Assim deu o primeiro passo dentro do Ginásio de Santalune foi como se tempo no mundo inteiro parasse por um segundo. Meu corpo estava paralisado, mas não de medo, e sim de empolgação. Uma linha de calor subiu pelas minhas costas indo em direção ao meu pescoço como um reflexo de toda a ansiedade acumulada até aquele ponto. Não era a minha primeira vez na cidade, mas da outra vez eu fui atrás de qualquer outra coisa e atrasei o desafio. Naquela época eu me senti inseguro, e embora não pudesse admitir daquela vez agora eu sei do que se tratava a minha viagem para Dewford. Eu não me arrependo, porque certamente estou mais forte e preparado do que nunca, mas era esquisito pensar que eu estava prestes a viver algo que eu tanto desejei e sonhei. Vencer aquele ginásio serviria como validação de tudo que vivi, me esforcei e treinei desde que iniciei minha jornada. Vencer aquele líder de ginásio iria provar não só para mim que sou um treinador talentoso, mas também para toda a família Tachibana que eu não sou mais uma criança que eles podiam manipular como quisessem. Tenho meus próprios objetivos agora e posso eu mesmo lutar para alcançá-los.

O tempo voltou a correr e meus olhos se voltaram na direção de um senhor esperando na entrada com uma prancheta. Ele usava suspensórios, tinha cabelo branco pela idade e olhou na minha direção assim que passei pela entrada. Olhando para frente, pude avistar uma parte do ambiente ideal para insetos e que logo seria meu para desbravar e enfrentar. Enquanto eu caminhava para fazer minha inscrição, repassei mentalmente todos os equipamentos que eu tinha comprado e devidamente organizado na mochila no dia anterior. Depois, repassei as estratégias que tinha pensado, embora não pretendesse me prender muito a elas por não conhecer quem estaria defendendo o ginásio naquele dia, tampouco os treinadores que precisaria vencer antes dele ou ela.

— É com você que me inscrevo? Gostaria de desafiar formalmente o Ginásio de Santalune para receber minha primeira insígnia.

Eu me surpreendi ao perceber que o interior do ginásio era muito parecido com a floresta, mas então comecei a rir depois de perceber que sem querer eu antecipei aquilo. Isso porque eu só fiz a travessia pela Floresta de Santalune porque eu queria ter a experiência de batalhar contra alguns insetos antes de desafiar o ginásio, e no fim das contas acabei batalhando muito mais por lá por conta da presença de Yata. Perceber aquilo me fez ficar mais confiante, mesmo que um pouquinho, e eu andei calmamente até o lado mais próximo da arena destinado aos treinadores. A luz abundante não me agradava muito, preferia ambientes mais escuros, e foi só ao olhar na direção das arquibancadas que eu percebi que talvez eu devesse ter chamado Yata para ver pessoalmente a minha vitória. Talvez ouvir a versão que ele viu com os próprios olhos impressionasse mais do que uma foto da insígnia. "Pior que agora que assumi o manto do PLUTO é capaz até de acharem que roubei a insígnia ao invés de conquistá-la", pensei massageando a têmpora direita.

Mas chega de pensar na minha família; eu estava ali por mim, não por eles. Eu observei a garota vindo do outro lado da arena e não expressei reação alguma, uma vez que já estava ciente de que enfrentaria outros treinadores para ganhar o direito de enfrentar o líder de ginásio responsável naquele dia. Pessoalmente, eu tinha interesse em enfrentar Viola uma vez que tenho certo interesse em moda e sua influência nessa esfera é perceptível. Ouvir que enfrentaria o líder Bugsy, por outro lado, serviu com um incentivo a mais porque a ansiedade de conhecer Viola se esvaiu por completo. Pouco a pouco a minha mente foi se livrando de preocupações que não eram importantes para aquele desafio, o que permitiu que eu me sentisse ainda mais confiante.

