O conselho de Piers sobre "encontrar formas mais descoladas de atrair os moradores de Spikemuth" rendia à Amorina uma ideia louca: ir até as camadas mais rasas do abismo para fazer alguns registros e quem sabe encontrar alguma coisa que valeria a pena compartilhar nas redes sociais. Com uma mochila menor, porém com o necessário para viagens dentro do perímetro da cidade, a coordenadora começava a descer a escadaria sem fim, onde a medida que mergulhava, enxergava menos da iluminação extravagante de Spikemuth.

Amorina tinha um pequeno desconforto no peito depois de alguns minutos descendo as escadas, além de ter a constante sensação de que alguma coisa se debruçava sob seus ombros, como um lençol, mas sempre que ela checava, era apenas Litten quem metia o focinho na mão da garota para acalmá-la. Aliás, aquele era o único alívio da adolescente naquela escuridão silenciosa: seu familiar tinha ligações sombrias, podendo ser imune aos efeitos piores que o local podia causar.

- Será que realmente somos tão descolados? - questionou para o felino.

Contudo, era a voz ter saído quase como um sussurro que fez Amorina estranhar, já que não tinha forçado sua voz para ficar mais baixa. Ela podia gritar para testar se a névoa além de escura, também tinha alguma neutralização sob o som, mas achou que não seria prudente atrair atenção desnecessária de coisas ou pessoas que ela não conseguia ver. De repente, o clima local começou a aquecer gradativamente, sendo provavelmente uma reação incomum causada pela oscilação que a previsão do tempo tinha, que surpreendentemente, estava afetando até locais mais afastados da superfície.

Com a mão sob a parede de pedra, ela trombou com algo que era saliente à parede, focando para ver que se tratava de uma tocha. Aquilo dava um alívio momentâneo para ela, pois teriam luz para iluminar o caminho. Fazendo uma massagem com o indicador na orelha de Litten, ela dava a deixa para que ele soltasse um sopro contido de brasas, que lentamente colocou a ponta da tocha em chamas, que iluminavam uns seis degraus pra cima e para baixo, nada além disso.

Curiosamente, dos degraus mais baixos, Amorina via surgir uma criatura em busca da luz: um Capsakid, com aparência ainda mais pálida do que os que ela encontrou em Spikemuth. A falta de luz solar provavelmente comprometia a saúde deles. Felizmente, a criatura não se importava com a presença da adolescente, apenas focava em tentar chegar mais perto da tocha, como se fosse seu Sol particular.

- Sinto muito amiguinho, não acho que isso possa te ajudar - comentou para o selvagem, que apenas a encarou e sorriu, sem entender.

A coordenadora queria vez até onde o pequenino aguentava, ou se aquilo poderia render de fato algum efeito para o pequenino Capsakid. Para sua surpresa, de fato surtia. Talvez fosse o calor da caverna quem estava influenciando mais do que a tocha, porém alguma energia o gramíneo estava conseguindo captar, já que seu corpo lentamente reganhava a coloração verde-escuro e sua feição animada retornava. Ainda que não estivesse completamente recuperado, aquilo parecia suficiente para fazê-lo se achar capaz de chamar um combate amigável.

- Tem certeza? - questionou, vendo os punhozinhos do Pokémon chamarem pra luta. - Você quem tomou seu destino - retrucou, puxando o Lucky Egg e entregando para Litten.

x

- Litten use Flame Burst!

A experiência e agilidade do felino mágico permitiriam que ele agisse primeiro, fazendo seu cinturão se acender no tom laranja conforme as chamas se acumulavam para tornar o golpe. Além disso, graças ao calor do ambiente, o golpe também era impulsionado, resultando numa bola de chamas que reluziam e dançavam lindamente, mas que o poder era excessivamente cruel para quem fosse o sofrer. Na colisão do golpe com Capsakid, as chamas se espalharam em pigmentos de brasas, desmaiando imediatamente o selvagem.

Batalha:

- Eu achei que seria gentil - comentou com Litten, vendo o felino apontar para a tocha para justificar a amplificação da sua força. - Certo. Temos vantagem, de qualquer forma.

