Nem tudo que vivo tem forma

Tão certo é um defeito

A Torre Bellsprout balançava em um ritmo único e ininterrupto, alheia a qualquer interferência externa. Parecia ser sustentada por uma força sobrenatural, uma vez que um edifício tão grande como aquele não deveria ser tão flexível assim. Mas a Torre era.

Kalisto encarava o prédio em absoluto silêncio, em um estado contemplativo, movendo sua cabeça no mesmo ritmo da construção. O pesquisador parecia hipnotizado. E a torre balançava de forma contínua... contínua... contínua, num movimento tão inexorável quanto o próprio tempo.

"Tempo, tempo, tempo. Quanto tempo o tempo tem?" Em um momento de reflexão esquizofreniforme, Kalisto lembrou-se desse trava-línguas antigo, que ouvira pela primeira vez ainda garoto no Orfanato onde cresceu. Era um trava-línguas? Ele não se lembrava mais. Esses pequenos detalhes da memória vão se perdendo com o tempo.

"Tempo! De novo ele! Esse negócio que ninguém nunca viu, mas que tá aí, controlando nossas vidas." Os pensamentos do pesquisador iam se tornando cada vez mais anárquicos, flutuando livremente sem destino ou finalidade.

E a Torre Bellsprout balançava, sem se importar com a psiquê desconexa de Kalisto.

- Se eu fosse você não ficaria encarando essa torre assim. - A voz soou longe em sua mente, mas foi o bastante para puxá-lo de volta à realidade. Rowen piscou algumas vezes na tentativa de afastar aquela agonia pálida que tomava conta de seus pensamentos. Quando abriu seus olhos definitivamente, um homem o encarava com curiosidade. Era um senhor atarracado, careca e que parecia ser bem idoso. Vestia roupas leves e largas demais para ele, com cores neutras que oscilavam pouco entre os tons de cáqui. - É sua primeira vez aqui, não é?

Kalisto olhou para o homem por alguns segundos sem saber o que responder, dando a impressão que as palavras tinham todas fugido de sua cabeça. O silêncio se estender por segundos exageradamente longos, até que um raio de Sol atravessou as nuvens do céu nublado, expulsando a escuridão da mente do pesquisador. - Ãhn, sim, meio que é. Já estou na cidade há uns dias mas nunca vim aqui na Torre. - A voz de Rowen soou vacilante, como se ele estivesse falando em uma língua que não era fluente.

- Huuuum, entendo. - O idoso apertou seus olhos e continuou encarando Kalisto, parecendo procurar alguma coisa. Rowen sentiu-se inspecionado da cabeça aos pés, e de repente tomou conhecimento do quão sujo e fedido deveria estar, depois de passar um dia inteiro dentro das Ruins of Alph.

O Sol voltou a se esconder atrás das nuvens e a mente do jovem policial foi tragada para escuridão. Kalisto não se sentia dono de si. Seus olhos viam, seus ouvidos ouviam, sua pele sentia, mas tudo isso parecia estranho, como se visto através de outra pessoa. Encarou suas mãos (as mãos eram mesmo suas?) e percebeu detalhes que tinham lhe fugido após todos aqueles anos: os calos proeminentes, as cicatrizes de um acidente com uma faca no Orfanato e até um pequeno monte de sujeira acumulado debaixo das unhas.

Esdruxulamente, aquilo era... bom. Parecia que o peso das ações e responsabilidades de Kalisto tinha sido removido definitivamente. Ele se sentia leve, livre, e por um segundo pôde jurar que até flutuou.

- Você está mesmo precisando de ajuda, rapaz. - Por algum motivo, a voz do homem despertou algo dentro de Kalisto, uma ojeriza destilada invadindo seu corpo. O pesquisador começou a ser consumido por uma raiva que ele sequer sabia que era capaz de sentir. Cerrou seus punhos preparando-se para dar um soco. - Vamos entrando.

O homem passou por Kalisto quase como se ele não estivesse ali. Todos os instintos do policial diziam que ele deveria seguir adiante, mas seu corpo resistia aos comandos. Uma lufada de ventou quente soprou de dentro da Torre, carregando consigo o cheiro das velas e incensos usados dentro do lugar. Por algum motivo, aquilo gerou um lapso de consciência em Rowen, que entrou na Torre.

Por dentro, a estrutura era ainda mais fascinante que do lado de fora. O pilar central balançava e levava consigo toneladas de madeira e pedra que sustentavam o edifício de pé. Velas estavam acesas pelo salão e homens vestidos exatamente como o velho que Kalisto vira na entrada se reuniam em pequenos grupos, conversando, cantando ou realizando algum tipo de ritual. Em um altar na parede atrás da coluna central, o homem que Rowen encontrou na entrada acenou para ele, mandando que ele se aproximasse.

- Você lembra como chegou aqui? - Perguntou, assim que Kalisto aproximou-se o suficiente para ouvir. A voz do idoso voltou a despertar um sentimento de raiva no pesquisador, mas algo naquele altar o impediu de crescer.

- É claro que sim. Eu estava nas Ruins of Alph, depois fui ao Centro Pokémon e depois... - suas palavras morreram no ar. Rowen escavou sua memória tentando extrair detalhes do caminho que fizera do Centro Pokémon de Violet até a Sprout Tower, mas não existia nada. Era tudo um grande vácuo, como se ele tivesse simplesmente desaparecido em um lugar e aparecido no outro.

- Você não sabe porque nada disso é real. Kalisto, isso é um sonho. - O homem colocou sua mão sobre a chama de uma vela, e baixou-a vagarosamente até que seus dedos estivessem cercados pelo fogo.

Rapidamente, Rowen avançou na direção do homem e retirou a mão dele dali, só para ver seus dedos completamente intactos. Ainda descrente, aproximou sua própria mão das chamas e não sentiu nada - nem o menor calor que seja. Tocou na vela e ela se desfez em um monte de cinzas. De repente, todo o lugar começou a se desfazer. As pessoas, a madeira, o céu, todos os elementos que compunham aquele cenário sumiram num instante, soprados como se nunca tivessem existido.

- Que merda é que tá acontecendo aqui? - Perguntou Kalisto, olhando para os lados só para constatar que não tinha nada para olhar. Sentia como se a própria substância da realidade tivesse desaparecido.

- Um Pokémon chamado Marshadow habita na Sprout Tower. Ele foi atraído pela escuridão da Torre e agora vive à espreita, atacando alguns treinadores desavisados. E ele atacou você. - Cada palavra do homem fazia Rowen se agitar mais. Seu coração acelerava, seus dentes trincavam, seus olhos focavam na jugular do idoso se movendo enquanto ele falava. "Vai ser muito fácil acabar com você", pensou. - Por sorte, conseguimos te encontrar ainda na entrada da Torre e estamos realizando um ritual para expulsar o Marshadow. Não deve demorar muito.

Kalisto avançou de punhos cerrados. Cortou a distância entre ele e o velho mais rápido que achava que conseguiria. O rosto do homem era de espanto quando sua mão desceu... e tudo sumiu.


Rowen abriu os olhos assustado, sentindo uma pressão enorme sobre seu peito, o cheiro de incenso invadindo seu nariz. Olhou ao seu redor e viu que estava no meio de um círculo formado por uma dezena de homens vestidos igual ao que estava em seu sonho. Estava encharcado de suor.

Antes que pudesse começar a falar, algo gritou e saltou para fora de suas sombras. Era uma forma humanoide, preta como a noite, que desapareceu antes que ele pudesse gravar com convicção a sua feição.

- Eu estou... vivo? - Foi a única frase que conseguiu formular.

- Sim, está. - O homem dos seus sonhos estava materializado à sua frente, sentado em uma almofada que o deixava acima dos demais. Ele falava com dificuldade, puxando o ar com força à cada pausa em sua frase. - O Marshadow nos odeia, principalmente a mim. Não é de se espantar que ele fez de tudo para tentar me impedir.

- Como você conseguiu me salvar?

- Nós já lidamos com ele há algum tempo. Esse ritual não é nada fácil, mas é o melhor que conseguimos fazer. - Os acólitos ao redor de Kalisto sorriam de satisfação. Então, Rowen começou a tremer. Seus olhos pesaram e seus músculos falharam em mantê-lo de pé. - Melhor você descansar, rapaz, conversamos melhor quando você acordar.

E mais uma vez, Kalisto foi tragado para os braços do sonho.

Atualizações:

Off:

Missão:

Brigo eu, você briga também

Por coisas tão banais

Demorou um dia inteiro para que Kalisto conseguisse voltar a si.

Sob os cuidados dos monges da Sprout Tower, sua recuperação foi bem mais rápida do que achara que seria - eles provavelmente usaram algum ritual para ajudar no processo de cura - e Rowen se sentia disposto para continuar fazendo sua pesquisa na Torre. Assim que se pôs de pé, sua Teddiursa pulou fora da Pokéball e desapareceu, indo atrás de outro item. O pesquisador aproveitou o momento para entregar sua Cherri Berry para Shuckle - ele queria ver como sua capacidade de formar itens a partir das frutas funcionava.

Naquela manhã, o Policial andava pelo segundo andar observando atentamente o treinamento dos monges com seus Pokémon - quase todos Bellsprout. Eles pareciam intimamente conectados, com os tipo planta movendo-se rapidamente de um lado para o outro, disparando ataques poderosos ao menor comando de seus treinadores. Além disso, a forma como balançavam seus corpos se assemelhava muito à forma como a própria Torre balançava, quase como se fossem movidos pela mesma força.

Uma sensação estranha fez com que os pelos de Kalisto se eriçassem. Olhou ao redor amedrontado, o coração palpitando com medo de o Marshadow estar novamente tentando se apoderar dele. Mas não encontrou o Pokémon lendário. Uma análise rápida e mais minuciosa do lugar encontrou a provável fonte daquele arrepio: uma adolescente que parecia se espremer em um dos cantos da sala o encarava de forma fixa. Suas roupas eram marcadas por cores que oscilavam pouco entre o preto e o vermelho, em um tom marcadamente gótico que destoava da forma como os monges se vestiam e seus olhos pareciam estranhamente vazios - ou talvez cheios de coisas que Rowen jamais conseguiria identificar.
 
Kalisto conhecia bem a sensação de ser um adolescente que se sente permanentemente fora de seu lugar. Ele crescera em um Orfanato e acabou desenvolvendo uma afeição especial por crianças solitárias como aquela. À despeito de todos os seus sentidos dizerem o contrário, se aproximou da garota e falou: - Oi, meu nome é Kalisto. Como você se chama?

- Meu nome é Luna, e eu sei como você se chama: os Pokémon já me contaram rsrs. - A risada da garota foi seguida por outra risada maior, oca e gutural. Kalisto colocou-se em posição de batalha e sacou uma Pokéball sua, só para ver um Banette rindo de sua cara aparecendo detrás da garota. - Não precisa se preocupar, ele não morde rsrs.

- Ah, certo. - falou, controlando sua respiração e diminuindo seus batimentos cardíacos. - Por que você está me encarando, Luna?

- Eu queria te pedir um favor, mas não sabia como rsrs. - Kalisto arqueou as sobrancelhas, curioso, e assentiu com a cabeça pedindo para a menina continuar com seu pedido. - Os Pokémon me contam as coisas que acontecem na Torre, sabe? E eu ajudo eles como posso, mas tem uma coisa acontecendo agora que eu não posso fazer nada. - Ela não sorriu ao fim dessa frase. - Tem dois Pokémon na Torre brigando e incomodando todo mundo aqui. Você pode colocar um fim nisso, por favor??

Antes que Kalisto pudesse responder, um estrondo ressoou por todo o andar. Os monges pararam o que estavam fazendo e recolheram seus Pokémon, afastando-se do lugar enquanto balançavam a cabeça em desaprovação, como se já estivessem acostumados com toda aquela bagunça.

- São eles, olha! - Luna apontou para uma parte do salão onde uma espada lutava contra um humanoide baixo. Apontando sua Pokédex, Rowen identificou os dois causadores de tudo aquilo: Honedge e Meditite.

- Ei, vocês dois aí, parem com isso. - O pedido de Kalisto foi completamente ignorado pelos Pokémon. O Pokémon espada saiu da bainha e avançou na direção de seu adversário, acertando-lhe um golpe transversal que Rowen identificou como um Fury Cutter. O tipo fantasma começou a rir do dano causado, deixando sua guarda baixa para ser atacado com um Confusion de Meditite.


- Faça eles pararem, por favor. - As súplicas de Luna tocaram fundo em Kalisto. O pesquisador sacou duas de suas Pokébolas e liberou os dois Pokémon que usaria para acabar com aquilo: Wingull e Mudbray.

- Wingull, use Gust no Meditite; Mudbray, use Bulldoze. - Os adversários ainda estavam distraídos quando Rowen se meteu na briga deles. Wingull bateu suas asas rapidamente, acertando uma forte lufada de ar que empurrou Meditite para longe de seu rival. Honedge olhou na direção do tipo voador furioso, mas antes que conseguisse revidar o chão começou a tremer.

Serragem caía do teto e até o pilar central da Torre pareceu desacelerar ante ao poderoso ataque de Mudbray.


- Wingull, use Water Gun no Honedge; Mudbray, continue com seu Bulldoze.

Wingull voou na direção do teto do andar e desceu rodopiando, liberando uma poderosa onda de água potencializada pelo seu Mystic Water. Honedge foi pego ainda se recuperando do ataque de Mudbray, e não teve defesa diante do golpe. Em contrapartida, Meditite foi mais rápido que Mudbray. O tipo lutador adiantou-se e com um movimento simples e efetivo acertou um chute em uma das pernas de Mud.

Honedge, por seu lado, pareceu gravemente ferido por todos os ataques, mas encontrou uma brecha para contra-atacar. Seu corpo brilhou em uma cor preta e projetou uma garra de aura roxa, que arranhou Wingull e o derrubou de seu voo. Era um ferimento de batalha considerável.

Mudbray mancava, sua perna gravemente ferida. Entretanto, apesar dos ferimentos, voltou a sacudir todo o andar com seu Bulldoze. Dessa vez, algumas lascas de madeira se descolaram do teto e fragmentos do chão do andar caíram. Kalisto sabia que não podia continuar com aquela batalha, se não toda a Torre - e toda cidade de Violet - sofreriam as consequências.

Por sorte, o último ataque de Mudbray foi o suficiente para pôr um fim naquilo. Quando o chão parou de tremer, restavam os corpos desmaiados de Honedge e Meditite.


- Obrigado, obrigado, obrigado rsrs. - Luna apareceu de lugar nenhum, abraçando Kalisto alegremente.

- Por nada. - respondeu Rowen, meio sem graça. - O que nós fazemos com eles? - perguntou, apontando para os dois Pokémon caídos.

- Pode deixar eles comigo, vamos ter uma conversa séria assim que eles acordarem rsrs.

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Off:

Missão:

Ela tem um olhar de cobra

Que toda hora paralisa o meu

Luna prometeu falar com Kalisto caso precisasse de ajuda com outros Pokémon descontrolados na Tower, e saiu para levar o Honedge e o Meditite feridos para o Centro Pokémon. O Pesquisador estava sozinho novamente.

Os monges e os visitantes ainda não tinham voltado a povoar o andar depois de a briga ter sido separada. O Sol já se encontrava alto no céu e Kalisto calculou que deveria ser por volta de meio-dia. Todo o salão estava iluminado e só então Rowen pôde ver os desenhos e inscrições entalhados nas paredes dos prédios. As figuras eram, majoritariamente, Bellsprout's de diversos tamanhos e cores, organizados em círculos parecidos com os que os monges faziam durante suas reuniões.

Um som chamou a atenção de Kalisto. Era baixo e agudo, quase inaudível e sumia e reaparecia em intervalos irregulares. No começo, o Policial achou que fosse sua imaginação, mas o som continuou e Rowen teve a certeza que era real.

Caminhou lentamente na direção da origem do som, olhando cuidadosamente para os poucos cantos escuros do andar para se certificar de que não tinha nada escondido por ali. Era uma fresta no chão de madeira, um buraco que talvez já existisse antes mas que fora ampliado por Mudbray durante a batalha. Kalisto olhou dentro dele e viu um pequeno movimento. Aproximou-se um pouco mais, com o rosto a poucos centímetros da fresta, e algo saiu de dentro do buraco. Por puro reflexo, jogou seu próprio corpo para trás e o objeto (?) passou próximo de seu rosto.

O barulho aumentou e Rowen finalmente identificou o que era: o sibilar de uma cobra. O Pokémon moveu-se dentro do buraco e Kalisto finalmente pôde vê-lo por completo. Era pequeno, minúsculo na verdade, com o corpo em um tom de azul muito escuro, a cauda e a cabeça pintadas em roxo. Ele estava enrolado sobre si mesmo e levantava sua cauda acima de sua cabeça, como se apontasse uma faca para o Policial.

Olhando com atenção, Rowen percebeu uma farpa enorme encravada em sua cabeça, bem entre seus olhos. "Deve ter caído ali pelos ataques de Mudbray no chão".

- Oi, pequeno. Isso aí deve estar doendo muito, não é? Eu posso te ajudar. - Kalisto segurava uma Potion em suas mãos. Aproximou lentamente o item do Pokémon, que permanecia imóvel. O pesquisador sabia como aquilo não queria significar nada: Pokémon acuado se tornam absurdamente imprevisíveis, e ele poderia usar aquela cauda afiada para cortar os dedos de Kalisto fora. De toda forma, o Policial sentia que era sua responsabilidade ajudar aquele Pokémon, afinal de contas a culpa dele estar ferido era sua.

Quando estava próximo o bastante, Kalisto borrifou a Potion no lugar que a farpa estava enfiada e tirou a mão rapidamente, bem no momento que a cauda do Pokémon cortou o lugar onde ele estava. Alguns segundos depois, o Pokémon pareceu se acalmar. Baixou a cauda e encarou a farpa em sua cabeça com surpresa, sem entender porque a dor tinha passado.

Rowen aproveitou a oportunidade para segurar a cauda do Pokémon parada e puxar a farpa de sua cabeça rapidamente, soltando-o logo em seguida.

Nesse momento, a Teddiursa de Rowen reapareceu, trazendo consigo uma Pokéball, e Kallisto falou: - Eu ainda vou descobrir onde você arruma essas coisas. - A Pokémon apenas sorriu para seu treinador e começou a correr em sua direção. No meio do caminho, não percebeu um pequeno desnível no solo que fez com que ela caísse e deixasse a Pokéball saísse rolando pelo salão da Tower.

O pesquisador tirou os olhos da Pokémon serpente por apenas um segundo. Ela se recompôs rapidamente e rastejou na direção da esfera metálica, tocando-a com a cabeça no exato lugar onde a farpa estava enfiada. A Pokéball abriu-se e antes que Kalisto entendesse o que estava acontecendo, uma nova captura foi registrada em sua Pokédex.

Atualizações:

Off:

Missão:

Ficha - Baby Seviper:

Corujinha, corujinha, que peninha de você

Fica toda encolhidinha, esperando não sei quê

Desde o encontro com a Baby Seviper algumas horas antes, o dia de Kalisto tinha sido absolutamente tranquilo. Ele continuou com suas pesquisas sobre a Sprout Tower e os efeitos sofridos pelo lugar após o  Grande Cataclismo sem ser perturbado. Além disso, registrou um dos inúmeros Bellsrpout da Torre em sua Pokédex, porque por algum motivo ainda não tinha feito aquilo. O policial também aproveitou o interlúdio em suas batalhas para recuperar seus Pokémon, usando duas Potion em Wingull e uma em Mudbray, que ficaram totalmente curados da batalha anterior.

Para finalizar sua tarde, aproveitou para entregar um dos seus  Exp. Candy XS para Teddiursa. Kalisto pretendia manter a Pokémon consigo por muito tempo, mas não tinha oportunidades boas o bastante para colocá-la para batalhar - muito por conta do comportamento errático da pequena. Por isso, o uso dos doces ajudaria com que ela ficasse em nível parecido com o resto do time.

O Sol já tinha se posto quando Kalisto terminou de ver tudo que queria naquele andar da torre e foi para o de cima. Durante suas horas sendo cuidado pelos monges da Torre, conseguiu ouvir algumas conversas entrecortadas relacionadas ao sábio que vivia no topo da Sprout Tower, e que não fora visto em outro lugar nos últimos anos. Ele parecia morar em estado de completa a autoexclusão do mundo, vivendo de itens levados até ali por seu Pokémon. O homem aceitava desafios de batalha e presenteava os vitoriosos com um item especial.

Rowen não estava pessoalmente interessado nas batalhas - se tornara um pesquisador por isso - mas o item em si lhe despertava curiosidade.

Chegou ao último andar da Torre. Uma lufada do gélido ar noturno trouxe consigo um forte cheiro do incenso das velas espalhadas pelo lugar. Em um altar no fundo do salão, um homem parecia mexer em alguns objetos; ele movia-se com a serena determinação de quem sabe muitas coisas. Pareceu notar a presença de Kalisto imediatamente, e com um movimento de cabeça pediu para que o pesquisador se juntasse a ele. Calmamente, Rowen foi até o homem - seus passos ecoando pelo andar vazio.

- Boa noite, senhor. Meu nome é Kalisto, gostaria de uma audiência. - Estendeu a mão e o homem retribuiu seu movimento com um aperto firme, quase sem desgrudar os olhos do altar a sua frente. Rowen olhou para a mesa que chamava tanta atenção do sábio mas não viu nada demais ali, apenas duas estátuas de Bellsprout que pareciam ter sido esculpidas por uma criança.

- Boa noite, rapaz. Meus acólitos me chamam de senhor, mas você não precisa fazê-lo, por favor. Pode me chamar apenas de Li. - A voz do homem era calma e doce, carregada da firmeza distinta de quem lidera um culto ou uma religião. Kalisto já ouvira aquele mesmo timbre e escolha de palavras diversas vezes em sua vida, nas visitas que igrejas faziam ao Orfanato e nas vezes que religiosos visitavam a delegacia onde ele trabalhava. Decidiu imediatamente que não gostava do homem. - Quanto a sua audiência, não precisa pedir, já estamos conversando, não?

- Eu me refiro a uma batalha, Li. - Deixou propositalmente a última palavra preencher o ar por um tempo exageradamente longo, para demonstrar a seriedade de seu pedido. Em geral, Kalisto não era uma pessoa irritada ou pentelha, mas o movimento constante da Torre já o estava deixando nauseado e ele estava realmente curioso quanto à natureza do item que o homem tão misteriosamente retinha.

- Sim, entendo. - Elder Li pegou as duas estátuas e guardou em seu robe, andando na direção contrária ao altar e convidando Rowen para ir com ele.

A Lua Cheia apareceu na abóbada estrelada do céu, formando uma linda imagem do firmamento, e jogou sua luz dentro do salão onde o Sábio e o Policial estavam. Algumas velas dispostas em uma região retangular pareciam demarcar o limite de um campo de batalha e terminavam de compor o jogo de luz do lugar. Kalisto se perguntou se era realmente seguro ter tantas fontes de fogo em uma Torre feita exclusivamente de madeira, mas a calma do ancião parecia transparecer que batalhas ali já aconteceram diversas vezes, sem nenhuma adversidade.

- Lançamos ao mesmo tempo, jovem. - Rowen limitou-se a concordar com a cabeça. - Em 3, 2, 1.

As Pokéball se abriram simultaneamente, revelando a primeira batalha: de um lado, o Bellsprout do Sábio balançava no ritmo da Torre, do outro, a Wingull de Kalisto planava a poucos metros do chão.

- Você tem a vantagem de tipo, vamos fazer o que vai fazer com isso. - A escolha de Wingull era óbvia: com tantos Bellsprout no lugar, Rowen já esperava que o ancião usasse o Pokémon. Felizmente, sua previsão estava certa. - Bellsprout, não se preocupe com isso. Vamos começar com o de sempre, use Flash!

- Wingull, assuma a dianteira com Gust.

O Pokémon de Kalisto era mais rápido e se moveu primeiro. Começou a bater suas asas rapidamente, lançando uma poderosa lufada de ar na direção de Bellsprout. A tipo planta não conseguiu se mover, sendo atingida pelo ataque e empurrada alguns metros para trás. A força dos ventos apagou algumas velas do chão.

No contra-ataque, a Bellsprout começou a brilhar forte, lançando uma luz cegante que iluminou todo o andar por um segundo antes de desaparecer. Os olhos de Kalisto demoraram a voltar ao normal diante daquilo, mas seu Wingull parecia não ter sido afetado - voava tranquilamente pelo campo de batalha.

- Huum, Keen Eye, imagino. - O Sábio olhava para o Pokémon adversário pensativo. Kalisto tinha esquecido da habilidade de seu Pokémon, mas ela veio bem a calhar no momento certo. - Essa rodada de repente ficou complicada para a gente, mas vamos prosseguir com o seu Vine Whip.

- Mantenha o seu Gust, Wingull.

Dois chicotes de vinha apareceram dos flancos de Bellsprout, contudo eles não serviram de nada: mais uma rajada de ar disparada por Wingull acertou seu adversário em cheio, finalizando a batalha em dois movimentos rápidos.


- Você escolheu bem seu primeiro Pokémon, e também teve um grande golpe de sorte com a habilidade dele. - O Sábio retornou seu Pokémon e a agradeceu pela batalha. - Vou ter que mudar a abordagem e levar essa batalha para o alto.

O Sábio não lançou nenhuma Pokébola, apenas assoviou baixo, em um volume quase inaudível. Imediatamente, um corujar ecoou dentro do andar. Kalisto olhou ao redor e não viu nada através do breu do lugar, mas a fonte do barulho rapidamente apareceu na frente de Wingull, quase como se tivesse se materializado no espaço.

Os dois Pokémon se encararam com determinação e Kalisto notou que Wingull parecia atipicamente perturbado com seu adversário. "É a primeira vez que ele enfrenta outro tipo voador. Isso vai ser interessante", pensou o pesquisador, enquanto registrava o Hoothoot do Sábio em sua Pokédex. Em seguida, ordenou o ataque: - Wingull, Water Gun.

- Vamos começar com Hypnosis, por favor.

Wingull era mais rápido que seu adversário. Voou ao redor de Hoothoot disparando um poderoso jato d'água que acertou em cheio o adversário, deixando-o encharcado e molhando todo o campo de batalha abaixo. Algumas velas foram apagadas pelos respingos que voaram. O Pokémon coruja não ficou parado, seus olhos começaram a brilhar em uma cor rosa e ondas etéreas saíram deles, na direção de Wingull. Com sua velocidade, o tipo água conseguiu equivar-se do ataque, mas Kalisto não soube como sequer ele conseguiu enxergar o ataque no meio de toda aquela a confusão.


- Esse seu Wingull é um adversário muito bem treinador, rapaz, meus parabéns. - Kalisto não se sentiu especialmente lisonjeado pelas palavras do Sábio, mas ele próprio tinha que reconhecer que seu Pokémon estava mesmo lutando bem. - Hoothoot, já que não conseguimos acertá-lo, vamos fazer algo do qual ele não vai conseguir desviar: use Echoed Voice.

- Mantenha o Water Gun. - Mais uma forte torrente de água acertou Hoothoot, mas dessa vez seu contra-ataque não foi em vão. O corujar do Pokémon começou a ecoar de novo por todo o andar, porém muito mais forte e alto que da outra vez, machucando os ouvidos de Wingull e fazendo com que ele perdesse um pouco de altitude no voo. Kalisto lembrou-se que seu Minccino também usava aquele mesmo movimento e já sabia onde aquilo acabaria.  

- Temos que parar isso antes que fique pior. Mude para Supersonic. - A ideia de Kalisto era que as ondas sonoras de baixa frequência emitidas pelo Wingull atrapalhassem a ofensiva do Hoothoot, mas isso não aconteceu. Seu movimento foi engolido pelo Echoed Voice do Hoothoot, que ficou ainda mais alto, fazendo o próprio Kalisto tapar seus ouvidos.


- Merda. - Kalisto deixou escapar a palavra quando viu seu Pokémon perdendo ainda mais altura, com olhos cansados. Aquela batalha já estava acabada, mas ele poderia causar um pouco mais de dano antes de estar devidamente terminada. - Water Gun novamente, Wingull.

Mais um jato de água foi disparado pelo Pokémon de Rowen, acertando em cheio Hoothoot, que pareceu pouco afetado com o ataque.

- Derrube com seu terceiro Echoed Voice, por favor. - O barulho balançou todas as velas do andar, fazendo as que estavam mais próximas de Hoothoot caírem no chão molhado e se apagarem. Wingull também caiu após ser acertado pelo ataque, fora de combate.


Kalisto recolheu seu Pokémon caído e o agradeceu pelo esforço na batalha. O Hoothoot voava em uma altura relativamente baixa e o Sábio Li encarava Kalisto, como se tentando ler sua mente. Rowen respirou fundo. Era a primeira vez que um Pokémon seu desmaiava em batalha desde que mudara para a carreira de Pesquisador, e mesmo que não gostasse tanto assim de batalhas, era sempre uma imagem ruim ver um Pokémon querido para você desmaiado.

- Só tenho um Pokémon capaz de derrubar esse Hoothoot. - Sacou uma de suas Pokébola e a lançou para o alto, revelando seu Shuckle. O tipo rocha olhou para os lados sem entender bem o que estava acontecendo, um pouco perdido no meio daquela escuridão. Era sua primeira batalha e Kalisto não gostava da ideia de colocá-lo diante de um adversário tão forte. Mesmo assim, era o que precisava ser feito. - Shuckle, mantenha o foco ali em cima, aquele Hoothoot é seu adversário. Vamos começar com Defense Curl.

O Pokémon de Kalisto recolheu-se dentro de seu casco, ampliando sua defesa.

- Continue no ataque. - E mais uma vez o tipo voador gritou alto, mais alto que todas as vezes anteriores. Kalisto tapou seus ouvidos novamente, mas mesmo assim pôde sentir o barulho entrando pelos ouvidos até seus tímpanos. Aves voaram para longe da Torre e o pesquisador viu vultos se distanciando daquela batalha. Dentro de seu casco, Shuckle não esboçou reação.

- Shuckle, use Rollout. - Antes que Shuckle pudesse se mover, Hoothoot gritou mais uma vez, causando ainda mais danos no tipo rocha. Shukcle, por seu lado, pareceu desnorteado pelo ataque, pois rolou na direção errada, falhando em acertar seu adversário.


- Shuckle, use Rollout novamente.

O tipo voador era mais rápido e mais uma vez usou o Echoed Voice para atingir seu adversário. Dessa vez, o abrulho foi tão alto que Kalisto pôde jurar que a Torre ficou com o movimento alterado... ao menos um pouco. Shuckle, por seu lado, conseguiu se concentrar em seu adversário, saltando alto enquanto rolava para acertá-lo em cheio, derrubando-o no chão.

- Shuckle, encerre com isso com mais um Rollout. - Antes que Hoothoot conseguisse se recuperar do impacto da queda, Shuckle deu a volta no campo de batalha e o acertou novamente, deixando-o fora de combate.


- Morre, diabo, que inferno de Pokémon. - Kalisto estava visivelmente irritado como estivera poucas vezes em sua vida. Hoothoot tinha sido um adversário muito pior do que ele tinha previsto anteriormente, e não fosse por Shuckle aparecendo no momento certo, aquela batalha poderia ir por um caminho bem ruim rapidamente.

- Acalme-se, Kalisto, você precisa de mais temperança para lidar com as adversidades. - O Sábio retornou seu Pokémon para a Pokébola e lançou outra para o campo de batalha. - Esse é meu último Pokémon. Vamos ver o que você ainda tem guardado. Bellsprout, use Sleep Powder.

O Pokémon tipo grama balançou suas folhas lançando um pó esverdeado na direção de Shuckle. Fosse por um golpe de sorte ou por ter visto o ataque, o tipo rocha conseguiu desviar rolando do movimento, e acertou o Bellsprout diretamente com o seu terceiro Rollout em sequência.

- Bellsprout, mude para Growth. - A Pokémon do Sábio começou a absorver a luz da Lua, aumentando sua força ofensiva. Shuckle teve a chance perfeita para encerrar de vez a batalha, com mais um Rollout. Infelizmente, o tipo rocha errou o ataque, parando de girar e perdendo todo o ímpeto que tinha ganho.


- Shuckle, continue usando seu Rollout. - Kalisto respirou fundo para não praguejar mais uma vez.

- Bellsprout, ataque com Vine Whip. - Dois chicotes de vinha surgiram de Bellsprout, indo em direção ao Shuckle e o acertando sequencialmente com poderosos golpes. Os ataques deveriam ter sido mais efetivos, mas o casco de Shuckle ainda estava endurecido pelo Defense Curl usado no início da batalha.

Rapidamente, Shuckle começou a rolar novamente, envolvendo as vinhas de Bellsprout em seu casco. O tipo rocha moveu-se com velocidade, acertando a planta em cheio e carregando ela e suas vinhas consigo pelo campo de batalha molhado.

- Finalize com mais um Rollout. - O ímpeto do tipo inseto não diminuiu; ele deu a volta, mas antes que conseguisse atacar foi acertado por mais um Vine Whip, que o deixou fora de combate.


- Boa batalha, Shuckle, você foi ótimo. - Kalisto estava realmente satisfeito com o desempenho de seu Pokémon. Em outra realidade, se aquele Rollout não tivesse errado, ele teria conseguido vencer. - Vamos colocar um ponto final nisso, Mudbray.

A tipo solo pisou com força no chão ao ser invocada, pronta para a batalha. - Mud, use Body Slam e acabe com isso. - Mudbray era mais rápida que Bellsprout, movendo-se pela escuridão do salão com passos fortes e rápidos. Antes que a tipo planta tivesse tempo de reação, foi acertada com todo o poder do corpo de Mud, caindo fora de combate.


- Foi uma ótima luta, Kalisto, meus parabéns. - O Sábio Li recolheu seu último Pokémon e saiu andando na direção do altar, sinalizando para que Kalisto o acompanhasse.

- Suponho que tenha vindo até aqui por isso. - O monge abriu uma das gavetas do altar e puxou um disco cinza lá de dentro; na sua superfície, estava escrita a palavra "Flash". - Você vai encontrar muitos desses discos durante sua jornada. Eles contém gravações sobre movimentos diversos e podem ser usados para ensinar para o seu Pokémon um ataque que ele não aprenderia normalmente. Esse é meu presente para você.

O Policial pegou o item em suas mãos e o girou algumas vezes, analisando sua composição, mas não encontrou nada aparentemente especial naquele disco. De toda forma, decidiu guardá-lo em sua mochila; talvez viesse a ser útil qualquer dia. - Obrigado.

- Não precisa agradecer, jovem, você fez por merecer. Agora, se me dá licença, tenho que cuidar dos meus Pokémon desmaiados. Espero te encontrar novamente algum dia, rapaz. - E com um movimento de mão, Rowen foi dispensado do andar.

Os pés do pesquisador estavam encharcados, a Lua já estava demasiadamente alta no céu e o andar da Torre estava muito mais escuro que quando Kalisto chegou ali. Ele precisava descansar. Passaria no Centro Pokémon da cidade para dormir e recuperar seus Pokémon; retornaria para a Torre no dia seguinte.

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Códigos:

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Missão:

Brincadeira de criança

Como é bom, como é bom

Kalisto foi até o Centro Pokémon para dormir e recuperar sua equipe, além de entregar um Exp. Candy S para Mudbray, retornando para a Sprout Tower no dia seguinte. O pesquisador sentia que o lugar ainda guardava muitos mistérios e queria tentar descobrir um pouco mais sobre toda a corrupção que envolvia a Torre.

Naquela manhã, percorreu o caminho já conhecido até a Sprout Tower com ar renovado. Contudo, antes que conseguisse colocar o primeiro pé dentro da Torre, um Pokémon estranho apareceu. Era uma ave grande e verde, de formato cilíndrico, com asas enormes que cobriam todo seu corpo enquanto ela estava no solo. O Pokémon encarou Kalisto por segundos estranhamente longos e o Pesquisador ficou desconcertado com aquilo, sem saber ao certo como reagir - além de registrar aquele espécime raro em sua Pokédex.

De repente, os olhos de Xatu começaram a brilhar em um tom de azul celeste. Rowen desviou o olhar com medo de algo acontecer consigo, mas ele não sentiu nada. Quando voltou a encarar o Pokémon, ele ainda o olhava, mas seu rosto exibia uma expressão que parecia uma risada.

- Hahahahaha - Um homem rindo apareceu na porta de entrada da Torre, e andou na direção de Kalisto com passos rápidos.

- O que aconteceu?

- Ah, não é nada de mais, não se preocupe, só uma brincadeirinha que eu e Xatu fazemos às vezes. - O monge olhou para seu Pokémon com confidencialidade, e ambos riram de forma contida. - Eu me chamo Tatsuma Suguro, muito prazer! - Kalisto retribuiu o aperto de mão do monge, de forma contida. Não entendia o que estava acontecendo e não gostava disso.  

- Me chamo Kalisto Rowen. Que tipo de brincadeira é essa? - Suas sobrancelhas arqueadas deixavam claro que o Policial não estava entendendo nada.

- Nós gostamos de esconder uma coisa sem valor dos outros com um Pokémon da Torre, para fazer as pessoas procurarem um pouco lá dentro. - Tatsuma esperou Kalisto dar alguma resposta mas o pesquisador manteve a mesma expressão impassível. Por isso, ele perguntou: - Você não está dando falta de nada?

Kalisto tateou seus bolsos e mochila e fez um checklist mental de cada item: Pokédex, aqui; carteira, aqui; Rotom Phone, aqui; ItemFinder, aqui; distintivo da polícia... não está aqui! - Pra onde você mandou meu distintivo da Polícia?

- Eu já falei, está com algum Pokémon dentro da Torre, mas não me pergunte qual porque nem eu sei. Hahahahaha. - Kalisto preparou-se para protestar, mas antes que conseguisse dizer qualquer coisa Tatsuma e seu Xatu sumiram, usando o Teleport para longe de sua vista.

O pesquisador procurou o distintivo uma última vez em seus bolsos, mas tudo que achou foi um bilhete escrito com uma caligrafia horrível dizendo: "Assim que encontrar seu distintivo, me procure pra receber o prêmio. Uma brincadeira não tem graça sem uma recompensa, não é? :)"

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Te salvando com a minha teia

Prazer, me chamam de Homem-Aranha, seu herói

Kalisto segurava o bilhete em sua mão, ainda incrédulo. O monge tinha infringido alguns artigos do código penal por furtar o distintivo dele, mas parecia simplesmente não se importar; do contrário, para ele era tudo uma brincadeira.

O Policial respirou fundo.

Era melhor que o lado sisudo de sua personalidade ficasse recluso, enquanto a parte mais leve cuidava de toda a situação. Não tinha nenhum motivo para aquilo virar um incidente legal ou acabar na delegacia. Além do mais, os monges tinham sido muito bons com ele até então para ele retribuir dessa forma.

Respirou fundo mais uma vez e entrou na Torre.

Na parte interna, o ambiente estava tão agitado quanto estivera nos dias anteriores: turistas tiravam fotos, posando ao lado das estátuas e das figuras nas paredes; monges andavam de um lado para o outro, realizando rituais que apenas eles conseguiam entender; alguns Pokémon fantasma ocasionalmente apareciam nas sombras, só para desaparecer no momento seguinte. Kalisto não viu seu distintivo com nenhum deles.

Enquanto andava pelo hall de entrada, notou um pequeno Pokémon aracnídeo caminhando pelas tábuas que sustentavam o teto. Apontou sua Pokédex e registrou o achado: Spinarak. Enquanto lia os dados do tipo inseto, uma informação lhe chamou a atenção: aquele Spinarak tinha uma habilidade diferente das que são comuns à espécie. Rowen decidiu que precisava estudar mais sobre ele e, para isso, iria capturá-lo.

Lançou Wingull de sua Pokébola e ordenou: - Wingull, use Gust. - Antes que o aracnídeo percebesse, uma forte lufada de ar o atingiu, derrubando-o do telhado.


Spinarak virou-se para Wingull irritado, batendo suas quelíceras uma na outra. Pudera, ele estava cuidando de sua vida quando foi covardemente atacado por outro Pokémon. Para tentar para o tipo voador, o aracnídeo teceu rapidamente uma gama de fios e a jogou no Pokémon de Kalisto. Apesar dos esforços, aquele simples movimento não seria o suficiente para impedir o ataque seguinte.

- Wingull, use Gust novamente. -Mais uma poderosa batida de asas e Spinarak desmaiou. Rowen arremessou sua Pokébola nele, oficializando a captura.

Assim que a esfera metálica se fechou com o tipo inseto dentro, ela desapareceu, como se nunca estivesse ali. Sua Pokédex registrou a captura e indicou que o Pokémon foi encaminhado para sua box, porque Kalisto já tinha o máximo de 6 Pokémon consigo.

Uma de sua Pokébola da mochila abriu-se sozinha, e antes que Rowen percebesse sua Teddiursa já tinha sumido de novo. - Aaargh, toda hora isso.

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Ficha - Spinarak:

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Doente de amor

Procurei remédio na vida noturna

Rowen não imaginava que um Pokémon tão >esquisito< quanto aquele pudesse ser encontrado na Torre. Entretanto, lá estava o Drowzee, encarando-o com seus olhos estranhos e o corpo semi-coberto de lama.

Kalisto o encontrou por acaso, enquanto procurava o seu distintivo, e até tentou convencer o Pokémon a sair do seu caminho, mas ele parecia irredutível em sua vontade: sentia-se desafiado e exigia uma batalha. O pesquisador respirou fundo - pela quinquagésima vez naquela manhã - e xingou o maldito monge algumas vezes mentalmente. Em seguida, sacou a Pokébola de Mudbray e o liberou para o combate.

- Se você quer uma batalha você vai ter. Mud, use Body Slam! - A tipo solo avançou, seus passos esmagando o chão sob seus pés, e atingiu Drowzee com todo o peso de seu corpo. O tipo psíquico foi arrastado por Mud por vários metros colidindo contra uma das paredes da Sprout Tower.

O lugar tremeu (um pouco, só um pouquinho, mas tremeu) e Drowzee ficou visivelmente ferido, com um enorme hematoma na parte anterior do seu corpo. Nesse momento, o tipo psíquico aproveitou a oportunidade de seu adversário para acertar um Pound em Mudbray. O ataque foi basicamente inócuo, e só serviu para deixar Mudbray com mais vontade de continuar atacando.

- Termine com mais um Body Slam. - A tipo solo voltou a jogar seu corpo contra Drowzee, deixando-o fora de combate com a força do golpe.


Kalisto recolheu o item que o Pokémon selvagem carregava consigo e guardou-o em sua mochila. Enquanto fazia isso, percebeu um pequeno ferimento de frio no braço esquerdo de Drowzee. Era estranho aquilo - o inverno já tinha passado há muito tempo e o Sol imperava nos céus do continente -, mas Rowen decidiu não investigar aquilo no momento. Tinha outras prioridades.

Depois de dois dias completos vasculhando cada centímetro quadrado da Sprout Tower, não havia muitas coisas que Kalisto ainda não tivesse visto. Claro, os Pokémon eram interessantes, o movimento contínuo da Torre era algo único e a filosofia dos monges renderia horas de discussões acaloradas ao redor de uma garrafa de cerveja em uma mesa de bar. Mesmo assim, o Policial estava cansado. Não só por já ter explorado tudo no lugar, mas principalmente por não ter a liberdade de ir embora.

Rowen odiava sentir-se preso - a qualquer lugar, pessoa ou situação - e agora era justamente assim que se sentia: invariavelmente preso à Torre até encontrar seu distintivo e finalmente poder ir embora. A maior liberdade que existe é a de ir, e ele não tinha isso no momento.

Subindo as escadas, Teddiursa apareceu com uma Pokéball na mão, orgulhosa de mais um achado.

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Missão:

E agora que você me vê?

Eu to tão perto de você, meu bem

Era quase meio-dia quando Kalisto finalmente se cansou daquela busca. Os andares começavam a confundir-se uns com os outros, sua cabeça doía e ele estava especialmente frustrado. A certo ponto, pensou seriamente em chamar a Polícia, mas voltou atrás naquela ideia mais uma vez.

Recostou-se numa das paredes da Torre, sentindo-se nauseado pelo movimento constante do lugar. A alguns metros de onde estava, ouviu alguma coisa rosnando em sua direção. Olhou para lá e observou um Pokémon pequeno, parecido com um cachorro, e totalmente preto. Seus pelos eriçados e suas presas à mostra indicavam uma intenção ofensiva. Rowen estava impaciente para uma batalha, mas se seu pequeno adversário fazia tanta questão assim...

- Mudbray, Double Kick. - Falou, após lançar a Pokéball de sua tipo solo para a batalha. Também aproveitou o momento para registrar o Poochyena em sua Pokédex.

Mudbray era mais rápido que seu adversário. Com um rápido avanço, se colocou diante dele e desferiu um poderoso coice, que empurrou Poochyena contra o pilar central, fazendo com que o Pokémon cambaleasse, quase desmaiado. Mesmo assim, o pequeno avançou contra a Pokémon de Kalisto, desferindo um Bite contra sua pata dianteira direita.

- Termine com Mud Slap. - E assim, pouco depois da batalha começar ela acabou. O golpe de lama acertou o pequeno, deixando-o fora de comabte.


Kalisto recolheu o a Berry que o Pokémon carregava e guardou-a na mochila, e continuou a andar, procurando pelo seu distintivo.  

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É por isso que à noite eu procuro andar assim

Pelas sombras dos pés de arvoredo

O ar estava denso e pesado, como Kalisto nunca tinha visto em momento nenhum. Nem na Ponte Flecha Celeste, quando Mew se disfarçou de um monstro para assustá-lo, sentiu uma atmosfera tão opressora ao seu redor.

Devia ser algo entre três e quatro horas da tarde, mas não havia sequer um raio de Sol dentro da Torre, e todos os ruídos esperados de um ponto turístico tão importante não existiam. Era como se uma esfera de vácuo tivesse repousado sobre o lugar, impondo sua natureza soturna. Rowen respirou fundo e seus pulmões pareceram ter inspirado gelo.  Aquilo estava estranho demais, até para os padrões da Torre.

No canto de seu olho, notou uma fonte de luz que contrastava com toda a escuridão do lugar: uma vela queimava de forma tênue, frágil demais para iluminar mais que alguns metros ao seu redor. Sua chama tremeluzia de de maneira caótica, e eventualmente uma lufada de ar tentava apagar o fogo, que mantinha-se acesso com uma teimosia admirável.

Kalisto percebeu que a fumaça que ela voava da chama era diferente. Durante seus dias com os sábios, percebeu que as velas queimavam calmamente, com uma fumaça branca, quase translúcida, para não interferir na atmosfera calma do lugar. Aquela, por outro lado, exalava uma fumaça preta e escura, absolutamente opaca. Era a única acessa em todo o andar. Soprou para tentar apagar a chama mas não conseguiu. Ao invés disso, sua fumaça mudou de aspecto. Começou a girar em torno de si mesma, formando um círculo e em seguida uma esfera. De repente, a fumaça mudou de cor, assumindo tons de roxo. Dois olhos surgiram. Uma boca se abriu e uma língua saltou para fora.

Rowen recuou dois passos, encarando aquela forma estranha, quase sobrenatural. Sentiu seu coração acelerar dentro do peito e o suor escorrer pelo rosto. Suas mãos ficaram frias e pela primeira vez em muito tempo ele começou a tremer. No fundo, esperava que fosse mais um sonho, mas aquilo tudo parecia real demais.

Antes que pudesse perceber, a fumaça que formava uma aura ao redor daquela coisa começou a se espalhar pela sala, não mais presa em seu corpo. O Pokémon (aquilo era um Pokémon) avançou. Rowen saltou para o lado quando ele flutuou em sua direção, cobrindo seu nariz e sua boca para não inspirar aquele gás. Levantou-se rapidamente e lançou seu Wingull para a batalha, ordenando um ataque:

- Wingull, use Water Gun. - O tipo água disparou uma forte corrente de água de sua boca, potencializada pelo Mystic Water que carregava em seu pescoço. o adversário foi acertado, resistindo contra a força da água sem ser empurrado.

Subitamente, desapareceu em meio à névoa, seu corpo se desfazendo como se estivesse mesclado à própria atmosfera. Wingull voou atordoado, procurando o inimigo por todos os lados, mas nem sua visão potencializada pelo Keen Eye foi útil. De repente, a esfera gasosa se refez atrás do voador, cobrindo-o com uma sombra ainda mais escura que o mundo ao seu redor. Isso deve ser um Night Shade, pensou Kalisto.

Antes que o Pokémon adversário conseguisse se desfazer novamente, uma labareda tomou conta de seu corpo, e o fantasma gritou de dor. Rowen finalmente apontou sua Pokédex para o adversário, identificando-o como um Gastly.   


- Ele ficou queimado na vela? - Kalisto falou baixo, mas sua voz pareceu ter despertado algo adormecido no Pokémon adversário. Gastly olhou para o pesquisador com ódio. Seus olhos estavam esbugalhados, sua boca abriu-se ainda mais, de uma maneira completamente não-anatômica. Rowen sabia que algo ruim viria em seguida e que ele precisava encerrar aquilo logo. - Wingull, Water Gun de novo.

Antes que o Gastly conseguisse se mover, uma rajada de água disparada por Wingull acertou seu corpo ferido, deixando-o nocauteado.


Kalisto lançou uma Pokéball no fantasma caído. A esfera acertou o corpo semi-gasoso do Pokémon, tremeu 3 vezes e fechou-se completamente.

A Pokédex de Kalisto brilhou diante da captura, sinalizando com um barulho que ele ainda não tinha ouvido. O Pesquisador pegou o item em mãos e leu o aviso que piscava em sua tela: "Shadow Pokémon capturado. Clique para mais detalhes."

Antes que Rowen conseguisse clicar na tela para entender o que aquilo significava, notou um objeto no lugar no qual o Gastly estivera desmaiado. Mesmo no escuro, reconheceu a forma e a cor do seu distintivo de longe. Andou cautelosamente até o objeto, analisando seus arredores para caso algo surgisse das sombras.

Assim que tocou em seu distintivo, viu uma luz piscando em sua frente, um homem se materializando no ar.

- Olha só, você encontrou seu distintivo! - Mesmo antes de levantar os olhos, Kalisto reconheceu a voz de Tatsuma. Ele era o motivo de o pesquisador estar há tanto tempo preso na Torre, e Rowen sentiu-se tentado a dar um soco no homem. - Não precisa se irritar, Kalisto, foi só uma brincadeirinha. Olha, pegue aqui, eu disse que tinha uma recompensa pelo seu trabalho. O homem arremessou um item na direção do Policial, que pegou o objeto ainda no ar.

- O que é isso?