— Já entrei aqui pronto. — respondi com o tom monótono de sempre, embora por dentro estivesse fervendo. Como de costume, estendi a Pokédex na direção do pokémon adversário para registrá-lo e, com sorte, conseguir algumas informações sobre ele. Depois disso, levei a mão esquerda até uma pokébola específica presa ao meu cinto — Floette, vamos mostrar para esse ginásio o resultado do nosso treinamento! — deixando um pouco da empolgação extravasar, eu joguei a pokébola da fadinha florida para cima e a convoquei para aquela batalha. Flutuando agarrada na Cotton Flower, Floette deu um rodopio fofo no ar antes de se virar na direção da outra treinadora. O sorriso fixo em seu rosto talvez a fizesse achar que aquela era apenas uma pokémon feliz e querida, mas ela ficaria surpresa quando descobrisse o monstro que se escondia por trás daquele rostinho bonito — Vamos iniciar com uma sequência de Dazzling Gleam, Floette, não se segura!

- Floette

Spoiler:

E tão rápido quanto surgiu, Dwebble foi derrotado e substituído. A minha expressão antes séria agora tinha dado uma relaxada e um pequeno sorriso começava a surgir. Apesar de tímido, o sorriso era de provocação, e não de alegria por estar vencendo. No fundo, eu estava me sentindo mais confiante do que nunca, e depois daquele primeiro sucesso eu me senti ainda mais incentivado a simplesmente atropelar aquele ginásio com Bugsy e seus aprendizes dentro.

— De fadas eu entendo. — comentei em referência à minha inclinação pessoal a ter pokémons daquele tipo. Ao ver Cutiefly, levantei uma sobrancelha. Eu já tinha enfrentado uma daquelas antes, e se não me falhava a memória a estratégia utilizada pela sua treinadora foi... — Status, não é? Nananão.— exatamente aquela que Elizabeth agora tentava aplicar em nós. Com o indicador direito levantado e fazendo sinal de "não" conforme eu falava, eu mostrei estar preparado para realmente todo tipo de coisa. Sorridente como sempre, Floette esperou meu comando que não poderia ser diferente — Protect, Floette! Em seguida, use Dazzling Gleam e mostre para Cutiefly o poder de uma verdadeira fada!

Por conta da areia nos olhos, eu sabia que Floette estava prejudicada. Aquele Dazzling Gleam seria como um teste: se funcionasse, continuaríamos atacando. Mas no momento que falhasse, iríamos atrás de uma nova estratégia.

- Floette

Spoiler:

Minha mão direita se moveu no ar e de forma dramática eu a estiquei na direção de Cutiefly. Floette estava fazendo um trabalho incrível como sempre, mas aqueles próximos movimentos ditariam o nosso sucesso completo na batalha contra Elizabeth ou nos condenariam a um ponto que eu preferia evitar chegar logo na primeira batalha. Como de costume em uma batalha entre treinadores, nós alternávamos nossos comandos e agora era a minha vez de tomar a frente. Foi essa convenção, aliás, que me permitiu antecipar o Stun Spore de Cutiefly e agora eu tinha certeza absoluta que minha adversária iria se manter na mesma estratégia. Floette era mais lenta, então apenas Safeguard não a salvaria. Protect funcionaria, mas Elizabeth poderia se aproveitar disso para aumentar o desempenho de Cutiefly com algum move. Paralelo a isso, tinha o Sand Attack de antes irritando os olhos da fadinha florida e adicionando uma aposta sobre seus acertos ou não. Eram muitas variáveis a se considerar, mais do que em um combate comum. "Então isso é um ginásio", conclui mentalmente antes de tomar minha decisão.

— Uma batalha sempre tem seus riscos, isso nós sabemos bem, certo, Floette? — perguntei arrancando um giro no meio do ar da fada, que mostrou seu sorriso estático como símbolo de sua confiança em mim e eu iria retribuir a sua lealdade naquele momento com um golpe certeiro em nossa adversária — Derrube Cutiefly com Magical Leaf! Não importa se falhar, apenas continue tentando!

E aquilo demonstrava minha ciência do estilo de luta de Elizabeth. Magical Leaf nunca erra, então ele não falharia, certo? Bem, mais ou menos, porque se considerarmos um certo Stun Spore e este fizer efeito contra Floette...

