Nem Daisy nasceu

Do pé que brotou Maria

Depois de conseguir seu Pokémon inicial, Kalisto não soube o que fazer em seguida. A ideia de ficar em Pallet Town por mais tempo que o necessário não lhe agradava; ao mesmo tempo, agora que estava com Mudbray, não parecia correto arrastar o Pokémon por aí sem sequer se apresentar. Por isso, ele procurou um lugar tranquilo, soltou o tipo solo de sua Pokébola e disse: - Olá, Mudbray, meu nome é Kalisto, e a partir de agora eu sou seu treinador. - simpatia não era nem de longe uma qualidade de Kalisto. As palavras saíram de forma protocolar demais, quase como se um robô as estivesse falado.

Por alguns segundos, a Mudbray pareceu processar o que estava acontecendo, até que começou a galopar alegremente ao redor de seu treinador. Aparentemente ela não ligara muito para a falta de tato de Kalisto - estava feliz demais por ter finalmente sido escolhida como inicial de alguém. Agora, algumas horas depois, Kalisto estava encostando em uma árvore com Mudbray em seu colo, relinchando calmamente à medida que tinha sua crina alisada pelo jovem policial. Ele não se sentia absolutamente confortável fazendo aquilo, mas entendia que estabelecer vínculos é parte essencial na relação Treinador - Pokémon.

Kalisto estava quase dormindo quando percebeu alguém parado bem à sua frente. Abriu os olhos rápido e levantou-se sobressaltado, assustando Mudbray. Era uma reação instintiva. Como policial, ele fora treinado para estar sempre preparado para reagir ao menor sinal de perigo, e ter alguém lhe encarando enquanto você pega no sono é uma situação no mínimo estranha.

- Cuidado, desse jeito vai acabar machucando ela. - a pessoa que estava a sua frente falou, apontando para Mudbray. Kalisto percebeu que se tratava de uma mulher um pouco mais baixa que ele, mas aparentemente da mesma idade. A mulher se agachou para ficar na mesma altura da Pokémon. - Ele te acordou não é, pequena? Olha só seu rostinho como tá assustado. Não fica assim, tá tudo bem. - sua voz mesclava calma e autoridade e soava como uma ordem dada com ternura, de forma que até Kalisto se acalmou um pouco. Mudbray se aproximou vagarosamente da mulher, e antes de Rowen sequer pensar em afastá-la ambas já estavam abraçadas, rindo.

- Ham-ham. - Kalisto fingiu um pigarro, o que fez com que a mulher voltasse a atenção para ele. - Posso saber quem é você?

- Ah, desculpe, acabei esquecendo de me apresentar. - A mulher deu um último afago em Mudbray e se levantou. - Muito prazer, meu nome é Daisy Oak. - falou, estendendo a mão.

- Prazer, Kalisto Rowen. - ele respondeu, devolvendo o cumprimento à Daisy. - Posso te ajudar em alguma coisa?

- Nossa, quanto bom humor. - Daisy inclinou um pouco a cabeça e deu um sorriso largo. Imediatamente Kalisto percebeu a semelhança dela com o Prof. Oak, nada físico, evidentemente, mas ambos carregavam uma espécie de aura que faz com que você queira ter aquela pessoa por perto. Rowen ainda estava meio absorto nesse pensamento quando a mulher voltou a falar: - Eu soube pelo meu avô que um novo treinador tinha começado sua jornada, e como forma de boas vindas e incentivo eu costumo preparar uma pequena surpresa...

- E que surpresa seria essa? - Rowen perguntou, arqueando a sobrancelha.

Ela deu um risinho antes a reação de Kalisto. - Ora, é só uma lista com uma série de atividades que eu acho que são úteis para quem está começando. Venha, está aqui. - Daisy puxou um papel do bolso e entregou para Kalisto. - Se você conseguir completar tudo eu te dou um prêmio, mas vai precisar terminar primeiro.- Ele leu rapidamente e percebeu que as tarefas tinham dificuldades variadas: algumas seriam muito fáceis, outras poderiam demandar mais tempo. No fim das contas, calculou que aquela lista seria útil para ele. "Um lugar por onde começar", pensou.

- Uma das tarefas é vencer uma batalha... - deixou as palavras morrerem no ar, pensando. Encarou Mudbray por uns segundos e, como se tivesse entendido o pensamento de seu treinador, a Pokémon levantou-se prontamente, pondo-se em posição de batalha. - Aceita nosso desafio?

- Pensei que você não fosse pedir! - falou, jogando uma Pokébola para cima e liberando um pequeno Pokémon bicolor para a batalha. Rowen abriu sua Pokédex e identificou seu adversário: Zigzagoon.


- Zigzagoon, comece com Covet. - O Pokémon de Daisy cortou o caminho que o separava de Mudbray rapidamente, de forma que a adversária mal teve tempo de reação. Zigzagoon acertou um golpe certeiro, causando danos consideráveis e fazendo a pequena tipo solo recuar.

Tudo aconteceu rápido demais para Kalisto reagir. Aquela era a primeira batalha Pokémon na qual ele atuava como um treinador e Daisy parecia ter feito aquilo milhares de vezes antes. Embora ele nunca fosse admitir, se sentiu intimidado. Respirou fundo e avaliou a situação. Mudbray tinha sido golpeada, mas aparentemente ela ainda conseguiria batalhar. Além disso, percebeu uma aura ao redor de sua Pokémon aparecendo e sumindo rapidamente. "Stamina!", pensou.

- Tá,  nossa vez de atacar. Mudbray, use Body Slam! - Zigzagoon ainda estava próximo demais da sua adversária por causa do seu golpe anterior, de forma que não conseguiu se esquivar. Todo o peso de Mudbray caiu sobre o Pokémon guaxinim, causando danos muito maiores que os que ele tinha causado anteriormente. De repente, Zigzagoon começou a mordiscar uma pequena fruta que escondera em sua pelagem. Apesar de pequena, a fruta parecia ter feito com que ele recuperasse quase todo seu HP.


