Quando Burgh disse que a assistente cuidaria dos detalhes, não imaginei que ela fosse cuidar de TODOS os detalhes. Tipo. Um exemplo! Ela pediu meus documentos, registro geral e também o da comissão organizadora de contest. Número de celular, palpad, holotransfer, email, redes sociais e outros contatos. Perguntou minhas MEDIDAS, e não contente com as respostas me levou para uma salinha simples onde, com auxílio de uma trena, media minhas cinturas e altura. É, tudo bem, ela tinha razão, eu tinha emagrecido um pouco e crescido outros tantos. EI!! Viver sozinho e manter a rotina de alguém que tinha a própria nutricionista não é fácil. Rotinas... Enfim, só para ter uma noção, ela quis saber até se eu estava saindo com alguém, me entregando um termo de confidencialidade!! Como se eu fosse um fofoqueiro vendido que fosse ficar divulgando coisas por ai. Só respirei fundo e continuei com a moça, pois era ela quem cuidava da agenda de Burgh e não me informaria nada se não fizesse o que ela me pedia. Acontece que nem sabia se podia assinar um termo daqueles. Sabe... acordos assinados podiam colocar um Estado abaixo se não cumpridos, por isso que o li duas vezes e ainda assim relutei.

Toda aquela entrevista cansativa e burocrática durou o triplo do tempo que passei com o representante da cidade. Ela nem mesmo me ofereceu outra xícara de chá. Ao menos consegui a informação de onde me encontrar com Burgh depois.

-- Lugar: Santalune Forest
- próximo a entrada da cidade
-- Horário: 3:30 pm
- não atrasar!
-- Vestuário: roupas leves, sunga/cueca branca; bota; sem acessórios
- não passar repelente!!
-- Rosto: maquiagem natural, sem excessos ou acessórios

OKOK. A parte da cueca branca me assustou. Será que era pra não exagerar na calcinha ou ir sem, por isso foi enfática? Eu não queria nem saber a resposta pra não desistir, porque além se humilhante, eu realmente queria ser a nova musa de Burgh e estava empolgado com isso.

Depois do almoço me arrumei com uma regata branca básica, calça jeans skinny, a tal da cueca branca, mas na forma slim, meias e um coturno preto. Estava doido para levar uma jaqueta, mas não via como "leve". Já estava repensando no jeans... então levava uma bermuda de viscose na bolsa caso necessário. Assim então, com a cara bem lisa, só na skin care, fui enfrentar uma floresta que nunca imaginei que entraria. Não que tivesse medo. Tinha pavor. Entenda: todos os comentários na internet diziam que era um caminho sem fim. Eu NUNCA entraria num lugar que me tiraria mais de 2 dias para atravessar. Como estaria na presença do líder, não me preocupei tanto.

Estava na entrada da floresta, na divisa com Santalune, 10 minutos adiantado. A verdade era que estava pronto fazia uma hora. Ansioso que chama, papai.

Burgh apareceu no horário marcado, bem pontual. Ele usava uma roupa bem fresca, lembrando um pouco Bugsy, com algumas telas que permitiam o ar passar para ter circulação interna. Inteligente. E muito legal.

- Boa tarde - Ele me cumprimentava, lançando uma piscadela enquanto se aproximava. - Como vai minha musa?

Tudo bem, acho que a cueca branca não foi uma boa ideia, senhorita assistente!

- Ansioso - respondia com sinceridade. - E um pouco nervoso também para ser sincero. Ninguém nunca me viu como alguém digno de merecer destaque assim. É engraçado vindo de um membro real, mas... Sempre tinha alguém mais importante.

Evitava o contato visual no momento, olhando para o horizonte ao lado, com olhos marejados. Por muitos motivos não davam-me o devido valor em casa. Estava buscando provações nessa jornada. Por isso aquele reconhecimento era tão... bom!

Quando me dei por mim, Burgh já estava bem próximo, com uma das mãos em meu rosto, segurando pelo queixo para que fitasse apenas seus olhos e não tivesse escapatória. Ele ficou me encarando por alguns segundos em silêncio e sem dizer nada me senti importante.

- Quero que minha musa permaneça com esse brilho - ele disse por fim, me entregando um sorriso gentil. - Vamos, quero te mostrar uma coisa.

Burgh então segurou em minha mão e me puxou para a mata fechada.

Não puxe deixar se sentir um medo no início, mas ter alguém segurando minha mão foi... diferente. Era como se fosse um protect contra movimentos sombrios. Você sabia que a coisa estava lá querendo te ferir, mas via aquela aura esverdeada fazendo de tudo para não deixar nada entrar. Sentia meu rosto aquecer por pensar nele assim. A última vez que vi alguém daquela forma foi Nanaue e acabei me frustrando.

Como eu disse, o medo. Isso se dava pela falta de luz solar no lugar. As árvores se misturavam de forma a reter qualquer coisa que tentassem entrar por cima. Isso explicava o motivo da vastidão de insetos no lugar, já que os predadores não tinham por onde entrar e fugir, visto que sua maioria eram voadores. Eu estava entendendo que essa aura sombria e esse medo não eram racionais, e sim algo da sensibilidade mágica que estava desenvolvendo aos poucos.

- Eu amo tanto essa floresta - Burgh disse, me tirando da cabeça. - Graças aos esforços dos patrulheiros, conseguimos transformar o lugar numa reserva natural. Caçadores são proibidos de agirem aqui e os pokémon podem viver em paz. Vez ou outra Bugsy é visto fazendo estudos de caso e lutando contra criminosos em defesa dos nossos amados pokémon insetos.

Burgh era incrível. Dava para ver que os olhos dele também brilhavam quando falava de algo que era apaixonado. Sua especialidade não se limitava apenas aos que treinava, mas a todos os outros, livres e aqueles que precisavam de ajuda.

- Achei que iria trazer sua assistente e mais alguns, como uma equipe - disse, quando paramos de andar.

Ele então soltou minha mão e me olhou um pouco confuso.

- Não precisamos de mais ninguém para o que vamos fazer hoje.

Senti imediatamente meu rosto arder. Ele deve ter percebido que fiquei envergonhado, porque riu.

- Vem - ele estava com a mão esticada, me chamando para perto de si. Quando lhe toquei, fui puxado para perto. Ele me segurou com apenas um braço pela cintura. - Me abrace e segure firme. Não me solte por nada.

Tudo bem, aquilo já estava virando uma fic muito elaborada e minha cabeça estava começando a confundir as coisas. Impossível estar tendo um encontro romântico com tantas frases de efeito com Burgh assim. Nós nem nos conhecíamos! Acontece que antes deu poder responder, um fio de seda chegou ao outro braço dele e entendi o motivo das palavras. Nós estávamos subindo! Suspensos no ar em meio a uma floresta densa e cheia de selvagens, nós dois estávamos indo alcançar a copa das árvores. Não queria misturar as coisas mais do que minha cabeça fazia isso por si só, mas a cena de um ambiente natural, cheio de essência mágica, Burgh me segurando com força e dizendo palavras gentis e cheias de emoção, deixava tudo mais brilhante. Ainda estávamos no meio do espaço quando ele tirou os olhos do céu e me encarou, entregando outro sorriso compassivo. Meu coração bateu mais forte. Engoli em seco. Queria muito beijá-lo. Queria que ele me abraçasse mais forte. Que não me soltasse e esse momento durasse mais que o necessário. Ao invés disso me afundei no peito dele e ali fiquei pelo restante do percurso. Seria ousadia demais investir dessa forma com alguém que estava apenas sendo gentil e atencioso.

Quando paramos de subir, senti algo debaixo dos pés. Abri os olhos, sem me afastar de Burgh e fiquei ainda mais maravilhado. Estávamos numa espécie de casa da árvore MUITO bem elaborada e meio que secreta. As cores de mesclavam com as árvores e substâncias produzidas pelos insetos locais. O mais incrível era que dava para ver perfeitamente a parte inferior da floresta numa panorâmica, mas não era apenas isso. Havia um segundo andar com uma escadaria para o outro nível, totalmente aberto, que tinha apenas uma sacada/passarela, que dava para o superior da floresta. Era o único local que conseguia identificar que a luz solar era convidada a entrar.

Olhei para Burgh e ele ainda estava sorrido. Eu ainda não tinha soltado ele. Não percebi. Estava confortável com o calor do corpo ele ao meu, mas me envergonhei quando percebi.

- Desculpe - disse baixinho.

Ele riu.

- Gostaria de lhe apresentar alguém. - Por detrás dele saiu um ser verde e amarelo com postura ereta e uma classe respeitosa. - Essa é minha parceira fiel para todos os momentos. Leavanny, conheça Ali, minha mais nova musa.

Como dito, classuda. A Leavanny se curvou em cumprimento. Surpreso, fiz o mesmo, respeitando o costume.

- É um prazer conhecê-la, senhorita. - Eu disse, sendo presenteado ainda com uma frutinha azul bem conhecida.

Não imaginei que meu dia fosse terminar de maneira tão agradável, visto que comecei em um ginásio a procura do líder dele.

- Vamos. Quero que aprecie a vista. - Burgh disse.

Assenti e o segui.

O sol estava para se pôr e a luz era dourada sobre minha pele. A vista de Santalune sendo banhada com aquele esplendor de uma tarde de primavera era perfeita, junto de toda a natureza ao nosso redor.

- Obrigado por me trazer até aqui. - Eu disse por fim. - O que precisa da sua musa?

É claro que era esquisito me chamar assim. Preferia quando ele dizia. Ele? Apenas ficou me observando. Depois negou.

- Nada. Apenas seja você. Sua alegria me inspira e é só disso que preciso. Seu olhar brilhante. Seu sorriso fofo. Suas palavras inteligentes e comedidas - ele ria e depois se aproximava colocando uma das minhas mexas por detrás da orelha. - Até mesmo quando fica envergonhade perto de mim. Esse sentimento que é tão transparente quanto sua alma é bonito demais. Só um louco não perceberia o quão magnífico Ali Malik é e não daria a devida importância que essa pessoa extraordinária merece.

Sabe aquilo que estava gritando na minha cabeça? Agora batia forte no meu peito. Era tão alto que parecia ser constrangedor. Minha pela negra deveria estar agora vermelha como cheri.

- Já estou cheio de inspiração e sou grato por ter passado essa tarde comigo. Obrigado. - Burgh disse por fim.

E eu não me contive mais.

Meus lábios secos tocaram os dele e por cinco ou seis segundos houve uma explosão dentro de mim. Foi como se aquele barulho contido tivesse aval para liberar o mais alto som para que o mundo todo pudesse ouvir e se possível também ver. Eu me sentia etéreo, incrível, completo, invencível. Quer dizer, só nesse curto espaço de tempo, porque depois que a razão me pegou, ela me jogou com força no chão e ainda esfregou minha cara no asfalto. Me afastei depressa e senti meu corpo tremendo com a reação que Burgh teria.

- Desculpe, e-eu não deveriia.. - Burgh me calou. Não com palavras, não com a mão na minha boca ou com o silêncio que se fez na sequência, mas com uma resposta úmida. Ele passou um mão pelas minhas costas e me puxou para perto, tendo outra mão no meu rosto, devolvendo o beijo que agora não parecia mais apenas do meu querer. Sentia desejo e mais que cumplicidade. Nunca tinha beijado ninguém antes. Não sabia o que fazer e onde colocar as mãos, mas Burgh me guiava como um cavalheiro guia uma dama pela pista de dança. Apenas não resiste e lhe abracei, dançando junto a ele.

- Nunca peça desculpas por algo tão puro quanto o que acabou de fazer. Como eu disse antes, sua alegria me inspira, Ali.

Foi tudo o que ouvi até o final da tarde, quando voltamos juntos para a cidade.

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