Amorina então tomou cuidado para pegar o selvagem e colocá-lo mais rente à parede da escadaria, esperando que caso alguém passasse com a tocha apagada, pelo menos não pisaria sem querer no Pokémon desmaiado. Depois, tomou o próprio rumo, mergulhando ainda mais na escuridão e agora mais atenta à possível presença de tochas. Acendê-las poderia ajudá-la a chegar mais fundo com rapidez, assim como podia ajudar aqueles que não trouxeram nenhuma fonte de luz boa para fazer pausas momentâneas, pois se os boatos estivessem certos, ela demoraria mais longas horas para chegar até o fundo.

Prosseguindo com a descida do abismo, Amorina já estava começando a formar gotículas de suor na testa, embora fosse incerto se foram causadas unicamente pelo esforço físico realizado, ou se era pelo calor que emanava de todos os lados. Por vezes, ela podia jurar ter visto alguma coisa se mover entre o breu na escadaria abaixo, porém sempre que chegava no mesmo ponto que a suposta aparição, não via nem escutava nada suspeito. Felizmente, o fato de Litten não ter arrepiado seus pelos era um sinal de que nada ruim ainda estava lhe rondando.

Quando se cansou, ela fez uma pausa e sentou diretamente nos degraus, bebendo da garrafa d'água lentamente. A magnata então se assustava, pois o líquido parecia tê-la refrescado bem rápido, talvez rápido até demais para o bem de qualquer um. Quando engoliu a água e respirou fundo, ela se assustou com uma fumaça branca se condensou no ar, indicando que a temperatura estava ficando fria de repente. Aos poucos, essa falta de calor começava a sugar a quentura do corpo da adolescente, fazendo-a se encolher.

- O que está acontecendo com Pokégea? - questionou para Litten, que apenas tentou aumentar o calor do cinturão para aquecer a dona enquanto ela caçava a blusa de frio.

Amorina odiava suar no frio, pois grudar nas roupas era uma das piores sensações na opinião dela, mas considerando que ficar exposta e pegar um resfriado era pior, ela simplesmente colocou a blusa de frio de Piers e se preparou para voltar a descer. Aquilo fazia a coordenadora perceber que sua estrada estava mais perigosa: os pedriscos de gelo que vinham lá da superfície se estilhaçavam sob os degraus do abismo, deixando cada passo mais liso e escorregadio. Por segurança, ela colou as mãos na parede de pedra e desceu um degrau por vez.

Após minutos sem nada que valia a pena ser mencionado, Litten fincou as garras na blusa de Amorina, fazendo um pequeno incômodo no ombro dela para que ficasse alerta. Olhando para baixo, ela viu uma criatura humanoide, de estatura que provavelmente seria maior que a da coordenadora e com uma cabeça desproporcional. Arrepios então subiram pela espinha dela quando o humanoide também viu sua silhueta na escuridão, começando a subir as escadas em seu encontro. Desesperada, pois subir tudo correndo com os degraus escorregadios não seria uma opção, ela esticou o braço e Litten já sabia o que fazer.

- Fire Fang! - comandou.

Ao invés de avançar com suas mandíbulas flamejantes, Litten engolia o golpe para criar uma manifestação de chamas mágicas na frente do rosto, imitando um Incineroar que rugia e reluzia na escuridão. Naquele vislumbre de iluminação, Amorina reconheceu quando o homem de camisa vermelha e cabeça de pano inspirada numa pokébola se agachou e começou a fazer movimentos de quem pedia clemência.

- Ball Guy?! O que você está fazendo aqui? - questionou, vendo quando o homem levantou a cabeça e fez um movimento positivo com a cabeça. - Pensei que ficaria mais tempo no Parque de Santalune - emendou, seguido de uma mímica do Ball Guy.

Embora os movimentos fossem confusos, Amorina podia jurar que ele tentava dizer que era "outro Ball Guy". A magnata levantava uma sobrancelha em incredulidade, pois uma pessoa excêntrica que usa fantasia de mascote já era difícil de se imaginar, mas duas.

- Certo, certo. Você é outro Ball Guy, entendi. Mas o que está fazendo aqui? - questionou, vendo o homem sacar algumas pokébolas especiais de uma mochila. - Hmm. Infelizmente ainda não tenho qualificação para criar Pokeballs, mas quem sabe outro dia - respondeu, vendo o homem "murchar" em frustração. - Mas, já que você estava lá embaixo... deve conhecer bastante sobre o abismo. Alguma dica?

Ball Guy fazia um sinal para que Amorina descesse alguns degraus, onde eles encontraram mais uma tocha para acender e conseguirem se enxergar melhor. Com isso, o mascote peculiar começou a fazer mímicas, esperando que a adolescente entendesse antes de prosseguir com as explicações. Por mais confuso que fosse, a magnata tentou extrair o máximo de detalhes para futuramente criar um panfletinho que poderia ajudar outros treinadores a transitarem com mais facilidade por lá. No fim, Ball Guy fazia uma mímica como se fosse um fantasma.

- Um fantasma? Uma aparição? Um monstro? - perguntou, recebendo um aceno positivo pro último. - Ele é perigoso? - questionou, vendo o homem confirmar exageradamente com a cabeça, quase como se dissesse "extremamente". - Eu... estou com um time bem forte aqui. Não se preocupe comigo.

Amorina então planejava seguir o caminho, quando Ball Guy intercedeu. Ele fez mais mímicas, apontando para o coração e mais uma vez murchava. A coordenadora entendia algo como "o abismo pode adoecer seu coração". Ela então se defendia apontando para Litten, porém Ball Guy não ficava satisfeito. Ofendido, o felino mostrou os dentes afiados para o homem, que pediu desculpas ao esticar um doce azulado (Exp Candy S). Depois, ele bateu duas vezes no próprio peito, apontando dele para a garota.

- Quer ir comigo? Para garantir minha segurança? - questionou, recebendo respostas afirmativas. - Certo. Obrigada - emendou sem questionar, embora tinha quase certeza de era mais ela quem garantiria a segurança dele, pois nunca o viu utilizar um Pokémon antes. Além disso, não faria mal ter companhia humana - ao menos era o que ela esperava - pra variar.

Provavelmente para testar se o coração do mais novo grupo estava ativo, o Itemfinder ligava com um apito alto e irritante, que fazia Amorina e Ball Guy darem um pulinho. Contudo, a magnata rapidamente superou o medo quando desceu lentamente, atenta ao sinal do aparelho, encontrando duas Shards reluzentes entre alguns vãos na parede do Abismo: uma Red e uma Dusk. Com a satisfação do lucro, ela soltava um sorriso grandioso, que até afastou brevemente sua angústia com o monstro citado pelo Ball Guy.

Amorina ainda estava se aventurando pelo Abismo, mas agora não estava sozinha. Depois de cruzar o caminho de Ball Guy, agora a dupla seguia junto o caminho abaixo, esperando encontrar grandes feitos para ganhar a sua tão desejada fama dentro de Spikemuth. De acordo com o mascote havia um monstro perigoso habitando aquelas bandas, sendo uma grande oportunidade para a coordenadora.

Felizmente, já fazia alguns minutos que a chuva de granizo parava, embora a adolescente não sabia dizer se as nuvens tinham desaparecido, pois estava numa camada do abismo que nem se enxergava mais as luzes extravagantes de Spikemuth. Contudo, o frio ainda perdurava e as escadas ainda estavam escorregadias, por isso a cautela era muito importante.

Depois de muito caminhar, Amorina e Ball Guy finalmente chegavam numa área com maior profundidade nas paredes, de tal forma que havia até mesmo uma pequena construção nela. Contudo, quando se aproximou, o local estava vazio, tendo apenas um barril com água que se dizia ser potável e gratuita. Encarando o mascote, ela questionava se era realmente seguro consumir algo que ficou tanto tempo no abismo, vendo quando o homem retirou uma garrafa da própria mochila, a abasteceu e bebeu, fazendo um joinha com as mãos.

- Vou ver se não tem nenhum efeito colateral com o tempo. Vamos, acho que não tem nada de interessante aqui - retrucou, decidida a não dar chance a sorte tão cedo.