- Ok, bom trabalho, Zig. Vamos voltar à ofensiva usando Tackle. - o Pokémon começou a correr novamente na direção de Mudbray, visando golpear seu corpo com mais um golpe físico.

- Mudbray, intercepte com Rock Smash!! - Kalisto sabia que, à despeito do HP de ambos os Pokémon, ele estava com a vantagem. Stamina aumentava consideravelmente o potencialmente defensivo de seu Pokémon e Rock Smash era uma ferramenta muito poderosa contra tipos normais.

Mudbray levantou suas patas dianteiras para atacar, mas antes que conseguisse teve o corpo atingido pelo Tackle de Zigzagoon. Entretanto, por causa de sua defesa aumentada, não recuou tanto quanto da última vez, de forma que ainda conseguiu finalizar seu golpe. O movimento tipo lutador acertou o flanco de Zigzagoon, empurrando seu corpo contra o solo com toda a força de Mudbray.


Kalisto percebeu uma oportunidade de finalizar aquela luta enquanto Mudbray ainda pressionava o corpo de seu adversário. Era hora de finalizar o combate.

- Acabe com isso usando Body Slam novamente. - novamente, todo o peso de Mudbray recaiu sobre o pequeno corpo de Zigzagoon, que estava indefensível sob as poderosas patas do Pokémon tipo solo.


Por fim, Zigzagoon jazia no chão nocauteado, fora de combate. Mudbray correu na direção de Kalisto feliz por ter vencido sua primeira batalha e o jovem policial, quase, quase sorriu. De toda forma, havia sido uma bela vitória, principalmente para dois iniciantes.

- Você lutou bem. - disse Daisy, recolhendo seu Pokémon para sua bola. - Acho que já pode riscar uma tarefa da lista. Hahahaha. - Sua risada era sincera, estava realmente se divertindo com aquilo. - Em todo caso, melhor eu ir indo. Tenho que recuperar esse pequeno, mas acho que você pegou o espírito da coisa. Meus parabéns! - e saiu andando. Quando já estava a alguns metros de distância, virou-se para trás e disse: - Ah, quando tiver terminado me liga, meu número tá no verso do bilhete!

Mudbray ainda saltitava ao seu redor quando Kalisto terminou de anotar o número de Daisy em seu Rotom Phone. Percebeu que sua Pokémon parecia um pouco mais forte e mais confiante após sua primeira batalha e que, ansiava por mais. Por isso, Kalisto decidiu passar mais um dia em Pallet Town. Saiu de debaixo da árvore que estava em direção à rua, cantarolando: "Do pé que brotou Maria // Nem margarida nasceu".

Atualizaçõs:

Missão: Ajudando Iniciante:

Deixe-me ir, preciso andar

Vou por aí a procurar

- É claro que nós não estamos perdidos, só estamos...explorando! - a voz de Kalisto não passava convicção nenhuma, e Mudbray apenas virou a cabeça pro outro lado diante da evidente teimosia de seu treinador.

Era óbvio que eles estavam perdidos.

Depois de vencer a batalha contra Daisy, eles saíram caminhando pela cidade para cumprir o maior número possível de tarefas da lista. Procuraram Pokémon a manhã toda, árvores para colher berrys e treinadores para batalhar mas não encontraram nada. Depois de muito andar chegaram no limite da cidade e Kalisto achou uma boa ideia entrar em um bosque ali perto para "ver se teriam mais sorte ali". Não tiveram. Agora, duas horas e muitos passos depois, eles não sabiam sequer como voltar para a parte urbana de Pallet Town.

- Você só está tão estressada assim porque ainda está machucada da última batalha. Vem aqui, vou passar uma coisas nas suas feridas. - Mudbray se aproximou meio contrariada. Kalisto retirou uma Potion de sua mochila e borrifou a medicação nos arranhões deixados pela luta contra o Zigzagoon. Quase como mágica, os hematomas ficaram menores e a dor também deve ter aliviado, porque a Pokémon lambeu a mão de seu treinador como forma de agradecimento. Os ferimentos ainda existiam, mas o tratamento definitivo só seria dado em um Centro Pokémon, quando e se eles conseguissem voltar pra cidade.

Enquanto guardava a Potion vazia em sua mochila, Kalisto encontrou algo lá dentro que não sabia que estava lá. Era uma engenhoca mecânica com duas varetas conectadas. Na parte de baixo do aparelho estava escrito "ItemFinder". - Ah, então é isso! - Exclamou. Tinha lido a lista de Daisy diversas vezes e usar aquela coisa era uma das tarefas, mas não sabia onde poderia conseguir um. Enquanto segurava o item em mãos, lembrou-se que recebeu alguns objetos do Professor Oak e que aquilo devia ser um deles.

- Mud - Mudbray encarava Kalisto com expectativa. Depois de várias horas andando sem encontrar nada, alguma novidade, por menor que fosse, trazia consigo uma dose de ansiedade.

Kalisto avaliou o objeto até que encontrou o botão de ligar e o apertou. Imediatamente, a tela do dispositivo acendeu e as varetas começaram a se movimentar de um lado para o outro, como uma bússola confusa atraída por diversos campos magnéticos. Depois de alguns as varetas pararam apontadas para a esquerda de onde eles estavam. Rowen e Mudbray se viraram naquela direção e começaram a andar. A cada passo que davam, o ItemFinder emitia um barulho um pouco maior e Kalisto supôs que isso indicava que eles estavam se aproximando.

- Mudbray - Mudbray pareceu ter visto alguma coisa que chamou sua atenção. Levantou suas orelhas e encarou à sua frente, em posição de batalha. Kalisto não tinha percebido nada de estranho mas confiou nos instintos dela. Ele tinha que confiar. Mudbray era sua única Pokémon, e, portanto, a única que poderia protegê-lo em uma situação de possível perigo.

Pi Pi Pi Pi Pi Pi, o ItemFinder continuava fazendo barulho e ele parecia estar aumentando, mesmo enquanto Kalisto estava parado.

Um arbusto se moveu aparentemente sozinho e num reflexo Mudbray bateu as patas no chão e jogou um monte de lama na direção dele. "Mud-Slap". Algo pulou da parte de trás do arbusto, se esquivando do golpe tipo solo. Kalisto encarou o Pokémon com curiosidade: era uma espécie de coelho branco super peludo com uma cauda muito grande para o seu corpo. - Mici, miccino, mici - A voz do Pokémon estava carregada de raiva e ele fazia um gesto como que expulsando Kalisto e Mudbray dali.

O treinador não tinha pretensão de recuar. Puxou sua Pokédex e registrou aquele novo espécime: Minccino. Ao fazer isso, percebeu uma coisa estranha: o Pokémon à sua frente tinha um detalhe amarelo na cauda que o da sua Pokédex não tinha. O Pi Pi Pi Pi do Itemfinder fez Kalisto perceber que talvez aquele fosse o item que o objeto estava apontando. - Mudbray, vamos ter uma batalha.


A pequeno Minccino não pareceu se intimidar. Correu na direção direção de Mudbray com a mão levantada, pronta para desferir um Pound. Kalisto sabia que Mudbray não conseguiria se aproximar da sua adversária se ela não deixasse. O terreno favorecia um Pokémon escalador como Minccino, e haviam diversas formas de fugir da batalha pelas árvores. Por isso, resolveu adotar uma postura mais defensiva e tomaria proveito da proximidade pela própria Minccino para contra-atacar.

- Use Detect. - No último momento, Mudbray esquivou-se do golpe de Minccino, como se soubesse exatamente o que sua adversária iria fazer. A Pokémon felpuda bateu no chão onde estava Mudbray, que não esperou ela se levantar para devolver o ataque. - Agora, Rock Smash!  

Mudbray desferiu um golpe poderoso com seus casos, causando muitos danos à Minccino e reduzindo seu poder defensivo.


Minccino pareceu se levantar com dificuldades. Seus olhos pareciam emitir um brilho estranho, que hipnotizou Mudbray e o deixou mais fraco. "Bady-Doll Eyes", Kalisto pensou. O Pokémon selvagem parecia estar querendo compensar sua perda de defensa reduzindo o poder de ataque de Mudbray. Era uma boa estratégia, se ele conseguisse resistir ao próximo golpe.

- Mudbray, Body Slam. - Foi a mesma sequência da luta anterior, contra o Zigzagoon. Mudbray galopou a distância entre as duas Pokémon rapidamente e jogou todo o peso de seu corpo sobre sua adversária. Minccino foi jogada contra uma árvore e quando tentou levantar-se, uma descarga elétrica percorreu seu corpo. O pequeno item amarelo que segurava caiu.


- Vamos lá. - Kalisto retirou rapidamente uma Pokébola de sua mochila e a acertou em Minccino. A Pokébola caiu no chão e balançou 3 vezes, até que se fechou completamente. Minccino fora capturada. - Ótima luta, Mudbray. - falou, enquanto afagava sua Pokémon. Pegou o item que havia caído, uma pequena placa amarelada, e a Pokébola.

"Pokérus." Sua Pokédex acendeu e mostrou uma mensagem. Aparentemente, Minccino estava contaminada com algum vírus. Entretanto, não era nada grave, ao contrário: parecia tornar mais rápido o fortalecimento dos Pokémon por algum tempo.

- Se conseguisse passar vírus adiante treinar meus Pokémon seria muito mais fácil... - deixou as palavras morrerem no ar. Talvez a Enfermeira Joy da cidade soubesse explicar melhor sobre aquilo. Agora, sua prioridade era sair dali.

Atualizações:

Ficha Minccino:

Missão:

Você deságua em mim, e eu, oceano

E esqueço que amar é quase uma dor

Kalisto decidiu guardar Mudbray em sua Pokébola após a batalha contra Minccino. Ela já havia batalhado duas vezes no mesmo dia e caminhado sabe-se lá quantos quilômetros, então deveria estar exausta. Enquanto procurava sua saída do bosque acabou encontrando uma árvore especialmente singular, recheada de frutas mesmo no inverno. "Isso é uma berry?", se perguntou. Não conhecia aquele tipo específico, mas achou por bem pegar uma.

Por sorte, nenhum outro Pokémon apareceu no caminho, então Rowen conseguiu voltar à parte urbana da cidade em segurança.

Já era noite quando ele encontrou o Centro Pokémon de Pallet. O lugar estava abarrotado e barulhento e fervilhava com a energia de inúmeros treinadores novatos e experientes trocando Pokémon, marcando batalhas, comparando insígnias ou só se exibindo para os demais. Rowen percebeu que todos os Centro Pokémon deveriam ser mais ou menos daquele jeito. Afinal de contas, não serviam apenas como um Hospital Pokémon, mas como ponto de encontro geral de todos os apaixonados por Pokémon na área. O de Pallet, entretanto, devia ser especialmente movimentado, porque o Laboratório do Professor Oak mantinha uma comitiva constante de pessoas para a cidade.

Kalisto sentia um misto de emoções em lugares assim: por um lado, lembrava-se de sua infância no orfanato, do sem-fim de crianças, o que de certa forma lhe trazia uma sensação boa de nostalgia; por outro, não gostava de ver tantos desconhecidos em um espaço tão pequeno. Por conta disso, caminhou entre eles com o semblante fechado, abrindo espaço no meio da multidão.

A mulher que comandava toda aquela operação estava no balcão quando ele chegou. Sua Chansey corria de um lado para o outro, carregando bandejas cheias de Pokébola para os treinadores.

- Boa noite, Enfemeira Joy. - A mulher levantou o olhar ao ouvir sua voz e imediatamente sorriu cordialmente.

- Boa noite, jovem. Em que posso ajudar? - sua voz era calma e tranquila.

- Queria que você curasse meus Pokémon, se fosse possível. - É claro que era possível. Os Centro Pokémon existiam primariamente para isso, mas Kalisto gostava de ser cordial com as palavras, embora seu tom de voz sisudo demais não acompanhasse suas intenções. Com um aceno da Enfermeira Joy, a Chansey correu para o lado dela. Kalisto depositou suas Pokébola nas mãos da Pokémon tipo normal e ela as levou para um lugar que ele não conseguia ver. - Eu também quero lhe perguntar uma coisa. Conhece uma coisa chamada Pokérus?

- Ah, sim! - A Enfermeira Joy pareceu surpresa de início, mas logo recomeçou a falar. - Pokérus é uma abreviação das palavras Pokémon e vírus, e é um tipo de infecção que acomete alguns Pokémon. É uma infecção meio estranha - ela frisou a última palavra - porque não causa sintomas e nem é perigosa, sendo na verdade benéfica ao Pokémon. Ela faz com que ele ganhe mais experiência nas batalhas. - Falava como uma professora experiente, como quem deu a mesma aula sobre aquele assunto para dezenas de turmas diferentes ao longo dos anos.

- Entendi. Minha dúvida agora é se é possível passar essa infecção adiante, digamos, para meus outros Pokémon?

- Infelizmente não. - falou, com um sorriso contido. - No passado sim, era comum fazer isso, mas as cepas de Pokérus atuais não tem mais essa transmissibilidade. Entretanto, a indústria farmacêutica produziu algumas injeções que mimetizam os efeitos do vírus. Elas são caras, mas úteis, caso você possa pagar.

- É uma pena. - Kalisto ficou visivelmente decepcionado com a resposta. Passar o Pokérus para Mudbray seria muito útil em seu treinamento, mas agora teria que recorrer ao método tradicional. De qualquer forma, Minccino ainda estava com o vírus, então teria que aproveitar aquele período para treiná-la. - Mais uma pergunta, se me permite. Sabe onde posso arrumar um lugar para pescar por aqui? - Era uma das tarefas daquela lista interminável de Daisy.

Nesse momento, a Chansey voltou com as Pokébola de Kalisto e as entregou para ele, sorrindo. Ele as pegou, agradeceu e aproveitou o momento para apontar sua Pokédex para  a Pokémon para registrá-la. Ela sorriu e fez uma pose para o momento, o que arrancou um riso de canto de boca de Kalisto.

- Sim, a cidade tem um local de pesca. Fica mais pro sul. Você vai saber que está perto quando começar a sentir a brisa do mar - Kalisto agradeceu mais uma vez a ajuda da Enfermeira Joy e saiu do Centro Pokémon.

A cidade lá fora estava completamente diferente. Um silêncio quase absoluto imperava em Pallet Town. Na verdade, mesmo a sinfonia típica dos Pokémon noturnos ajudavam a compor um silêncio maior, que envolvia a cidade em um manto místico. Se Kalisto fosse mais prudente, preferiria procurar um lugar para descansar, mas tinha um distintivo no bolso e a mente jovem com o péssimo hábito de se achar invencível.  


Sentiu o cheiro de água salgada de longe e depois de um tempo começou a ouvir o leve quebrar das ondas nas areias da praia. A vista veio logo depois. Era uma praia bonita, com areia fina, água calma e diversos navios pesqueiros ao fundo, iluminando o oceano com suas luzes como vagalumes iluminam a noite. Kalisto caminhou para um píer que se estendia vários metros mar adentro, sacou sua vara de pesca, jogou a isca no mar e prendeu a vara em um suporte específico que a impediria de ser arrastada caso algum Pokémon mordesse a isca.

- Agora é esperar - falou, mais pra si mesmo que para o mundo. Estava sozinho ali e se sentia estranhamente confortável com isso.


Kalisto acordou sobressaltado com o barulho da vara de pesca movendo-se violentamente de um lado para o outro. Alguma coisa tinha mordido a isca. Levantou-se rapidamente e segurou a vara de pesca com as duas mãos. Pelo tamanho da linha dentro da água, o Pokémon parecia estar próximo. Vendo isso, Rowen girou a carretilha e puxou a vara de pesca com força para trás.

Um Pokémon foi puxado para fora da água, uma espécie de peixe branco com manchas avermelhadas pelo corpo. Um chifre se destacava de sua testa e uma espécie de pingente parecia estar enrolado nele. Kalisto apontou a Pokédex e registou o seu novo achado: Goldeen. Era o adversário perfeito para a primeira luta de Minccino.

- Minccino, vamos à batalha! - falou, liberando Minccino para o combate.


- Vamos assumir o ataque, use Pound. - A Pokémon felpudo correu na direção de seu adversário rapidamente, cortando o espaço entre ambos em poucos segundos. Com a mão aberta desferiu um poderoso tapa em Goldeen, que recuou alguns poucos metros.

O adversário pareceu sentir pouco do golpe. Aspirou o ar ao seu redor pela boca e em seguida liberou uma grande quantidade de bolhas. Bubble. Minccino não teve tempo de desviar. As bolhas estouraram na superfície de seu pelo e causaram danos à ela. Kalisto percebeu que o pingente no chifre de Goldeen brilhou no momento da execução desse golpe e se questionou o que aquilo signficaria.


- Pound, de novo. - Não era uma estratégia bonita mas era a mais eficaz. Minccino só conhecia esse golpe ofensivo e ele teria que bastar por enquanto. Entretanto, Goldeen não receberia o ataque de graça. Quando Minccino se aproximou para atacar foi atingida por um poderoso ataque do chifre do tipo água. Peck. O Pokémon de Kalisto ainda conseguiu atingir seu adversário, mas saiu com ferimentos do ataque.

O Pokémon adversário começou a balançar a cauda na direção de Minccino, que se encantou com aquilo e perdeu parte de seu poder defensivo. Contudo, o movimento abriu uma brecha para um ataque. - Ataque novamente. - Kalisto ordenou, e mais um Pound, foi acertado no corpo de Goldeen.


Goldeen pareceu estar muito mais machucada agora. A sequência de ataques de Minccino foi rápida demais e não deu tempo do seu adversário se recuperar. A Pokémon de Kalisto pareceu perceber que o momento da batalha estava ao seu favor. Avançou sobre Goldeen mais uma vez. O tipo água ainda tentou se defender, lançando poderoso Bubble sobre sua adversária mas não foi efetivo. Minccino desviou do ataque e acertou um derradeiro Pound, vencendo a luta.


Kalisto aproximou-se cuidadosamente da Goldeen desmaiada e retirou o pingente de seu chifre, guardando-o na bolsa. Parecia algo que seria útil no futuro. Recuou alguns passos e percebeu o Pokémon selvagem se recuperando rapidamente e pulando na água. Não esperava vê-lo novamente. De toda forma, não pretendia capturá-lo. Estava com poucas Pokébola e guardaria elas para o futuro.

Riscou mais aquela tarefa da lista de Daisy. A Minccino ao seu lado parecia animada para outra batalha, mas não teria ela nessa noite. Estava na hora de procurar o Centro Pokémon e descansar. Amanhã seria outro dia.

Atualizações:

Missão:

Pai, me perdoa essa insegurança

É que eu não sou mais aquela criança

À despeito das poucas horas de sono a noite tinha sido tranquila. Chegara ao Centro Pokémon já lá pelas tantas da madrugada e por sorte a Enfermeira Joy tinha uma beliche sobrando, de forma que Kalisto conseguiu um lugar seguro e confortável para descansar. Andar pelas ruas da cidade tarde da noite não fora sua ideia mais brilhante, mas acabou conseguindo sair ileso de tudo - e com um item extra na mochila.

A vida no Centro Pokémon começava cedo. Era pouco mais de 7h da manhã quando Rowen foi acordado pelos passos de diversas pessoas, pelo barulho dos Pokémon e pelo som das máquinas que faziam o o lugar funcionar. De qualquer forma, não tinha do que reclamar - compensaria as horas de sono na noite seguinte.

Arrumou suas coisas e saiu para a área comum do Centro Pokémon. O lugar não estava tão lotado quanto no dia anterior, mas Kalisto reconheceu alguns rostos: um homem de mais ou menos sua idade mostrando um replay de uma batalha para seu Ivysaur; um menina mais jovem brincando com sua Clefairy; um garotinho de cabelo azul correndo atrás de uma Eevee. Kalisto se perguntou se eles também tinham passado a noite ali ou se só chegaram cedo demais no lugar. Apesar de sua curiosidade, não pretendia falar com eles para descobrir - tinha outras coisas para fazer.

- Bom dia, Enfemeira Joy. - falou, assim que viu a mulher atrás do balcão.

- Bom dia, Kalisto. Espero que tenha conseguido dormir bem. - ela falava com a mesma simpatia e receptividade da noite anterior. "Será se ela não se cansa nunca?", Rowen pensou, enquanto fitava sua anfitriã sem perceber um sinal de privação de sono. Era estranho, para dizer o mínimo. Ele chegara ali tarde da noite e ela ainda estava acordada e agora, pouquíssimas horas depois, permanecia mais ou menos no mesmo lugar, como um robô programado para executar aquela tarefa diuturnamente.

- Sim, consegui. Obrigado pela preocupação. - respondeu, assim que conseguiu alinhar seus pensamentos novamente. Kalisto não funcionava bem sem uma boa noite de sono. - Se me permite, Enfermeira Joy, eu encontrei um item com um Goldeen ontem. Pareceu especial, então peguei ele para dar uma olhada. - mostrou o pequeno pingente azul para a mulher, que sorriu ante a vista do item.

- Você é uma pessoa de sorte. Esse é um item chamado Mystic Water e pode ser dado aos Pokémon para fortalecer seus golpes tipo água. É um item relativamente raro. Parabéns! - Sua voz exalava uma verdadeira felicidade diante da descoberta do treinador.

Kalisto agradeceu à Enfermeira Joy pela sua resposta e pela cama para dormir. Guardou o item em sua mochila e foi até o PokeMart na lateral do Centro Pokémon. Ele tinha gastado alguns itens no último dia e pretendia reabastecer o estoque.

- Bom dia. Quero uma Potion e uma Pokeball, por favor. - O homem da loja pareceu não ter ouvido ele falar. Kalisto percebeu que ele estava ao telefone conversando em tom enérgico com outra pessoa.

- Eu sei que você não é mais criança, mas eu me preocupo... - suas palavras morreram no ar. Kalisto percebeu, a julgar pelo tom de voz e pela forma como o homem falava, que deveria se tratar de uma conversa entre pai e filho. O homem se virou para Rowen e ficou surpreso por vê-lo parado ali. - Filho, vou precisar desligar, tem um cliente aqui. Mas te ligo de novo já já. - o atendente desligou a chamada e falou com o jovem treinador: - Bom dia. Em que posso ajudar?

- Uma Potion e uma Pokeball, por favor. - repetiu. O atendente andou para uma prateleira ao lado e pegou os itens de um estoque enorme. Ele encarou a Pokeball por uns segundos e Kalisto quase ouviu as engrenagens da mente dele girando, formulando uma ideia que resolveria todos os seus problemas.

- Aqui - falou, entregando os itens e recebendo o pagamento por eles. - Você parece um treinador veterano, né? E além disso é um policial. - Apesar de ser muito jovem e ter começado sua jornada no dia anterior, Kalisto parecia mais velho do que realmente era. Além disso, tinha a "porcaria do distintivo que tinha esquecido de esconder" em sua calça, mostrando que, por mais sisudo que parecesse, ele era uma pessoa minimante confiável.

- Na verdade, não faz muito tempo que sou treinador... - falou, já prevendo onde aquela conversa ia parar.

- Você deve ter ouvido a conversa que eu estava tendo com meu filho, não é? Ele é um menino bom, mas ainda muito imaturo. Tá vindo para o Laboratório do Professor Oak pegar seu Pokémon inicial mas eu tô com medo de acontecer alguma coisa com ele. - O homem encarou Kalisto, como se esperando que o treinador se oferecesse para ajudar. Depois de alguns segundos, percebeu que isso não iria acontecer e pediu: - Será se você não poderia acompanhá-lo?

