— Você também não é nada mal. — enquanto eu falava, peguei o RotomPhone para criar rapidamente uma conta nova no aplicativo. Eu não podia dar o meu contato como Yusuke para Evelyn, mas eu gostaria de batalhar no futuro. Assim, de improviso, lhe enviei o cartão de PLUTO, sem foto ou qualquer informação a mais. Da mesma forma, como de costume em batalhas entre treinadores, aceitei o seu dinheiro e o guardei em um bolso qualquer — Podemos ir agora. — respondi me virando na direção de SATURN, que no fim das contas tinha sido paciente e esperou calado o desenrolar da minha batalha.

Agora, Braixen estava cansada, então eu teria que pensar duas vezes antes de colocá-la para lutar. Aos poucos eu ia notando os perigos de ficar muito tempo longe de uma cidade com acesso fácil ao Centro Pokémon, mas ainda estava confiante. Ter que voltar para as tarefas de Yata não me agradava nem um pouco, mas eu queria conclui-las logo para me livrar delas o mais breve possível.

Por trás da proteção que escondia meu rosto, eu levantei uma sobrancelha enquanto ouvia SATURN falar. Yata estava me repreendendo? Quem diria. Apesar de ter minha voz de comando sobre ele revogada temporariamente durante aquelas tarefas, me surpreendeu ouvi-lo falando daquela maneira. Meus lábios tremeram por um segundo, mas então deixei o sorriso se formar de uma vez. Acho que nem mesmo ele em toda a sua devoção aos Tachibana conseguia manter aquele personagem submisso o tempo inteiro. "Está aproveitando para descontar a frustração que normalmente não consegue, não é?", analisei. Mas então soltei um suspiro audível, entendendo que ele tinha razão em alguns pontos, mas não em outros.

— Eu não dei o MEU contato para ela, não sou idiota. — pontuei — E qual o problema da Braixen e da Floette? Não acho muito diferente de usar Mawile e Sandshrew, mas não precisa se preocupar com isso, eu vou organizar uma equipe apenas para essas operações. Não verão PLUTO com esses pokémons depois de hoje. — argumentei por fim. Meu tom de voz não era grosso dessa vez, mas o meu entediado costumeiro, indicando que estava apenas conversando normalmente.

Para mim, parecia uma ótima medida de segurança ter uma divisão clara entre pokémons de Yusuke e pokémons de PLUTO para não levantar suspeitas. O recém-capturado Meowth, por sinal, se encaixava muito bem no time de um Imperium, acompanhado de Sableye e talvez Rookidee. Pensando rapidamente, aquele trio parecia ser perfeito para quando os rumores de PLUTO começassem a se espalhar por ali. Sem perceber, comecei a pegar gosto por ter uma identidade secreta para realizar aqueles crimes. A adrenalina e o esforço para não ser pego de repente começou a parecer quase tão interessante quanto batalhar... mas só quase mesmo.

Eu ainda não sabia qual era a terceira tarefa, mas sentia que de certa forma as minhas energias tinham sido renovadas depois da batalha com Evelyn. Assim, acompanhei SATURN bem confiante, pelo menos até ouvir aquele barulho vindo de cima e cogitar que o pior tinha acontecido e tínhamos caído em uma armadilha de rede de policiais. Minha expressão de quase apreensão deu lugar a uma expressão vazia de "duh" quando aqueles mascarados caíram diante de nós. Eu quase não saberia dizer quem era o mais brega de nós quatro, mas aquelas máscaras de M eram um pouco demais e nisso eu dou a vitória para eles.

— Do que vocês estão falando? — desdenhei cruzando os braços, embora tivesse plena noção de que estavam falando de Kira. Pelo visto ela tinha mesmo alguma influência na região, já que tinha até esquisitos protetores para tentar honrar o seu nome (ênfase para o tentar). Vendo que estávamos prestes a entrar em mais uma batalha, e com o incentivo anunciado de SATURN daquela situação servir de terceira tarefa caso eu fosse bem sucedido (ignorando, também, o seu sorriso sádico), eu levantei a mão direita até a altura do meu rosto e ergui o indicador — Um. — anunciei — Eu só preciso de um Pokémon para enviar vocês chorando de volta para a mesma creche de onde a sua amiguinha saiu.

