"E aqui estamos nós, finalmente", pensei colocando os pés na Floresta de Santalune pela primeira vez. Apesar de já ter estado em Santalune, eu o fiz por meio de um viagem de trem e não fazendo a rota comum que os treinadores costumam fazer. Não para me desviar da experiência, porque eu quero participar de quantas batalhas contra os mais diversos pokémons eu conseguir, mas porque eu queria conhecer melhor o lugar e ter uma ideia do que eu podia fazer nos preparativos para o desafio ao ginásio. Especializados em insetos, os líderes de ginásio que defendiam a Cidade de Santalune usariam desse tipo para derrotar seus adversários. Sendo assim, que melhor aquecimento que passar por uma floresta repleta de insetos? "Quem sabe eu não capturo um para mim também", pensei lembrando de Grubbin, um dos primeiros pokémon que capturei e que não ficou muito tempo na equipe. Apesar de não ter encontrado um espaço para que ele pudesse mostrar o seu poder entre os outros membros da equipe, eu sabia que no futuro eu encontraria uma forma de fazer valer sua parceria desde tão cedo naquela jornada.

Deixando os devaneios de lado, olhei para frente e depois para cima quando um pingo de chuva tocou a minha cabeça. Depois vieram outros na testa, nariz e bochecha, para então darem lugar a uma chuva ainda branda que rapidamente amenizou o clima da floresta. Poças começaram a se formar pelo chão, em outras partes a terra ia se misturando e tornando a passagem enlamaçada. O barulho da chuva era alto, indicando a força da água caindo do lado de fora, mas as árvores altas impediam que as gotas caíssem pela floresta com a mesma força. Sentindo minha roupa ficar molhada pesada, eu tirei o casaco e o guardei na bolsa, além de dobrar a manga da camisa para ficar como se fosse uma regata. Respirando fundo, dei uma última olhada para trás e então voltei a mirar o olhar para frente.

— E estamos de volta para a jornada rumo à nossa primeira insígnia, meninas. — falei em voz alta conversando com minhas parceiras pokémon. Elas estavam em suas pokébolas ainda, mas eu sabia que estavam me ouvindo. Apesar de gostar com todo o time livre para conhecer os locais por onde passamos, até para poderem interagir mais entre si e se ajudar como fizeram no Viveiro Xanadu, naquele momento eu pensei que o ideal seria seguirmos de forma estratégica. A Floresta de Santalune não era exatamente um labirinto, mas eu já tinha ouvido rumores de treinadores que se perderam e fizeram um trajeto de algumas horas se tornarem quase um dia todo... e apesar de ser curioso, eu não pretendia passar mais tempo do que o necessário ali. "Tão logo eu chegar Santalune, mais rápido eu consigo chegar até o ginásio para desafiá-lo", pensei.

Eu não diria que sou fresco, então não me importo de me sujar. No entanto, conforme a lama ia aumentando e as poças iam se tornando cada vez maiores, eu pensei que talvez aquela não fosse a melhor época para fazer aquele trajeto. Eu também não diria que tenho nojo de insetos, mas eu sabia que eles gostavam daqueles ambientes úmidos e a imaginação de um inseto encharcado jogando um fio grudento na minha direção fez eu ter um tremelique involuntário. Eu estava passando por uma parte de arbusto alto quando ouvi barulhos de pokémons — de uma batalha, para ser mais específico — e comecei a andar mais devagar na intenção de assistir tudo de camarote acreditando serem dois treinadores se desafiando. Minha surpresa foi não serem dois treinadores, mas dois pokémons selvagens atacando um ao outro. Um deles parecia um gato e o outro uma pequena arraia, e o gato de repente teve sucesso em seu golpe, atingindo a arraia azulada com suas garras que cresceram de repente e estava brilhando forte. Nesse momento, eu decidi levantar minha Pokédex para registrá-lo, mas o som do meu movimento pelas plantas chamou a atenção deles, fazendo o gato fugir e a arraia se virar na minha direção.

"Mantyke, um Pokémon Pipa. Mantyke nada junto de um cardume de Remoraid, repelindo seus atacantes juntos."

pokémon selvagem:

— Mas o que ele faz tão longe do mar então? Não tem cardume nenhum aqui. — ponderei em um sussurro antes de me revelar de vez. Meu pensamento naquele momento foi de me aproximar e entender o que estava acontecendo. Apesar do que pensam do Time Imperium, nem todos são desse tipo que maltrata pokémons e só querem tirar proveito deles. Como Treinador, eu empatizo com cada um deles, mesmo aqueles que preciso derrotar. Infelizmente para Mantyke, o meu objetivo naquela floresta não era outro além de me fortalecer para o Ginásio de Santalune. Eu fechei os olhos por alguns segundos quando percebi que o pokémon azulado olhou para mim com alguma esperança ao ver que espantei o seu agressor. "Desculpa, amiguinho", pedi em pensamentos antes de levar a mão até a uma das pokébolas presas no meu cinto e então jogá-la para cima, revelando Steenee. Só então abri os olhos, e a expressão de decepção de Mantyke quebrou meu coração por breves segundos antes de eu esticar a mão para frente. Steenee percebeu minha hesitação, mas se manteve firme como incentivo. Em resposta a isso, eu peguei o Lucky Egg que carregava comigo e pedi para que Steenee guardasse ele durante o combate que estava por vir.



— Steene, use Razor Leaf em sequência. — comandei enfim escolhendo por um ataque que me permitiria tirar vantagem do tipo água de Mantyke. Aquele era o primeiro combate de Steenee desde que ela se juntou ao time, então eu sabia que independente das circunstâncias ela estava ansiosa por mostrar o seu valor e eu não podia decepcioná-la. Foi por isso que esbanjando determinação ela começou a rodopiar seu corpo apoiada em um só pé, como uma bailarina, e várias folhas avançaram de sua posição em direção à Mantyke. As folhas rodopiavam rapidamente e dava para sentir durante o seu avanço o seu poder de penetração. Ainda triste, mas disposta a lutar para escapar dali, Mantyke flutuou mais alto e começou a reunir a água da própria chuva diante de sua pequena boca. Ela o fez enquanto as folhas navalhas castigavam o seu corpo e de repente soltou três ondas de água na direção de Steenee que ainda estava finalizando o seu rodopio. A pequena dançarina foi atingida em cheio de jogada para trás, pousando bem próxima de mim. Eu abri mais espaço para que pudesse lhe dar mais área para manobrar, mas ela apenas fechou ainda mais sua expressão facial e girou novamente.

Da segunda vez, talvez porque soubesse que não resistiria a mais um ataque daquele, Mantyke tentou dar as costas e fugir. Na metade do seu movimento para se virar, no entanto, ela bateu suas "asas" e subiu ainda mais alto, depois começou a abri-las para batê-las uma segunda vez. Foi quando as folhas as atingiram de novo, e eu ouvi ela grunhir de dor antes de hesitar por alguns segundos e então voar com velocidade na direção Steenee, batendo a lateral da sua "asa" direita em um movimento de cima para baixo, girando o corpo e então batendo com a asa esquerda em um movimento para cima que serviu de impulso para que tomasse uma distância segura novamente. Steenee foi lançada poucos centímetros para trás e cambaleou antes de retomar o equilíbrio. Sua expressão era feroz e Mantyke ainda parecia preocupada.

registro da rodada:

Surpreendentemente, Mantyke mostrou-se capaz não apenas de conseguir lutar logo após sair de outra batalha, como também parecia ser capaz de deixar Steenee em uma situação similar a ele, ferindo-o de forma certeira. Dentre meus pokémon, Steenee enquanto tipo grama era a escolha mais adequada para se aproveitar do tipo água de Mantyke... no entanto, o seu tipo voador equilibrava as coisas. Por não ter um tipo elétrico, eu não poderia me aproveitar do seu tipo voador, e também pesou na decisão o fato de Steenee não ter tido sua chance de lutar desde que foi capturada, o mesmo para Gothita, mas essa última era mais nova na equipe, então para mim a escolha mais justa era realmente Steenee, mesmo com sua desvantagem contra o tipo Voador de Mantyke. Mesmo lutando naquelas condições, Steenee estava dando tudo de si... e eu não poderia fazer menos que isso também.

— Continue com Razor Leaf, é a nossa melhor aposta! — comandei confiante. Eu vi Steenee respirar fundo para recuperar o fôlego e então estendeu os braços para os lados. As folhas navalha surgiam como se magicamente por detrás do seu corpo e avançavam ferozes contra Mantyke. O destino do pokémon pipa não foi outro senão mais cortes diversos. Eu vi sua energia esgotar depois de tanto lutar e ele cair devagar em direção ao solo, onde repousou de olhos fechados pelo nocaute.

registro da rodada:

Eu fiquei parado ainda por alguns segundos e Steenee também ficou ali como se esperasse novos comandos. Vendo que a bailarina me observava, eu balancei a cabeça e fui até ela pegar de volta o Lucky Egg antes de permitir que descansasse em sua pokébola. "Ótimo trabalho", elogiei antes do seu corpo de luz vermelha ser completamente absorvido pela esfera. Olhando na direção de Mantyke novamente, eu não me sentia muito satisfeito com aquele combate. Ainda assim, me aproximei dela devagar para ver seus ferimentos. Agachado, peguei uma pokébola da mochila e encostei em seu corpo, tomando para dentro da esfera tal qual Steenee momento antes. O círculo na frente da pokébola começou a brilhar em vermelho e emitir aquele barulho característico, para então ficar inerte depois de três balançadas em minha mão.

— Mantyke parece muito forte, aguentou sair de um combate e já entrar em outro sem fraquejar.  Pensando agora, depois de Santalune devo enfrentar o Ginásio de Pewter, e ele pode ser o meu grande trunfo quando eu chegar lá. Talvez eu tenha tirado a sorte grande hoje.

Parado, passei a mão no cabelo para tirar a água acumulada e também tirei um pouco de folhagem que se prendeu na minha roupa molhada. Foi quando ouvi o barulho de alguém chegando pela vegetação alta da mesma direção que eu vim e eu me virei rapidamente pensando ser um Pokémon. Eu só não esperava ver ele...

— Espero que tenha uma boa explicação para estar aqui, Yata.

personagem secundário:

Mesmo que olhasse rápido eu reconheceria aqueles detalhes vermelhos no cabelo. Tendo no Zorua o seu pokémon favorito — ou alma gêmea, como ele gosta de dizer —, ele se esforçava para ter pelo menos um pouco da aparência do próprio parceiro. Dou pontos pelo comprometimento, mas tiro todos eles pela breguice. Me aproximei de Yata de maneira confrontadora e séria olhando para cima; apesar de eu ser alto para a idade, ele ainda conseguia ser mais alto que eu. De forma parecida à minha quando começou a chover, Yata estava apenas com uma camisa de detalhes dourados desenhando o símbolo da família Tachibana, da qual ele fazia parte enquanto Tomoe. É, o mesmo símbolo que carrego escondido por dentro do capuz do meu agasalho. Para a sociedade, Yata e eu seríamos como irmãos, mas a nossa relação era bem mais complexa que isso. Ele meio que era... meu mordomo.

— Desculpe meus modos, jovem mestre, espero não tê-lo assustado. — disse ele se curvando para frente. Sua mão esquerda repousou na altura de seu estômago enquanto sua cabeça descia em sinal de submissão. Eu nunca gostei dos meus pais me forçarem a esse tipo de dinâmica com Yata, mas àquela altura já estava enraizado demais para mudar alguma coisa... para a minha decepção e deleite dele.

— Não começa. — repreendi cruzando os braços. Naquele momento, pela tensão que só subia, eu ouvi uma pokébola se abrindo e quando olhei para o meu lado Mawile já estava pronta para se colocar entre nós. Ainda curvado, Yata ficou praticamente cara à cara com a mandíbula na cabeça de Mawile e apenas reagiu sorrindo. Teimoso como sempre na esperança de receber alguma punição de mim, eu não dei para o outro Treinador o que ele queria — Quem te mandou aqui? Foram eles? É por que não mandei relatórios recentemente? Eu estive ocupado, okay, você pode voltar para eles e avisar...

— Temo que não posso fazer isso. — respondeu ele levantando a voz e cortando a minha fala. Surpreso, levantei uma sobrancelha enquanto pensava sobre o quão desesperado ele devia estar para que eu brigasse com ele para estar agindo assim. O seu sorriso cínico se tornou ainda mais aparente e ele jogou sua franja molhada para trás, revelando ainda mais do seu rosto. Seus olhos estavam fechados de forma alegre para acompanhar o sorriso, mas eu sabia que não era sincero — Os seus pais, os meus senhores, estão decepcionados com suas últimas ações, jovem mestre. Se não tem relatórios, não tem missões pela Imperium. Se não tem pokémon símbolo da facção, então não tem lealdade. Foi o que disseram. Eles estão pensando que você esqueceu do acordo e me enviaram para lembrá-lo.