Contudo, algo de fato tinha acontecido ali. Litten massageava os ombros da dona algumas vezes para receber atenção dela, depois flutuava na direção de um canto do local, onde encontraram uma garota desacordada. Amorina arregalava os olhos pra situação, vendo que havia um pequeno corte na testa da menina. A coordenadora então olhou em volta, esperando encontrar algum sinal do que acontecia, mas no fim só conseguia presumir que o acidente ocorreu em outro lugar e que algo ou alguém a puxou para se recuperar escondida.

- Muitas coisas se escondem sobre a escuridão, mas nem todas são ruins - pensou em voz alta, fazendo o Ball Guy encará-la. - Foi o que o Piers me disse antes de me recomendar vir ao Abismo. Acha que selvagens possam ter ajudado ela? Ao menos... dentro do que podiam.

Embora não seja especialista, a magnata sabia reconhecer uma pancada que exigia mais do que apenas tempo para recuperar. O tombo da garota desmaiada lhe rendeu um corte relativamente grande e deixava parcela de seu rosto inchado. Não era bom sinal. Amorina então conversou com Ball Guy sobre a possibilidade deles levarem ela no colo até a superfície, porém com os degraus deslizantes, ainda seria muito perigoso. Agachando-se para examinar um pouco melhor a enferma, a magnata riu quando viu uma flor aloliana de pétalas rosa pendurada na mochila lateral.

- É uma flor de Alola. Imagino quão difícil deva ser cultivá-las nesse clima louco de Pokégea - disse para Ball Guy, que também se agachou. - Havia uma tradição de levar uma flor para jornadas, pois diziam que elas poderiam ser oferendas aos Tapu guardiões caso fosse preciso de ajuda. Honestamente, poderíamos fazer uso da proteção deles nessa hora.

Após aquela fala, Amorina fechou os olhos e começou a desejar com todo seu coração por ajuda enquanto segurava a flor. Ela então sentiu tapinhas no ombro de Ball Guy e ao reabri-los, viu o chão ser tomado por uma cor rosa-choque, que dançava em padrões psicodélicos e inconstantes sobre o chão. Levantando o rosto, ela encontrava uma criatura rosa com aparência de uma mariposa. Suas asas tinham o mesmo padrão que ficava estampado nos desenhos de Tapu Lele.

- Não... é possível... - disse pausadamente, vendo seu RotomPhone se erguer para o registro.

Tapu Lele, o Pokémon espírito da terra. Esta divindade guardiã da antiga Ilha Akala é conhecida por ser cruel inocentemente. É capaz de curar as feridas de humanos e Pokémon ao lançar suas escamas brilhantes sobre eles. A fragrância das flores é a fonte de sua energia.

Após a chegada em Pokégea, muitos registros apontam uma forma bestial da antiga guardiã de Akala, assumindo a forma de uma mariposa que provoca alucinações fortes.

- Tapu Lele! - gritou. - Derrube sua benção sobre ela. Por favor! Ela... até mesmo tem uma oferenda! - emendou, esticando a flor rosada para a lendária.

Amorina não tinha certeza do que esperar da reação do Pokémon, pois sabia que de alguma forma os lendários Tapus foram corrompidos pela energia bestial dos buracos de minhoca, mas era uma oportunidade ótima para manter a jovem misteriosa em segurança. Ela então só pôde assistir enquanto Tapu Lele batia as asas, ora descendo alguns metros, ora subindo. Ela parecia sofrer uma briga interna para que não tomasse nenhuma decisão que pudesse causar dor, embora fosse conhecida por não pensar muito nas consequências de seus atos.

- Precisamos de você, Lele. Somos sangue de Alola e precisamos de ajuda - falou, vendo os olhos da mariposa focarem. - Atenda meu pedido, pelo menos dessa vez. Depois, prometo que irei lhe salvar... salvarei todos se for possível! - gritou.

Tapu Lele então mergulhou com uma velocidade assustadora, ficando cara a cara com a magnata. Amorina não mexia nem mesmo um músculo depois do ocorrido, embora tivesse congelado em sua feição determinada. Assim, a lendária aproximou o rosto na flor que ela segurava, vendo uma energia brilhante ser transmitida da planta ao Pokémon. Com isso, Tapu Lele batia asas e rodopiava em círculos acima do trio, derramando um pó fino e brilhante.

