Documentários: Desde que a tecnológica de gravação foi legalizada, o cinema e a televisão sofreram uma explosão de interesse. Alguns artistas chamam de A Renascência do Video. Muitos filmes educacionais foram feitos para o uso escolar, incluindo biografias de figuras importantes, um grupo no qual os principais cientistas e pesquisadores estão definitivamente inclusos. Nesses filmes, o Professor Carvalho recebeu pouco interesse ou cobertura devido à sua personalidade não muito animada e discurso sucinto, por isso, não teve muito tempo em tela. Porém, ele é mencionado de entrevista e discurso sucinto, e não teve tempo extra na tela. Ele é, no entanto, mencionado em vários documentários do Professor Elm.

3) Coordenação Pokémon: O nome oficial para a ocupação em treinar Pokémon para competir em concursos. Muitas pessoas desinformadas e ignorantes chamam de nomes mais pejorativos como: Pokefan, Maquiadores de Monstros ou Pokegayzismo.

4) Exercícios de Caça e Rastreamento: Com o perigo iminente aumentando à medida que as cidades se tornam mais avançadas tecnologicamente, as aulas de sobrevivência rapidamente se tornaram obrigatórias nas escolas certificadas pela Liga. Essas aulas incluem a evasão e o rastreamento de Pokémon, sobrevivência, identificar sinais para retornar á civilização caso você se perca na natureza, e muitas outras coisas.

5) Continentes Negros: O nome plural para as grandes massas terrestres invadidas por Pokémon através do mar ocidental. Registros anteriores indicam que esses lugares costumavam ser divididos em países por humanos, a partir dos quais algumas comunidades unidas podem rastrear seus ancestrais e etnias. Nenhum contato relatado foi feito com nenhuma civilização humana além da nossa. Excursões pela Ásia Sombria, o Continente Negro mais próximo, são proibidas em todas as regiões e são classificadas como Traição sem Igual por todas as Ligas Pokemon. As únicas informações obtidas são de equipes militares altamente treinadas que atravessam o mar com pouca frequência para explorar a terra, que se tornou ainda mais pouco frequente nos últimos tempos devido às baixas taxas de retorno.

6) Sociedade: Cada pessoa é uma pessoa, uns treinam para batalhar, outras cobram cinco Idols por uma volta em seu Rapidash, outras passam dez aos em um mosteiro com um Shedinja ou um Dusclops contemplando a vida após a morte e a eternidade. Ou, como visto em maior quantidade em Sinnoh, veneram e adoram certos Pokémon. O que não falta nesse mundo é diversidade.
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