Com muito para pensar, Heiwas se despede de Swellow e retorna para casa de Daisy com Ìlléos e Alattí a franqueando. Na metade do caminho Eevee já estava com sono e choroso o suficiente para que a garota o carregasse em seus braços, apertando-o contra o peito e o casaco macio. Alattí, por outro lado, parecia aliviado com o frio em suas patas, amando como a quase sensação de congelamento fazia sua mente turva se concentrar.

Eles voltaram sem muitos problemas e rapidamente foram acolhidos pela mulher adulta que havia se preocupado com a sua saída pela manhã. Honestamente, Daisy havia pensado que ela não voltaria. Contudo, Minkah estava muito perturbada com o excesso de informação e precisava de um bom ouvinte para ordenar seus pensamentos, então, a neta do Professor Oak preparou uma garrafa de café e fez a menina se sentar em sua mesa antiga e desgastada enquanto ponderava silenciosamente todas as coisas que a pesquisadora lhe dizia:

—Meu mentor me mandou uma carta. Ele disse que devo ficar mais forte, não sei pra quê, e que preciso me concentrar mais nos estranhos comportamentos dos pokémon que capturei. Como Buneary parece estar ligada a algo maior —Heiwas enrolou, sabendo muito bem que não deveria tocar na conversa que teve com Marcos —Achei que poderia conseguir algo com Lillipup antes de seguir jornada.

—Para onde você pretende ir?

—Há alguém que preciso ver em Oldale Town. Uma tal de Nayra, amiga de meu mentor. Ela pode me ajudar a entender sobre o aumento de casos de possessão aqui.

—E sobre os cogumelos? —Daisy cantarolou, deixando a frase pairar no ar úmido ao mesmo tempo em que se levantava para lavar sua xícara na pia. Heiwas não respondeu, preferindo recostar-se mais confortavelmente para abrir mais espaço para Pichu em seu colo. A médica ensaboou com cuidado a peça de porcelana, jogando frases de um lado para o outro em sua cabeça. Com um suspiro pesado, ela se virou e disse:

—Tudo isso que você aconteceu nessas últimas semanas têm pesado muito na minha cabeça, então eu fui em frente e fiz minha própria pesquisa. Esses Tinys Mushrooms aparecem muito no outono, entretanto é em Santalune Forest que você pode ver uma variedade maior de cogumelos o ano todo. Seja lá qual for os efeitos desse cogumelo que você tem em mão, eu tenho quase certeza que você irá encontrar alguém que saiba de alguma coisa nesse local.

—Você tem razão ~ —Murmurou, pesando essa ideia —Afinal é na mesma direção. Consultar mais alguém lá não fará diferença. Acho que isso reforça ainda mais a ideia de que devo partir.

—Acho que não —Ela franziu a testa. Se era por que a ideia de sua inquilina problemática sair (e ela não mais seria recebida pela energia borbulhante de Heiwas quando voltasse do trabalho) ou pelo simples motivo de que havia algo que ela ainda tinha que fazer, Daisy não sabia. Tudo que sabia é que havia alguém naquela cidade que poderia resolver pelo menos um dos mistérios acumulados pela menina —Dal-Sama é perito em cachorros. Se houver algo de errado com Lillipup, ele vai descobrir. Além disso, você disse que precisava ficar mais forte, certo?

E foi por isso que Minkah se viu mais uma vez sentada no degrau de uma casa aleatória daquela cidade, os pés brincando com a neve abaixo de suas botas e as mãos gesticulando loucamente ao passo que explicava como o novo movimento deveria ser feito. Pichu já havia visto três vezes um vídeo de como Iron Tail era executado e, apesar de já conseguir imaginar perfeitamente em sua cabeça como seria feito, não conseguia alinhar seu corpo corretamente. O que ela havia retirado do PC na noite passada era poderoso e, por isso, não era nada fácil de acertar de primeira.

—Eeeee! —A raposa gritou, animando seu superior.

—Okay, vamos tentar de novo! Alattí, Iron Tail!

Pichu respirou fundo e olhou para sua parceira para absorver um pouco de confiança só para gritar de susto e se virar em alarme.

Em sua empolgação habitual, Minkah tinha se levantado e apontado para uma das árvores que faziam parte do bosque que cercava Pallet. Não era isso que era estranho. O estranho era que do lado de Anttochí havia um pequeno boneco/palhaço, com um cabelo azul encaracolado e um corpo rosa de onde saiam finos bracinhos. O pokémon jazia na mesma posição que a pesquisadora, um dos braços apontados para a mesma árvore e o outro dobrado contra o corpo. Quando percebeu que havia sido notado o pokémon gritou e saltitou, rindo loucamente.

—Mime! Mime Jr!

—Ehhhh?! Desde quando você está aí?!

—Mime mime mime?! —Imitou, reproduzindo a mesma expressão de susto da garota. Ele continuou copiando a treinadora e o Pichu, grunhindo quando Alattí grunhia e estendendo o braço como se tivesse segurando uma Pokédex quando Heiwas apontou o aparelho para ele —Mime Jr!

Eevee se divertiu muito rindo dele, entretanto, ao passo que a surpresa passava e o tempo prosseguia, Mime Jr os perseguindo de um lado para o outro; tornou-se fácil se aborrecer.

—Chega! Não estamos brincando de Seu Mestre Mandou! Estamos tentando treinar aqui!

—Piii pichu!

—Miiime Jr!

—Piiii!

—Miiiime!

—Pichuuu! —Em um acesso total de raiva, o rato esbravejou e atirou um Thunder Shock, que passou zunindo pelo palhaço, errando-o por pouco e atingindo, por pura coincidência, uma oran berry que um Teddiursa totalmente aleatório estava tentando alcançar. Oh, merda.

Mime Jr, como se tudo aquilo fosse apenas mais um movimento simples, agiu exatamente como o Pichu e utilizou o CopyCat para atirar um Thunder Shock em Heiwas que, ao esquivar-se, deixou a sua pokébola —que ela havia tirado da sua bolsa apenas para assustar o palhaço —cair. A esfera se abriu em uma rajada de prata que rapidamente se transformou em um pássaro pequeno e castanho, de penas espetadas e longas e asas maiores que o corpo. O Pidgey era menor e mais magro que os Pidgey de Pallet deveriam ser, com a melanina do bico e das garras mais acentuada e uma aparência mais afiada em geral. Parecia ser um pássaro especializado para um ambiente rochoso e alto; o que não fazia sentido nenhum na verdade.

—Um Pidgey? Foi nele que meu Lotad possuído foi trocado? —Claro que ela precisa de um pássaro. Seu mentor havia lhe dito que Swellow estaria muito ocupada daqui pra frente, mas, se ele queria que ela tivesse um mensageiro, por que não a mandou capturar? Afinal, era só um Pidgey, por Arceus!

Pidgey, por outro lado, ignorou totalmente o chamado de sua treinadora. Ele tinha um ar de gente independente, de alguém que não estava nem aí para nada e para ninguém e que mataria quem ousasse interromper sua paz. Caramba!

—Alattí, Sweet Kiss e… hum, Pidgey, use o Tackle? —Heiwas parou, virando a cabeça para a direita em leve pensamento. Com certeza, aquilo que estava diante dela só podia ser um Pidgey, mas ela ainda não tinha ideia de quais ataques ele sabia, então era sempre melhor optar pelo seguro. “Além disso, nem a Pokédex parece conseguir analisar ou reconhecer qualquer coisa desse bicho”, pensou ao guardar o aparelho que não parava de piscar com uma voz robótica alegando ter “informações insuficientes”.

Alattí, cansado das brincadeiras do palhacinho, não demorou a estufar o peito e se inclinar, levando a mãozinha até a boca e depois soprando um beijo estalado que flutuou e aumentou, transformando-se em um coração arroxeado que passou raspando pelo Mime Jr. O palhaço riu, soando confiante e debochado, principalmente porque no minuto seguinte estava rodopiando e pulando, seu braço direito subindo para copiar a mesma posição exata do Pichu. O Sweet Kiss, para o completo arraso e destruição do ego de Alattí, deu certo, seguindo seu caminho e engolfando o pássaro de atitude estranha em um manto de confusão amorosa.

Pidgey riu, esvoaçando e girando no céu, sem se preocupar com os inimigos no campo.

—Por que você está rindo? O que há de tão engraçado? —Perguntou, confusa, pensando que ele estava vendo algo que ela não podia ou que Mime Jr havia contado uma piada realmente boa.

—Pichuuuu!

Alattí faiscou e gritou alto, acreditando veementemente que ele era A piada do tipo psíquico. Isso não ia fazer nenhum bem para sua autoestima. Pidgey apenas riu ainda mais alto.