Em instantes, a ferida na testa da jovem desmaiada se fechava, além de despertá-la para também ver Tapu Lele. O trio assistiu calmamente a dança harmoniosa da Pokémon, até que ela começou a se contorcer e depois gritou. Com isso, todos começaram a sofrer a alucinação como se as paredes e chão derretessem, forçando todos a caírem mais uma vez no chão para aliviarem a sensação de enjoo. Notando o mal que causava, a Pokémon utilizava o resquício de consciência para abrir um buraco de minhoca, no qual mergulhava e desaparecia.

- Vovó ficaria triste em vê-la assim - comentou a jovem misteriosa, quando todos se recuperaram da alucinação. - Foi você quem a trouxe aqui, não é? Obrigada!
- Não. Eu só...

Amorina então encarava a mão em que estava a flor da garota, notando que ela tinha desaparecido, com um punhado de gemas rosa surgindo em seu lugar. Elas eram Psychic e Fairy, no mesmo padrão de tipo da lendária avistada. Assim, ela guardou os itens no porta joias enquanto conversava com a garota, buscando entender um pouco mais do ocorrido. Segundo ela, uma figura sombria se materializou na sua frente, fazendo-a sair correndo até que a chuva de granizos começou e ela tropeçou. Depois, não tinha lembranças.

- Sou Eva, aliás! - se apresentou, fazendo Amorina arregalar o olhos. - Sim, é inspirado naquela Eva, a atriz de cinema. Você reconhece?
- Sim. Eu... conheço o nome e rosto de Eva - retrucou nervosa. - Sou Amorina. É um prazer.

A magnata temia em entrar numa conversa com Eva sobre a antiga Alola e acabar soltando mais informações do que podia, por isso ficou bem grata quando o Ball Guy interveio para se apresentar utilizando mímicas. Contudo, assim que ele terminou sua cordial recepção, ele fez movimentos bruscos de quem estava irritado, como se repreendesse a jovem por ter se arriscado tanto no abismo. Amorina tentou fazer o trabalho de "tradução" das mensagens do homem, fazendo uma verdadeira palestra particular sobre os perigos daquela área, baseando todo seu conhecimento no que o próprio Ball Guy tinha lhe dito até minutos antes.

Aquele era o maior grupo de pessoas que Amorina encontrara em muito tempo e, para sua surpresa, no local menos previsível que podia-se imaginar. Mesmo assim, havia um conforto em imaginar que de fato a escuridão cobria algo positivo que ocorria ali: formação de novas amizades.

A reunião de Amorina, Ball Guy e Eva dentro do Abismo rendia uma conversa relativamente longa e agradável, onde após o trio experimentar o encontro com a lendária Tapu Lele, a coordenadora revelou já ter encontrado Tapu Fini e Koko em outra oportunidade. Aquilo deixava Eva animada, pois eram as divindades guardiãs de Alola se manifestando integralmente para uma filha daquela antiga região.

- Então, só te falta o Tapu Bulu. Como acha que ele vai se parecer? Considerando que... Lele é uma mariposa, Fini é um marlim-azul e Koko é um pássaro?
- Um touro. Ou uma vaca. Meu pai costumava dizer que o desenho da proteção dele lembrava bastante o crânio desses animais - retrucou. - E acho que ele será bem mais agressivo. Infelizmente nunca tive a oportunidade de ir até as Ruínas da Abundância.
- Eu também não. Na verdade, nunca sai muito de Hau'oli. Meus pais apenas fizeram meu batizado nas Ruínas do Conflito, depois nunca mais visitei. Do que mais sente falta de Alola?
- Tudo - brincou. - Mas eu gostava da energia positiva, das caixas de música espalhadas pelas ruas tocando nossas músicas lentamente. Mas definitivamente sinto falta das lojas de Big Malasada espalhadas por todos os lados!
- Não é?! Pokégea tem as piores Malasadas que já comi. Acho que falta a magia de nossa terra no cultivo das frutas que formam o recheio.