- Floette

Spoiler:

Meu corpo deu uma relaxa quando o segundo pokémon de Elizabeth caiu e eu senti que não precisava ser tão intenso ou poderia até ter um infarto... brincadeira, mas realmente dei uma segurada na emoção porque, convenhamos, preciso manter meu papel de esquisito sério chato e ficar gritando aquelas frases de efeito não colaboravam muito. Complexos à parte, veio então Nincada, o terceiro pokémon da minha adversária e este era novidade. Estendendo a Pokédex, li rapidamente suas informações antes de decidir pelo meu próximo passo e... bem, ele pareceu óbvio depois de observar a movimentação dos nossos oponentes.

— Feche os olhos, Floette, eu serei sua mira agora! — comandei ao perceber que enfrentava uma estratégia um tanto quanto familiar, ainda que não igual. Na Floresta de Santalune a caminho daquele Ginásio eu enfrentei Evelyn, uma treinadora que tentou se valer do movimento Double Team para prejudicar a precisão de nossas ofensivas. Na ocasião, era Floette sua adversária, e eu a venci jogando para o seguro: usando o Magical Leaf. Ali, a estratégia que eu deveria usar era a mesma. Nincada não estava mais ágil, era Floette que estava com sua precisão prejudicada, mas a forma de contornar o problema ainda era claro — Vire a cabeça 30º pra sua direita e use Magical Leaf! — ordenei enquanto a guiava, para então esperar a movimentação de Nincada novamente e voltar a anunciar — Magical Leaf de novo, mas 75º para a sua esquerda! Vai!

- Floette

Spoiler:

Assim que Nincada caiu para o segundo golpe de Floette eu fechei os olhos e respirei fundo. "Menos uma", pensei e então fui caminhando até Floette. Mesmo de olhos fechados aguardando novos comandos e com os olhos cobertos de terra e lama, a pequena fada não parava de sorrir. Ver sua expressão de sempre me fez dar uma risadinha e lembrei de quando ela evoluiu e ficou daquele jeito. Não era esquisito mais para mim, mas eu tinha certeza que as outras pessoas ficavam intimidadas por aquilo. Era esquisito, admito, e suficientemente macabro. E foi pensando nisso que limpei seus olhos com as pontas dos polegares e me certifiquei de que ela estava bem para o próximo combate.

— Você está bem? Percebi que você pouco se machucou. Irei mantê-la para a próxima batalha, tá bom? Se as coisas apertarem, sempre podemos recorrer a um desejo. — falei baixinho para a pequena que ficou ali flutuando e esfregou a Cotton Flower no meu rosto quando comecei a caminhar de volta para o meu lado da arena. Aquilo foi repentino e me arrancou um sorrisinho... que foi interrompido assim que avistei e fui acusado pelo meu novo adversário — Eu não humilhei ninguém. — respondi — A menos que não conseguir derrotar nenhum pokémon seja considerado humilhação. Nesse caso, eu acho que humilhei, sim.

Não me importava se era uma criança, estávamos ali para batalhar e a provocação deixava as coisas ainda mais emocionantes.

- Floette

Spoiler:

— Mantenho a Floette. — informei o juiz e então observei meu adversário revelar seu pokémon. Mais um que seria a primeira que eu enfretava, tratei de imediatamente puxar a Pokédex e estreitei os olhos enquanto lia suas informações. Fazia sentido muitos insetos serem também voadores, mas eu diria que aquela combinação estava começando a ficar repetitiva. De qualquer maneira, eram pokémons diferentes mesmo que mesmo tipo. Por isso eu respirei fundo e foquei minha mente mais uma vez. Ainda me sentia confiante depois da última batalha, então pelo menos naquele momento nada poderia me abalar — Vamos iniciar com uma sequência brilhante, Floette. Use Dazzling Gleam sem parar!

