Dia 87 - 7 P.M.

A estação parecia querer mudar. Estava mais quente em Novus que em Laverre. A brisa fresca sumia e dava lugar ao ar seco e abafado. A roupa mais agasalhada que usava parecia estranha aos olhos dos transeuntes e moradores da região. Já estava acostumado ao ser o centro das atenções, mas aquilo já era demais. Não precisava que meu senso de moda fosse julgado desse modo.

Portanto, antes de prosseguir, passava em uma boutique e comprava algo da coleção atual. Estava experimentando algumas das roupas enquanto planejava minhas ações. Estava em Novus por dois motivos. Os relatórios recentes da administração me diziam que um assassino louco estava agindo na região norte e aliciando pessoas para agir em nome da Imperium e isso estava chamando atenção desnecessária da polícia. Atitudes como essas eram desnecessárias na Nova Imperium que estava tentando criar. Eu não me importava com o que cada um fazia, mas ele estava sendo descuidado.

Assim que escolhi uma blusa branca, jeans com detalhes de flores na barra e um novo tênis, comprei joias para os dedos e um óculos escuro e buckett para disfarçar o rosto. Nesse momento, quanto mais discreto melhor. Só que os acessórios caros me dariam uma pista do criminoso.

Caminhava de noite pelas bandas onde tinham dito tê-lo visto. Não tardou e surgia uma figura misteriosa usando capuz preto e roupas pesadas escondendo a identidade. Ele tinha alguns acessórios interessantes como luvas sem as pontas que já estavam gastas e uma máscara de gás. Assim que me viu, ordenou que lhe entregasse os brilhantes, como chamou as joias em meus dedos. Apenas me fiz de desentendido, dando um sorrisinho.

- Então é você o bandidinho que tem feito barulho em Novus?

- Anh? Quem é você falando assim comigo? QUER MORRER EH??

Ele estava com aquela face sanguinária no rosto. Poucas vezes eu vi aquela expressão de tão perto, mas a dele era totalmente vazia. Chegava a dar dó.

- Lady Kilam está incomodada com suas ações. Está manchando a imagem da Imperium que ela está tentando moldar. Vim pedir para que deixe a rota, por bem ou por mal.

Antes que ele tentasse qualquer coisa, joguei o relatório nos peitos dele para saber que tínhamos TODAS as informações dele naquela pasta. Atributos físicos, ficha psicológica, histórico, dados de captura e estratégias de combates, até mesmo os relatos de ações criminosas e passagens na polícia.

- Eles não mandariam um capanga comum pra te parar, então eu pensaria três vezes antes de fazer uma loucura.

Ele parecia suar e querer me xingar. Se eu tinha aprendido uma coisa em relações públicas durante meu tempo me preparando para assumir o trono era que quanto mais você sabia do seu inimigo, mais poder você exercia sobre ele.

- Farei o seguinte. Vou limpar sua ficha. E quanto eu retornar com as provas, você vai parar de derramar sangue e chamar atenção desnecessária.

Ele não parecia muito contente por estar recebendo ordens, mas também não tinha muito espaço para fazer uma contra-proposta depois e tudo que disse e mostrei. Apenas o vi amassar a pasta com as evidências com tanta força que poderia danificar o material do interior se forçasse um pouco a mais.

- Temos um acordo? - Perguntei ao final, antes de sair.

Ele assentiu, sem dizer nada, tampouco me encarar. Tomei aquilo como um sim e disse que retornava em duas horas, no máximo.

Caminhando, me dirigi à base policial do norte e procurei o delegado. Minha Lilligant me acompanhava. Não foi necessário grandes justificativas, e ele já me recebia. Fazia tudo isso com o holocaster gravando. Sabia que o delegado estava próximo de se aposentar e não conseguia resolver coisas simples, como tirar Thomas Kelser de circulação. Então disse que eu mesmo faria o serviço. Claro que o delegado questionou como isso seria possível se nem mesmo ELE e seus cadetes conseguiram tal façanha. Nesse momento insinuei as câmeras. Ele entendeu e as desligou. Ótimo. Mostrei um punhado de dinheiro e disse - Isso é o que move o mundo e vai mover aquele criminoso daqui. - E me levantei, como se tivesse esquecido as muitas cédulas na mesa do oficial sem querer.

Eu só queria tempo. Enquanto isso, Lilligant estava criando uma distração de uma Raid que precisava dos cadetes do lado de fora da delegacia, me deixando sozinho com os registros. Procurei primeiro no computador pela ficha de Kelser e encontrei onde estava a pasta física. Após isso deletei o arquivo virtual e esvaziei a lixeira. Corri até o armário e procurei por Kelser... até que encontrei.

Quando estava para sair, ouvi a porta ranger e tive de abaixar para me esconder. Lilli tinha cansado nesse tempo que gastei na busca e a ilusão terminou. Eu seria pego, então tive que pensar rápido. Olhei minhas poções e não tive escolha. Juntei duas magias que criaram uma explosão no lugar de névoa rosa junto de uma tempestade de areia, impedindo que a visão dos policiais nos alcançassem. Era possível ouvir todos reclamando de arieia nos olhos e como a névoa dificultava ainda mais que enxergassem. Fechei a gaveta e corri o quanto pude para fora da estação. Estava sujo e com a visão um pouco prejudicada, mas a salvo e com o arquivo escondido sob a blusa de malha.

Ao retornar para o beco onde deixei Thomas, aguardei uns instantes antes de sentir a presença dele e o anunciar antes que o pudesse fazer. Nesse momento ele estava acompanhado de um Inkay. Minha Lilligant apenas fazia uma limpeza em meus trajes com magia antes de ver que eu tinha assuntos a resolver.

- Não foi fácil, mas aqui está. Ficha limpa, como prometido - disse, ao jogar outra pasta para ele, transferindo a imagem do holocaster para que pudesse conferir que tinha dado cabo tanto de arquivos como papéis. - A partir de hoje nenhuma morte não autorizada. Se for aliciar algum feito criminoso, que não seja identificado. Não quero ter que retornar aqui.

O aviso fora dado e a missão cumprida. Era difícil encarnar a personalidade Imperium sem as roupas de Kilam, mas talvez tenha sido ameaçador o suficiente. Agora poderia ir comprar stickers para minha performance no Hall de Laverre.

Progressos: