Cidade de Novus
Manhã

A chegada em Novus era tão mágica quanto eu imaginei. Ainda assustado com o pokémon teleportador, abri os olhos e enxerguei uma multidão de pessoas. Zapy estava ao meu lado. A pokémon, com receio de ser pisoteada pela multidão, subiu em meu ombro.

— Zapy, que lugar incrível!

Eu não estava acostumado com os prédios altos e tanta gente passeando por uma praça gigantesca. Pallet estava crescendo, mas não era nem de perto parecido com esse formigueiro imenso.

— Bem, o enfermeiro comentou que eu encontraria algo nessa praça... Será que...?!

Girei sobre meus calcanhares, observando tudo ao meu redor. A praça era bem bonita, mas incrivelmente movimentada. Percebi grupos de turistas se aproximando, então aproveitei para acompanhar um de perto, sem atrapalhar os que já estavam ali. O guia turístico guiava o grupo e contava um pouco sobre a história de Novus, o que me deixou bastante impressionado. Eu estava em um local histórico para toda a Pokegea e aquilo mexeu com meu coração.

Caminhando mais um pouco, o grupo parou numa fonte gigantesca de dois pokémon lendários, Jirachi e Celebi. Ambos representavam o desejo e a sorte de um futuro próspero. O guia turístico apontou a oferta de uma moeda e um desejo, mas eu não acreditava naquilo. Dinheiro nenhum poderia comprar uma bênção ao meu ver. Fiquei maravilhado, tanto que não continuei acompanhando o grupo. Conforme o tempo passava, a hora do almoço se aproximava e poucas pessoas mantinham-se ali na fonte. Foi quando um senhor de vestes simples aproximou-se.

— É uma bela estátua, não acha? — ele sorria.

— S-Sim, senhor. Eu nunca tinha visto nada parecido antes.

— Ela era ainda mais bela quando estava limpa, mas as pessoas não se importam em fazer isso. — ele suspirou — Eu costumava limpá-la sempre, mas acabei me acidentando e estou incapacitado de tal tarefa no momento.

— O senhor precisa de minha ajuda para algo? Posso ajudá-lo!

— Você é um rapazinho de bom coração, posso ver logo. Arceus se orgulha de gente assim.

— Será que ele se orgulha de alguém como eu? Faz tanto tempo que não oro para ele...

— Ora, claro que sim! Arceus não nega seus filhos e eu posso sentir que você é um deles. — o velho caminhou até um banco próximo e sentou-se.

— E-Eu sinto que preciso me reconectar com ele e que o mundo precisa de mais amor também. — sentei ao lado do senhor, ainda olhando para fonte — Acredito que estar aqui possa ajudar nisso, mas não queria ofertar dinheiro. Não acredito que seja essa a melhor oferta.

— Então oferte seu tempo de serviço. Sirva à ele como ele serve a ti. — o velha falava sério.

— E como posso fazer isso?

O velho apontou alguns baldes e esponjas de limpeza. Como também um sabão líquido próprio para o mármore da fonte. Sim, eu serviria ao Criador limpando as estátuas dos pokémon que o auxiliavam na manutenção da ordem. Eu sabia muito pouco sobre os lendários, mas eu entendia que Arceus era o regente do mundo e Jirachi e Celebi intercedia por nós. Antes de iniciar a limpeza, tratei de ajoelhar-me diante da fonte e uni minhas mãos em uma oração

"Arceus, Criador. Há muito tempo que não oro para ti, ó Pai. Talvez eu até esteja imitando meus pais conforme rezavam para ti, ó Criador, durante todo jantar em minha casa. Eu rogo a ti, Criador, pela proteção daqueles que andam comigo e estão sob meus cuidados. Que o senhor, Arceus, possa acalentar o coração daqueles que precisam, confortar a mente dos perturbados e que proteja o mundo da maldade humana. Estou aqui para servi-lo, então aceite minha oferta. Jirachi, Celebi, intercedam por mim. Pela honra e glória do Criador, amém."

Liberei meus pokémon. Vitalis e Exto pegaram suas respectivas esponjas e começaram a esfregar a fonte assim como eu. Antes de iniciar a limpeza das estátuas, pedi permissão aos pokémon lendários e tratei de polir as estátuas da fonte. Vigos, o cutiefly, voava pra lá e pra cá dividindo o sabão. Enquanto isso, Zapy recolhia as diversas moedas deixadas como oferendas pelos turistas. Eu não podia julgá-los por ofertar dinheiro, até por que cada um oferta o que pode. Se eu posso ofertar mais que uma moeda, ofertarei, como estou fazendo agora.

Enquanto esfregávamos a fonte, poucas pessoas vieram fazer pedidos aos lendários, a maioria optava por apenas observar o que eu estava fazendo. Algumas estavam até reprovando meu comportamento, mas muitos outros pareciam agradecer minha atitude. Reforcei a moral de meus parceiros pokémon, assim não perdíamos a vontade de finalizar a limpeza antes do anoitecer. O senhor responsável pela limpeza da fonte, estava sempre ali próximo para nos orientar na limpeza. Ele comentou até que algumas pessoas ou pokémon mau intencionados estavam vindo roubar as moedas, uma verdadeira falta de respeito com a crença local. Deixei que ele falasse, mas nunca se sabe o que realmente poderia estar acontecendo com essa pobre alma carente. Zapy recolheu todas as moedas e as entregou ao senhor responsável do local.

Após algumas horinhas, finalizamos a limpeza. Meus pokémon e eu paramos para contemplar a mudança na fonte, antes toda coberta por musgos de diferentes tons de verde, agora livre de toda sujeira que antes se fazia presente. O mármore estava bem polido e reluzindo um brilho agradável aos olhos. Era uma nova fonte. Do céu, algo caiu suavemente em minha cabeça. Uma bela pena de algum pokémon, talvez um agradecimento por limpar a fonte? Não sei, só sei que fiquei muito feliz. Eu estava azul de fome, então só precisava recolher minha recompensa e tocar no talismã para retornar à minha casa.

— Muito obrigado, mais uma vez, rapaz.

— Não há de que, senhor! Ranger Ebonywood sempre disposto à ajudar!

— E você ainda é um ranger? Que caridoso!

— Farei o possível para ajudar todos que puder. Agora eu preciso ir, senhor. Muito obrigado pela orientação! Se precisar de mim novamente, só chamar! — passei meu número para o senhor no rotomphone.

— Certamente, rapaz. Tenha cuidado em sua jornada! Arceus alegra-se em tê-lo como servo! Amém?

— Amém! Até mais.

Vislumbrei a beleza da fonte limpa uma vez mais antes de tocar o talismã e retornar para meu quarto em Pallet. Meu coração estava quentinho e eu me sentia bem mais leve que antes. Algo me dizia que eu teria muito mais a servir à Arceus do que fazendo uma limpeza. Sorri ao ver o pokémon psíquico tocar-me e teleportar-me de volta ao meu quarto. Era bom voltar pra casa!