E cumprindo com o que eu tinha acabado de falar, foi a pokébola de Floette que lancei para o alto deixando a pequena fada tomar a dianteira. Com aquele sorriso de sempre como que tatuado em seu rosto, Floette ensaiou um giro enquanto flutuava abraçada à sua Cotton Flower. Eu dei alguns passos em frente ficando atrás dela e então inclinei a cabeça para o lado observando os pokémons dos adversários. Eram de espécies novas para mim, embora um deles fosse bem familiar. Assim, estendi a pokédex na direção deles para analisá-los. "Uma forma regional de Meowth e um Murkrow... ambos Dark. Que interessante", pensei.

— Brilhe em meio à escuridão com Dazzling Gleam, Floette!

Apesar de serem formas regionais diferentes, com até mesmo tipos diferentes, a essência de Meowth se mostrou com aquele Fake Out. Agora familiar com tal movimento depois de vê-lo sendo utilizado em Mawile antes e agora contra Floette, eu percebi o quão irritante aquele tipo de interrupção conseguia ser. Vendo que minha fada ficou atordoada pelo tapão do gato que enfrentava, eu cruzei os braços e então levantei a mão direita em direção ao meu queixo enquanto analisava o meu próximo movimento. Para isso, precisei prestar muita atenção ao estado de Floette após ser alvo daqueles ataques. A fada já estava ferida de antes, mas não pareceu ficar tão mais prejudicada assim. Fake Out, no entanto, não era tão focado em dano, como bem percebi na batalha anterior. Se Meowth continuasse agindo como sua contraparte de Kanto, ele deveria tentar algo como Pay Day ou Covet. A expressão séria deu lugar a um sorriso quando eu ouvi o outro treinador comandar exatamente aquilo que já era esperado. "Babacas", insultei em meus pensamentos.

— Coloque uma coleira de brilhos nesses cachorrinhos barulhentos, Floette, mantenha o Dazzling Gleam!

E mais uma vez Floette não decepcionava. Ela estava próxima do seu limite, isso eu sabia bem, mas eu não me cansava de vê-la brilhar (literalmente) a cada batalha. Como um treinador orgulhoso que sou, pensei o quão feliz eu fui em ir até Pallet apenas para torná-la mais forte. Apesar de não termos utilizado dos poderes da Cotton Flower naquela batalha, Floette ainda assim se mostrava uma combatente resistente e ainda assim letal. Foi sorrindo enquanto pensava nisso que eu fiz meu próximo comando, mas não sem antes provocar meus adversários como eles fizeram antes comigo.

— Se preparar para o quê? Perder? Floette, brilhe mais uma vez com Dazzling Gleam!

— Eu já vi vários mal perdedores reagirem de maneiras diferentes a uma derrota, mas você é o primeiro que parece entrar em estado de choque. — desdenhei uma última vez do treinador de Murkrow antes de cruzar os braços e esperar que eles fugissem com o rabo entre as pernas bem como a amiguinha deles fez. Àquela altura eu já estava exausto de tantas batalhas uma atrás da outra, mas eu tinha completa noção de quem estava no limite eram meus pokémon, principalmente Mawile e Floette, seguidas de Braixen e Floette. O ideal era ir rapidamente até um Centro Pokémon, mas eu sequer sabia mais em direção seguir e tinha certeza que só nos cansaria mais se continuasse seguindo em frente daquela maneira.

— Se aproxima aqui, Floette. Mawile, saia também.

Eu sabia que Mawile sairia da pokébola apenas por me ouvir chamar. Apesar de conhecê-la há pouco tempo, eu já tinha entendido que ela estava sempre procurando por uma oportunidade de conhecer o mundo fora de pokébola, sobretudo em batalhas; era claro que ela estava prestando atenção na batalha de Floette e continuava de ouvidos atentos mesmo depois dela se encerrado. Eu guiei as duas fadas para que se alinhassem na minha frente e me sentei no chão diante delas antes de pegar duas poções da minha mochila. A primeira foi Mawile, a mais nova e mais ferida, que recebeu várias borrifadas por seu corpo até todo o conteúdo do frasco se esvaziar. Enquanto a poção fazia efeito, eu fui para Floette que, sim, continuava sorrindo, e devagar espirrei a outra poção por todo o seu corpo e até mesmo na Cotton Flower, porque sabia que a deixaria mais confortável.