Enquanto isso, Teddiursa, enfurecido por ter perdido seu café da manhã para o Thunder Shock, investiu contra o rato elétrico, determinado a se vingar pela injustiça que lhe foi feita. Suas garras reluziram levemente e ele ergueu a mão, elevando-a bem acima da cabeça do roedor antes de trazê-la para baixo em um corte horizontal. Pichu recuou com um grunhido, entretanto a sua alma e seu ego doíam mais que o corte em sua bochecha.

Round 1:

—Ignore eles, Alattí! Eu confio em você! —Heiwas tentou mediar, encarando os olhos redondos e brilhantes de seu melhor amigo —O próximo você não vai errar!

Pichu, mesmo com a confiança abalada, avançou, confiando sempre em sua treinadora. Ela disse que ele não erraria, então ele não iria errar.

Com isso em mente ele atacou, correndo com o corpo inclinado para frente, os braços atirados para trás e a cauda brilhando em um tom metálico. O brilho se solidificou em metal de verdade e ele saltou, girando no ar e golpeando a cabeça de Mime Jr com a calda. O Iron Tail afundou o tipo fada no chão, a neve fazendo pouco para absorver o impacto absurdo do ataque.

Ele pousou com as bochechas faiscando e olhos determinados fitados no buraco na neve em que jazia o corpo do adversário. Heiwas não perdeu tempo e atirou uma pokébola curva, capturando-o enquanto ordenava a Pidgey sua próxima ação: —Pidgey, Tackle!

O pássaro olhou seriamente para a jovem antes de rumar em direção a uma parede e bater sua cabeça com toda a força no tijolo só para não ter o gosto de obedecê-la. Ele repetiu o gesto de novo, embora dessa vez tenha sido a Confusão que guiou os seus movimentos. Minkah apenas ficou ali, olhando sem expressão para a ave tonta, não conseguindo entender o que diabos ele estava fazendo.

Teddiursa, entretanto, não teve a mesma paciência, investindo na direção dele com a língua para fora e raiva em seus olhos. Pidgey balançou em suas pernas, girando com as asas para cima como se não entendesse o que estava fazendo. Teddiursa saltou para agarrá-lo, mas o passarinho saltou para o lado no exato momento que o urso tentava lambê-lo, o corpo girando e girando como uma bailarina. O tipo voador parecia ser do tipo debochado e desobediente, pelo menos foi o que Anttochí tirou desse primeiro contato, contudo havia uma estranha graça naqueles movimentos descoordenados.

Round 2:

—Alattí, uma ajudinhaaa? —Pichu seguiu com sua atitude de ninja descolado sem nem hesitar, repetindo a mesma sequência de movimentos que antes e atacando o urso fofo, dessa vez com um movimento horizontal que acertou em cheio o lado da cabeça do Teddiursa.

Atirado longe, o tipo normal desmaiou na hora.

Round 3:

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {10/10} +1 Hapiness
Eevee {10/10} +1 Hapiness

Saúde escreveu:

✪ 48%
✪ 72%
✪ 29%
✪ 11%

  Achar Dal-Sama não foi um problema. Neste ponto Heiwas não sabe se deve ficar decepcionada ou aliviada por nenhuma outra confusão ter a farejado (Rá, ela também sabe fazer trocadilhos!). Sinceramente, se nenhuma daquelas possessões tivesse ocorrido ela teria achado Marcos há dez dias e estaria no caminho de volta para casa. Entretanto, se isso não tivesse acontecido ela não teria capturado Buneary e, mistério ou não; assassina ou não; monstro ou não; seu coração estava cativado por ela.

   É loucura amar um monstro. Minkah nunca foi a mais sã de sua família mesmo.

   Assim, Heiwas seguiu o caminho previamente traçado por Daisy em seu caderno e continuou caminhando até que as poucas casas, separadas umas das outras por terra batida e montanhas de neve, se tornassem mais escassas e as ruas mais largas. Foi só quando um muro baixo, com um velho portão de ferro, apareceu em seu campo de visão que a menina parou, os pés voltados para a construção à sua frente.

   De onde estava ela poderia discernir que muito além do muro havia uma casinha simples, de telhado colorido e paredes pintadas de branco. Um vasto quintal cercava a casa, sendo cercado pelo muro de cimento que fazia um quadrado perfeito em volta do perímetro. Latidos altos e animados podiam ser ouvidos e Minkah se assustou, quando se esticou nas pontas dos pés para dar uma olhada melhor, com um Poochyena que apareceu aparentemente do nada, saltando com tanto vigor que apenas sua cabeça peluda apareceu por cima do muro.

—Pelo menos agora tenho certeza que não errei a casa —Comentou para o Eevee que já havia começado a rosnar para os cães do lado de dentro. Daisy havia lhe dito que o tal de Dal-Sama era um ex-policial e que amava seus parceiros caninos. Pode-se dizer que, com a experiência dele com o tipo, ele era quase um especialista. Ela estava contando com isso quando começou um escândalo controlado do lado de fora.

—Dal-Sama! Senhor Dal-Sama! Ô DE DENTRO! TEM ALGUÉM EM CASA?! DAL-SAMA!

  Apesar dos gritos e do bater de palmas insistentes que nem as Testemunhas de Arceus poderiam copiar, ninguém apareceu. A gritaria só serviu para deixar os animais ainda mais agitados. Suspirando, e não vendo outra alternativa além de, claramente, subir na árvore localizada convenientemente na lateral esquerda, do lado de fora, do muro para ter uma vista melhor da casa; Minkah fitou seus fiéis companheiros e disse:

—Ìlléos, fique aqui. Alattí, vigie ele para mim, sim? Lá dentro tem muitos cães e não quero puxar confusão com um ex-amigo de farda.

   Eevee parou de rosnar para a parede e ergueu as orelhas para ela, acenando cuidadosamente com a cabeça enquanto balançava animada a cauda. Pichu fez uma careta de sofrimento, faiscando as bochechas e olhando para a raposa como se ele fosse sua morte. Com isso resolvido, a jovem se virou e se aproximou da árvore, que se erguia de maneira preguiçosa na diagonal, esticando seus galhos grossos e folhas densas para dentro do muro, produzindo uma extensa área de sombra.

    O tronco era grosso e Heiwas não era estranha na arte de subir em árvores, escolhendo com experiência os galhos mais resistentes e puxando seu corpo com força pelo tronco grosso e áspero. O trabalho foi facilitado pela direção em que a planta pendia, quase como se fosse proposital, como se a principal função dela fosse servir de rampa para qualquer indivíduo curioso que tivesse o mínimo de habilidade. É perfeito de mais, a garota pensa com suspeita, arrancando um dos frutos que pairam em abundância acima de sua cabeça. Ela o coloca em sua bolsa com um murmúrio e fica de pé no galho grosso, procurando com os olhos algum sinal de vida humana.

   Os latidos dos cães abaixo dela ficam mais fortes, o que faz os cabelos da pesquisadora se arrepiarem. Ainda bem que não havia perigo dela cair daqui, já que... —O que diabos você está fazendo aqui?!

  Seu equilíbrio falha e a árvore se chacoalha com a intensidade de seu grito. Previsivelmente, e nem meio segundo depois de pensar que estava segura, a garota despenca, caindo no chão de costa com um baque surdo. Ela geme, piscando sua visão turva para o Eevee preocupado ainda em cima do pé de planta. Além do rosto claramente culpado que perscrutava por entre os galhos, Heiwas viu um mar de cabeças peludas e línguas rosadas rodearem seu campo de visão. Eram tantos, latindo e mordiscando sua roupa de tal modo que a garota saltou do chão com energia renovada, ignorando a dor que se espalhava pela sua coluna e tropeçando em seus pés quando os filhotes não se afastaram para lhe dar espaço.

   De repente dentes afiados penetraram seu calcanhar e ela, em um movimento que era puro susto, rapidamente agarrou às cegas seu atacante, erguendo-o em uma confusão de pelo cinzento e membros em agitação. A inquietação do Poochyena quase a levou ao chão de novo.

—O que você está fazendo com os meus bebês?!

   Uma voz grossa tirou Minkah do mar de cães e trouxe sua atenção para o homem que vinha correndo com velocidade em sua direção. Ele era enorme e "brutamontes", certamente, seria a palavra que a garota usaria para definir o homem grande e musculoso vestido de dálmata se ela não soubesse quem era. Como sabia, a palavra ficou apenas em seus pensamentos.

—Oh, hei! Eu estou aqui por recomendação de uma amiga! —Heiwas acenou, tentando sorrir amigavelmente, embora o sorriso tenha saído um pouco torto demais se a expressão furiosa de Dal-Sama fosse alguma coisa.

—Amiga?! Foi aquela Gata cretina que te mandou aqui, não foi?! Ela e aquele gato terrível!

—Gata cretina… ? Você andou fumando… (?) cof cof —Tossiu no punho livre, pigarreando profundamente para ocultar a última frase —Quer dizer, foi a Dai…

—Não importa! Lute comigo!

—Mas eu disse que só quero conversar com você sobre um…

—Eu disse que não importa. Você já está me fazendo perder a minha novela e se aquela Gata acha que vai te mandar aqui para me provocar e vai ficar por isso mesmo, então, está muito enganado! —O homem era tão grande quanto um Darmanitan, mas seus olhos eram suaves demais em comparação ao corpo e, mesmo que sua voz não fosse nada mais que um grunhido baixo e rosnado, ele ainda parecia ser do tipo bem gentil —Eu não vou pedir de novo.

—Olha, nós somos colegas de farda. Eu também estou ligada aqui e ali com a polícia. Eu não vou lutar com você —Disse, os olhos vagando do Eevee no topo e o muro. Soltando o Poochyena e erguendo as mãos em um sinal de paz, ela gesticulou sutilmente com os dedos e forçou sua aura, querendo, de alguma forma, comunicar a Ìlléos para que não saltasse.

—Se você é quem diz que é, então batalhe comigo e me mostre à disciplina e dignidade de um bom soldado!

   Com Alattí do lado de fora e Ìlléos escondido lá em cima, restavam apenas dois pokémon que ela havia usado anteriormente. Não seria sua primeira escolha, contudo ela havia prometido continuar tentando e aquela poderia ser a oportunidade perfeita para mostrar que ainda havia chance para dar certo. Claro, eles não eram a imagem da obediência e disciplina, mas eles ainda eram seus pokémon. Okay, vamos tentar.

—Certo, Pidgey, vamos tentar não flopar dessa vez! —Heiwas ordenou, a mão apontada para o Rockruff que passava correndo pelos outros para se lançar na batalha. O cão rosnou profundamente, o pelo de seu pescoço se arrepiando com a agressividade.

    Pidgey esvoaçou até parar de frente para o cão, entretanto, ao invés de demonstrar a mesma seriedade que o canino com a batalha ele apenas começou a rir. Assim do nada. Histericamente. Sua risada era suave e um tanto contagiante, contudo a falta de motivo para aquilo era, no mínimo, preocupante e fez a pele se arrepiar —distantemente, e tremendo por dentro, Heiwas se perguntou se o pokémon estava possuído. Afinal, ele também fora capturado em Pallet alguns dias atrás…

—Pensei que fosse levar esse combate com seriedade, minha jovem.
—E eu estou!
—Então me mostre isso. Rockruff, Tackle!

   Rockruff olhou o pássaro estranho antes de balançar a cabeça de um lado para o outro e voltar a rosnar. Com um avanço rápido pelo campo de grama, ele investiu contra o pássaro, fazendo-o recuar um pouco com a força do impacto. Pidgey havia travado as garras no chão para que o impedisse de recuar mais, o que fez uma nuvem de poeira se levantar e suas penas incharem de indignação. Um silêncio mergulhou entre eles, porém Heiwas podia notar uma agressão surgindo no ar. Uma raiva que não era, de forma nenhuma, do Rockruff.

Round 1:

   A aura de Pidgey pareceu contorcesse malignamente por alguns segundos. Foi tão rápido que Minkah pensou ser aquilo uma ilusão de ótica e, por isso, estendeu a mão para alcançar a pokébola dele e retorná-lo. Ela tinha tanta confiança nesse pokémon trocado quanto tinha na Buneary, entretanto ela havia prometido dar uma chance… —Talvez depois —Sussurrou para a ave indignada dentro da esfera.

—Certo, aqui vamos nós! —Trocando de pokébola, Minkah trouxe a Plush Buneary para a briga com um estalo alto.

—Rockruff, continue.

    Ela pousou com a graça de sempre, contudo ainda havia algo diferente em seu olhar. Minkah tentou alcançá-la com a aura, prometendo-lhe que estava tudo bem; que estava disposta a esquecer o que tinha acontecido. Buneary parecia muito confusa, muito só, desde que fugiu. Heiwas não conseguiu alcançá-la.

     Rockruff aproveitou esse breve espaço de confusão para atacá-la. Era quase como se suas patas não tocassem no chão conforme corria em direção à coelha tamanha era sua velocidade e destreza. Com um salto, ele colocou-se bem acima dela, os dentes brilhando e uma mandíbula branca, de tom metálico, projetando-se à sua volta.

—Ruff! —A mandíbula fechou-se sobre a Buneary com tanta força que explodiu em uma nuvem de fumaça e a empurrou para trás. Ela só não caiu porque havia inclinado seu corpo para frente e suas patas, apesar de deslizarem com a força do impacto, conseguiu mantê-la firme mesmo depois de absorver diretamente o impacto.

Round 2:

—Buneary, hein? Eu não conheço muito de outros pokémon, já que os tipos caninos são os melhores, logicamente; mas você deve saber que os tipos normais são bem conhecidos por ter muitos ataques físicos. Parte da batalha não envolve só atacar, minha jovem —Ele comentou, dando de ombros com aqueles seus ombros enormes de gorila. Okay, tudo bem, isso pode ser um pouquinho demais. O homem nem era tão grande assim! —Leer!

—Meu problema não é conhecimento. É comportamento, senhor —Ela até poderia dizer a ele que aquilo não era uma Buneary normal, contudo não adiantaria de nada. Ele veio aqui atrás de resposta sobre o estranho comportamento de um Rockruff e não para ser testada por um velho policial —mesmo que estivesse começando a se divertir com a troca de palavras —Buneary, Shadow Sneaky!

      Buneary colocou uma das patas no chão e esperou que sua sombra se alongasse e se projetasse, erguendo-se como uma mão cheia de garras afiadas. Com um grunhido e um balançar de punho, a garra desceu sobre o corpo do cão, esmagando-o com força e precisão.
     
      O pobre cachorro urrou de dor, enrolando-se envolta de si mesmo e choramingando. Quando a pesquisadora estava começando a se simpatizar com o pequeno pokémon, ele se levantou, erguendo-se trêmulo sobre as patas e atirando um olhar feio, com direito a olhos vermelhos brilhantes e tudo mais, para a Buneary, que se arrepiou de medo e recuou, atordoada.

Round 3:

—Rockruff!
—Frustration!
—Bite!

   Com as ordens atiradas rapidamente, os dois pokémon entraram em uma dança perigosa. A coelha, cercada por uma aura vermelha e furiosa, investiu com a cabeça baixa contra o oponente, os olhos treinados em seu alvo tal qual um predador que fareja sangue. Rockruff, por outro lado, tinha os dentes desse predador e por isso a encontrou no meio do caminho com as presas cintilando com energia concentrada. Buneary atingiu primeiro o peito peludo, mas o cachorro não desistiu e girou seu corpo para fechar outro Bite bem no braço direito da boneca de pano.

—Buneary!!! —Anttochí soltou um grito estrangulado, assistindo com horror mal velado como ambos caiam no chão, o bracinho dela ainda presa entre os dentes do Rockruff.

—A disciplina exige tempo e concentração. Você não esperava que meu adorável parceiro caísse só com isso, esperava?

Round 4:

—Talvez não só com isso. Livre-se dele!

    Em um voto de confiança que deixou Anttochí emocionada e surpresa, Buneary se contorceu sobre o aperto e moveu sua sombra para que ela tivesse o ângulo certo para agarrar o canino e atirá-lo longe. O corpo de Rockruff voou pela força aplicada, caindo como um saco de batata na grama macia.
Buneary usou Shadow Sneaky

Round 5:

—Foi um belo movimento esse —O policial admitiu, parecendo agradavelmente divertido com a superação do outro pokémon. Ambos retornaram seus pokémon ao mesmo tempo, Minkah acariciando o topo da cabeça de sua parceira em gratidão pelo esforço e confiança. No fundo, ela podia sentir a aura errática e estranha se acalmar, o temperamento de Plush Buneary começando a voltar para o tímido e cuidadoso.

Energizada pelo êxito e eufórica pela batalha, Heiwas tratou de cumprir sua promessa.

—Tudo bem, acabou o tempo do castigo!
—Poochyena, mostre a sua força!

Round 6:

—Pidgey, comece com Sand-Attack!
—Poochyena, para cima dele!

Pidgey, surpreendendo um total de zero pessoas, apenas olhou ressentido para sua treinadora e deu as costas ao inimigo, encarando-a com olhos pesados e sombrios. Naquele momento Heiwas sentiu como se a ave estivesse planejando sua morte. Não era nada agradável estar no final desse olhar e ela foi salva de continuar suando e engolindo secamente quando o cachorro cinza mergulhou contra o pássaro, empurrando-o com tanta força com o Tackle que a ave cambaleou para frente e quase caiu de bico no chão.

Round 7:

—Você vai acabar se dando mal se não me ouvir —Tentou raciocinar, mas Pidgey só começou a ironizar essa teoria, rindo como se aquilo fosse a melhor piada que havia ouvido durante todo o dia.

—Vejo que ele não tem nenhum respeito por você.
—Eu sei! Estou tentando consertar isso!
—Eles não são brinquedos, garota —Dal-Sama falou com tanta suavidade que Minkah quase perdeu suas palavras —Não se conserta pokémon. Poochyena, Howl.

Poochyena, com uma sincronia perfeita, tinha começado a uivar assim antes mesmo de seu treinador ter terminado de falar. O uivo era alto e majestoso e chocou até o Eevee em cima da árvore, que parecia fascinado pela luta que estava acontecendo. Ao longe, Heiwas ouviu o chiado de preocupação de seu Pichu.

A fala de Dal-Sama abriu uma lata de minhoca dentro de seu cérebro. Muitos pensamentos sobre aquilo ou sobre o que estava pensando, entretanto ela não tinha tempo para lidar com todos e, por isso, resolveu se concentrar naquele estranho ataque que nunca tinha visto. Em suas mãos a pokédex tomou vida e sua voz eletrônica dissipou abriu caminho pela sua mente cheia.

Pokédex: Howl escreveu:

O usuário uiva alto para elevar o espírito de si mesmo e de seus aliados. Isso aumenta suas estatísticas de ataque.

Round 8:

—Retorne —Gritou, voltando para a pokébola o pássaro desobediente. Este nem piscou de remorso, escolhendo fitá-la com agressividade durante todo o processo. Mecanicamente, Heiwas trouxe seu orgulho para o campo.

A coelha assassina saiu da luz prateada assim que a cachorrinha se jogou contra ela, perdendo sua forma completamente quando a boneca girou para se esquivar. Tackle falhando completamente.

Round 9:

—Frustration!
—Concentre-se, Poochyena! Definitivamente a pegaremos agora!

Eufemismo foi dizer que isso não aconteceu.

Buneary firmou os pezinhos no chão e rapidamente se cercou com uma luz vermelha agressiva que engoliu seus membros e cintilou como alguma espécie de cometa. Sem nenhuma hesitação ela saltou para encarar a cadela que vinha em sua direção.

O ataque do canino não tinha efeito nenhum na Buneary, era quase como se sua pele de pano absorvesse o impacto sem realmente sofrer danos. Oposto a isso, o Frustration causou grande estrago, jogando o filhote longe com tanta força que ambos os treinadores ouviram o barulho de osso estalando e se chocando contra o solo duro.

Round 10:

Um silêncio sepulcral tomou o campo de batalha enquanto a ficha do policial caiu. Aquela não era uma Buneary normal. Nenhuma Buneary teria tanta força em um único golpe. Nenhuma Buneary estaria tão entusiasmada com a perspectiva de subjugar seu oponente como aquela, a coelha aproximando-se a passos rápidos do pokémon enfraquecido. Nenhuma Buneary ignoraria seu treinador apenas para acabar de vez com uma luta.

—Buneary!

O grito de repreensão foi em vão, pois a Plush já estava descendo com o punho aberto contra a cabeça trêmula do cachorro, que havia tentado se levantar apenas com a pura determinação e força. O som da cabeça caindo na grama foi o sinal do fim da luta e o motivo da testa franzida e dos olhos sombrios do policial.

—…
—…
—…
—Precisamos conversar.
—Foi o que eu te disse.

Round 11:

Sentar em uma poltrona confortável, de frente para um policial aposentado vestido de cachorro e fã de novela e com um pequeno monstrinho mordendo seu calcanhar não era o que Heiwas pensaria de um bom lugar para se ter uma conversa séria. De alguma forma, entretanto, pareceu funcionar.

Ìlléos correu com os outros cachorrinhos, subindo e mordiscando as orelhas de um velho Mightyena enquanto Alattí tomava seu tempo descansando em cima dos cabelos ruivos da pesquisadora enquanto essa riscava continuamente uma folha de papel, adicionando e cortando pensamentos complexos que enchiam sua mente conforme a conversa prosseguia.

—Preciso que você veja se há algo de errado com o Lillipup que capturei.

—Não é assim que funciona, garota. Lidar com cães não é uma fórmula mágica —O homem levantou a mão para interrompê-la —Eles são seres surpreendentes dotados de personalidade e inteligência. Saber o que é ou não normal não é tão simples assim. Requer muito tempo.

—Você mesmo viu o que minha Buneary é capaz de fazer e eu preciso ter certeza que nenhum outro pokémon foi afetado negativamente —Meia verdade, mas Heiwas sabia que não tinha tempo para contar o todo para ele. Era melhor assim —Eu preciso ter certeza que esse Lillipup está bem e em perfeito juízo e o senhor é o único que pode fazer isso. Daisy parece confiar muito no senhor e, olhando para o jeito que você trata seus pokémon, eu também posso confiar.

Dal-Sama recostou-se em seu sofá e acariciou um Lycanrock que descansava ali. Sua expressão suavizou quando fitou os olhos confusos e preocupados da jovem. Os ombros dela estavam um pouco encurvado, as pernas estendidas e cruzadas à sua frente com seu pequeno Poochyena, o menor da ninhada, mordiscando e lambendo os tênis —este era o mesmo cachorro que ele encontrou nos braços da menina quando a confrontou e a ironia de suas interações era a coisa mais fofa que havia visto naquele mês. Parecia que Heiwas estava carregando o mundo nos ombros, mas o sorriso e a cabeça erguida dela fazia parecer que esse mundo não era pesado o suficiente.

Ele gostou do que viu.

—Isso pode soar como uma memória delirante de um velho, mas em meu tempo os policiais eram treinados por anos a fio para a força tarefa. A disciplina e obediência foram nos incutidos tanto quanto foi ensinado aos nossos parceiros caninos. Havia honra em nossa farda. Nós não éramos simplesmente pessoas aleatórias que se filiavam aqui e acolá sem nenhum compromisso —Franziu a testa, inclinando-se para frente e entrelaçando os dedos das mãos —Mas também tenho que admitir que às vezes o que precisamos é imprevisibilidade e sangue novo para fazer a diferença. Novus foi conquistada recentemente e Violet está sob proteção; eu sinto que há uma mudança no futuro e que os novos treinadores terão uma mão nessa mudança. Prometa-me que se esforçará para não deixar a justiça morrer e eu farei esse favor para você.

Minkah o olhou um pouco surpresa pelo pedido, uma miríade de lembranças se apossando de seus pensamentos. Ela não pretendia se ligar tanto ao sistema da polícia (francamente ela só se registrou porque de uma forma ou de outra sempre se encontra presa a problemas e que pelo menos filiada ela poderia agir sem se preocupar com muita burocracia), entretanto aqui estava alguém que havia dedicado boa parte de sua vida a isso lhe pedindo para fazer a mesma coisa. Mesma coisa não. Ela se prontificou a ajudar a solucionar o caso da Plush Buneary e a aura distorcida porque foi a primeira pessoa a ter contato com ela, mas também por que queria entender. Buneary era um pokémon confuso e violento, despertada para a vida por meio de algo macabro que manipulava a aura de outros seres vivos. Não era justo que ela ou aqueles que viviam ao seu redor sofresse por isso.

Talvez fazer justiça não seja tão difícil assim.

—Eu prometo! —Exclamou, tirando e colocando a pokébola de Lillipup em cima da mesinha de centro entre eles. Não havia nada além de sinceridade em seu tom e seus olhos brilharam com pura determinação.

—Ótimo! Para selar nosso contrato te darei um de meus filhotes! Eles são adoráveis! Farão uma combinação perfeita com você!

—E-eu não posso aceitar!

—Besteira! Veja, acho que você nem vai precisar escolher.

E como se reforçasse seu ponto, o Poochyena que mastigava seus cadarços levantou a cabeça, abanou o rabo e latiu feliz antes de voltar a destruir o favorito e único par de tênis de Heiwas. Ótimo. Apenas ótimo.

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {5/10}
Eevee {5/10}

Saúde escreveu:

✪ 48%
✪ 72%
✪ 29%
✪ 11%

     A pesquisadora saiu da casa do policial aposentado um pouco antes do meio-dia. Imediatamente, o sol quente a cumprimentou, estendendo seus raios solares para derreter a neve do caminho de areia esguio que levava de volta para o amontoado de casas de Pallet  e para fazer evaporar o frio arraigado em seus ossos. Ela respirou, confusa e contente pela mudança abrupta de clima. Nada tinha sido o mesmo desde o Grande Cataclismo.

     Assim, com parte de suas questões caminhando para uma solução ou resultado palpável e com Ìlléos e Alattí lhe fazendo companhia, Heiwas sentiu que podia finalmente sentar e relaxar um pouco. Claro, ainda havia o problema da Buneary, que ela estava decidida a resolver não importa quanto tempo demore —mesmo que ela não saiba exatamente o que seria “resolver” —, e também havia a nova adição de seu time, que era um mistério por si só, já que o Pidgey só ria e a desobedecia em qualquer oportunidade que conseguia.

—Vamos parar para comer alguma coisa antes de irmos para o Laboratório do Professor? —Perguntou, olhando para o Eevee ansioso e para o Pichu depressivo —Preciso voltar para falar com a Srta. Daisy antes de partimos, também.

   Eevee gritou alto, girando suas orelhinhas de um lado para o outro ao mesmo tempo em que concordava veemente com tudo que a sua treinadora dizia. Vagamente, Heiwas teve a impressão que Ìlléos não entendeu nada do que havia dito exceto a palavra “comer”. Como se fosse para cimentar ainda mais essa impressão, a criaturinha se lançou para perto de uma árvore e começou a correr ao redor da árvore, grunhindo e chilreando tal qual um cão que encontrou sua presa.

   Suspirando em uníssono com Alattí, a garota se aproxima apenas para se deparar com uma única Berry empoleirada em um galho alto. Há algumas outras que ainda não amadureceram envolta, mas apenas aquela reluz contra o sol fraco e balança sedutoramente na brisa fraca, seu azul suave provocando a fome de Minkah.

—Certo, mudança de planos. Primeiro vamos pegar essa Oran Berry —Gritou, recuando e atirando sua pokébola para cima —E então almoçamos!

    A pokébola estalou e Pidgey saiu de lá com sua costumeira cara de deboche. Ele voou alto, ignorando totalmente as ordens de sua treinadora, até que viu, com sua visão periférica, uma mancha de marrom e amarelo por entre a cortina de folhas daquela árvore.

—Ela está bem ali! —Heiwas gritou, assustando o pássaro com a chama repentina, o que o levou a atingir a árvore sem querer. O barulho do corpo acertando a árvore ecoou por todo o ambiente, seguido pelo chacoalhar estridente da árvore e da queda de não um, mas dois pokémon.

   Pidgey tombou, rolando para perto dos pés de Minkah como uma bola de pena. Apesar disso, ele não deixou que a garota chegasse perto, esforçando-se para ficar de pé sozinho, o que, claramente, levou a uma discussão entre os dois. A discussão só foi interrompida quando um choro alto foi ouvido, o outro pokémon —outro Teddiursa —, gritando e esperneando por ter sido derrubado de seu poleiro; Fake Tears tocando o coração duro e frio com mãos falsamente calorosas e abaixando sua guarda.

Round 1:

—Okay, sem mais batalhas pra você —Minkah retornou o pássaro e sorriu melancolicamente. Bem, pelo menos a cacetada derrubou a fruta —Alattí, vamos energizar as coisas!

—Piichu!

  O roedor avançou para frente, superando a careta de inveja do Eevee e dando de cara com os olhos redondos e brilhantes do Teddiursa. Este, levantando-se com as patas nos olhos, só chorou ainda mais alto, tentando conseguir alguma compaixão do tipo elétrico. As esferas negras de Alattí se umedeceram com a visão, mal resistindo às lágrimas de jacaré.

Round 2:

—Não fique triste, isso é tudo fingimento —Instou a continuar, embora Pichu ainda estivesse apaixonado pelo ato —Veja,  olhe, olhe!

  E Alattí virou-se para olhar, contudo seu rosto encontrou a língua áspera do urso que fez seu pelo se arrepiar e suas bochechas faiscarem de susto. Tropeçando para trás, Pichu tomou distância antes de avançar contra ele com a cauda se estendendo e afiando-o em metal puro.

   Iron Tail golpeou o rosto redondo do urso da lua em um movimento fluído, jogando-o para a esquerda e deixando uma marca vermelha em seu rosto. Com um grito agudo, Teddiursa caiu, sentindo não só o ardor de sua ferida, mas também a contração involuntária de seus músculos e a sensação de que a corrente elétrica estava agindo dentro de suas próprias veias.

Round 3:

—Boa, querido! Vamos com Iron Tail mais uma vez!

   Ele nem sequer hesitou antes de golpear o tipo normal mais uma vez, sua cauda acertando a lateral do corpo tal qual um martelo que golpeia um prego. Teddiursa, o pobre pokémon, reagiu da única maneira que sabia, afiando suas garras e atingindo o peito do ratinho no exato momento em que caía com a força aplicada pelo ataque do tipo elétrico.

Round 4:

—Golpe de misericórdia.

  Batendo em suas bochechas como se para testar a quantidade de energia guardada ali, Pichu encolheu-se antes de se desenrolar em um feixe de eletricidade poderoso que percorreu uma linha rápida até atingir o urso de mel em uma explosão de energia crepitante.

   Não deu outra. O pokémon caiu na hora e Heiwas saiu de lá com uma fruta a mais.

Round 5:

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {10/10} +1 Hapiness
Eevee {10/10} +1 Hapiness

Saúde escreveu:

✪ 48%
✪ 72%
✪ 29%
✪ 11%

—... E NUNCA MAIS VOLTE AQUI!

  O som da porta batendo abafou os gritos e xingamentos do proprietário do restaurante e fez a pele de Minkah se arrepiar com a agressividade da ação. O barulho alto subjacente não fez nada para aplacar a ansiedade e a raiva dormente na garota e, muito menos, espantou os pedestres curiosos que haviam parado para assistir aquela cena icônica.

    Heiwas manteve-se parada na frente do estabelecimento, os olhos travados no pardal pousado inocentemente a alguns metros dela. Ele assobiava, ignorando totalmente a carranca fofa de Eevee e a tristeza depressiva de sempre de Pichu. A esta altura, parecia que nem as suas feridas importavam mais.

—Você só tinha que roubar a peruca do dono do restaurante e jogá-la na grelha, não tinha? —Disse ao cruzar os braços, sarcasmo e incredulidade brigando em seu tom.

   Como de praxe, Pidgey apenas riu e ignorou sua treinadora. Minkah ainda tinha que decidir se ele era corajoso demais ou um simples idiota. Foi só quando a cabeça da Buneary girou na direção da ave com movimentos duros e antinaturais, o membro tombando um pouco para a esquerda enquanto uma aura sinistra emanava de seu corpinho e se espalhava tal qual a sombra que se arrasta com a mudança do sol; que a pesquisadora teve a sua resposta.

   A ave guinchou com a expressão de morte cravada no rosto de pelúcia da boneca e esvoaçou para mais longe, inchando suas penas e abrindo levemente suas asas para parecer maior. Poeira saltou com os movimentos agudos e duros que o pássaro fez, o peito quase rente ao chão e a cabeça levantada como um arpão travado em um alvo.

—Não, nós não brigamos —Heiwas entrou no meio dos dois. Ela fez cara de séria —e até chegou a colocar as mãos na cintura para dar mais ênfase ao seu desagrado —, mas nenhum de seus pokémon parecia querer abrir mão da parada. Ìlléos, que deveria servir para alguma coisa além de ser fofo, apenas a seguiu de perto com um abanar de cauda interessado e a expressão que sempre usava quando estava prestes a entrar em uma batalha —Eu disse "nãoooooo". Amigos não lutam contra amigos —Seus olhos arroxeados registraram a fúria mal contida da Plush Buneary —Nem os matam. Francamente!

    Buneary desviou o olhar com isso, culpada e agradavelmente surpresa com as palavras da mulher. Pidgey, por outro lado, só voltou a rir sarcasticamente. Estalando o bico como se estivesse sussurrando para si mesmo, ele provocou a coelha e alçou voo antes que ela pudesse fazer qualquer coisa. Suas asas, mesmo feridas como estavam, eram grandes e fortes o suficientes para levá-lo tão alto que Minkah teve dificuldade de enxergá-lo no céu.

   Com o almoço interrompido e a noite se aproximando rapidamente, Heiwas decidiu partir na esperança de conseguir um bom descanso. Ela planejava sair de Pallet no dia seguinte e, como sempre fica pouco antes de fazer algo novo, já estava começando a se sentir ansiosa e inquieta.

—Bem, não há o que fazer —Resmungou, pronta para encerrar aquele dia. Pidgey voltaria quando estivesse pronto... ela acha. Talvez. Esperançosamente —Descanse um pouco, querida —Completou quando viu que a roedora não havia abaixado a sua guarda e continuava com os olhos fixos no céu. A energia sinistra que acompanhava o olhar também não havia desaparecido e já estava começando a chamar atenção dos transeuntes —Você precisa relaxar…

   Feito isso, ela começou a se mover, virando à direita do restaurante e descendo a rua a passos lentos. Havia alguns caixotes de madeira encostados na parede sem reboco, muitos deles, fechados, empilhavam-se uns sobre os outros em linhas verticais de três ou quatro, apesar de que ainda houvesse um ou dois perdidos que estavam abertos, cheios de oran berries. "Devem ter acabado de serem entregues" pensou, parando em seu caminho para olhar mais atentamente "Eu me pergunto de onde isso vem? Ou será que é colhido nas árvores daqui mesmo, hum?"

   Pichu escalou seu ombro, tentando enxergar a coisa interessante que sua treinadora tanto encarava. Ìlléos, sempre prático em suas ações, se aproximou sem nenhuma hesitação do caixote, colocando as patas dianteiras em cima da borda e farejando as frutas. Heiwas preparou-se para pegá-lo caso tivesse alguma ideia errada —embora Ìlléos não fosse Pidgey. Aparentemente, ninguém era como Pidgey. Foi nesse exato momento, em que a jovem havia levantado a mão direita e aberto a boca para reclamar, que a caixa ganhou vida.

    Okay, talvez "ganhou vida" fosse uma expressão muito forte. Estava mais para “o conteúdo dentro do objeto de madeira começou a vibrar e chacoalhar quase como se fosse uma bomba prestes a explodir".

   E explodir foi o que aconteceu, frutas atiradas para todos os lados e o Pichu caindo do ombro de Heiwas com um grito agudo, quando uma cabeça afinada e pescoço esguio despontaram para fora, cutucando o ar e abrindo caminho da mesma forma que um Doduo recém-nascido racha seu ovo

—Troooó!

   Minkah piscou como um Hoothoot, não conseguindo discernir o que está à sua frente. Tinha um pescoço marrom e fino com algo que só poderia ser descrito como capacete verde no topo de sua cabeça enquanto dois olhos estreitos de escleras esverdeadas olhavam com curiosidade e receio mal velado, patas com uma única garra tentando equilibrar o corpo arredondado de menos de quarenta centímetros. Ver um pokémon que ela tinha certeza que nunca vira de jeito nenhum trouxe a suspeita causada pelo encontro com a Buneary de novo, mas o medo logo foi engolido pela empolgação que seu lado pesquisador sempre invocava. Aquilo era algo que ela nunca viu. Um mistério a se desvendar!

—Caramba… —Sussurrou impressionada, apontado sua pokédex para extrair mais informações daquela estranha criatura.

Pokédex: Baby Tropius escreveu:

Baby Tropius, a pré-evolução de Tropius.

—Tropius...? Mas nem tem asas —Murmurou confusa, inclinando a cabeça e quase derrubando Alattí que tinha se intrometido de novo em seus cabelos ruivos.

Baby Tropius pareceu se ofender com aquilo, arrastando seu corpinho para fora e para longe deles. Ele era lento e bamboleava como se tivesse acabado de aprender a andar. Heiwas tomou isso como nota, da mesma forma que, também, notou que ele carregava uma Persim Berry na boca.

   O pokémon valsou confiantemente pelo lugar, andando lentamente com a cabeça balançando de um lado para o outro, parecendo, igualmente, confuso e maravilhado com o universo ao seu redor. Repentinamente, Minkah sentiu uma vontade inexplicável de lhe dizer que a terra não era plana.

   Eevee gritou e o seguiu com chilreios e convites para uma batalha. Ele saltou por cima da planta ambulante e dançou ao redor dele em provocação, entretanto o bebê estava muito ocupado seguindo uma rota que só ele podia enxergar para se preocupar com as palhaçadas da raposa. Quando abandonaram o aglomerado de casas que permeava o centro de Pallet e adentraram um espaço mais aberto e cheio de árvores, o brotinho parou e enrugou o nariz para a terra úmida —resultado de toda aquela neve derretida —levantando uma de suas garras que estava levemente suja de lama. Ele virou-se para Heiwas com o mesmo olhar que um Meowth usaria se você lhe dissesse que ia lhe dar um banho, aquela cara de gato escaldado que está prestes a te matar. Minkah olhou de volta, pronta para perguntar por que ele acreditava que a mudança de clima era sua culpa. Então foi aí que um zumbido se ouviu.

A garota de cabelos vermelhos levantou os olhos do filhote só para se deparar com enormes asas arredondadas que cruzou sua visão como uma flecha e mergulhou na direção do...

—Tropius cuidado!

   O mini Tropius se lançou para o lado bem na hora que a libélula gigante rasou sobre ele. Sem mesmo perder tempo com uma curva, o pokémon inseto virou-se novamente para atacar o bebê que saiu correndo.

—Ei, o que você está fazendo?! —Gritou, acenando espalhafatosamente para chamar a atenção —O-oi! Deixe-o em paz!

   O inseto continuou a zunir atrás de sua presa. Em determinado momento o mais novo se lançou no chão, quase sendo acertado pelas seis perninhas escuras do atacante. A perspectiva dele se machucar deixou Heiwas agitada e ela se viu gritando ainda mais alto enquanto investia pessoalmente no conflito, indo afugentar o predador com sua bolsa de couro —ela podia muito bem usar a mesma tática de Daisy! Estranhamente, aquele pokémon que aparentemente surgiu do nada estava muito interessado no tipo planta, mesmo que ele rosnasse e batesse suas asas com força o suficiente para tentar rasgar os tímpanos dela. Alattí, temendo que se machucasse, se jogou na luta também, acertando em cheio o pokémon inseto com um Thunder Shock, que deixou o pokémon agitado mais que desgastado.

  Minkah retirou a pokédex novamente para obter mais informações, no entanto além da revelação de seu nome e o fato de que Yanma eram extremamente territoriais não ajudou muito, visto que a Yanma não queria atacar nenhum deles além do Tropius. "Espera... Tropius!"

   A revelação a atingiu como um chicote de vinha. De repente, era como se uma luz tivesse ascendido em sua cabeça e iluminado seu entorno com a racionalidade.

—Ìlléos, tire a berry de Baby Tropius e corra!

   E Ìlléos, com a sua visão de túnel, claramente fez aquilo que mais sabia: preparou-se, contraindo os músculos, rosnou alto em aviso, sempre rastreando os movimentos frenéticos do saurópode, e, então, saltou sobre o dinossauro com toda a força que tinha, pousando em cima dele e esmagando-o no chão como se não fosse nada.

   Depois que soltou a fruta com o impacto, Eevee a roubou e saiu correndo, só para ser atacado diretamente por um Quick Attack do Yanma. Ìlléos aguentou o ataque com bravura —na verdade, não parecia ser grande coisa quando apenas suas patas derraparam na areia e ele teve que reorganizar seus movimentos para continuar avançando com sua fuga.

   Tropius, indignado com o roubo, inclinou-se para frente, levantando a parte do bulbo em suas costas e tirando o pescoço da frente para que a rajada de folhas navalhas, oriundas da lateral do broto, não o acertasse, mas seguisse seu caminho até a forma em retirada do canino.

—Eeeee… —Ele grunhiu, desviando para a direita ao sentir um corte se abrir em sua pata direita traseira.

Round 1:

 Yanma não abriu mão da parada e, mais uma vez, partiu para cima do pobre Eevee. Era como se esse fosse um alvo duro e resistente, pois tanto Baby Tropius quanto a libélula só tinham olhos para a raposa. Ou talvez fosse para a fruta?

   Mais uma vez Ìlléos superou o Tackle sem problemas, entretanto, em uma clara demonstração de infantilidade, decidiu descontar todo o dano sofrido no saurópode. Claramente, sua brincadeira era mais pesada que a do inseto e o bebê se viu sendo atirado na lama com uma investida poderosa do Eevee antes que Heiwas pudesse repreendê-lo.

—Alattí, eu nem preciso dizer, né? —Gritou, atirando a pokébola no corpo inerte enquanto lançava um olhar fulminante para a raposa presunçosa.

   Pichu não perdeu tempo. Energizando seu corpo, ele atirou uma nova onda de eletricidade que engolfou Yanma em uma mistura de amarelo crepitante e branco agonizante.

   Yanma caiu, desmaiada, e Minkah se virou para sua dupla mais antiga. Antes que sequer pudesse abrir a boca para falar, uma risada se ouviu, vindo da árvore de trás dela.

"Ele voltou".

Round 2:

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {05/10}
Eevee {05/10}

”Baby Tropius”:

Código:

[img]https://www.serebii.net/pokedex-swsh/icon/357.png[/img]
[spoiler=”Baby Tropius”][center]
[img(200px,200px)]https://i.imgur.com/kjehIT3.png[/img]
[b]Nome:[/b] Baby Tropius #357
 
[b]Lvl:[/b] 7
[b]Exp:[/b]
[b]Sexo:[/b] Masculino
[b]Habilidade:[/b] Harvest
[b]Item:[/b]  
[b]OT:[/b] Minkah Anttochí

[b]Características:[/b]

[b]Ataques:[/b]

- Razor Leaf
-
-
-



- Gust
-
-
-


- Leer
- Growth
- Sweet Scent
- Stomp



[i]Pallet Town, Lvl 7[/i]
[/center][/spoiler]

Saúde escreveu:

✪ 48%
✪ 72%
✪ 29%
✪ 11%

    Com a confusão encerrada e a noite superando o dia com um véu negro e pontilhado de estrelas, Heiwas fez seu caminho na direção do Laboratório para fazer uma breve pausa para curar seus parceiros e poder ir, finalmente, para casa para encher os ouvidos de Daisy com suas histórias, como se fosse uma criança contando sobre seu primeiro dia de aula para sua mãe. Perceber que estava se referindo a residência da mulher mais velha como sua casa deveria assustar Minkah, mas ela havia feito as pazes com essa parte de si mesma há muito tempo atrás. Minkah Anttochí era alguém direta e sincera em tudo o que fazia e, para ela, era fácil se apegar a alguém, principalmente quando esse dito alguém a golpeava na cabeça com uma bolsa rosa choque e a suportava em sua moradia por longas duas semanas. Minkah não tinha medo disso. "Agora, Daisy... bem, essa era outra história".

    Franziu a testa com o pensamento, mas decidiu que isso poderia esperar. Ela poderia perguntar a Srta. Oak e reparar o dano quando chegasse lá. Ao invés de encher a cabeça com minhoca, como com certeza faria se não tivesse tão concentrada em balançar Ìlléos em seus braços na vã tentativa de fazê-lo dormir —ela poderia muito bem colocá-lo dentro de sua pokébola para lhe dar um pouco de sossego, entretanto havia algo em pegar um filhote, quente e peludo, nos braços que a acalmava. Era a mesma sensação pacífica que a dominava toda vez que seu Pichu ria para ela, faíscas voando de suas bochechas e orelhas tremendo de excitação. Esse Alattí existia ainda, enterrado sob sua depressão e a pressão de ser melhor. Essa alegria ainda estava dentro do pokémon deprimido que a flanqueava, mancando uma vez ou outra pelos seus ferimentos.

   Em determinado ponto, Anttochí foi arrancada desses pensamentos por um barulho de farfalhar e a impressão de ter olhos encarando-a.

   A garota parou, girando em seus calcanhares para procurar em volta. Havia um homem falando ao celular não muito longe dela, amparado pelas luzes amareladas do poste de energia que seguia solitário ao seu lado, iluminando apenas aquela área circular ao redor dele. Algumas pessoas transitavam, apressadas para chegar em casa antes que a noite escurecesse ainda mais.

—Nossa, ele não tem medo de ser assaltado —Heiwas franziu a testa —Tipo, o celular dele tá dando sopa ali. Você só precisa saltar sobre ele e arrancar à força o negócio —Explicou aos olhares questionadores de Alattí, que apenas se aprofundaram, como se perguntasse "como você sabe que é fácil?".

   Envergonhada por ter sido comparada a uma criminosa por seu melhor amigo, a garota girou com uma careta, perdendo a sombra que se esgueirava atrás do homem lentamente. Algo decididamente felino, de calda esguia e bípede. Esse algo saltou sobre a pessoa entretida da exata maneira que Minkah havia descrito, agarrando o celular com os dentes e pousando perfeitamente com as suas quatro pernas. A pobre vítima gritou de surpresa, mas era tarde demais, já que o ladrão seguia sem se importar, misturando-se com a noite enquanto ria de seu feito.

   A pesquisadora virou-se para a confusão de sons, percebendo rapidamente o ocorrido. Certo déjà vu pairou sobre sua mente e ela quase relaxou seus membros tensos com a sua última memória de ter intervido em um assalto. Contudo, as palavras que Dog-Sama proferiu ao insistir que levasse sua Poochyena giraram em sua cabeça tal quais faíscas em um barril de pólvora. No final, Heiwas não encontrou outra escolha além de correr atrás do ladrão.

   "Para o inferno com a dor de cabeça. Ela não decepcionaria um ex-oficial de polícia!"

    Soltando Eevee, que com um movimento prático girou para cair no chão tal qual um gato que salta de uma árvore; ela rapidamente encurtou a distância entre ela e o… gato?

    Roxo, de pelo escuro e orelhas grandes que se sobressaiam ao corpo magro e curvilíneo, ostentava uma cauda no formato de foice enquanto as patas traseiras se assemelhavam muito às de lebre devido à protuberância do joelho e o alongamento do metatarso. Com a figura em movimento, nada mais que alguns traços e borrões, Minkah achou difícil discernir que tipo de pokémon era e, por isso, tomou a decisão rápida de tirar a pokédex e apontar para o fugitivo.

Pokédex= Purrloin escreveu:

Seu ato fofo é um estratagema. Quando as vítimas baixam a guarda, elas encontram seus itens levados. Ele rouba coisas das pessoas apenas para se divertir com sua frustração. Existe uma rivalidade entre este Pokémon e Nickit.

    Purrloin derrapou pela areia antes de entrar em um beco sem saída, onde parou e ficou de pé com o celular ainda na boca. Um sibilo escapou de sua garganta e ela se arrepiou, eriçando-se ao mesmo tempo em que levantava os punhos para lutar.

   Heiwas a seguiu com as mãos lançadas no ar em apaziguamento. Purrloin não pareceu gostar do gesto, o rosnado se aprofundando tal qual a cabeça peluda que se inclinava lentamente para frente, aumentando ligeiramente seu campo de visão.

—Tudo bem, gatinha. Quieta, quieta, quieta-Ei!

    Alguém trombou contra ela, atingindo-a antes mesmo que pudesse terminar a sua fala. Ela tropeçou, caindo de lado e quase sendo esmagada pelo peso adicional, as pernas debatendo-se inutilmente no chão à medida que seus braços subiram, um para cobrir o seu rosto e o outro para segurar o braço do agressor, que era mais fino do que pensava.

     Olhos violetas fitaram seu rosto por trás de uma máscara negra que emoldurava um rosto fino e delicado, cujo cabelo trançado arroxeado caía para o lado esquerdo, quase fazendo cócegas no nariz de Heiwas. A roupa igualmente preta e colada ao corpo, extremamente sugestiva e sedutora tal qual uma gata de rua, mal foi registrada pelos olhos confusos e surpresos da pesquisadora.

—Hããã, vejo que o rato ficou preso na toca do gato! —Sussurrou, a língua lambendo os lábios vermelhos e carnudos. Sua mão tocou o seu rosto com falsa ternura, arrancando um grunhido engasgado da outra jovem. O membro deslizou lentamente, arrastando as unhas compridas pelas maçãs do rosto, o pescoço esguio e, então, afundando-se dos seus lados —O que há, querida? A gata comeu sua língua, nyah?

     Minkah tentou se afastar, entretanto não conseguiu tirar o peso de cima de si. Presa entre as garras da predadora, a jovem sentiu seus nervos dispararem, a ansiedade e inquietação de estar sendo assediada gritando em sua cabeça. Foi só quando ela olhou para a figura sedutora e piscou para a outra jovem, que tinha sua cabeça muito próxima da sua, que ela reconheceu quem era. A ladra daquele dia! A culpada pela sua dor de cabeça infernal!

—Você-ê!!! —Rosnou por entre os dentes, gaguejando quando a mão errante triscou a carne macia de sua cintura.

    De repente, a mulher puxou a mão para trás com um sorriso malicioso estampado em sua cara e uma esfera vermelha presa entre seus dedos —Me chame de Lady Cat, meu amor.

—Devolva isso sua doida! —Heiwas puxou a mão antes que a outra pudesse fugir, usando seu joelho para chutar a adolescente e derrubá-la, girando seus corpos para afundar a Lady debaixo de si. Essa lutou de volta, arranhando-a e se debatendo, mas apesar da briga prosseguir para socos e chutes, Heiwas continuou por cima —Agora!

—Me mostre aquele monstro e talvez tenhamos um acordo!

—Ela não é um monstro!

—Por favor, eu vi o que ela fez! —Ela gritou com alegria, puxando o cabelo de Minkah com uma mão e puxando o casaco verde com a outra —Ela gosta tanto de sangue quanto eu gosto de roubar…

—Cale a boca! Ela. Não. É. Um. Monstro! —A cada palavra que saía de sua boca, um puxão forte era dado, ambas lutando com ferocidade pela esfera. Como sempre acontece em confusões desse tipo, a pokébola escapou das mãos e voou para longe.
 
   Ela se abriu com um estalo, liberando um Pidgey de aparência nada agradável. O pássaro voou em direção à gata, suas asas enormes fazendo barulho na noite escura.

—Tackle!
—Growl!

    Ambas gritaram enquanto tentavam se desenrolar da bola de membros. Pidgey, sendo a criatura obediente que era, pousou na frente da felina e afofou suas penas em uma bola fofa, bocejando alto antes de voltar para o sono do qual havia sido tirado. Purrloin, vendo sua oportunidade, aproveitou para gritar um rosnado horrível que poderia causar até pesadelos na ave, apesar de que, essa, não parecia se importar muito quando virou a cabeça e enterrou o bico em suas costas.

Round 1:

—Por que eu ainda tento?

—Por que você é idiota —A dama felina riu, apertando a mão envolta do braço da jovem e tentando derrubá-la. Heiwas puxou para trás em um movimento repentino e rapidamente retornou o Pidgey para sua esfera, gritando para que Eevee se mexesse e fizesse alguma coisa.

   Ele correu para tomar o lugar do pássaro e ganhar vantagem, mas foi rapidamente surpreendido pelo Scratch de Purrloin, que desceu sobre ele em um conjunto de garras afiadas e alongadas.

—Eeeee!

Round 2:

  Resistente e determinado como era, Ìlléos chacoalhou o pelo para espantar a dor e se jogou em cima do felino, as patas caindo pesadamente sob o pelo macio do peito, fazendo-a cuspir o celular por causa do impacto e esmagando-a com força na terra. Eevee abocanhou o celular e saltou para longe, contudo Purrloin, vingativa e geniosa, puxou suas garras e as cravou no flanco da raposa, quase o derrubando se não fosse por sua reação rápida.

Round 3:

—Eu com certeza vou ser promovida quando entregar esse monstro para a chefia!

—Nos seus sonhos, ladra! —Gritou com a raiva inflamando seu peito —Ìlléos, Alattí, vamos! —Minkah se levantou em um ímpeto de força e Eevee acompanhou seu movimento, correndo para chegar ao seu lado.

   Ele não parou, nem mesmo quando o felino roxo ficou entre ele e sua treinadora. Com um grunhido de bravura, a raposa acelerou, as patas praticamente deslizando pela terra, um brilho branco cintilando ao seu redor; e acertou a gata com um Quick Attack, superando-a e seguindo a forma em fuga da jovem pesquisadora.

Round 4:

   Minkah é que não ficaria para tentar capturar a ladra. Não era sua função, mesmo que parte dela pensasse que sim, e ela já havia recuperado o celular —babado? Babado. Com a tela rachada? Talvez, mas ainda sim inteiro —, e aquela mulher lhe dava calafrios o suficiente para lhe fazer acreditar que havia passado sete dias presa numa nevasca. Ainda bem que ela estava saindo no dia seguinte.

—Pelo amor de Arceus! Estou fora desse drama.

    Depois de costurar pelas ruas ao som de seu coração desesperado, Heiwas encontrou o dono do celular ainda sob o poste, transtornado, e prontamente o devolveu. Sorrindo com simpatia e apenas aceitando o dinheiro por causa da insistência do homem. Depois foi tudo questão de notificar a base da polícia a qual estava conectada sobre a vigarista à solta em Pallet e voltar para o caminho de onde tinha vindo, sempre olhando por cima do ombro e os passos em um ritmo tão rápido que ela quase estava correndo.

—Pra mim chega!

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {10/10} +1 Hapiness
Eevee {10/10} +1 Hapiness

A última noite da pesquisadora na casa de Daisy foi passada com conversa alta e animada e o cheiro de biscoitos permeando o ar em uma nuvem pesada e deliciosa de odores. Havia teoria da conspiração, murmúrios de segredos e lançamentos de possibilidades que Heiwas poderia ter achado ridículo se fosse dito por qualquer outra pessoa que não fosse Daisy. Mas a Srta. Oak foi amável o suficiente para acompanhá-la durante a noite toda, ajudando-a organizar as pilhas de folhas jogadas e acumuladas pelo canto da casa como se sempre pertencessem ali e não ao caderno depenado de Minkah. Ela esteve com ela enquanto montava sua carta sobre seu último dia em Pallet e foi quem ligou para polícia quando contou sobre o assalto, esquecendo que a própria Heiwas não era mais uma criança indefesa —que ela havia enfrentado monstros e treinadores estranhos e nevascas congelantes e levado uma porrada de sua bolsa rosa choque.

Sendo a neta do Grande Professor Oak e a curandeira da cidade, a polícia não tardou em aparecer pela manhã, conforme o pedido de Daisy, e nem demorou em jogar promessas de prender a ladra que Heiwas desconfiava muito que seria compridas, afinal, ela parecia estar ligada a uma equipe de criminosos que soava realmente perigoso. Tudo corria bem e Heiwas estava pronta para se despedir e partir quando o personagem secundário cujo nome Minkah ainda não tinha registrado disse:

—Oh, então você está indo para Oldale?

—Hã, sim…? —A burra respondeu, totalmente alheia ao polvo oportunista que se agarrava a ela no formato de um sorriso cheio de dentes e uma farda azul.

—Ótimo, não se importaria de nos fazer um favor, né? —Disse com entusiasmo, colocando um papel nas mãos da garota —Temos pouca gente e tempo e a Srta. Sesemann precisa ir para Oldale. Você não se importaria de acompanhá-la, não é? Claro que não! Afinal já estava indo pra lá, mesmo!

Ele se foi antes que ela pudesse negar —coisa que não faria, visto que era só uma rota mesmo. Mesmo assim, ela se sentia estranhamente indignada e na vontade de negar o favor só por causa disso. “Que folgado”.

—Eee! —Seus olhos voltaram a se concentrar na figura de seu Eevee mordendo e brincando com a barra do vestido de Daisy, que apenas sorria um sorriso cruel enquanto tentava enxotá-lo.

—Folgado —Repetiu em um murmúrio descontente, como se contasse uma piada de mau gosto em que ela própria protagonizava. Pegando a raposinha no colo e se inclinando mais uma vez em desculpas, Heiwas fitou o chão com firmeza e gritou: —Obrigada por tudo, Daisy! Foi muito divertido!

A moça de cabelos castanhos longos sorriu, mordendo o lábio levemente para não rir. Heiwas era adorável, fazendo aquele arco profundo e respeitoso; constrangida por ter ficado por tanto tempo na casa da mulher mais velha. De repente, um grande carinho veio sobre ela e a adulta colocou a mão pesadamente sobre o ombro da jovem, sentindo os olhos arroxeados da menina se erguerem para fitá-la em duas grandes esferas cristalinas. O calor suave no coração da médica persistiu e o sorriso dela se alargou em algo mais triste e esperançoso. Saudades.

—Espero que você encontre tudo que esteja procurando.

Heiwas sorriu de volta, do mesmo jeito, e, então, se jogou nos braços de Daisy, apertando-a com força. Segurando-a como se fosse à última vez que ela a veria. Era engraçado como ela não teria tido a coragem de fazer isso há dez dias atrás, mas que, agora, deixá-la era a última coisa que queria fazer. “Mas pássaros precisam sair do ninho e voar”.

—Eu vou.

E com isso, a garota a deixou, dando as costas para sua amiga e saindo porta afora na direção de sua nova missão e de seu novo destino. Heiwas sentiu que estava começando a acumular mais do que perguntas. Ela estava acumulando amigos.

—Eu vou chegar ao fundo desse mistério, Daisy —Disse para si mesma, sorrindo para seus dois parceiros —Eu prometo!

Ela estava começando a acumular promessas.

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