Livros eram deixados de forma organizada em uma estante, o luar de uma noite quente ultrapassava as janelas de um estabelecimento histórico. Uma mulher de longos cabelos e uniforme formal preparava com detalhes seus documentos, esculturas e livros para o dia seguinte. O chão estava limpo, não havia poeira apenas elegância e muita informação. A pesquisadora se atentava ao Golem de Madeira que se destacava naquela ala, uma criatura de dois metros ou mais completamente formado de vigas antigas e madeira viva. Espanava aquele pedaço de história com muito cuidado, a desconhecida ficava encantada com aquele monumento tendo nenhuma certeza de sua verdadeira utilidade. Talvez ele fosse um boneco de treino ou algo do tipo, nada justificava a existência daquele gigante.

Os sons característicos de saltos altos pausavam brevemente, um suspiro longo era dado na solidão. A pequena lâmpada que iluminava uma pequena parte da imensa sala se apagava com o estalar de um interruptor, mais um dia se encerrava para aquela funcionária. Tudo estava em seu lugar, nada se movia e apenas o aperto da angústia pairava sobre o museu. Ao lado de fora, um carro dava partida e a mulher voltava para sua casa.  Em mais uma noite solitária, o golem era deixado parado na mesma posição, observando um vaso de flor cristalino protagonizado por uma papoula clássica no tom alaranjado. O som do ar ligado e da estática vinda da cidade grande quebrava o silêncio absoluto, um chiado agonizante da tecnologia permanecia no nada. Os livros enfileirados, as mesas de madeira, os vasos antigos e até mesmo o piso de porcelana transformava o antigo museu em um pesadelo vazio. Tudo estava escuro, apenas o luar iluminava um pouco das esculturas, os corredores vazios eram macabros.

A noite se tornava um dia agradável e o golem permanecia parado no mesmo lugar, a mulher retornava finalizava suas atividades diárias e dava início a mais um dia de funcionamento no museu. O sol iluminava todo o lugar transformando o deprimente em... um pouco menos deprimente. Alguns visitantes iam e viam admirando um pouco do pedaço da história, os livros bem tratados eram foleados por mais alguns visitantes. Toda verdade era contada de pouco em pouco, um aprendi e passava para o outro, a roda da história e grandes eventos ia rodando com certa lentidão mas jamais parava. Não era um lugar muito movimentado, poucos se interessavam pelos livros e poucos ainda mais pelo gigante de madeira. As lendas e pinturas que ficavam estampadas nas paredes eram o foco para quem visitava, as odisseias eram tão épicas que a maioria do pouco se interessava por elas.

Mais um dia passava e outra noite chegava, mais uma noite passava e outro dia chegava. O sol, o dia, a noite e a lua ia passando pela janela. A papoula desabrochava, murchava, caía e outra flor surgia. Assim era para toda a eternidade, o Golem vislumbrava a vida e a morte toda era. As funcionárias que iam e viam, os clientes que mudavam e desapareciam, as flores nos vasos que iam, os Pokémon que chegavam e iam. As coisas sempre mudavam, mas o Golem sempre permanecia lá. Anos se passavam mas tudo mudava e nada acontecia. Ele sempre assistia o mesmo, sem pensar e sem agir apenas parado no mesmo lugar por toda eternidade. Talvez aquela escultura de madeira escondesse alguma história, uma história antiga e pouco resolvida... ou talvez fosse apenas um artigo decorativo relicário. Mais anos iam surgindo, o tempo nunca parava e a solidão sempre o acompanhava.

Em um começo de dia, com três ou menos horas para que o museu entrasse em funcionamento... uma energia sombria parava o ar. Em uma deformação do espaço tempo, um orbe de puro caos surgia com duas silhuetas. Os itens, artefatos e decorações leves voavam ao redor da explosão sinistra, uma bagunça se formava em meio a madrugada chuvosa e quente. Espíritos e fantasmas eram liberados no novo ambiente, até que tudo se finalizava em apenas um feixe de luz esbranquiçado. Uma garota e um Pokémon arredondado apareciam com trevas junto da luz, eles se separavam com a força e o som semelhante a um disparo. Skull viajava de um ponto ao outro, sendo guiada por Shedinja e suas visões tenebrosas. No primeiro momento, a cadáver não tinha noção do que estava fazendo ali. Ela tentava se comunicar com Shedinja, mas o Pokémon continuava em estado de êxtase e meditação.

Sua casca acabou nos trazendo para cá... eu vou tentar descobrir um modo de sair deste lugar. — Mesmo que um pouco apavorada, Skull recolhia a calma através de uma respiração tranquilizante.

Ela explorava o cenário que tinha em mãos, tentava abrir portas mas todas estavam trancadas, folheava os livros e remexia em tudo que encontrava. Não se aquietava um segundo se quer, via tudo que tinha para ver procurando o que não sabia que devia encontrar. Coberta por um lugar histórico, Skull sabia que as visões de Shedinja tinham um objetivo e cabia apenas a garota desvendar todos os mistérios que estavam ao redor daquele estabelecimento. O Pokémon não poderia dar as respostas, talvez nem mesmo a cigarra entendesse o motivo de suas visões repentinas.

Um momento foi necessário, somente um segundo bastou para que o destino começasse a brincar com a zumbi. Seus olhos fitavam os do golem de madeira, a estrutura sem vida focava seu olhar no da garota. Eles se encontravam de forma não proposital, Skull largava ao chão um livro que folheava dando toda sua atenção ao boneco de madeira sem vida e gigantesco. Ela passava as mãos na placa onde continha o nome da criatura, vislumbrava o pequeno poema que continha em seu título.

 

O poema trazia lembranças para Skull. Seu corpo se desligava, ela se segurava sobre as beiradas da escultura e mantinha-se em pé inerte como seu Pokémon. Naquele momento, sua mente era invadida por mil pensamentos e visões que não eram de sua conta. Via-se em um novo mundo, um lugar antigo e feudal. Um lugar onde a vida selvagem dominava, onde tudo havia mais cor e mais vida. Um lugar sagrado, onde o gigante vivia uma aventura quase que fantástica. Deuses, Pokémon, pessoas e ninjas um lugar tão misterioso quanto a própria PokéGea. O nome da criatura, era Mokujin, o boneco de madeira que detinha o alcunha de "Sorriso de Hisui". Ele detinha uma maldição; o Acordar Eterno, uma maldição eterna que pairava sobre os de bom coração. Ele havia sido o primeiro a portar o feitiço, o primeiro a emergir de todo caos sem mestre. Ele acordava em um dia e desde então vivia a vida de forma inocente e bondosa, acompanhado de bons Pokémon e vivenciando grandes experiências.

Mokujin viveu e aprendeu o que conseguia sobre o Mundo. Ele liderou aldeias e criou vilas com suas mãos, sempre ao lado de seus Pokémon. Uma criatura bastante bondosa, que seguia uma filosofia única de fazer o bem sem ver a quem. Um ser inocente, que era facilmente enganado pelos de mal coração. Seus poucos amigos se resumiam a aldeões que não detinham nenhum dinheiro e Pokémon selvagens. O golem jamais foi citado no livro de histórias, sendo sempre levado como um coadjuvante ou censurado através de outro personagem. Mokujin foi a peça principal para muitos acontecimentos na região, mas sua aparência monstruosa o fez ficar atrás das cortinas durante vários acontecimentos.

Ao fim das visões e de todas as informações, Skull agora sabia um pouco mais sobre os primórdios de sua "maldição". Ela só se perguntava como a criatura havia parado naquele museu pacato e naquela posição tão desagradável. Com carinho, a mortaacariciava os pés do gigante de madeira que se mantinha no pedestal. Rezava para alguma divindade, sem ao menos ter fé em religiões. Agradecia muito pelo destino, sabia que havia adquirido algumas respostas de seu passado... mesmo que estas fossem um pouco confusas. Ela jurava manter seu segredo intacto, diferente do que Mokujin havia feito. Naquele momento, Skull só precisava encontrar mais alguns documentos e capítulos sobre a vida daquele ventrículo.

Shedinja movia alguns paus, um livro saltava para fora de sua instante ainda pulsando com purpurina sombria. A cigarra meditava mas ajudava sua colega movimentando-se através do mundo espiritual. O livro em questão se tratava de todas as histórias de Hisui, um conto antigo e repleto de metáforas, além de lendas. Hisui uma região bem fervorosa, ligada diretamente com a região de Sinnoh e claro Arceus. As coisas começavam a ficar um pouco mais apelativas e complicadas para a morta-viva, talvez fosse necessário buscar respostas divinas. Skull recolhia o livro, já adquiria um pouco mais de informação nas primeiras páginas. Dotado de sabedoria, o livro mostrava o que podia para a Entusiasta enchendo-a com conhecimento antigo e perigoso.

O tempo passava, algumas pistas eram reveladas e a maldição ia se desfragmentando de pouco em pouco. Era uma obra sem um autor, algo complicado demais para ser desvendado e também Skull não tinha o interesse em descobrir quem havia escrito todas aquelas odisseias. Em uma das várias histórias, uma imagem de dois Pokémon se destacavam em duas folhas sendo divididos no meio do livro. Um Rowlet e um Basculin, a Coruja e a Carpa, a Sabedoria e a Perseverança. Caractéristicas que se surgiam com frequência na jornada de Skullgirl.

Com o sol em seu nascer, ele crescia por inteiro em uma aurora mágica. Estrategicamente, ele refletia sobre a mesa onde a garota estava pegando na joia que se localizava na capa do livro. O pedestal de Mokujin revelava uma gaveta que se abria com lentidão e bastante poeira, lá estava duas PokéBalls antigas que necessitavam de chaves para serem abertas. As esferas eram levitadas por Shedinja, que as entregava nas mãos da Entusiasta zumbi. As páginas do livro se moviam sozinhas, iam até uma página que trazia uma coordenada e o desenho da antiga Infinity Tower. O quebra cabeça de Shedinja começava a se resolver, ele havia transportado Skull e a si mesmo através do Amuleto de Novus City em conjunto com sua casca de trevas.  

Você desvendou todo esse mistério através de sua mente, que talento. É hora de seguirmos para a Infinity Tower, é algumas horas daqui. — Dizia orgulhosa. Ela retornava Shedinja para sua esfera, recolhia as PokéBalls antigas e as colocava em sua bolsa. Com as portas trancadas, ela decidia sair pelas janelas andando nas plataformas do prédio. Ela estava preparada para seguir aquela história e desvendar de fato quem era Mokujin, e toda a maldição que a perseguia desde então.  

— Recolhendo Rowlet e Basculin
— Ficha Mokujin
— Pasture
— Capsula