Kalisto suspirou e acenou positivamente com a cabeça. Seria um longo dia.


O nome do garoto era Joey e ele estaria esperando na entrada da cidade. Foi difícil convencê-lo a esperar, mas no fim das contas acabou aceitando após seu pai falar que, ou ele aceitaria Kalisto como guarda-costas ou teria que esperar até os 21 anos para pegar seu Pokémon inicial.

Kalisto não admitiria isso em voz alta, mas sentia vontade de ter tido alguém assim em sua vida - uma pessoa que faria o que fosse preciso para mantê-lo em segurança, mesmo que isso significasse desagradá-lo. Era uma das coisas que mais lhe doía quanto a não ter tido uma família para chamar de sua.

Viu o garoto de longe. Devia ter 1,65m de altura, vestia uma camisa amarela, uma bermuda jeans e um tênis branco e andava de um lado para o outro claramente impaciente. - Bom dia. Você deve ser o Joey, certo? Meu nome é Kalisto, é um prazer te conhecer. - O garoto ficou obviamente assustado com sua escolta. Não parecia esperar alguém que aparentasse ser tão mais velho.

- Sim, sou eu - falou, forçando a voz para parecer mais grave do que realmente era. - Vamos indo logo, vovô, eu tenho um Pokémon para pegar. - Kalisto não se ofendeu com aquilo. Entendeu que o garoto usava a ofensa como uma forma de autoafirmação diante de pessoas que tinham clara posição de poder em relação a ele, como forma de tentar desestabilizá-los, mas Rowen não se importava com aquilo.

- Sim, vamos indo, daqui a pouco deve ser hora de trocar sua fralda. - Joey bufou diante da ofensa e Kalisto conteve um riso. Era muito fácil "entrar na cabeça" de crianças como ele, que adoravam ofender os outros mas não estavam acostumados em ter sua ofensa retribuída.

Eles caminharam pelas ruas de Pallet Town em silêncio por longos minutos. Rowen percebeu que o garoto ao seu lado se animava sempre que via um Pokémon, não importando o quão comum ele fosse e chegou até a pedir para um treinador se poderia acariciar seu Growlithe. Kalisto observava tudo com empatia. Sabia o que era sentir toda aquela paixão pelos Pokémon, mas o sentimento dentro de si já não era tão forte quanto antes: fora sendo progressivamente enterrado ao longo dos anos de isolamento no Orfanato e posteriormente na Polícia. Agora, sentia que não poderia fazer o mesmo com Joey e que era hora de passar adiante com tranquilidade um pouco do que tinha aprendido a duras penas.

- Os Growlithe são Pokémon muito leais e com o olfato muito apurado, sabia? - falou casualmente, como se ele e Joey estivessem conversando há horas sem parar. - Nós costumamos usar eles na Polícia, principalmente para procurar algum ilícito escondido. - O garoto virou rapidamente na direção de Kalisto, com os olhos brilhando. Aquele tipo de assunto sempre encantava civis, ainda mais crianças animadas como Joey.

- E como vocês treinam ele? Algum já te mordeu? Já teve que lutar contra um bandido? - Joey jorrava as perguntas na direção de Kalisto, que tentava respondê-las da melhor maneira possível.

Kalisto respondeu perguntas sobre o funcionamento da Polícia, sobre como funcionam as batalhas Pokémon, explicou sobre vantagens e desvantagens entre os tipos e mais uma variedade imensa de assuntos. Enquanto andavam pela cidade, ele mostrou um bando de Rattata's saqueando uma lata de lixo, presenciaram um Caterpie selvagem se escondendo em uma árvore e evoluindo para Metapod e até assistiram uma batalha entre dois treinadores.

Já passava muito da hora do almoço quando voltaram a andar na direção do Laboratório do Professor Oak, com um clima bem mais leve entre eles. Kalisto olhou a sua frente e percebeu dois Pokémon escalando uma árvore cheia de berrys. Apontou sua Pokédex e registrou: Swinub. Pela sua descrição, eles não deveriam se aproximar tanto assim da cidade, mas talvez Pallet tivesse crescido muito nos últimos anos, de forma a invadir o território deles. De qualquer forma, aquela era uma ótima oportunidade para mostrar para Joey uma captura.

- Joey, fique um pouco para trás, acho que vai acontecer uma batalha aqui. - falou, liberando Mudbray de sua Pokeball. - Mudbray, use Mud-Slap duas vezes e derrube aqueles dois lá de cima. - Mudbray raspou o chão com seus cascos e jogou duas bolas de barro na direção dos Swinub's. Por sorte, eles tinham subido poucos centímetros e foram derrubados facilmente pelo ataque.


Os Pokémon bateram no chão com força, mais pelo poder do ataque de Mudbray que pela altura da queda em si, e ficaram cobertos por lama. Seus movimentos seriam mais lentos a partir dali.

- Boa pontaria, Mud! - gritou Joey, animado. Pela forma como o garoto pulava e gritava, parecia que eletricidade corria em suas veias ao invés de sangue.

Ambos os Pokémon adversários pularam simultaneamente para atacar e Kalisto identificou imediatamente o golpe: Tackle. "Essa não é uma estratégia muito inteligente", Rowen pensou. Os Pokémon adversário poderiam aproveitar a distância e a vantagem de tipo; ao invés disso, partiram pro ataque direto.

Kalisto decidiu seguir a estratégia que sempre usava lutando com Mudbray: deixar os adversários se aproximarem e revidar o golpe quando eles estivessem próximos. Por isso, ordenou: - Mantenha posição usando Double Kick.

Mudbray esperou os Swinub se aproximarem o suficiente. Virou de costas e desferiu um poderoso coice que acertou os dois adversários simultaneamente. Eles foram jogados para longe, se chocando contra a árvore que tinham acabado de tentar escalar.


- Aeeee, você venceu, Kalisto! - gritou Joey. Entretanto, Kalisto sabia que aquilo não era o suficiente. Era óbvio que um dos Swinub estava muito mais machucado que o outro, mas ambos ainda conseguiam lutar.

O Swinub que estava mais ferido ficou a uma distância considerável de Mudbray e soprou uma pequena bola de gelo na direção dela. "Finalmente estão usando a vantagem", Kalisto pensou. Mas naquele ponto não adiantaria mais.

- Defenda-se com Detect- e com precisão milimétrica e passos de bailarina, Mudbray se esquivou do ataque gelado adversário. Rowen percebeu o outro Swinub se aproximando com mais um Tackle e viu nisso a oportunidade perfeita para encerrar de vez a batalha. - Acabe com isso com Body Slam. Arremesse um Swinub no outro.

Mudbray e Swinub o pequeno tipo gelo não teve a menor chance. Foi empurrado pelos 100kg de sua adversária diretamente em seu parceiro. Ambos caíram desmaiados, fora de combate.


Kalisto pegou a Pokeball vazia que acabara de comprar e arremessou no Swinub que pareceu o mais forte dos dois. A Pokeball balançou algumas vezes até se fechar completamente. Tinha capturado mais um Pokémon.

- Você é maravilhosa, Mud!! - Joey saltou na direção da Pokémon, abraçando-a. Mudbray esfregou seu focinho nele, agradecendo pelos elogios. Tinha sido uma boa batalha e Mudbray se mostrara mais uma vez uma aliada confiável.

Voltaram a andar na direção do Laboratório do Professor Oak, com Mudbray fora de sua Pokeball. Era melhor assim. A Pokémon gostava de galopar livre e ela e Joey estavam se divertindo juntas.

Era fim de tarde quando chegaram ao Laboratório. Encararam a porta de entrada por um tempo em silêncio, uma atmosfera de despedida embalando ambos. - Acho que aqui nos despedimos, Joey. Espero que você tenha muita sorte na sua jornada. - Kalisto falou, e imediatamente Joey o abraçou, agradecendo pelo dia. Rowen o abraçou de volta, sem jeito. Fazia muito tempo que não abraçava alguém.

- Obrigado, vovô, espero te ver de novo qualquer dia desses. Tchau, Mud! - Deu um último afago na Pokémon e entrou no Laboratório.

No fim das contas, tinha sido mesmo um longo dia, mas um dia bom. Fazia tempo que o jovem policial não se permitia se divertir assim.

Acariciou Mudbray e voltou ao Centro Pokémon para descansar. Recuperou a saúde de Mudbray e de Swinub e repassou tudo o que tinha acontecido ao atendente do PokeMart. Ele ficou muito feliz, aponto de empurrar uma boa quantidade de dinheiro para Kalisto como agradecimento. O policial até tentou recusar mas não conseguiu.

Kalisto estava exausto e quase dormiu no sofá do Centro Pokémon. Teria que passar mais uma noite em Pallet Town, mas pretendia ir embora no dia seguinte.

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Ficha do Swinub:

Saí de casa só

Sem GPS pra seguir

-Então tudo é uma questão do que você quer fazer agora. - A Enfermeira Joy apontava dois lugares em um imenso mapa aberto sobre o balcão do Centro Pokémon. De um lado estava a Santalune Forest, do outro a Skyarrow Bridge.

Kalisto acordou cedo naquele dia decidido a deixar Pallet Town imediatamente, mas não sabia muito bem para onde ir a seguir. Por isso, pediu ajuda para a Enfermeira Joy, que naquele momento acabara de lhe deixar com mais dúvidas que antes. Ir pela floresta parecia uma boa opção: era o caminho mais seguro e mais frequentado pelos treinadores, e a variedade de Pokémon que encontraria no caminho era interessante. Contudo, o caminho pela ponte também era atrativo: a ponte e a Caverna Escura eram biomas que ele demoraria a ver indo pela outra direção - além do que a ideia de desbravar rotas poucos frequentadas tinha seu charme.

A Enfermeira Joy também deu-lhe outra ideia: usar seu Novus City Talisman para se teletransportar diretamente para outra cidade. Essa ideia pareceu tão surreal a Kalisto que ele sequer cogitou. Veja bem, ele era uma pessoa instruída, mas não havia aula de Ciências Pokémon suficientes no mundo que lhe fariam acreditar na eficiência e segurança de um método de viagem como aquele. Preferia os métodos tradicionais.

Por isso, sobravam duas opções: a ponte ou a rota.

- Obrigado, Enfermeira Joy. - falou, coçando a cabeça enquanto pensava. Rowen ainda tinha muitas dúvidas mas decidiu que teria que buscar as próprias respostas.

De repente, lembrou-se da lista de Daisy. A interminável lista de Daisy. Pegou-a de dentro da mochila e viu que faltavam apenas três tarefas. Uma delas, obviamente, era usar a porcaria do teletransporte para Novus e fazer alguma coisa lá. "Essa fica por último", pensou, enquanto lia as outras duas. Percebeu que ambas eram complementares: bastava ativar seu VsSeeker e derrotar o treinador que aparecesse. Na teoria era fácil; na prática, a teoria era outra.

Puxou seu VsSeeker e examinou-o por alguns segundos. Então, respirou fundo e apertou o grande botão branco no centro do aparelho. Assim que o fez, ouviu um sonoro "Prim, prim", como um telefone tocando, vindo do outro lado do Centro Pokémon. Um homem de mais ou menos sua idade levantou a cabeça e olhou para ele. Kalisto conheceu seu rosto imediatamente. Lembrou-se de tê-lo visto mostrando o replay de uma batalha para seu Yvisaur no dia anterior.

O homem levantou-se e começou a andar em sua direção.

- Bom dia! Foi você que ativou o VsSeeker, certo? - sua voz era grave. De perto, Kalisto percebeu que o homem era um pouco mais baixo que ele. Vestia camisa social branca, calça jeans e tênis preto. No cinto, seis Pokeball reluzentes pareciam gritar: "Sim, eu aceito seu desafio, babaca."