As duas garotas as vezes se silenciavam, assistindo as mímicas de Ball Guy para tentar explicar como eram as coisas em sua região natal, Galar. Amorina já teve as próprias experiências com os Pokémon Dynamax, embora nunca tivesse de fato utilizado o fenômeno. Contudo, ela começava a ficar receosa com a conversa, pois falar demais sobre a região natal podia trazer questionamentos sobre a família da garota e ela não podia revelar que era a herdeira Dourado. Não ainda, não enquanto ainda sentia que podiam exaltá-la mais por sua família do que por sua própria existência. Amorina merecia o palco, os sorrisos e a atenção, não a senhorita Dourado.

- A conversa está boa mas... acho que deveríamos ir. Em breve ficará noite, o que não é nada demais, porém o cansaço será maior e quero chegar em alguma parte plana antes disso acontecer!
- Oh. Certo, eu... não quero incomodá-la mais. Vou voltar a superfície. Sabe, eu talvez esteja com um pouco de...
- MEDO - interrompeu uma voz etérea e assustadora, completando a frase de Eva.

Todos então se viraram em direção à escadaria que levava até o abismo, vendo uma criatura que tinha apenas metade de um corpo decrépito, do qual uma névoa mais escura que o abismo dançava embaixo da aparição que flutuava. O monstro possuía uma máscara que cobria todo seu rosto, com fendas imitando olhos que emanavam uma cor roxeada. Amorina não precisava perguntar para saber: aquela era a aparição monstruosa e amedrontadora que vivia no abismo. Mas também era a oportunidade da coordenadora de conquistar uma vitória e se popularizar um pouco mais em Spikemuth.

- Cuidado, Amorina! Meus Pokémon estão feridos... não poderei ser sua retaguarda - explicou Eva.
- Não se preocupe. Quando a situação aperta, posso sempre contar com quem não se abala em mergulhar comigo nos riscos - disse animada, sacando a pokébola de Primarina. - Assuma o palco, minha estrela! Que nosso desafio seja marcado para a história desse lugar! - comandou, deixando que o Seal invocasse uma chuva holográfica antes de materializar a sereia cantora, que recebeu o Lucky Egg para extrair o máximo da luta.

Com Primarina já em campo, o monstro fazia um movimento brusco sob a escuridão, parecendo rompê-la com sua lâmina extremamente afiada, abrindo uma fenda de energia sombria que trazia um Gastly para o combate.

- Não se segure, querida! Ele não terá piedade se perdermos. Garanta nosso domínio com Sparkling Aria!
- Que seu pesadelo se amplifique... Hypnosis! - dizia a voz masculina, embora deformada e arrepiante do adversário

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Primarina estava em sua forma final, por isso era visível sua experiência superior à adversária. Assim, ela tossiu uma vez antes de começar a cantar, invocando pequenas bolas de água que foram crescendo de tamanho, até se tornarem medianas e serem direcionadas para colidir com o alvo. A cada nota alta que a cantora soltava, uma nova esfera d'água era disparada, ao passo que quando a última explodiu, o fantasma imediatamente caiu desmaiado.

Uma fenda se abriu próximo de Gastly, esticando mãos deformadas que puxaram o Pokémon para dentro dela, desaparecendo. Depois, um Impidimp saltava de dentro dela, com um olhar travesso e de quem poderia dar problemas para a cantora.

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- Fake Out!
- Tente ser mais rápida! Use Draining Kiss!

A clemência de Amorina acalorava o coração de Primarina, mas de nada adiantava, pois Impidimp avançava com tanta rapidez para bater palma na frente do rosto da sereia que a surpreendia, depois emendava dando um tapinha que pareceu causar pouco dano. Pela surpresa, a cantora aquática simplesmente não agia, recuando amedrontada pelo golpe, o que fazia Nocturne soltar uma risada satisfeita.

- Está tudo bem querida, estamos bem. Agora encaixe seu Draining Kiss!
- Silencie-a com seus segredos... Confide!

Graças à habilidade especial, Impidimp conseguia vantagem em avançar pra bem perto da sereia, começando a cochichar algumas palavras que somente os Pokémon eram capazes de entender. Primarina arregalava os olhos e dava uma pequena recuada com aquilo, sofrendo uma perca em seu foco mental, que afetaria sua força especial. Felizmente, mesmo aquela redução não protegia o diabrete de sofrer uma beijoca infundida com energia rosa-pastel, que causava grandiosos danos e recuperava o pouco de energia que a cantora havia perdido.

Como da outra vez, uma fenda se abria para puxar o Pokémon desmaiado, da qual surgia mais um Pokémon: Sableye. Com seus olhos de pedra preciosa reluzindo, ele parecia esfomeado por um ataque violento.

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- Fake Out! - ordenou, já sorrindo de prazer em sentir o medo aponderar de Primarina.
- Não dessa vez! Primarina use Protect!

Embora a agilidade do golpe a ser executado por Sableye era assustadora, a cantora não precisava se movimentar para realizar seu comando, apenas fabricava uma bolha translúcida protetiva ao redor de todo seu corpo, o qual reluziu quando o fantasma adversário tentou atravessá-la, mas não obteve sucesso. Nocturne suspirava irritado, fazendo um som arrepiante surgir de todos os lados.

- Agora pegue-o com Draining Kiss!
- Shadow Sneak

Com a prioridade do golpe sorrateiro, Sableye mergulhava nas sombras e sumia de vista, surgindo apenas quando Primarina estava olhando para o outro lado para lhe aplicar um arranhão fantasmagórico nas costas. Graças à boa resistência que possuía, a cantora rapidamente se recuperava e revidava dando um beijinho na testa do Pokémon sombrio, arrancando-lhe a energia enquanto se recuperava.

O Pokémon desmaiado era sugado pela fenda sombria que se abria rapidamente, deixando Nocturne irritado, embora a escuridão parecia ter aumentando quando uma rocha foi lançada para fora dela. Com desenhos esquisitos talhados, uma névoa roxeada e verde escorreu pelos cortes na pedra, revelando um Pokémon com um rosto amórfico que girava no sentido horário.

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- Phantom Force!
- Temos que pegá-lo antes de sumir, Primarina! Drainking Kiss!

Atenta ao aviso da coordenadora, a sereia se adiantou para dessa vez tornar o beijinho sanguessuga ser um projétil, que tomou a forma de lábios num batom rosa-pastel, que explodiu no rosto de Spiritomb e causou gravíssimos danos. Mesmo assim, o fantasma conseguiu colocar um sorriso sinistro no rosto quando mergulhou para a dimensão fantasma, sumindo de vista.

- Vamos nos precaver! Use Protect!

Nocturne não dava novas ordens, pois o golpe utilizado demandaria mais tempo de combate de Spiritomb para ser bem sucedido. Contudo, já preparada por ser uma usuária nata daquele golpe, Primarina invocava mais uma vez sua bolha protetiva que era apenas uma barreira translúcida, até se tornar algo reluzente e tangível quando Spiritomb tentou lhe dar um golpe sorrateiro ao ressurgir de um portal fantasmagórico, mas o dano fora anulado.

- Shadow Sneak!
- Aqua Jet!

Ambos golpes tinham sua execução mais ágil, por isso a mobilidade dos usuários era quem iria fazer um deles prevalecer. Como esperado e visto durante todo o combate, Primarina se adiantava em gerar a esfera d'água na ponta do nariz, depois se projetava para frente como um míssil infundido em água cristalina, que se chocava violentamente contra Spiritomb, desmaiando-o.

Batalha:

Nocturne não parecia ter levado bem a derrota, pois começava a respirar num ritmo acelerado de quem acumulava raiva e estava prestes a explodir. Assim, ele afiou suas lâminas afiadas e se imbuiu na escuridão, avançando em direção a Primarina para executar os cortes. Amorina tentava interceder o mais rápido que conseguia, se lançando sobre sua aliada sereia e dizendo:

- Não temos medo!

E assim, quando a manifestação sombria estava prestes a fincar suas lâminas sobre a dupla artística, ela simplesmente desmaterializou junto com as sombras, deixando apenas cair alguns fragmentos de pedra sombria em sua última posição. Amorina e Primarina então se encaravam, fazendo um aceno positivo uma para outra de quem se compreendia sem trocar palavras, depois se abraçavam.

- Você foi muito corajosa. Obrigada por não recuar.
- Tá brincando? Vocês duas foram ótimas! - exclamava Eva, saindo de trás de Ball Guy, onde se escondia. - Vocês nem suaram contra ele! Não sei quão difícil deve ser isto!
- Bom... já conquistamos nossa 2ª Fita, então temos experiência de jornada para lidar com algumas ameaças - brincou.
- Nossa! Você é incrível Amorina! Quando eu estiver no seu nível, quero ser tão destemida quanto!
- Quer um segredo? - sussurrou para Eva, vendo-a confirmar. Assim, Amorina esticava seu braço, que estava trêmulo. - Não sou destemida. Sou bem medrosa, na verdade. Mas a coragem só vai existir se você superar o medo!

Ball Guy dava aplausos exagerados para a última frase da coordenadora, fazendo-a rir de alívio. Esticando a mão, ela recebeu seu RotomPhone de volta, notando que o aparelho tinha gravado toda a luta, embora no vídeo a imagem de Nocturne simplesmente não foi captada. Aquilo já era esperado, mas a magnata esperava que apenas o combate contra os Pokémon e as fendas sombrias surgindo fosse suficiente para que os cidadãos de Spikemuth acreditassem que ela tinha enfrentado o "demônio do Abismo".

- Aquele último Pokémon... nunca tinha o visto - disse, virando-se para o RotomPhone, porém ele não tinha capturado as informações dele.

Amorina então se surpreendeu quando Ball Guy pediu permissão para segurar o RotomPhone da garota, começando a fuçar no aplicativo da coordenadora como se buscasse algo. Filtrando os Pokémon capturados pela adolescente, ele deu alguns pulinhos antes de mostrar para ela que havia pego mais de dez Pokémon Dark type. Com isso, ele sacou algumas pokébolas especiais do bolso e entregou para a magnata.

DARK TYPE CAPTURADOS



Obs: Estes últimos representam Sand Wraith Impidimp e Magical Litten.

- Tudo isso? Pra mim?! - questionou, vendo a Cramped, Dusk, Snare e Dark Ball.
- Ele presenteia pessoas quando capturam dez Pokémon Dark. Eu ainda estou tentando capturar mais dois pra receber presentes - explicou Eva, recebendo batidinhas no ombro de Ball Guy, como se ele desejasse "Força!".
- Obrigada! - agradeceu, dando um abraço no mascote, que retribuía. - Mas... acho que já tivemos algumas aventuras suficientes por aqui. Por que não retornamos pra superfície? Todos juntos?
- Não está fazendo isso só para que não sejamos atacados, né?
- Não - mentiu. - Só... acho que o Abismo já me concedeu o que eu precisava - finalizou, apertando o botão do RotomPhone e soltando o vídeo do combate em sua rede social.

O caminho de subida ainda era difícil pelos degraus escorregadios, porém agora o trio de humanos tinha muito mais segurança para caso alguém estivesse em perigo. Além disso, as tochas acesas por Amorina facilitavam a movimentação em algumas partes, sendo elogiadas por Eva, que compartilhava o desejo de poder influenciar positivamente o mundo. A coordenadora não tinha muitas ideias de como poderia ajudar, porém conhecia o local certo para essa busca:

- Una-se à Polícia. Eles vão guiar você no caminho certo, como estão fazendo em Pokegea! - disse animada. - Um segredo entre nós? - disse, abaixando a voz pra revelar: - Eu já faço parte dessa organização - finalizou com uma piscadela, recebendo um sorriso largo de Eva, com a promessa de que procuraria saber mais sobre a iniciativa.

Quando finalmente chegaram na superfície, tocando os pés nas ruas de Spikemuth, Amorina se despedia de seus novos amigos e seguia o próprio rumo. Ela não andou muito, pois logo Carbink se soltava da pokébola para orgulhasamente lhe apresentar as duas Dragon Gem que tinha produzido, sendo também o alerta para a coordenadora que as Starf Berries estavam prontas. Recolhendo e guardando todos os itens na mochila, ela agora seguia em busca de seu hotel, pois precisava de um banho após o suor do calor inicial e a negatividade impregnada do abismo.