— Eu sei que nem se compara aos cuidados da Enfermeira Joy, mas é o que posso fazer por vocês agora. Logo mais estaremos em um Centro Pokémon e poderão se recuperar direito. — as assegurei, recebendo um aceno de cumplicidade com a cabeça vindo de cada uma. Foi quando percebi que talvez eu estivesse passando uma imagem molenga minha com SATURN bem ali atrás e recobrei a postura — Beleza, agora voltem.

Com minhas parceiras ligeiramente recuperadas e de volta em suas pokébolas, caminhei até o dinheiro que aqueles bobões deixaram cair e o tomei para mim. Só então voltei para próximo de SATURN e àquela altura eu já estava pronto para continuar as tarefas... embora eu quisesse mesmo era deitar no chão e dormir ali mesmo.

Eu sou um garoto mimado, mas não como normalmente pensariam de alguém que se define assim. Apesar da família rica, eu vivo pelas minhas próprias economias, mas gosto de me garantir alguns luxos que me estressam quando não são cumpridos. Comer de forma satisfatória nos horários corretos era um deles, e não me agradou nada ter que procurar por frutas na floresta para não ficar com fome. Acostumado a estar nas cidades, não era costumeiro eu estar no meio de rotas durante o meio dia como naquela situação; eu gosto de organizar o meu horário. Mesmo no Viveiro Xanadu fizemos pausas para comer e... "Nossa, como estou reclamão. É a fome", constatei mentalmente percebendo quantos protestos eu estava fazendo um atrás do outro mentalmente.

Dito isto, a Kelpsy Berry não me agradava. Ainda assim, peguei uma que restou para guardar para viagem e uma outra, a indicada por SATURN, eu deu uma mordiscada. Meu rosto imediatamente se franziu em uma careta por não apreciar o sabor, mas era o que eu tinha para aquele momento. Como anotação mental, registrei não mais me meter nessas rotas longas e cansativas sem preparar coisas para mim também; os pokémons tinham biscoitos e frutas na bolsa, mas para mim não sobrou muito.

— Já tive almoços melhores. — comentei sem muita motivação de puxar assunto. Acompanhando SATURN, ouvi atentamente sua indicação sobre o acampamento Ranger e revirei os olhos. Eu nunca tinha encontrado um Ranger pessoalmente, mas sabia como eles eram e o que faziam por conta das histórias dos meus pais. Embora meus velhos fossem bem parciais em seus contos, eu sabia que eles mais exageravam que mentiam, então aquele papo todo de patrulheiros pela emancipação pokémon era uma grande chatice. "Eles querem enganar quem? Só porque capturam e soltam os pokémons não quer dizer que não estão fazendo eles lutarem também", critiquei. Foi quando aquele farfalhar começou a aumentar vindo das minhas costas e eu me virei apenas para ver uma versão adulta do pokémon que roubei de Timmie mais cedo.

Minha primeira reação foi olhar na direção do acampamento Ranger, depois para Heracross, acampamento e então erguer uma pokébola na altura do tronco e abri-la para liberar minha parceira para aquele combate. É, combate, porque a expressão corporal e facial de Heracross deixava claro que não estava ali apenas para nos cumprimentar. Será que os Rangers se meteriam se vissem a batalha acontecendo? E se vissem, iriam tentar interferir? Sem tempo para pensar muito mais consequências, o raio vermelho saltou para fora da pokébola relevando uma Gothita cheia de pose e finesse, que se moveu para frente de olhos fechados como se flutuasse no ar. Enquanto a fada psíquica se movia, eu levantei a pokédex com uma mão para um novo registro de Heracross, agora não mais em sua forma bebê, e com a outra eu peguei o Lucky Egg para que Gothita o guardasse consigo por aquele momento.

— Drene a força desse lutador com usos consecutivos de Draining Kiss! — comandei enquanto observava Gothita se enrolar nas teias de aranha. Eu a vi olhar por cima do ombro na minha direção e eu pensei ser em protesto. Foi quando eu percebi aquele olhar focado e furioso, me lembrando imediatamente da sua força da competição. Sem perceber, eu tinha colocado Gothita em uma situação que seu poder oculto despertava, mais precisamente por conta de sua velocidade caindo por conta das teias de aranha. "Heracross que se segure, tá vindo algo grande aí", comemorei com um sorriso.

Eu sabia que Gothita provavelmente estava odiando ter que ficar enchendo seu adversário de beijocas, mas era inegável a eficácia daquela estratégia e, graças a isso, eu sabia que ela me perdoaria por aquilo quando percebesse que simplesmente atropelou Heracross. A fada psíquica estava extremamente mais lenta, o que aliado aos golpes sequenciais do inseto lutador me preocupou, mas assim que vi brilhos rosados subirem pelo seu corpo a cada beijo e ela voltar a ficar intacta como antes de iniciar a batalha... bem, ela pode questionar o método, mas não o resultado.

— Quem trouxe o beijinho doce? Foi você. Continue pressionando com Draining Kiss! — ordenei confiante. Mesmo que Heracross fosse mais rápido, ele não tinha força suficiente para derrotar Gothita no intervalo entre os beijos drenantes. Aquela batalha já tinha uma vencedora definida... e esta era Gothita.

— Esquisitisse, né? Bom, pelo menos, a gente ainda tá... — e fui interrompido por SATURN me apressando. Estressadinho com Yata como sou, eu já ia bater o pé e falar que só sairia quando eu bem quisesse, mas eu me toquei imediatamente que ele tinha razão e que na atual condição da equipe eu dificilmente aguentaria bater de frente com treinadores, ou melhor, rangers descansados e com sangue nos olhos. A Heracross estava ali caída do lado, e o choro por um segundo me fez pensar ser dela e senti meu corpo gelar achando que era culpa minha (embora tenha sido ela que nos agrediu, mas tudo bem). Não dava para ver minha expressão de surpresa por conta do capacete cobrindo o rosto, mas eu arregalei os olhos ao olhar para o lado e ver aquele bebê Heracross. Considerando que eu planejava ficar com o Baby Heracross de Timmie para dar algum uso melhor que crimes para ele, eu fiquei extremamente animado por ter dado de cara com outro e, aparentemente ter a chance de capturá-lo. SATURN me interrompeu pela segunda vez e eu fiquei dividido entre ir e capturar o pokémon. Gothita a essa altura já tinha sido recolhida na pokébola e o Lucky Egg guardado na bolsa, mas no fim das contas minha decisão foi simples: garantir Heracross enquanto fugia dos Rangers. E como fiz isso? Ora, veja bem.

— Mawile, rápido. — chamei pela fada liberando-a de sua esfera — Pegue aquele carinha ali e traga com a gente.

Pokémons são pesados e mesmo um Baby Heracross não devia ser muito leve. Eu sou magrelo e frágil, então dificilmente aguentaria correr com um peso daqueles. Foi por isso que rapidamente pensei em escolher um pokémon forte para levá-lo conosco, e quem melhor que a senhorita mandíbulas de aço? Mawile foi pega de surpresa, mas improvisou como pôde e com o combo de braços fortes e mandíbula para o dar o apoio que faltava, ela conseguiu ainda que desengonçada vir rapidinho atrás de SATURN e eu.

— E agora? Podemos descansar finalmente? — perguntei já ofegante.

Aquela corrida por si só já seria o suficiente para cansar meu corpinho sedentário. Adicione na equação a exaustão de várias batalhas consecutivas, a almoço de baixa qualidade e um pokémon bebê chorando e o resultado final sou eu desabando de joelhos no chão assim que SATURN avisa que já estamos em um bom lugar. Ajoelhado, levei alguns bons minutos para recuperar o fôlego enquanto analisava se estávamos mesmo fora de perigo e tive a brilhante ideia de sugerir que...

— ... podemos descansar sossegados se não estivermos com os trajes. Aposto que aqueles bobões de antes só nos identificaram por causa disso, então se aquela garota mandar mais gente para encher o saco eles vão achar que somos só treinadores avulsos. Embora... — olhei para baixo, analisando minhas vestes e depois olhei para Yata enquanto retirava o meu capacete — ... a gente bem pareça mesmo protagonista de anime. Sabe, do tipo que se destaca na multidão. Mas enfim, né!

Com essa declaração feita, eu retirei aquela roupa de couro pesada e me permiti aproveitar do clima da floresta mais livremente. Tentei minha mente para não pensar nos insetos, na lama, no molhado e nas teias intermináveis se prendendo em tudo, mas não é como se eu tivesse conseguido me concentrar em mais alguma coisa além do choro incansável do bebê Heracross. Àquela altura Mawile já tinha o deixado no chão, mas mesmo que ela estivesse perto seus instintos não pareciam guiá-la muito bem sobre o que deveria fazer; ela era apenas uma recém-nascida, afinal de contas. De minha parte, eu também não sabia como lidar com aquilo, mas eu tinha uma ideia de quem tiraria de letra a tarefa de acalmar um bebê.

— Braixen. — chamei fazendo ela saísse por conta própria, sem que eu precisasse encostar na sua pokébola. Percebendo que Mawile e Braixen estavam ali, Steenee rapidamente tomou a decisão de sair de sua esfera, depois Sandshrew, e quando me dei conta todos os seis estavam ali envolvidos na missão acalmar o bebê. Heracross chorava de olhos fechados e com força, mas assim que sentiu o toque de Braixen em seu corpo ele se acalmou por um momento como quem analisa a situação. Seus olhinhos encharcados foram enxugados pela raposa de fogo com as costas de suas mãozinhas, e o bebê parecia impressionado com tantos pokémons lhe rodeando. Mais atrás, Yata parecia estar preparando uma refeição de gente, e embora eu não fosse admitir ali eu gostava muito das comidas que o mais velho fazia.

De braços cruzados, deixei que o mordomo trabalhasse e me aproximei da aglomeração de pokémons. Algo em mim, no entanto, assustou o Baby Heracross que rapidamente voltou a abrir o berreiro. Parecendo óbvio que o problema ali era eu, foi Gothita que me empurrou para que eu deixasse o nenê em paz e para minha surpresa ele realmente se acalmou assim que eu saí do seu campo de visão. Contrariado, me sentei no canto e fiquei matutando o que eu poderia ter feito, mas eu rapidamente cheguei à óbvia conclusão de que eu não tinha feito nada. "Faria sentido ele ter medo de Mawile, já que ela que tecnicamente o raptou, mas eu?", pensei.

Só que também não pensei muito naquilo, focando mais na outra coisa mais óbvia: por que eu estava deixando meus pokémons de babá para um Heracross que sequer fazia parte da equipe? Capturá-lo era lógico e eu tinha interesse, mas eu não queria ter na equipe um pokémon que fosse chorar e espernear sempre que olhasse na minha cara. Eu estava há um passo de decisão de simplesmente deixá-lo ali na manhã seguinte quando Steene se aproximou e foi me puxando pela perna da calça de volta para a aglomeração. Pensei que ouviria choro estridente de pokémon de novo, apenas para ver que a equipe tinha conseguido colocar o bebê para dormir. Pelo resto da tarde e início, Heracross apenas descansou.

O problema veio depois, quando todo time e até Yata já estavam para lá do quinto sono e o berreiro começou de novo. Eu demorei a me levantar acreditando que Yata daria um jeito, mas quando me sentei eu percebi que os outros sequer se moviam diante do barulho. Meus olhos foram direto em Braixen, que seria a primeira a se colocar de prontidão, mas nem mesmo ela parecia estar ouvido. "Mas claro que todos estão ouvindo, se bobear na entrada da floresta dá pra ouvir isso", afirmei em pensamentos. Um longo suspiro escapou quando percebi que estava novamente sendo mimado e que meus pokémon mereciam o descanso devido depois de todo esforço que fizeram naquele dia... e foi assim que eu mesmo levantei para cuidar do Baby Heracross; pelo bem do meu sono.

Bem, é claro que ele se assustou ainda mais com a minha aproximação, mas nenhum de nós dois tinha escolha. Prezando pelo bem-estar do time e também fazendo um agrado para Yata, eu fui engatinhando devagar na direção do Heracross. O pokémon parecia assustado o suficiente para sequer conseguir se mover mesmo que não me quisesse por perto, mas eu arrisquei levar uma chifrada mesmo assim e sentei do seu lado. Aquilo pareceu levar horas, mas eu sei que foram apenas alguns minutos meus sentado ao lado de Heracross para ele começar a se acalmar. O que realmente me deixou muito apreensivo foi quando eu estendi uma mão para tentar fazer um carinho, e ele se afastou já enchendo os olhos de lágrimas novamente como de por susto. Naquele momento, ficou óbvio que ele tinha sido agredido por algum humano antes.

— Não sei se você já tem idade para me entender, mas eu não vou te machucar, não. — falei tentando conversar, embora eu soubesse que não existia exatamente conversa entre humanos e pokémons, com frases feitas pelos animaizinhos que eu pudesse racionalizar. Ainda assim, continuei falando, como um pai que fala com seu filho que nasceu há algumas horas — Eu nem ia ficar enchendo o seu saco, mas é que eu estava tentando dormir e não consegui grudar os olhos por conta do barulho. Eu sei que não é sua culpa também você está assustado, mas veja, não motivos para isso.

Enquanto eu falava, não percebi que um dos pokémon tinha acordado. Sandshrew se aproximou tímida e repousou ao lado de Heracross. No momento seguinte, foi Gothita que se levantou do cantinho coberto de folhas para não se sujar e veio direto deitar apoiada nas minhas pernas que repousavam cruzadas ali no chão. Aos poucos, todos os outros pokémon do time se aglomeraram ali em cima de Heracross e eu quase como se sonâmbulos, com Mawile e Braixen, inclusive, se apoiando no próprio Heracross como se ele fosse um travesseiro. A calma que aquela reunião inesperada transmitia foi o suficiente para que Heracross dormisse novamente e, pouco tempo depois, eu dormisse também.

Quando despertei, só restavam Heracross e eu deitados. Estávamos sentados um do lado do outro, encostados em uma pedra e descansávamos calmamente. Os outros pokémon já tinham acordado e pareciam cada um se distrair à sua maneira até que Braixen, sempre a mais atenciosa, percebeu meus olhos abrindo e informou aos outros para que se aproximassem novamente. Minha primeira reação foi procurar minha mochila depois de sentir falta dela, até que Mawile veio com uma pokébola entre os dentes da mandíbula em sua cabeça e a repousou bem na minha frente. Os olhos do time na minha direção indicavam que eles tinham discutido entre eles e gostariam de ter o Baby Heracross no time. Sorri vendo aquilo, mas então expliquei que a decisão seria ele para quando acordasse.

Daí, como se reagindo à palavra, no momento seguinte o bebê dorminhoco abriu os olhos e já parecia mais calmo. Ao me ver ele pareceu dar um sustinho, mas então relaxou como se seu cérebro estivesse processando que eu não era uma ameaça. Surpreendentemente, foi Gothita que foi até Heracross e pareceu começar uma conversa que assumi ser sobre se juntar a eles. Floette e Braixen também adicionaram seus argumentos, seguidas por Sandshrew e Steene, bem como Mawile que não disse nada, mas abraçou forte o bebê. Heracross parecia confuso e levou algum tempo até entender a situação. Felizmente, tão logo ele fez aquela expressão de "entendi", ele inclinou o chifre na minha direção e eu compreendi seu gesto. Tirando do chão a pokébola que Mawile tinha me entregue antes, eu a encostei na cabeça de Heracross tomando-o na forma de um raio escarlate para dentro da pokébola.

Conforme a pokébola parou de brilhar, todo o time comemorou calorosamente. Apesar de ter sido apenas um dia, eles pareciam ter se apegado ao Heracross. Eu não diria ainda que estava tão próximo do bebê quanto elas, mas eu sabia que era apenas uma questão de tempo até todos estarmos lutando lado a lado.

ficha baby heracross capturado:

Eu aceitei de bom grado aquele mel brilhante que Heracross me entregou momentos antes de ir parar dentro da pokébola; já tinha usado o mel comum e estava curioso para saber o que aquele mel diferenciado poderia atrair. Depois do momento de confraternização e camaradagem com os pokémon, minha atenção se voltou para Yata, que na verdade já estava trajado como SATURN novamente, que me entregou o traje novamente e anunciou o café da manhã. Naquele momento eu me senti grato por tê-lo naquela rota comigo, embora ele estivesse me causando uma grande dor de cabeça ao aplicar as tarefas impostas pelos meus pais. Grande parte dessa gratidão era por ele estar também alimentando os pokémon e eles de fato mereciam aquele tratamento dadas as situações que estavam enfrentando naquela floresta.

Eu vesti a roupa de PLUTO antes de comer, mas deixei o capacete repousando ao meu lado para poder ter mais liberdade durante a alimentação. Estava gostoso como sempre, uma coisa almoço na casa do meu amigo e a esposa dele estava uma delícia, mas não tínhamos tempo para perder. Durante a noite, pensei sobre como os amigos de Kira tinham nos encontrado e dado o fato de termos (eu, especificamente) causado problemas a mais de uma pessoa tornava apenas questão de tempo até forças maiores nos caçassem. Tinham os Rangers, a Polícia, outro treinadores justiceiros... "Quem será o próximo a vir cobrar?", me perguntei.

— Estou pronto. — anunciei colocando de volta o capacete que escondia minha identidade — Podemos ir.

Já estava ficando insalubre continuar naquela floresta, isso eu digo. Entre teias, poças de lama, espinhos e cheiro ruim, não sobrava muita coisa para se elogiar. Eu propositalmente diminuí o ritmo que avançava para que SATURN tomasse a dianteira e fosse ele a ter com lidar com qualquer possível imprevisto, de plantas venenosas a outros pokémons vingadores esquisitos como a Heracross de momentos antes. Por um lado, a roupa que estava sujando era o traje de PLUTO e não minhas vestes do dia a dia de Yusuke, então pensar nisso servia para me deixar mais de boa com aquilo tudo.

O lance é que minhas suspeitas de antes logo se concretizaram e, de fato, vieram atrás de nós, mas dessa vez não eram apenas colegas bobos de Kira e sim a própria polícia. "Bom, para ter atraído a atenção deles significa que estou bem nas tarefas", pensei. Eu cogitei apenas fugir com SATURN por um instante, mas ao vê-lo sinalizando quatro eu entendi que aquilo estava mais nos seus planos do que eu tinha imaginado antes. Quer dizer, desafiar as autoridades fazia muito o estilo dos meus pais, então no fim das contas aquele desafio fazia todo o sentido. Revigorado depois de descansar durante a noite, eu andei confiante me colocando diante dos desafiantes e me senti animado por ter um aquecimento como aquele logo de manhã.

— Vocês vão ter um relatório vergonhoso para entregar aos seus superiores amanhã, meninas. — provoquei mirando o olhar na direção do crachá da dupla para ler os seus nomes. A policial do Growlithe se chamava Shima, enquanto a outra parecia se chamar Eisei. Abri um sorriso depois de soltar duas pokébolas no ar e então os raios vermelhos revelarem elas: Floette e Gothita. De forma traiçoeira, me agachei para dar o Lucky Egg para Gothita e aproveitei para pegar minha pokédex da bolsa, mirando-a na direção dos pokémons adversários escondido usando o ovo como distração; eu não queria ler as informações deles, mas deixá-las registradas sem que as policiais se atentassem muito para isso.

Eu observei Growlith latir e pressionar minhas parceiras de forma similar àquela que Mawile intimida seus oponentes todo início de combate, mas também presenciei aquele olhar furioso de Gothita surgir novamente. A fada psíquica estava pronta para dar tudo de si, então eu também mirei minha mente no objetivo compartilhado que era uma vitória avassaladora.

— Vamos levantar nossas defesas com Safeguard, Floette. Gothita, destrua a mente de Growlith com Psybeam!

Eu li aquelas garotas de maneira certeira, mas o fato daquelas infinitas teias atrasando meus pokémon praticamente desde que pisamos ali ter estragado toda a minha estratégia me deixou irritado. O Safeguard foi inteligente, me elogio por isso sem modéstia alguma, mas o a lambida de Growlith alcançou Gothita antes que Floette conseguisse protegê-la e eu vi aquela estática subir pelo corpo da fada psíquica; ela estava paralisada. "Isso é ruim", pensei percebendo o óbvio. O restante da rodada de ataques não foi ruim, com Hoppip atacando com um aparente movimento de status em uma equipe já protegida por magia. No fim, o Safeguard não foi de todo perda de tempo.

— É só isso que vocês tem a oferecer aos cidadãos de Santalune? Mediocridade? — provoquei. De minha parte, nunca vi com bons olhos a polícia, e não tem nada a ver com ser eles que caçam a Imperium e, consequentemente, a mim também — Bem, que seja. Gothita, resista aos espasmos e leve seu beijinho doce até Hoppip: use Draining Kiss! Floette, ofusque-os com seu Dazzling Gleam!