- Esse Gastly que você acabou de capturar é um Shadow Pokémon. Resumindo, são Pokémon mais fortes e mais violentos que o normal, que precisam ser purificados. Eu acabei de te dar um Joy Scent, eles ajudam na purificação. Mas cuidado quando for lidar com Shadow Pokémon, rapaz, eles não costumam ser fáceis... - Tatsuma deixou sua voz morrer no ar, e encarou Kalisto como se o estivesse vendo pela primeira vez. - Mas me parece que você vai conseguir lidar com eles... De qualquer forma, existem outros Joy Scent e outros Shadow Pokémon na Torre. Se quiser saber mais sobre isso, é só procurar.

E da mesma forma estranha que apareceu, Tatsuma sumiu no ar, seu Xatu o teletransportando para longe dali, deixando Rowen sozinho com seus próprios pensamentos. Shadow Pokémon é? Parecia um tópico interessante e sobre o qual o pesquisador sequer tinha ouvido falar nos livros que leu quando era mais novo.

- Parece que vou passar mais um tempo nessa Torre.

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Ficha Gastly:

Missão:

A luz e a escuridão

Fazem par, verso e reverso

Seus itens finalmente tinham voltado a funcionar e Kalisto decidiu usá-los prontamente. Primeiro, ativou seu ItemFinder, que piscou feito um louco dentro da Torre, mas no fim acabou apontando para um Repel que estava escondido atrás de um altar. O pesquisador refletiu por um tempo se aquele item era uma oferenda ou algo do tipo, mas em última instância decidiu que podia pegá-lo. Depois de tanto trabalhar naquela torre, era o mínimo que tinha direito.

Então, sacou seu PokéRadar. Sua expectativa é que o aparelho lhe trouxesse um Pokémon único, uma revelação em meio àquela Torre repleta de mistérios e de seres especiais. Sua expectativa só se equiparou à sua decepção quando o item lhe mostrou um Gastly. E nem era um Gastly Shadow, Shiny ou algo do tipo. Era apenas um Gastly. Uma unidade de Gastly flutuando diante dele.

- Aaaargh. - A frustração do Policial era quase palpável, escorrendo em suas palavras e ações. - Vamos dar um jeito nisso, Wingull. - Uma Pokéball abriu-se, revelando um Wingull confuso para a batalha. - Sim, sim, eu sei, mais um Gastly, eu também não fiquei nada feliz. Vamos acabar logo com isso, por favor. Use Water Gun.

O jato de água acertou o Gastly antes que ele entendesse que estava em uma batalha, causando danos consideráveis e derrubando a vitalidade do Pokémon. O tipo fantasma contra-atacou com mais um Nigth Shade, assim como o Gastly anterior fizera, mas os danos foram baixos. Wingull ainda voava tranquilo quando o turno acabou.

- Wingull, acabe com isso usando mais um Water Gun. - E assim, tão subitamente quanto começou a batalha chegou ao fim. O Gastly caiu desmaiado, fora de combate, e Rowen continuou a andar na Torre.


Kalisto aproveitou o interlúdio em seu trabalho na Torre para coletar o Rare Candy que Shuckle produzira ao longo da semana, e para entregar uma nova berry ao Pokémon. Então, decidiu escalar todos os andares da Torre para conversar com o Sábio que vive no topo dela. Era mais uma das coisas que o Pesquisador fazia à despeito de sua vontade, mas ele estava curioso quanto ao que ser um "Shadow Pokémon" significava e quais as implicações que seu Gastly teria por ser um portador dessa condição.

Por sorte, Elder Li tinha o hábito de viver recluso em seu espaço pessoal na Sprout Tower, de forma que Rowen o avistou com facilidade assim que chegou no andar.

- Bom dia, Kalisto. - O Policial hesitou ao ouvir a voz do homem. Não tinha gostado dele de primeira, mas achava que tinha sido apenas sua antipatia crônica à lideres religiosos falando mais alto. Agora, desconfiava que não era apenas isso. Tinha definitivamente algo de estranho na forma como o Sábio se portava, e principalmente na forma como ele sempre parecia saber o que acontecia naquele andar da Torre. - Pode chegar mais perto, você sabe que eu não mordo.

Rowen respirou fundo e deu um passo inseguro adiante. Ao perceber que nada de especialmente ruim aconteceu, sentiu-se mais confortável em aproximar-se de Elder Li.

- Boa tarde, senhor. Desculpe o incômodo, mas queria lhe perguntar algumas coisas. - Kalisto tentava transmitir autoridade em suas palavras, mas elas soaram menos seguras do que ele pretendia. O Sábio olhou na direção dele, analisando o Pesquisador de cima abaixo como se nunca o tivesse visto antes. Então, acenou positivamente, e Rowen voltou a falar: - Há poucas horas eu encontrei e capturei um Shadow Pokémon nessa Torre. Quero saber se você pode me contar um pouco mais sobre eles.

À menção da expressão "Shadow Pokémon", o Sábio parou imediatamente o que estava fazendo e prestou atenção em cada palavra de Rowen. Assim que o Policial terminou de falar, o homem deu um sorriso contido, e Kalisto percebeu diversos detalhes em sua feição que acusavam sua idade: as rugas na testa, linhas de expressão ao redor dos lábios, olhos com cores estranhas, parecendo que uma catarata começava a se desenvolver dentro das órbitas. Subitamente, Rowen se pegou pensando sobre quantos anos e quanto de sua vida o Sábio desperdiçara ali dentro daquela Torre. O mundo devia ser outro desde a última vez que ele pisou do lado de fora daquelas paredes de madeira.

- Sim, sim, eu entendo um pouco sobre isso... Um Shadow Pokémon é um Pokémon corrompido por emoções ou experiências negativas, que podem tanto surgir de conflitos internos quanto terem origem no ambiente no qual ele vive. - Sua voz assumiu um tom professoral, mas Kalisto sentia um fundo de tristeza em suas palavras. - Essa corrupção os torna agressivos e extremamente perigosos, por isso eles precisam ser abordados com cuidado. Alguns treinadores se dedicam exclusivamente no trabalho de "Purificar" esses Pokémon, dedicando suas vidas nessa jornada. Eles são chamados de purificadores.

O homem deixou a última palavra morrer no ar. Enquanto Kalisto esperava que ele continuasse, sentiu seu cérebro trabalhando rapidamente para absorver todas aquelas informações. Aparentemente, os Shadow Pokémon não eram um evento raro - ao contrário, movimentavam todo um ecossistema de treinadores e pessoas dispostos a erradicar esse problema.

- Antes de ser um Sábio eu fui um purificador. - A voz de Elder Li puxou Rowen de volta à realidade. Os olhos do homem agora fitavam as paredes da Torre, mas Kalisto suspeitava que ele olhava para algo além da madeira - além do tempo presente, para um passado já muito distante. - Tudo mudou no dia que eu encontrei essa Torre. De cara, eu sabia que tinha algo de errado aqui. Uma escuridão vil e sórdida faz morada nesse lugar. Há anos eu tento encontrar uma forma de purificá-la mas parece impossível.

O Hoothoot de Elder Li surgiu pela janela e empoleirou-se no ombro direito do velho e encarou-o com seus olhos gigantes. A proximidade e a confiança mútua entre os dois fez Kalisto perceber que os dois deviam ser uma dupla há muitos anos, talvez muito mais anos que ele tinha de vida. O pesquisador sentiu-se uma criança ao pensar nisso.

- Existe algo que eu possa fazer para ajudar?

- Sim - O homem falou rapidamente, quase como se esperasse aquela pergunta. - Você pode derrotar todos os Shadow Pokémon que encontrar nessa Torre. A cada trio que derrotar, volte aqui para pegar um Joy Scent, é um item que ajuda no processo de purificação e vai ser útil para seu Gastly.

- Tudo bem. Eu vou indo, então, tenho trabalho a fazer. - Rowen acenou para o Sábio e virou-se na direção da escadaria que levava ao andar inferior. Entretanto, antes que começasse a descer, ouviu uma frase que o irritou profundamente.

- O seu distintivo vai estar escondido no próximo Shadow Pokémon também. Tatsuma sumiu com ele de novo e você nem notou. - O humor de Elder Li pareceu um pouco melhor e o Pesquisador até poderia jurar que ele sorriu.

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Te chávando para melhorar

Bebendo um chá delicia

Kalisto achava que já tinha visto de tudo: Mew se disfarçando de monstro para assustar treinadores, um Wingull perseguindo um bebê >Skarmory<, Marshadow invadindo o sonho de humanos, levando-os à loucura. Tudo isso parecia razoável para ele, depois de algumas semanas em sua jornada, e achava que esses acontecimentos absolutamente incomuns o tinham preparado para tudo.

Por ser tão cheio de si e achar que já entendeu o mundo completamente é que se assustou quando aquele Pokémon extremamente único (?) apareceu flutuando em sua frente. Era uma xícara de chá. Apenas isso: uma xícara de chá. Tinha dois olhos enormes e uma gota do líquido que carregava dentro de si escorria por uma pequena parte quebrada de sua própria estrutura, mas isso não preocupou Kalisto; o pesquisador estava atordoado demais tentando entender se aquele Pokémon era mesmo real.

- Uma xícara de chá. - Falou, enquanto Sinistea o encarava sorrindo. O pior de tudo é que aquela xícara de chá era realmente simpática, ou pelo menos tão simpática quanto uma xícara consegue ser. - O que Arceus estava pensando quando te criou?

Rowen apontou sua Pokédex para o Pokémon, registrando o espécie e lendo as informações sobre ele. Imediatamente, o Policial deu um passo para trás na direção contrária ao Sinistea. As letras na tela da Pokédex formavam uma frase que ele não imaginaria ler alguns segundos antes: "Esse Pokémon absorve a força vital daqueles que bebem dele." E de repente aquela xícara de chá simpática não parecia não boazinha assim.

Percebendo a hesitação na voz de Kalisto, o Pokémon avançou um pouco - só um pouquinho - e começou a sorrir ainda mais na direção do treinador, virando seu corpo de forma que a asa da xícara ficasse próxima à mão de Rowen. Ele parecia querer que o pesquisador bebesse um pouco de chá.

- Na verdade, eu não tô com muita sede agora. - Kalisto recuou mais alguns passos, mas a parede atrás de si ficava mais próxima a cada segundo. Em breve ele estaria encurralado. - Amigão, não é por nada não mas o chá que eu queria levar agora não tá aí nessa xícara. - Rowen recuou um passo, depois outro, até que parou subitamente. A parede tinha chegado e ele estava sem saída.

- Mudbray, vou precisar da tua ajuda de novo. - A tipo solo se materializou no ar pouco depois de sua Pokébola abrir e a Sinistea assustou-se, voando para se esconder atrás da coluna central da Torre. Kalisto aproveitou o momento de alívio para sair de perto da parede.

De repente, a fantasma saiu de onde estava e avançou rapidamente na direção de Rowen, esquivando-se de Mudbray.

Ela estava a poucos centímetros do policial quando ele falou: - Bulldoze, pelo amor de Arceus. - Por pouco, Kalisto foi salvo. O tremor provocado por sua Pokémon abalou as estruturas da Torre, deixando Sinistea ferida e dando uma brecha para que o pesquisador corresse em direção de sua Mudbray. Alguns fragmentos da xícara caíram no chão, e Rowen se perguntou se aquilo era a habilidade Weak Armor em funcionamento.

Não demorou muito para que Sinistea voltasse a batalha. De dentro de seu chá surgiram dois tentáculos esverdeados, que voaram na direção de Mudbray. A tipo solo tentou se afastar deles mas não conseguiu, sendo atingida pelo Mega Drain e tendo parte de sua energia vital sugada.

O aumento da velocidade de SInistea fez com que ela se movesse primeiro no turno seguinte, e novamente seu Mega Drain acertou em cheio Mudbray. Kalisto percebeu que sua Pokémon estava ficando ferida, mas definiu que ainda conseguiria vencer aquela batalha. - Bulldoze mais uma vez e acabe com isso.

E assim foi feito. Todo o andar tremeu e Sinistea caiu desmaiada, fora de combate.


Rowen lançou uma de sua Pokéball na direção da xícara de chá quebrada no chão, capturando a Pokémon sem muitos problemas. A esfera rapidamente desapareceu, indo para sua box. Aquela Torre parecia guardar muitos segredos ainda.

Quando se preparava para ir embora, sua Teddiursa fugiu sorrateiramente, indo atrás de mais um item com seu Pickup.

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"Ficha Sinistea:

Missão:

Eu tô perdido, sem pai nem mãe

Bem na porta da tua casa

Apesar de não ser a escolha mais prudente, Rowen decidiu que levaria o Shadow Gastly consigo para a Torre. O ambiente influenciaria no Pokémon, tornando a purificação mais problemática, mas o pesquisador acreditava que passar mais tempo com o tipo fantasma permitiria que ambos criassem um laço de amizade que ajudaria a destruir as sombras que tomavam conta dele. Além disso, seria uma oportunidade para aprender mais sobre os Shadow Pokémon de forma geral.

Depositou o Swinub na Box e retirou o Gastly, guardando-o longe dos demais. Kalisto não sabia que o efeito Shadow era transmitido entre duas Pokébolas e preferia não arriscar.

Sua mochila pareceu imediatamente mais pesada carregando o peso do Shadow Gastly. Rowen também não estava em seu melhor estado, olhando com certa desconfiança para as outras pessoas e evitando os cantos mais escuros da Torre. Provavelmente o tipo fantasma não tinha nada a ver com aquilo: o pesquisador apenas estava pensando demais sobre carregar um Shadow Pokémon por aí, e isso o estava afetando.

- Vou precisar da sua ajuda de novo. - Kalisto quase se assustou, mas reconheceu a voz da menina atrás de si imediatamente. Virou-se e viu Luna chorando, tentando sem sucesso esconder as lágrimas com as costas das mãos.

- Ooi, Luna, o que aconteceu? - As palavras de Rowen pareceram ativar algo dentro de Luna, que não conseguiu mais segurar-se e começou a chorar copiosamente.

Demorou um tempo até que ela se acalmasse e contasse para Kalisto o que estava acontecendo: um Poochyena recém-nascido fora abandonado pela sua família na Torre e um grupo de 3 Zigzagoon's malditos não deixavam o pequeno em paz. O pesquisador sentiu seu coração apertar no peito. Ele também tinha sido deixado pela sua família enquanto criança e de imediato soube que precisava ajudar o pequeno Poochyena.

Kalisto andou pela Torre rapidamente e começou a escutar o barulho dos Zigzagoon's antes mesmo de chegar no andar onde eles estavam. Chegando lá, viu o pequeno Poochyena encolhido em um canto, debaixo de alguns trapos, enquanto os Pokémon corriam, gritavam e faziam a maior algazarra possível. Rowen se perguntou como os monges permitiam aquele tipo de comportamento em seu território.

De toda forma, ele sabia que precisava agir.

- Ei, rapazes, acho melhor vocês procurarem outro lugar para brincar. - falou, apontando para o filhote. Esperava que os Pokémon entendessem o recado e recuassem, ao invés disso, começaram a rolar no chão de rir, fazendo ainda mais barulho. - É, foram vocês que pediram por isso. - O Policial lançou 3 de seus Pokémon para batalha.

Assim que se materializou, Gastly atacou: começou a expelir uma névoa venenosa de seu corpo de forma descontrolada, sem mirar com cuidado em seus adversários, fazendo com que apenas 1 deles fosse atingido.

- Gastly, vai com mais calma; Mudbray, use Bulldoze; Wingull, use Gust.

O tipo voador bateu suas asas com força, jogando uma poderosa lufada de ar em todas as direções do campo de batalha, acertando inclusive seus aliados. Gastly perdeu a cabeça com isso, avançando sobre Wingull. De repente, os dois começaram uma perseguição pelo andar, enquanto o combate se desenrolava no solo.

Os 3 Zigzagoons focaram Mudbray, que era o único alvo possível no momento. O primeiro e o segundo deles usou Tail Whip para reduzir as defesas da tipo solo; o terceiro atacou com Pin Missile. Rowen entendeu de imediato que essa deveria ser uma estratégia comum daquela equipe: debilitar um adversário e depois atacá-lo com força total. Infelizmente, para eles, Mudbray era o pior alvo possível.

Foram apenas 2 ataques e eles mal conseguiram arranhar a pele grossa da Pokémon, ainda mais considerando que cada golpe ativava Stamina, excluindo as reduções da defesa que ela sofrera anteriormente.

Como contra-ataque, Mudbray usou seu Bulldoze, causando danos a todos os adversários simultaneamente, além de reduzir suas velocidades. Um dos Zigzagoon's caiu desacordado, afetado pelo veneno do Gastly.

- Mudbray, use Bulldoze novamente; Gastly, para de correr atrás do Wingull. - A batalha acabou tão logo Mudbray atacou, desmaiando todos os adversários de uma só vez.


Kalisto retornou Gastly para sua Pokéball imediatamente, achando mais prudente manter o Pokémon lá dentro por enquanto. - O que é que eu vou fazer contigo, hein? - falou, encarando a esfera metálica que guardava o tipo fantasma. Nesse momento, sua Teddiursa apareceu sabe-se lá de onde, segurando uma Pokéball vazia em mãos.

O pesquisador respirou fundo. Era hora de falar com Luna novamente.

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