- Sim, fui eu. Estou saindo da cidade hoje e acho que uma batalha faria bem.

- Nisso eu concordo com você, uma batalha sempre cai bem, não é? Ainda mais pra mim que já tenho 1 insígnia. Tenho que me manter em forma, não é? - sorriu ao fim da frase. Rowen não gostava muito daquele tipo de treinador. Tinha preguiça deles. Pareciam se importar mais com parecer bons do que serem bons de fato. Era uma questão puramente estética. - Eu proponho uma batalha de 2x2, um Pokémon por vez. Sem trocas durante o combate, apenas quando um dos Pokémon estiver fora de combate. São boas regras, não é? - "Que cacoete insuportável.", pensou Kalisto.

- Parece razoável. Podemos batalhar no campo lá fora. - falou, já dando as costas e andando na direção da porta do Centro Pokémon. Ouviu os passos do homem atrás de si, seguindo-o de perto.

Chegaram ao campo de batalha do Centro Pokémon e se posicionaram.

- Lançamos ao mesmo tempo, no três. 1, 2, 3! - e duas Pokeball voaram, se abrindo e revelando o primeiro combate.


Kalisto pretendeu começar a batalha com força total mas seu adversário teve a mesma ideia. Ele devia ter outros Pokémon, se tivesse mesmo 1 insígnia, mas usaria aquele combate como oportunidade de treinar seus outros. Aproveitou o momento para registrar Sycther em sua Pokedex.

- Scyther, avance com Fury Cutter. - O tipo inseto abriu suas asas e voou rapidamente na direção de Mudbray com suas lâminas à mostra, prontas para desferir um ataque.

Mudbray não se esquivou. Não precisava. O golpe de Scyther acertou diretamente o flanco direito da tipo solo mas causou poucos danos - além disso, apenas serviu para ativar Stamina.

- Vamos pra cima também. Use Body Slam. - Mudbray avançou na direção de Scyther, que não conseguiu desviar em tempo hábil. O poderoso corpo da tipo solo arremessou o Pokémon inseto para longe, causando danos consideráveis.


- Merda. - O homem parecia ter percebido a encrenca em que se metera. Fury Cutter aumentaria de poder se usado novamente, mas só serviria para aumentar ainda mais a defesa de Mudbray, além de deixar Scyther perto demais para um contra-ataque. - Vamos mudar para Vacuum Wave.

E com um movimento de suas lâminas, um golpe fantasma voou rapidamente de Scyhter até Mudbray. A tipo solo mal viu o que a atingiu antes de ter sua cabeça acertada. Os danos não pareciam grandes, mas era melhor terminar logo aquilo. - Use Body Slam novamente.

Scyther era rápido mas nem ele conseguiu desviar do ataque de Mudbray. A tipo solo percorreu a distância entre eles e, como um caminhão, atropelou seu adversário, deixando-o fora de combate.


- Eu perdi essa batalha no momento que Stamina ativou, não é? - Kalisto assentiu, concordando. Stamina era uma habilidade absurdamente poderosa. Rowen retornou Mudbray para sua Pokeball e ficou satisfeito com a desenvoltura dela na batalha. - Vamos para a próxima batalha então. Em 3, 2, 1, agora! - duas Pokeball foram arremessadas, revelando a última batalha de Kalisto em Pallet Town. Rowen registrou Spinda em sua Pokedex.


- Minccino, Echoed Voice. - A Pokémon chinchila começou a emitir um grito agudo. Spinda tentou cobrir suas orelhas mas não conseguiu, o golpe lhe causara danos.

- Dois podem jogar esse jogo. Use Copycat, Spinda. - Spinda começou a gritar da mesma forma que Minccino. O ar foi poluído com sons guturais que machucaram muito a Pokémon de Kalisto.


Echoed Voice ficava mais forte cada vez que era usado. Minccino poderia vencer a batalha se continuassem naquele movimento, mas era uma moeda jogada pra cima: se não vencesse rapidamente sofreria grandes danos em poderia até desmaiar. Kalisto ponderou suas opções e decidiu arriscar.

- Vamos continuar com Echoed Voice. - O grito de Minccino ficou mais alto dessa vez, de forma que até os treinadores tiveram que tapar os ouvidos.

- Copycat! - Spinda também recomeçou a gritaria, girando de um lado para o outro. Minccino recolheu suas orelhas gemendo de dor.


- Acho que não foi uma ideia muito boa, não é? - E não tinha sido. Spinda estava visivelmente mais machucado que Minccino, e o Pokémon de Kalisto atacaria primeiro.

- Finalize com Echoed Voice. - O grito de Minccino fez tremer as vidraças do Centro Pokémon. Spinda foi empurrada com a força do golpe e não teve chances de revidar. A luta tinha acabado.


Kalisto sentiu o VsSeeker vibrar após a vitória, como se estivesse contabilizando algo e parou tão repentinamente como começou. - Você lutou bem, Minccino. Agora descanse. - falou, recolhendo a Pokémon para sua Pokeball.

- Foi uma boa batalha, cara. Seu time é muito duro na queda, não é? - Kalisto concordou. Sua equipe até agora tinha se provado ser bastante dedicada nas batalhas. - Bem, já vou indo, percebi que ainda tenho muito que melhorar. - falou, acenando para Rowen e andando na direção da rua. - Aliás, meu nome é Marc. Até a próxima!

O jovem policial entrou novamente no Centro Pokémon e recuperou Mudbray e Minccino após a batalha. "É, eu também tenho que melhorar minha equipe. Tem muitos tipos que destruiriam todos os meus Pokémon", pensou, enquanto analisava o mapa da região. A Rota 01 era segura mas só mostraria Pokémon que ele poderia encontrar em outros lugares. Com isso em mente, decidiu seguir na outra direção.

Seu destino agora era a Ponte Flecha Celeste.

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