— Só isso? Então está ótimo, já me lembrou, diga a eles que...

— Peço desculpas novamente, senhor. — ele me interrompeu novamente. À essa altura eu já estava surpreso com o quão longe ele estava indo, dado o quão submisso a qualquer um que se declare um Tachibana ou Tomoe. Eu sabia que ele não agiria assim normalmente, então comecei a ficar ligeiramente ansioso — Mas não estou aqui como seu servo. Seus privilégios sobre mim foram revogados sob acusação de deslealdade.

— Ah é? Deslealdade a quem? — perguntei levantando a voz e me aproximando ainda mais de Yata. Estava começando a ficar furioso com o rumo que aquela conversa estava tomando. Eu não podia abrir a mão da minha liberdade, e eu tinha certeza quase absoluta sobre o que vinha a seguir.

— Ao seus pais, é claro. E ao Imperium. Mas principalmente ao Imperium, se estamos falando de prioridades. Você não cumpriu nem um quinto do que disse que faria, senhor. Seus pais estão desconfiados de você... e até que essa desconfiança passe, eu estarei aqui como os olhos deles sobre você.

Foi como ser atingido por uma bola de demolição. Eu respirei fundo e senti minha cabeça tremer. Eu sabia que uma hora eu teria que pagar a conta pelo o que fiz no Dojo em Solaceon e o que NÃO fiz durante essa jornada toda. Eu não estava agindo como um treinador qualquer, eu ESTAVA sendo um treinador qualquer. O plano era me passar como um treinador regular e me misturar entre eles em busca de oportunidades para a Imperium agir, mas até aquele momento eu não tinha feito nada em prol do Time. A verdade é que minha cabeça estava tão focada em ficar mais forte e vencer o Ginásio de Santalune que eu esqueci que precisava pelo menos fingir que me importo com a Imperium tanto quanto meus pais gostariam que eu ligasse. Eu tinha plena consciência de que se eles quisessem eles poderiam, sim, me prender em casa e encerrar a minha jornada ali... e eu certamente não podia permitir que algo daquele tipo acontecesse.

— Eu estive ocupado, beleza? — respondi abaixando a cabeça e abaixando o tom de voz deixando transparecer minha decepção com aquilo tudo. Yata, por sua vez, apenas desfez o sorriso e me olhou de forma feroz. Ele certamente tinha algo em mente, mas eu não queria saber o que era. Infelizmente, àquela altura eu já não tinha mais autonomia para dizer não e ser atendido. "Dance conforme a música, Yusuke, pelo menos por enquanto", pensei — Pode olhar naquele montinho de lixo, Mawile? O pokémon que atacou Mantyke mais cedo fugiu naquela direção, pode estar escondido ainda. — pedi deixando o tom de voz derrotado ainda transparecer. Meus olhos foram na direção de Yata, que agora já parecia estar entretido olhando os arredores e aproveitando a chuva. Eu sabia que ele não saía muito de casa e não fazia muito de diferente de batalhas de sparring com meus pais e servi-lhes chá, então talvez esse fosse o seu interesse. Antes de ir, Mawile pediu para segurar o ovo que eu lhe emprestei durante a caçada no Viveiro Xanadu, e eu atendi seu desejo.

Momentos depois, a procura de Mawile se mostrou certeira, porque não demorou para eu ouvir ela grunhir e um miado cobrir o seu chamado. Eu virei o corpo rapidamente na sua direção e ao vê-la segurando o braço do pokémon gato de antes, como um bloqueio ao ataque ele tentou acertar nela. Olhei novamente na direção de Yata, como se esperasse por permissão e me senti patético por naquele momento estarmos com os papéis invertidos. "Eu sei que você odeia ter o poder tanto quanto eu odeio me submeter a ele, idiota, não fique agindo como se estivesse à vontade com isso", pensei antes dele acenar positivamente com a cabeça e dar o sinal verde para que eu fosse até Mawile. Enquanto corria, tomei a Pokédex em minhas mãos e a mirei para frente.

"Meowth, um Pokémon Gato Arranhador. Meowth ama coisas que brilham. Quando Meowth vê um objeto brilhante, a medalha dourada em sua cabeça brilha também."

pokémon selvagem:

— Ouvindo assim não parece muito poderoso, mas se ele deu trabalho para Mantyke... Mawile, não o subestime. Vamos com tudo!

E assim ela fez. Balançando o corpo para se desvencilhar de Meowth e saltando para trás para tomar uma distância segura para seu ritual de início de batalha, Mawile virou-se de costas e deixou a mandíbula no topo da sua cabeça cobrir praticamente todo o seu corpo. O fato da boca ir de um lado a outro fazia parecer que ela estava sorrindo e a chuva escorrendo pelas laterais parecia saliva; era como se Mawile estivesse com fome e pronta para devorar seu oponente. Vendo tal demonstração, Meowth recuou alguns passos para trás. Sua expressão ainda era feroz, mas ele se tornou mais precavido conforme seu coração acelerava.

registro da rodada:

— Seismic Toss e Metal Claw. Vai!

Mawile avançou contra Meowth, mas foi surpreendida pela velocidade bem superior do gato que levantou a pata e acertou um tapão no rosto de Mawile. Surpresa e desconcertada, Mawile interrompeu o seu avanço e por uns instantes pareceu não saber o que fazer. Eu olhei para ela, ela olhou para mim, mas sua hesitação acabou abrindo a brecha que Meowth estava procurando e ele a aproveitou lançando diversas moedas como aquela em sua cabeça contra o corpo de Mawile. Rígida feito aço, Mawile pouco se feriu com aquela ofensiva, mas a sensação dos impactos contra si lhe fez recobrar o foco e ela se aproveitou da proximidade para seu golpe: garras prateadas e brilhantes surgiram sobre suas mãos, como as próprias garras de Meowth, e ela as balançou atingindo o gato de volta no rosto, vingando-se do golpe de antes. Para a surpresa do felino, que levou uma mão até o local do golpe parecendo não acreditar que tinha sido ferido, o revide de Mawile foi ainda mais poderoso que sua investida desconcertante de antes.

— Boa, garota, se mantenha assim!

registro da rodada:

— Continue com Metal Claw e finalize com Seismic Toss! Quebra tudo!

Ouvindo meu comando, Mawile não desfaz as garras prateadas que manifestou antes e se preparou para uma nova onda de ataques. Sua investida, no entanto, foi interrompida pelo astuto Meowth que se jogou em um rolamento pelo lado direito de Mawile e para a minha surpresa ele tentou tomar o Lucky Egg que Mawile guardava consigo. Ver aquilo pareceu animar Yata, pois ele soltou uma risada alta e começou a aplaudir. De início eu não me toquei do motivo daquele, mas depois foi como se tudo se encaixasse em um mero segundo: Meowth e esse tipo de estratégia sorrateira que ele utiliza o fazem um dos pokémons favoritos da Imperium. Ele era uma das opções que me foram dadas no Dojo de Solaceon e eu recusei. Quase como se tivesse planejado aquela situação toda, Yata se sentia vingado em nome dos meus ao me ver tendo dificuldade justo contra aquele pokémon. "Eu vou te mostrar só uma coisa", pensei sentindo um calor de pura raiva subir pelo pescoço e irradiar pelo topo da minha cabeça.

Mawile deu um gritinho de surpresa quando viu o ovo quase sendo levado. Zangada, ela deu continuidade à sua investida e atacou o tronco de Meowth em cheio, lançando de volta na direção do amontoado de lixo de onde ele saiu. Caído, mas ainda não derrotado, Meowth girou o corpo no chão e ainda agachado voltou a jogar aquelas moedas contra Mawile, mas a fada confiou na sua resistência anterior àquele golpe e continuou seguindo em frente mesmo sendo atingida. Quando se aproximou o suficiente, segurou o gato pelas patas dianteiras e o jogou com tudo por cima do seu ombro, fazendo-o cair com violência há pouco mais de um metro e meio da posição que estavam. Como sempre, o poder daquele ataque se encontrava no poder da gravidade puxando-o contra o solo. O ar pareceu faltar para Meowth, que puxou o ar de forma audível e estava sem fôlego enquanto voltava a ficar de pé.

registro da rodada:

— Mais? Tudo bem então. Mawile, Seismic Toss novamente e se ele se levantar ataque com Metal Claw!

Àquela altura, Mawile já tinha começado a ofegar pelo cansaço e ferimentos acumulados, já que por mais resistente que fosse uma hora seu corpo iria começar a ceder. Até aquele momento, a Floresta de Santalune estava se mostrando um local cheio de desafios e em nada se comparava ao Viveiro Xanadu. Fizemos mais de cinco batalhas por lá, e nenhuma sequer passou perto do desafio que esse Meowth estava sendo. É, eu ainda não usei Floette e ela foi excepcional lá, mas mesmo Mawile conseguiu bater de frente e sair quase ilesa em Pallet. Pensar nisso fez meu corpo formigar de empolgação; era para aquele tipo de coisa que eu tinha me tornado Treinador. Sem externalizar isso em minha expressão facial e corporal, como é de costume, observei Meowth manter a estratégia de antes e continuar lançando moedas e mais moedas na direção de Mawile. A pequena fada de aço parecia já estar no limite do estresse com aquilo quando avançou com tudo estendendo sua mandíbula para frente. Cansado, Meowth não conseguiu reagir a tempo de ter seu corpo abocanhado pelas presas de ferro de Mawile que o arremessaram para o alto novamente e o deixaram ir de encontro com o chão completamente de mal jeito. Depois daquele golpe, Meowth já não levantou mais. Estava nocauteado, enfim.

registro da rodada:

"Mas eu ainda tenho algo para mostrar", pensei. Confiante, retirei uma pokébola da bolsa e a joguei na direção de Meowth. A esfera bateu contra o lado do corpo desmaiado dele e então quicou para trás para flutuar no ar enquanto transformava o pokémon caído em energia vermelha e o absorvia. A cada bipe da pokébola, eu me aproximava ainda mais, para então pegá-la do chão com o terceiro e último bipe que anunciou meu sucesso em mais uma captura. Eu tomei aquela pokébola nas mãos com uma enorme sensação de dever cumprido. Respirando fundo para acalmar os ânimos, eu me virei na direção de Yata e estendi a mão mostrando a pokébola de Meowth antes de despachá-la para a Box.

— Está satisfeito? Agora também tenho um pokémon do Time Imperium como vocês.

— Não sou eu que você deve agradar, jovem mestre, mas tenho certeza que seus pais irão ficar felizes quando souberem. — disse ele se aproximando de mim enquanto batia palmas lentas.

— Então você vai me deixar em paz?

— Nunca foi meu dever importuná-lo, mas isso não prova a sua lealdade como me pediram para averiguar, se é isso que está perguntando. Para isso, temos outras atividades para cumprir.

Contrariado, me virei bufando para recolher Mawile de volta em sua pokébola, guardar o Lucky Egg e ainda recolher aquela fruta estranha que Meowth deixou cair quando foi nocauteado. Mil respostas passaram pela minha cabeça enquanto eu fazia isso, por isso eu fui de novo ficar cara a cara com Yata para defender o futuro da minha jornada.

— Eu sei que tipo de atividades você quer que eu faça, Yata, mas fazer isso vai ser o mesmo que o trato não existir. Eu vou desafiar o Ginásio de Santalune em alguns dias! Como você acha que vão me receber quando souberem que roubei e vandalizei a floresta? Vou direto pra cadeia.

— Sua identidade civil não é uma preocupação dos seus pais, mas eu me antecipei à essa resposta e tenho uma proposta. — disse Yata me olhando nos olhos. Eu sabia que ele não estava fazendo aquilo para me ajudar... era muito mais sobre contrariar meus pais e ser punido por isso. Ele é muito competente como mordomo e assistente, mas seus erros amadores e estranhamente propositais já são conhecidos. Ele sabia que não podia contar comigo para esse tipo de coisa, então depositou suas esperanças em receber o tratamento doloroso quando voltasse para casa. Yata era simplesmente... maluco.

Foi quando de sua bolsa ele tirou dois trajes. Mas não qualquer traje, foram aqueles trajes. No passado, no início de suas carreiras na Imperium, meus pais atuaram com roupas como aquelas, só que de cores diferentes, e se apresentavam como MERCURY e VENUS, sendo o primeiro meu pai e o segundo a minha mãe. Meu pai já não atua como MERCURY, apesar da minha mãe colocar o traje de VENUS vez ou outra quando quer se divertir um pouco. Eram feitos de camisa preta com uma capa que vai até o meio da coxa, calça preta, botas igualmente escuras e um tipo de capacete que cobre todo o rosto e possui uma fenda brilhante onde deveriam ser os olhos, tudo isso com detalhes lineares em tons de cores diversas formam um dos padrões de vestimentas mais conhecidos dentro do Team Imperium. Ali nas mãos de Yata estavam trajes ciano e vermelhos, cores tão representativamente óbvias que ele nem precisou me explicar para que eu entendesse.

— Eu sempre achei esses trajes ridículos. — reclamei enquanto me aproximava para pegar aqueles com detalhes ciano para vestir.

— É isso ou ter sua identidade exposta. Farei o que você considerar o mais adequado. — disse ele antes de também começar a vestir os trajes vermelhos.

— E vamos nos chamar como? Pensou nisso também? — perguntei com desdém antes de colocar o capacete.

— É claro. — respondeu Yata imediatamente enquanto anunciava os nomes e apontava primeiro para mim e depois para ele próprio — PLUTO e SATURN online e à serviço da Imperium. — completou enfim quando os feixes com nossas cores respectivas se acenderam no capacete e nas roupas, tornando-se neon. Completamente oculto por aquelas roupas pesadas e esquisitas, eu olhei para frente pela lente do capacete e suspirei. Eu simplesmente odeio essa família.

— Me admira você ficar empolgado com uma coisa brega dessas. — pontuei olhando para Yata, ou melhor, para SATURN. Por conta do capacete que escondia nossos rostos, a minha voz saiu abafada. Não apenas isso, mas eu percebi que alguma coisa nele também alterava ligeiramente a voz, já que tinha um resquício de eco e um pouco de interferência no fundo, como se falássemos em um daqueles microfones de lotérica, ainda que de boa qualidade.

— Não há nada de brega em continuar o legado dos seus pais, senhor. É uma honra. — respondeu SATURN e eu entendi enfim que o motivo por trás de ter sugerido os trajes era sua vontade incontrolável de idolatrar tudo que meus pais fazem. Assim como a minha, a voz de SATURN saiu um pouco alterada. Até fazia sentido, percebi depois, uma vez que o objetivo daquilo tudo era não permitir que fôssemos identificados durante as ações criminosas. Aliás, falando nelas...

— Vai, o que você quer que eu faça?

Requisição de Mestragem
Objetivo: Concluir a missão personalizada encontrada neste link, gostaria de fazer as cinco em sequência
NPC envolvido: Tomoe Yata (Personagem Secundário, pode ser encontrado neste link)

Aquilo tudo não me agradava em nada. Meus pais são membros orgulhosos da Imperium e me criaram para ser como eles, então era comum me contarem de suas histórias e feitos durante missões pela organização. Quando mais novo, aqueles contos serviam para atiçar minha imaginação e eu perdia horas reencenando as histórias uma por uma. Conforme fui crescendo, percebi que minha empolgação com a Imperium foi imbuída em mim e não era algo intrínseco meu. O trato que fiz de sair em uma jornada de fachada para atuar como Imperium foi a minha forma de me livrar das amarras do Time e conseguir entender melhor minhas particularidades enquanto ser humano. "Eu sou como os meus pais? Eu realmente quero ser como eles?", me questionei, mas a resposta sempre me pareceu óbvia: eu não preciso me limitar ao que eles são se eu posso ser ainda melhor. Ou assim pensei durante os dias que pude desfrutar da minha jornada tomando cada decisão que me pareceu ser a melhor a se fazer. Agora, acorrentado metaforicamente a SATURN e consequentemente a meus pais, eu me via obrigado a abrir mão das minhas vontades em prol de recuperar a minha liberdade no futuro... um sacrifício inevitável.

Guiado por SATURN enquanto me perdia em pensamentos de lamentação, ficamos ali escondidos pela vegetação enquanto observávamos outro treinador, ainda mais jovem que eu, ser bem-sucedido em uma captura. Sua empolgação fez eu me lembrar da minha primeira captura e o quão feliz eu fiquei quando Grubbin se juntou ao time. Era um sentimento puro, isso era claro, mas se tem uma coisa que eu aprendi nas histórias que meus pais me contavam é que justo nesses momentos as pessoas parecem estar ainda mais vulneráveis à maldade alheia. SATURN me comprovou isso ao externalizar a minha tarefa e era quase como ouvir meu pai falando, provando mais uma vez o quão cachorrinho dos Tachibana ele conseguia ser.

Eu não diria que tenho pena de prejudicar os outros, mas gosto de pensar que tenho alguma empatia dentro de mim. O garoto estava em seu momento de comemoração e eu preferiria não atacá-lo daquela maneira, sobretudo para lhe tirar o motivo de estar comemorando. Hesitando por alguns segundos, olhei para SATURN e então respirei fundo ao notar que não adiantava procurar por suas expressões; até isso aquele traje conseguia tirar de nós. "Você não é o Yusuke, você é o PLUTO", pensei tentando me convencer de aquele prestes a atacar uma criancinha não era eu. Repeti aquela afirmação mais algumas vezes antes de levar a mão esquerda até uma pokébola presa ao meu cinto e me fiz acreditar nela, mesmo que momentaneamente. Aquela era a primeira tarefa, então se eu fracassasse ali eu podia ter certeza de que eu voltaria para casa até o fim daquele dia. E foi pensando nisso que eu a chamei para que se reunisse conosco. "Antes a infelicidade dele do que a minha", conclui.

— Sandshrew... — sussurrei chamando-o para fora de sua pokébola. De minha mochila, retirei o ovo que Mawile tanto gostava de brincar e entreguei para o meu parceiro tatu — ... primeiro pegue isso. Depois vá lá e use Sand Attack para cegar aquela criança, tome aquela pokébola na mão dela e traga para mim. — comandei ainda com certo receio em meu interior, mas me esforçando para não deixar que ele transparecesse na minha voz. Dali para frente, qualquer mínimo gesto de fraqueza seria usado contra mim, isso eu sabia bem. Eu sabia que não era uma pessoa ruim, mas eu poderia agir como uma pela minha própria sobrevivência. E assim, sendo Sandshrew bem sucedido ou não em seu roubo, eu me revelaria dos arbustos para a criança. Corpo ereto, voz firme e tentando emanar confiança, eu anunciei o que estava acontecendo — O Time Imperium está confiscando o seu pokémon. Entregue-o sem resistir ou lute. — soltei. Embora não pudesse ver SATURN, eu sabia que ele estava adorando ver aquilo. De minha parte, era extremamente vergonhoso falar daquela maneira, mas não recuei. Estava disposto a ir até o final daquilo agora que já tinha começado.

— Não só posso tomar como vou. — ameacei ainda me esforçando para passar credibilidade àquela personagem que eu estava fingindo ser . Timmie e Pikachu formavam uma boa equipe. Parado e atento, eu vi o Pikachu proteger seu treinador da mesma forma que Mawile estava disposta a fazer momentos antes quando considerou SATURN uma ameaça. Aquilo atiçou meu espírito de treinador, este eternamente ansioso por uma batalha, e por alguns instantes eu me permiti esvaziar a mente da tensão daquele momento e tentei fingir que aquilo tudo não passava de uma pequena batalha de treinamento. As pernas trêmulas de Timmie, no entanto, não me permitiam acreditar nisso por mais que eu tentasse. Até mesmo Sandshrew parecia de certa forma confusa, tanto pelo traje quanto pelas ordens incomuns que eu estava lhe dando. A lealdade dela, no entanto, era inquestionável, então ela se colocou diante de mim assim como Pikachu também o fez com Timmie. Com aquele posicionamento pelo campo, era óbvio o que ia vir depois: uma batalha. Retirando minha pokédex do bolso, eu a estendi para frente. Pikachu era um pokémon famoso e uma das minhas opções quando iniciei minha jornada, mas ainda não tinha tido a chance de registrá-lo.

"Pikachu, um Pokémon Rato. Quando Pikachu fica com raiva, ele imediatamente descarrega a energia acumulada nas baterias em suas bochechas."

— Sandshrew, faça tudo tremer com Bulldoze e não pare! — comandei estendendo o indicador na direção dos meus adversários. O comando de duplo Bulldoze não era por acaso: a pokédex me relembrou o tipo elétrico de Pikachu, me trazendo a possibilidade de explorar sua fraqueza com ataques do tipo Ground em sequência.

As batalhas anteriores contra Mantyke e Meowth foram acirradas. De minha parte, optei por membros mais recentes na equipe para que eles pudessem batalhar como forma de treino e manter suas habilidades afiadas, então talvez a dificuldade maior tenha sido por conta disso. Agora, utilizando um pokémon experiente como Sandshrew e me aproveitando de vantagens de tipo, eu me peguei caindo mais uma vez no meu tédio costumeiro. Timmie parecia esperto, mas seu Pikachu foi incapaz de até mesmo enconstar em seu adversário, caindo desacordado logo após um único Bulldoze. Observando a cena da criança caindo, o pokémon desmaiando e ouvindo o seu choro, bem como sua súplica para que o deixasse em paz, cogitei olhar para trás. A patente de SATURN não era alta como a dos meus pais, mas ainda era alta, e para isso acontecer ele precisava ter passado por missões como aquela que estava impondo para mim com a autoridade que meus pais lhe concederam. Eu queria ver sua expressão enquanto aquilo tudo se desenrolava; o sorriso no seu rosto e os olhos fixos e analíticos sobre mim. O capacete, no entanto, me impediria de ver o que eu queria. Da mesma, o meu capacete impediria que ele percebesse no meu rosto o quão desanimado fiquei.

— Prêmios são para os vencedores. Os perdedores ficam apenas com os restos. — falei tentando incorporar o jeito que minha mãe costumava narrar a si mesma em suas histórias. Era cruel às vezes, em outras apenas cringe, mas ali com o já desolado Timmie as palavras pareceram cravar ainda mais fundo em sua confiança. Não era uma visão divertida, mas eu me mantive centrado sobre os pensamentos constantes de "antes ele do que eu, antes ele do que eu". Foi ali que eu percebi que estava disposto a fazer o que precisasse para ter minha liberdade de volta... ou melhor, para ter minha liberdade de forma definitiva. Foi por isso que mesmo odiando aquilo tudo eu me aproximei de Timmie, aceitei o seu dinheiro e também estendi a mão para tomar a pokébola que ele tinha usado momentos antes para capturar um...

"Heracross, um Pokémon Chifre Único. Heracross se orgulha de sua força, o que lhe permite levantar coisas 100 vezes mais pesadas do que ele sem nenhum problema."

... Heracross. Com a pokédex mirando na parte avermelhada da esfera para se aproveitar de sua transparência, eu registrei e analisei a captura de Timmie. Heracross parecia ser um pokémon poderoso, do tipo que faria completa diferença para Timmie tê-lo ou não em seu time por não compartilhar fraquezas com Pikachu e poder cobri-lo em emergências. Meus olhos se moveram da pokébola para Timmie tantas vezes que nem pude contar enquanto eu analisava se levaria aquilo comigo ou não. Minha mente trabalhou a mil para pensar em uma desculpa para não levá-lo e ainda assim não me prejudicar, mas o tempo parecia passar rápido demais. Me vendo sem alternativa, tive que seguir com o que seria melhor para mim.

selvagem recém-capturado por timmie:

— Pode ficar com esse Pikachu inútil, mas esse aqui vem com a gente. O Time Imperium agradece a colaboração.

E então me virei, deixando criança e pokémon para trás. Quando me aproximei de SATURN, meu humor não era dos melhores. Eu estendi a mão com a pokébola recém-roubada para que ele a recebesse, mas ele se recusou; se era meu primeiro roubo, seria especial mantê-lo comigo, ele disse. Sentindo que tinha conseguido provar que podia agir como qualquer outro Imperium, acenei para que seguíssemos em frente como forma de me livrar do choro de Timmie. Por outro lado, SATURN apenas considerasse que eu estava ansioso por continuar as tarefas... torci para que fosse a segunda opção.

Quando SATURN tomou a pokébola de Heracross das minhas mãos eu fiquei dividido. Parte de mim queria mais que ele levasse aquilo para bem longe de mim como uma forma de me livrar de qualquer prova do que eu tinha acabado de fazer, enquanto a outra parte queria ficar com aquele pokémon raro sob a desculpa de "se eu já fiz, então que seja eu a tirar algum proveito dessa situação horrorosa". Infelizmente, a escolha não era minha para ser feita, então apenas tive que engolir a vontade de bater o pé e reclamar meu posto de herdeiro Tachibana numa tentativa de fazer Yata por trás daquela máscara me atender. "Minha voz nunca vai soar mais alto que a dos meus pais na cabeça", pensei porque sabia que nada do que eu fizesse faria SATURN mudar de ideia. De minha parte, também não soube o que pensar sobre aquele pokémon se tornar uma opção para aqueles que se aliassem ao Imperium, mas as chances de nunca mais ver Heracross eram altas e eu me agarrei naquilo. Apesar de ter a necessidade de orgulhar meus pais, eu não queria dar o gosto pleno de me controlar a eles.

— Vamos.

Não demorou para eu perceber que estávamos adentrando fundo na floresta. Eu não sabia o caminho que nos levaria para fora já na Cidade de Santalune, mas tinha certeza que SATURN não estava me levando por ele. Com tarefas a cumprir, eu sabia que ele só me deixaria minimamente em paz quando tudo aquilo fosse concluído. Sendo assim, eu estava preso naquela floresta até que tudo estivesse resolvido... e eu torci para que fosse logo. Esgueirando-nos pela vegetação, ora alta, ora baixa, eu torcia a cada segundo para que mais alguém surgisse. Àquela altura minha mente já parecia estar se acostumando com a ideia daqueles roubos, mas a minha emergência era apenas diminuir a suspeitas de meus pais sobre mim. Paralelo a isso, tinha algo de especial em fazer aquelas coisas sem que pudessem saber quem estava por trás do capacete. O anonimato parecia liberar algumas travas, por assim dizer, que eu nem sequer sabia que possuía. "Talvez eu seja apenas um hipócrita que se recusa a aceitar que é como eles", lamentei me referindo aos meus pais. Eu não queria pegar gosto por aquilo, mas sabia que cedo ou tarde a minha verdadeira inclinação seria colocada à prova. Pelo menos por enquanto as provações eram tão simples quanto quanto brincar de esconde-esconde.

— Mawile, sua vez. — chamei baixinho liberando-a de sua pokébola. Mawile tinha lutado antes e não estava completamente recuperada ainda, mas eu estava confiante de que ela seria uma ótima opção para uma tarefa como aquela. Por isso que, ainda oculto, eu me agachei ao seu lado e lhe entreguei o seu tão querido Lucky Egg como forma de distrai-la enquanto espirrava o conteúdo de uma poção que há muito eu tinha recebido, ainda quando iniciei minha jornada em Pallet. Observando seus ferimentos começarem a sarar por algum tipo de reação específica da biologia pokémon, voltei a ficar de pé e de imediato comecei a tentar canalizar a personalidade de antes; precisava agir como PLUTO novamente e deixar Yusuke de lado por alguns instantes — Está vendo aquele pokémon ali? — mostrei para a fada apontando discretamente para Lillipup — Ele encontrou um item, mas vamos pegá-lo para nós.

E assim como Sandshrew antes, Mawile pareceu não entender aquela ordem. Àquela altura eu já estava preocupado com a forma que meus parceiros estariam me percebendo, então ficou óbvio que eu precisaria de um momento com eles para explicar a nova situação assim que eu tivesse a chance. A lealdade deles, no entanto, ira inabalável, e mesmo dando comandos questionáveis ela me obedeceu. Mawile então foi na frente enquanto eu segui logo atrás dela. Por conta própria, ela agitou a mandíbula em sua cabeça fazendo-a abanar para frente, liberando assim uma onda de pó rosa (Fairy Wind) na direção do item que Lillipup tinha achado; não para machucá-lo, mas para afastar o "espólio" e conseguirmos nos aproximar para tomá-lo para nós.

— Em nome do Time Imperium, o seu item está sendo confiscado. — anunciei com aquela voz tentado ser imponente e me esforçando para não morrer de cringe comigo mesmo. Se aquela garota tivesse o espírito de batalha de Timmie, ela lutaria pelo seu item. Bem, estávamos preparados para isso.

OFF: Já retirei o pokémon da ficha, perdão pelo engano. Sobre o destino dele acho que enviar para um NPC seja a opção mais interessante!

Eu sequer podia me ofender com o comentário de Kira sobre a vestimenta, uma vez que eu mesmo tinha reclamado do quão brega aquilo conseguia ser algumas horas atrás. No entanto, me veio naquele momento o pensamento de que se o objetivo era apenas ocultar minha identidade, talvez não fosse necessário tudo aquilo. Quase deixei um suspiro escapar quando me toquei que de fato aquilo só não passava de mais uma decisão megalomaníaca dos meus pais que SATURN, como sempre, estava disposto a aplaudir. De qualquer maneira, mesmo que concordasse, o personagem PLUTO pedia por uma provocação de volta.

— Pijama? É você que borda o próprio nome nas roupas. Tem medo de que algum recém-nascido roube macacão de você? — lancei, mas só depois me toquei que aquele não era bem o tipo de coisa amedrontadora que meus pais diriam em suas missões. "Okay, isso não foi nada ladrão de beco da minha parte", pensei, mas logo voltei a manter a pose — Delírio é achar que essa sua atitude vai te salvar. — lancei de volta olhando para o cachorro rastreador que parecia muito corajoso para o seu tamanho. De onde eu estava, estendi minha pokédex na direção dele, ao passo que Mawile se colocou entre nós dois e virou-se de costas.

Acostumado com aquilo, eu já sabia o que viria a seguir e por trás do capacete eu sorri. A fada, por sua vez, ensaiou abocanhar seu adversário três vezes, ainda que não tivesse próxima o suficiente para isso. Depois, deixou a mandíbula em sua cabeça relaxar com a boca aberta, mostrando as suas presas poderosas. Por trás daquele rostinho fofo, Kira logo descobriria, estava uma combatente feroz.

— Então vamos lá. Mawile, inicie com Seismic Toss e aproveite que ele estará sem apoio no ar para acertá-lo com Metal Claw!

Passando a mão pelo casaco, eu senti aquelas teias de aranha molhadas presas ao tecido e com alguma aversão no ato eu as segurei e joguei para longe. Se não estivesse de luvas aquilo com certeza teria sucesso em me tirar do sério, mas estando protegido eram apenas fios deixados para trás por um pokémon qualquer. Do lado de Mawile, no entanto, as teias pareciam atrasá-la, se prendendo em suas perninhas e deixando-a mais lenta. De minha parte, eu sabia que velocidade não era exatamente o ponto forte da fada amedrontadora, no entanto não me agradava vê-la ser prejudicada por conta do terreno natural da floresta. Ainda assim, seus movimentos foram certeiros.

Lillipup parecia ser um oponente à altura, e eu vi ele latir para encurralar Mawile assim como ela faz momentos antes consigo, conseguindo não apenas reverter a intimidação de antes, como devolvê-la, de certa forma, sobre seu oponente. Por trás do capacete, encarei Kira e constatei que ela era de fato uma boa coordenadora. Infelizmente para ela, apenas ser boa não era o suficiente para me segurar em uma batalha.

— Não desfaça suas garras de aço ainda, Mawile, continue golpeando com Metal Claw até ele cair!

Ver Mawile errar seu ataque serviu para me lembrar que mesmo os mais dedicados conseguem falhar algumas vezes. Eu sabia que não tinha nada a ver com ela ser incompetente, eu sabia dos riscos sempre que a comandava em direção ao Metal Claw. Era desgastante fisicamente para ela, o que abria margem para esquivas alheias mais do que outros ataques como Fairy Wind e Seismic Toss. Ainda assim, Metal Claw era um dos, senão O seu golpe mais poderoso, e entre ir com tudo me arriscando ou me segurar indo pelo seguro, a minha opção acaba se tornando clara ao se perceber meus últimos comandos.

Lillipup pressionou Mawile de uma forma que eu não esperava; o cachorrinho a deixou ainda mais cansada que Meowth, e eu já tinha achado a batalha com o gato exaustiva o suficiente. Conforme seguíamos em frente, o nível dos desafios que enfrentávamos só aumentava. Era meu dever como treinador me adaptar a esses obstáculos e ensinar os meus pokémon a lidar com esses imprevistos. Por enquanto, eu só conseguia me sentir extremamente satisfeito e orgulhoso da equipe que me acompanhava naquele momento, e não seriam as tramas da minha família que iriam tirar aquele momento de mim.

— Acabou. — anunciei recolhendo Mawile em sua pokébola para que ela pudesse descansar. Com Lillipup desmaiado, Kira não parecia ter outra opção a não ser correr. Eu não queria nada com ela, então nada fiz para impedir a sua fuga, mas caminhei a passos rápidos até onde o Fairy Wind de Mawile mais cedo empurrou o objeto encontrado pelo pokémon da minha oponente: uma Pokéball. Vendo que a briga tinha acontecido por algo que podia ser facilmente comprado em um Centro Pokémon, eu suspirei enquanto me agachava para pegá-lo e com certa lerdeza o levei até SATURN, deixando a esfera repousar em sua mão — Pronto, aqui está. Feliz? — e dei de ombros, me virando para pegar algo na minha bolsa.

Depois de dois roubos, minha mente provavelmente explodiria se eu tivesse que fazer mais daquilo imediatamente. Eu precisava respirar, tomar um fôlego numa batalha de verdade pelos motivos certos. Assim, pela primeira minha jornada, eu tomei o VsSeeker em minhas mãos e o ativei. Atento, procurei por outro treinador ansioso por uma batalha. Não tinha tempo para retirar aquele traje todo, e também não queria arriscar ser visto. Ainda assim, eu precisava daquela batalha. Pela minha sanidade.

Requisitando uma ativação do VsSeeker. Tá disponível porque nunca usei.

Me surpreendeu a velocidade que outro treinador apareceu. Ou melhor, outra treinadora. A azulada parecia empolgada, o que era importante. Embora a última batalha tenha sido cansativa não apenas para Mawile, mas também para mim, um novo desafio refrescante pelo puro prazer de batalhar devia elevar meu ânimo novamente. Mesmo que Mawile e Steene fossem fortes, eu não diria que elas são as estrelas do time no sentido de serem aquelas que estão mais encaminhadas para um nível de poder adequado para enfrentar ginásios, por exemplo, então aqueles desafios estarem parelhos fazia sentido. No fundo, eu sabia que nenhum daqueles pokémon da floresta dariam tanto trabalho para Braixen e Floette... ou até mesmo Sandshrew, como ele mostrou antes no desafio contra Timmie.

— Fui eu sim. — respondi a outra garota enquanto me aproximava como forma de identificação. Ao ouvir a aparente reclamação de SATURN, eu sequer olhei para trás. Eu ainda estava com o VsSeeker em mãos e estava terminando de ajustar os detalhes do desafio no aparelho quando o respondi — Não haja como se quando isso acabar você não fosse voltar a ser meu empregado, SATURN. — falei de forma ríspida, ainda me sentindo sobrecarregado pelas ditas tarefas que podiam, sim, esperar um pouco. Quando me dirigi à Evelyn, o tom já não era mais ríspido, embora fosse monótono — Sim, aceito que seja uma batalha em dupla.

E foi assim que duas pokébolas vieram parar em minhas mãos. Sem muita firula, nem mesmo arremessando-as, eu apenas flexionei os dedos para abrir as esferas e de dentro delas saíram Floette e Braixen. Como sempre, Braixen estava extremamente animada por participar de uma batalha — e para ser sincero, ela já não lutava há um bom tempo. Floette, por sua vez, nunca teve muito tempo para deixar o corpo esfriar, tendo sido o ás da passagem pelo Viveiro Xanadu. Aquela seria sua primeira batalha portando a Cotton Flower, então eu estava extremamente animado para ver o que aquele item tão raro poderia fazer. Com a pokédex em mãos, a estendi na direção daquele inseto avermelhado do lado de Evelyn. Seu nome era Scyther, de tipo Aço e Inseto. "Tipo Aço é a fraqueza da Floette. Não vou dar para trás, no entanto, quero testar os limites dela", ponderei.

— Já que eu começo, vamos lá. Braixen, acenda seu graveto e derreta Scyther com Flamethrower! Floette, vamos ver do que sua nova flor é capaz: proteja-se com Cotton Guard!

— Double Team é uma estratégia inteligente. — elogiei. Meus dedos se moveram na direção do rosto ensaiando se apoiarem no lábio inferior como costumo fazer, mas por conta do capacete não seria possível. Sendo assim, apenas mantive o corpo relaxado — Mas tem uma forma muito simples de lidar com isso. Floette, ataque Scyther com Magical Leaf! Braixen, mantenha sua chama acesa e a redirecione em mais um Flamethrower, mas desta vez em Steenee!

Continuar explorando as fraquezas ao fogo dos pokémons de Evelyn era uma estratégia óbvia. O Magical Leaf, no entanto, talvez fosse ser uma surpresa para ela. Elevar a evasiva de um pokémon pode ser problemático se ele conseguir ganhar tempo para acumular vários Double Team, por exemplo, mas ataques como aquele que Floette estava para usar não se importavam com isso; as folhas alcançariam Scyther de um jeito ou de outro.

— Não é sobre ser efetivo em tipagem, é sobre ser efetivo para garantir a vitória. — respondi. Steenee tinha sido nocauteada em um único ataque de Braixen, o que não era esperado da minha parte, mas era uma ótima surpresa. Scyther, por sua vez, estava atacando a raposa fisicamente. Se esse fosse seu estilo, não tinha mais nada que Evelyn poderia fazer; Floette não iria cair para o inseto esverdeado por mais que a outra treinadora tentasse — Floette, repita o Magical Leaf. Braixen, use Psybeam!