- Floette

Spoiler:

Fora saber o quão poderosa Floette é, um dos motivos por trás de eu tê-la escolhido para abrir minha temporada em um Ginásio do tipo Inseto era a sua resistência contra ataques daquela tipagem. Claro que eu sabia que eles não ficariam presos somente a movimentos do tipo que lhes é símbolo, mas eu considerei que seria uma boa estratégia pressioná-los com essa vantagem de tipo e forçá-los a recorrer a outras estratégias. Até aquele momento, no entanto, os treinadores que representavam o Ginásio de Santalune tinham se mostrado versáteis ao conseguirem se manter firmes com uma lista de golpes de tipos diversos. Aquilo era uma surpresa, admito, mas isso só servia para deixar aqueles combates ainda mais interessantes.

— Use Wish, Floette! — comandei. Yanma tinha sido um adversário e tanto e pelo menos daquela vez eu percebi que os ataques do pokémon adversário tinha causado danos à Floette. Não só isso, mas o seu sorriso quase parecer vacilar no momento do Sonic Boom foi o sinal que eu precisava para colocar aquela estratégia em jogo, ainda que com alguns ajustes. Era comum da minha parte usar Protect depois do Wish para garantir a cura; foi assim que me mantive mais tempo no meu primeiro Catching Contest. No entanto, eu quis arriscar mais. Talvez estivesse subestimando Pineco, quem sabe? O ponto é que ao invés de nos proteger, eu decidi partir para o ataque — Dazzling Gleam! Não para!

- Floette

Spoiler:

Agora que já passou eu posso assumir: eu não ataquei por subestimar Pineco, mas sim porque eu queria testar o poder do seu ataque. Pode chamar de estratégia arriscada, não tem problema, mas mesmo tendo que ver Floette ser golpeada aquilo nos permitiria aumentar ainda mais a nossa vantagem. Pineco era forte, isso eu percebi, embora Yanma parecesse ter tido mais sucesso em feri-la. De qualquer maneira, a minha estratégia seria manter Floette em campo o maior tempo possível. E para isso eu precisava...

— Chame o poder das estrelas mais uma vez, Floette! Wish! — comandei estendendo a mão. Floette fechou os olhos e segurou mais firme na Cotton Flower. Seu rosto, como é de se esperar, continuou preso naquele sorriso característico enquanto isso. Sabendo que seríamos atingidos, eu me mantive confiante até Pineco passar por cima de Floette e eu perceber o perigo que era aquele seu ataque; o dano do rolamento estava maior! — Ele está ficando mais forte quanto mais ele gira, Floette, cuidado! Dazzling Gleam!

- Floette

Spoiler:

E o meu erro foi ficar confiante demais. Eu sabia dos perigos do Rollout e poderia tê-lo impedido, mas a surpresa no meu rosto ao ver Pineco aguentar um golpe quando já deveria ter caído deixava claro que aquilo não estava nos meus cálculos para aquela rodada. Cerrando os punhos, eu vi Floette cair inconsciente no chão e sua Cotton Flower repousar ao seu lado. Aquela era a minha melhor aposta para aquele ginásio, então perdê-la antes mesmo de chegar em Bugsy me deixou apreensivo por um instante e eu travei. De olhos fechados, senti minha cabeça esquentar com o pensamento de que talvez eu tivesse colocado tudo a perder naquele momento, mas obviamente não seria eu a desistir.

— Floette, volte. Você foi incrível. — e recolhendo a fada de volta em sua pokébola, foi a vez de chamar para o campo de batalha ela, o trunfo que eu gostaria de guardar para o líder do Ginásio e agora estava tendo que mostrar antes da hora — Braixen, saia.

A raposa saiu de sua pokébola completamente FURIOSA. Sendo a mãe da equipe, era óbvio que ela não tinha gostado nada de ver Floette cair daquela maneira. Ela olhou na direção de Pineco que continuava girando para manter seu ímpeto e o pelo no seu corpo ficou todo eriçado como uma labareda. Tomando o graveto em sua cauda em suas mãos, ela o estendeu na direção do seu adversário e eu senti como se ela fosse tomar ações por conta própria.

— Deixe sua chama queimar, Braixen! Desacorde Pineco com seu Incinerate! Continue até ele cair!

"Que estúpido colocar um pokémon de fogo na frente um ataque de pedra", você pode dizer. Mas eu tenho um ponto para provar! Ou melhor, a Braixen tem.

- Braixen

Spoiler: