Depois de um dia de caminhada extenuante em um clima árido, Minakh finalmente estava parada na frente do Centro de Solaceon, as folhas alaranjadas caindo das árvores e enfeitando o chão asfaltado da cidade.

A cidade havia se mostrado pouco receptiva, apesar dos esforços alegres da Enfermeira de recebê-la. Tudo parecia mergulhado em um mal estar, a sensação de perda arraigada a cada pedra e escombro de construções importantes. Isso fez Heiwas franzir a testa, preocupada e curiosa com o tipo de calamidade que poderia ter deixado resultados tão vis e em grande escala… Na verdade, se ela parasse para pensar um pouco, isso a lembrava um pouco de como Pallet parecia estar empenhada em sua reconstrução, crescendo sempre e de forma acelerada.

Ela não tinha se perguntado o porquê da reconstrução. Talvez esse tenha sido seu primeiro grande erro.

“Talvez esse mesmo desastre tenha desestabilizado a aura”.

—Então é isso —Heiwas falou suavemente, sorrindo para a menina à sua frente.

Clara mexeu-se desconfortavelmente em sua cadeira, desviando ligeiramente seu olhar para o policial ao seu lado e o carro mais atrás dele. Heiwas sentiu que ela lhe queria dizer algo, mas algo a impedia.

—Obrigada por trazê-la até aqui. Foi um trabalho bem feito.

—Confie em mim, isso não foi um trabalho —Minkah apertou as mãos do policial que, em seguida, retirou-se para esperar a garota no carro.

Quando ele sumiu de vista, Clara pegou as mãos de Heiwas rapidamente e pressionou um objeto, fechando seus dedos frios envolta dos dela. Ela olhou seriamente para a pesquisadora, um conjunto de sentimentos girando e girando em suas pupilas claras. Então, ela se inclinou para frente e sussurrou quase que conspiratoriamente.

—Talvez eu esteja errada. Seu Pichu não parece nem um pouco inútil… mesmo doente…

—Você também não é —Heiwas disse calmamente, as coisas finalmente encaixando-se. A aura de Clara pareceu reluzir à sua volta, como uma estrela brilhante no céu —Acredite em mim.

—Contra todos os meus julgamentos, estou começando a acreditar.

O sorriso singelo de Clara foi a maior recompensa que Minkah poderia receber, mesmo que estivesse segurando um Protect em mãos enquanto acenava para o carro em retirada.

Hapiness escreveu:

Alattí {10/10} +1 Hapiness
Eevee {10/10} +1 Hapiness

”Missão Completa”:

Enquanto a tempestade em sua cabeça cresce, seus membros se movem. Palavras são gritadas ao vento, mas Heiwas não consegue pensar tanto nelas além do fato que são ordens repetitivas de “Light Screen”, “Dig” e “Protect” —sua concentração se quebrando entre um movimento e outro, espiralando para a mensagem misteriosa que havia recebido de seu mentor e para a despedida de Clara. Ela reorganiza sua mochila e respira, sentindo o peso a mais do ovo lá dentro. Ela quer gritar.

—Alattí, Ìlléos, bom trabalho! —Ela chama e Eevee responde com uma exclamação e um estufar de peito. Pichu, por outro lado, parece que algo está errado porque tudo que faz é franzir a testa e virar o rosto para o lado, como se estivesse diante de uma obra de artes abstrata —Mais uma vez, meninos!

A raposa marrom murmura com tédio e balança a cauda lentamente antes de se agachar e se preparar para formar uma nova cúpula esverdeada. Ela ainda é mais azul do que deveria e racha com facilidade, no entanto Heiwas sente que com mais algumas horas e batalhas ele dominará. O rato, por outro lado, parece ter se tornado um bom esburacador e o campo baldio —que agora mais parecia uma peneira —era a prova disso. A menina acompanhou-os com os olhos com letargia, andando de um lado para o outro na calçada para desgastar um pouco de sua energia nervosa. Ao fundo, as vozes dos trabalhadores de Solaceon podiam ser ouvidas. A cidade parecia estar recheada de uma sensação de pressa, urgência e preocupação demais para alguém que se intitulava “Livre de Preocupações”.

Talvez as construções destruídas que pontuavam a cidade e o mistério que rondava tal destruição, a maioria dos próprios moradores mal sabendo o motivo da pilha de destroços, fossem a causa disso.

—Ah-ah-ahhhhh!

Um grito estrangulado a tirou de seus pensamentos e fez sua cabeça disparar para a direita, onde, do outro lado da rua, uma caminhonete azul e desgastada estava estacionada. Pilhas e pilhas de caixas se enfileiravam na parte de trás, mas elas, logicamente, não poderiam ser as donas do som curto recheado de pânico que a jovem ouviu. Um jovem magricelo, vestido com roupas folgadas e um tanto velhas, parecia uma folha tremula ao vento enquanto empilhava três daquelas caixas, as veias em seus braços —que Heiwas só pode observar depois de atravessar a rua correndo e se aproximar alarme—aparecendo com o esforço que estava fazendo. Ao seu lado um Sylveon balançava freneticamente suas fitas, tentando empurrar a caixa do topo para ela não cair.

Não foi o suficiente e o objeto despencou para frente ao som do pânico de seu carregador. A sorte, se assim podemos chamar, foi que Minkah estava no local certo e agarrou a caixa antes que pudesse cair. A pior parte era que aquela coisa pesava mais do que parecia e a mulher teve que dobrar os joelhos e cambalear para trás para evitar derrubar o negócio no chão e quebrar seja lá o que estava ali dentro.

—Eu… me desculpe, eu vou pegá-la agora mesmo!

—Não, por favor não! —A pesquisadora exclamou com desespero, pensando que ele fosse colocar as suas caixas no chão para ajudá-la e assim, em sua cabeça, estragar todo esforço que estavam fazendo. Era como se eles tivessem perdendo… não que a vida fosse uma série de competições… “Claro que não...” —S-s-só me mostra onde colocar por amor de Arceus!

Ele a levou para dentro, onde mais duas ou três pessoas empilhavam e organizavam mais caixas. Alguns até chegavam a abri-las, embora, aos olhos de Minkah, era quase como se estivesse guardando suprimentos. “Muita coisa” pensou, ofegante, colocando a caixa ao lado de uma pilha delas “Pra que será tudo isso?”.

Quando os trabalhadores, a maioria deles sendo os típicos homens musculosos que lembravam perfeitamente um Darmanitan, olharam para eles de onde estavam trabalhando, uma aura de desconforto pairou no lugar e uma enxurrada de reclamações banhou ambos os jovens.

—Por que você está aceitando a ajuda de estranhos?

—Já terminou de descarregar o caminhão, seu imprestável?

—Já era para ter terminado essa merda!

Com os ouvidos queimando e Sylveon sibilando para eles, o homem virou-se com os ombros tensos e puxou Heiwas para o lado de fora. Depois de fechar a porta com um baque, ele recostou-se na parede e afundou a cabeça contra seus braços dobrados, derrubando seu chapéu azul e amarelo e deixando amostra um cabelo negro e liso, com uma franja longa no lado direito que acompanhava perfeitamente a linha de seu rosto. Havia duas listras, uma rosa e outra azul, que seguiam desde a raiz até a ponta da franja,

Ele suspirou pesadamente antes de se levantar e agradecer a treinadora com um tom leve e despreocupado.

—Obrigado pela ajuda. Eu não sei o que teria feito se aquilo tivesse quebrado.

—Não se preocupe! Fico feliz que não tenha se metido em encrenca —Heiwas quase se encolheu com a escolha de palavras. Ela estava muito distraída e ver todas aquelas caixas só encheu sua cabeça com ainda mais teorias loucas. A garota queria muito perguntar a ele o que era aquilo tudo, mas segurou a língua ao sentir o peso reconfortante de Alattí em seus ombros. O roedor tinha os olhos fixos na caminhonete e, mesmo que aquilo fosse a última coisa que Minakh queria fazer, ela gemeu internamente e emendou a sua fala: —Eles não pareciam muito contentes lá atrás. Se você estiver precisando de ajuda para descarregar mais rápido é só dizer.

Como ele agradeceu de novo e voltou a trabalhar, Anttochí achou por bem segui-lo, entendendo aquilo como um grande e enorme “sim, por favor”. Sendo a boa procrastinadora que era, ela entendia totalmente aquele sentimento de pressa para acabar uma tarefa. Talvez fosse por isso que um sentimento de companheirismo pairou sobre eles enquanto Jonnar Andersen, como havia se apresentado, sussurrava sobre sua história de vida e Sylveon tentava conter a tempestade que era Ìlléos. Alattí, sentindo-se bem antissocial hoje, preferiu agarrar-se à bolsa de Heiwas e ficar de olho no ovo problemático.

Jonnar era de uma cidadezinha pequena e sonhava em ser um grande treinador, no entanto seu jeito de lutar não era convencional na sua cidade e muitos o julgavam por sua aparência delicada e pelo tipo de pokémon que gostava de usar. Ao ouvir que o dojo estava sendo reconstruído em Solaceon, ele decidiu se agarrar a oportunidade arrumou um emprego como auxiliar de obra. A maioria de seus colegas era de Solaceon e eram pessoas muito desconfiadas —segundo Jonnar, parecia que esperavam que a qualquer momento o céu despencasse sobre suas cabeças. Anttochí não percebeu antes, contudo, agora, olhando para aquele cenário perturbado; ela percebeu que era aquela palavra que se encaixava perfeitamente na sensação que teve.

—Estão assustados —Concluiu e Jonnar concordou, pegando o último caixote e se despedindo alegremente.

Heiwas ficou-o olhando partir, pensativa sobre tudo que ouviu e viu até agora. Solaceon parecia escolher muitos mistérios, mas ela via muitas potenciais respostas também.

—Eu só preciso falar com a pessoa certa…

—Talvez essa pessoa esteja do seu lado, jovem.

Heiwas quase sentiu sua alma escapar do corpo quando a voz humorada soou do seu lado. Ela gritou tão alto que alguns pássaros de uma árvore próxima alçaram voo em desespero. Se a pesquisadora tivesse asas, ela, com certeza, tinham fugido também.

Virando-se com olhos arregalados viu um homem velho, muito velho, de cabelos e bigode brancos. Vestia-se diferente de qualquer local, com anéis de pedras preciosas e roupas finas e caras que Heiwas nem, mesmo vindo de uma família de renda razoável, sonharia em comprar. Ele sorriu com a sua reação, inclinando-se sobre sua bengala de ouro antes de continuar a falar:

—Você não parece ser daqui, jovem…

—Oras, nem você —Heiwas o interrompeu.

—… e é bem energética também. Sou Mr. Dyce, prazer em conhecê-la, jovem —Quando sua cabeça pendeu para o lado e ele avistou o Pichu e Eevee atrás delas seus olhos brilharam de alegria —Você tem uma coleção muito interessante de pokémon.

—Oh, bem, obrigada. Meu nome é Heiwas —E, lembrando-se tardiamente de que deveria adicionar algo, disse: —Prazer em conhecê-lo também.

—Eu sei, eu a vi ajudando-o rapaz. Aliás, porque não travamos uma pequena batalha? Gostaria muito de vê-la em ação, jovem.

Minkah não era uma treinadora. Ela pode ser classificada assim porque captura e cria pokémon, mas ela não nasceu para batalhas. Ela não é esse tipo de treinador e estava bem com isso… O mundo, por outro lado, não parecia compartilhar da mesma visão que a sua, visto que a estava jogando em uma situação mais estranha que a outra.

—Okay, vamos com isso! —Sorriu e exclamou sem querer, o sorriso terno e alegre, como o de uma criança, do velho fazendo-a tomar decisões impulsivas —Me mostre o que você tem, velho!

—Vamos nos divertir.

E, com isso, liberou seu primeiro pokémon: uma esfera metálica com um único olho. Tinha um parafuso em cima da cabeça e outros dois para as pernas; nas laterais dois ímãs agiam como mãos, girando e produzindo faíscas elétricas enquanto o fazia. Heiwas sabia que pokémon era aquele, entretanto, mesmo assim, usou a pokédex para identificá-lo. “Faz muito tempo que vi algo assim”.

—Interessante não é? Esse me deu trabalho para pegar —O véi se empolgou após ver Heiwas sacando sua pokédex e apontando para seu pokémon, sorrindo quase que maniacamente ao passo que esfregava suas mãos como se as estivesse limpando —Supersonic, meu amiguinho!

—Quer algo interessante? Vamos mostrar a ele, Alattí! Dig!

Sendo o mais rápido dos dois, o Pichu não perdeu tempo e saltou contra o chão, abrindo um buraco e escapando da onda sonora circular originada e disparada pelos giros frenéticos dos ímãs, fixados nas laterais, de Magnemite. Momentos de silêncio passaram, a pobre máquina zunindo e procurando com seu único olho o roedor. No entanto, não foi até o segundo seguinte que Pichu saltou do chão e acertou o outro tipo elétrico, golpeando com fúria.

Este foi o primeiro e último golpe da partida, pois Magnemite não resistiu à força do golpe.

Round 1:

—Éééé! Muito bom, amigo! —Heiwas socou o ar, sentindo-se animada —Pode mandar o próximo, velho!

—Tudo bem, espero não decepcionar com o meu próximo companheiro.

E decepcionar ele não fez quando chamou um conjunto de engrenagens de caras engraçadas e narizes azuis. Minkah pescou mais uma vez sua pokédex, pois, dessa vez, ela não o conhecia.

—Light Screen, vamos!

—Flash Cannon, Klink!

A barreira de vidro, brilhante e tingida com uma miríade de cores, subiu primeiro, precedendo o raio denso de cor metálica. Ele não foi impedido ao todo pela proteção, contudo afunilou-se até que apenas uma parte dele atingisse o Pichu em uma explosão moderada que o derrubou no chão.

Round 2:

—Dig!
—Não cairei mais nessa brincadeira. Klink, Charge!

Alattí se mexeu primeiro, cavando seu caminho para a vitória. Klink não se preocupou com isso, movendo suas engrenagens com tanta rapidez que várias faíscas de eletricidade saltaram de seu corpo. Heiwas sabia que se ele armazenasse energia o suficiente, o próximo ataque elétrico podia ser fatal —Agora!

Pichu emergiu do solo e, como da última vez, acertou o tipo metálico com uma cabeça bem dada. O pokémon cambaleou para trás, rangendo e crepitando sob a força do golpe.

Round 3:

—Vamos encerrar isso! Dig!

—Flash Cannon!

Alattí mergulhou na areia segundos antes do raio passar zunindo pela barreira e queimar um círculo no chão. Novamente, Pichu repetiu e eclodiu do chão com urgência, acertando o Klink bem em cheio e atirando-o de volta para os pés do senhor de idade.

Round 4:

A batalha acabou rapidamente, entretanto o interesse de Mr. Dyce pareceu só crescer com aquele resultado. Retornando seu parceiro, aproximou-se com uma expressão serena da mulher que abraçava seu amigo mais próximo contra o peito. Depois de parabenizá-la —e já que a tarde havia avançado de tal forma que Heiwas decidiu adiar seu treinamento —, ambos sentaram no meio fio para simplesmente...esperar. O senhor, apesar de rico, ostentava uma humildade invejável e um conhecimento vasto sobre todo assunto estranho que Minkah puxava. Ele contou-lhe que estava financiando a reconstrução do dojo e incansavelmente persuadiu para que o ajudasse na reconstrução, prometendo lhe pagar uma boa quantia. Como na sua última pergunta, Heiwas não teve forças de negar-lhe e chorou internamente enquanto o homem vibrava de empolgação

“Pelo menos estarei fazendo algo bom...acho”.

Em determinado momento, ele afirmou saber usar qualquer item que ela tinha. Heiwas jogou junto e deixou que usasse seu Item Finder, surpreendendo-se minutos depois quando foi conduzida diretamente para um pequeno cogumelo.

—Que estranho, não está na temporada deles —O velho disse, alisando seu bigode.

Heiwas concordou torpemente. Eram sempre os cogumelos.

“Sempre eles”.

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {05/10}
Eevee {05/10}

Depois de passar uma noite bem dormida no Centro Pokémon, Heiwas se viu se apresentando para os trabalhadores responsáveis pela construção do dojo. Eles não pareciam muito contentes em ter um "peso morto" no time, mas não falaram nada, visto que ela estava ali por um pedido direto de seu financiador principal, o Mr. Dyce. Entretanto, apesar de tudo, ela encontrou um amigo em Jonnar —o jovem de cabelos negros sorrindo maliciosamente e zoando de como ele não era mais a única ovelha negra dali.

A manhã passou-se rápido, com Minkah seguindo por todo o lado o mestre de obra. Ela tinha que levar e trazer recados, assim como coordenar e organizar as informações e reclamações do pessoal —que não eram poucos, dado o tamanho do projeto. Quando a hora do almoço chegou, ela recostou-se na parede enquanto ofegava como um peixe fora d'agua, sua testa tão molhada quanto o próprio mar. Eevee, nunca cansado, se enredava nas fitas de Sylveon ao passo que Pichu, seu sempre eu depressivo, aproveitava para lamentar à sombra da pesquisadora. Jonnar, tendo acabado de almoçar, traçava formas sem sentidas na superfície rosada do ovo misterioso que Minkah carregava para todo lado desde que ganhou de seu tutor.

Tudo parecia estar na mais bela paz e calma costumeira quando uma conversa estranha de dois pedreiros chegou aos seus ouvidos.

—Assombrada? Eles se acovardaram por causa de alguma história inventada qualquer?!

—Mas parece que não é uma história qualquer. O que dizem é que eles viram com os próprios olhos dois olhos brancos no meio da escuridão e…

—Bobagem! Isso é mais uma desculpa daqueles filhos da puta para não nos trazerem aqueles tijolos!

—Não seja ignorante! —O segundo cara ralhou —Eles disseram que todas as vezes que tentaram passar um de seus companheiros atacavam o outro, como se estivessem possuídos.

—Possuídos ou não, precisamos daqueles tijolos e logo!

A história toda era muito interessante e Heiwas se viu acenando para a cara de horror de Jonnar. "Bem, pelo menos isso é melhor do que ser a garota de recados". O mestre de obras pareceu concordar, pois lhe deu carta branca para ir em direção à estrada ao norte contanto que resolva de vez aquele problema. Eufemismo era dizer que Alattí não parecia muito animado com a perspectiva de caminhar longos quilômetros em uma estrada acidentada, cheio de mato e repleta de vida selvagem, mas Ìlléos estava simplesmente radiante com a possibilidade de encontrar uma boa batalha. Heiwas não podia, realmente, culpá-lo.

—Alguém precisa capinar isso aqui —Riu para o roedor que caminhava de quatro ao seu lado. Ele parecia estar de ainda mais mau humor porque não podia se refugiar na bolsa de couro que sua treinadora carregava, já que o ovo estava ali.

—Ee ee! —A raposa concordou, mergulhando em um arbusto e fazendo a jovem gemer internamente. Depois era ela quem tinha que tirar os espinhos daquele casaco denso e fofo. Pichu se dignou apenas a lhe fitar com um olhar de "a vida é triste e injusta. Acostume-se, otária".

—Não vá muito longe!

Mas, como se isso fosse uma característica comum de seus pokémon, ele desobedeceu e saiu correndo em disparada.

A estrada ao norte seguia de maneira esguia, apenas uma fina trilha por dentro de árvores e vegetação rasteira, subindo e descendo de maneira serpentina. Às vezes, haviam troncos atirados no meio da rota, o que forçava a treinadora a removê-lo --o que era um trabalho lento e esforçado, visto que Alattí tinha que cortá-lo várias vezes com seu Iron Tail enquanto Heiwas os removia manualmente, rolando os pedaços para fora do caminho ou, quando muito pequenos, carregando os no braço. Nessas horas ela refletia como sua Buneary podia ser útil, embora o receio de estressar o bicho ainda mais e esfregar sal em sua ferida a ponto de se tornar agressivo novamente mantivesse esse desejo de ajuda calmo. Heiwas sabia que não podia evitar um confronto por muito tempo, mas ela queria aproveitar o máximo que conseguisse antes disso.

Ela também tinha que lidar com seu Pidgey problemático... E a Caçadora era sua única esperança para isso.

Também havia Nayra, que carregava o livro de registro mais antigos dos Guardiães de Aura.

E, claro, as duas figuras que Heiwas viu na Time Flower… E o cogumelo que Mr. Dyce encontrou tão casualmente, quase como se obra do destino.

Era muitas coisas. Demais para pensar. Estava deixando-a louca.

—Mas tenho certeza que há alguma lógica por trás de tudo. Que Solaceon tem as respostas —Grunhiu pra si mesma depois de abrir caminho novamente. Alattí suava sobre o clima abafado, seu humor piorando à medida que avançavam.

Heiwas tentou animá-lo com um sorriso bobo, entretanto, distraída, acabou pisando em algo macio e comprido, que parecia um galho, apesar de não quebrar como um. O galho macio sibilou e rosnou e quase derrubou a pesquisadora quando se arrastou de debaixo de seu tênis.

A menina quase tomba para trás quando o chão se move sobre seus pés e uma enorme cobra amarronzada emerge da areia, sua calda fina agitando-se no ar com irritação. Na verdade, o bicho todo parece estar com raiva enquanto mostra presas finas e brancas e se ergue em toda a sua altura —nada menos de dois metros tingidos de branco e um padrão que só pode ser descrito como “roupa de soldado”, olhos verdes radioativos brilhando com malícia. Fascinada e tensa, Heiwas não perde tempo em retirar sua pokédex e apontar para a criatura:

Silicobra.Enquanto cava, ele engole areia e a armazena em sua bolsa no pescoço. A bolsa pode conter mais de 17 libras de areia.

A paciência da Silicobra se acaba e em um piscar de olhos o bicho salta sobre a garota, a boca aberta e as presas preparadas para abocanhá-la. Ela deve ser apenas uns cinquenta centímetros maior que ela, mas ali, olhando-a, a impressão é que ela seja muito maior. Que iria doer muito mais. “Ferrou!”

Heiwas surta internamente e levanta as mãos para proteger o rosto e é, nesse exato momento, que Eevee resolve enlouquecer e saltar na maldita cobra. Suas patas pousam primeiro, pressionando o focinho pra baixo e fazendo o se fechar com a força do empuxo do corpo. Ìlléos literalmente mergulha contra ele com Covet e quase enterra a cabeça dela no chão, entretanto, a cobra se recupera e balança a enorme cauda contra a raposa, esmagando-a ainda no ar com Brutal Swing.

Eevee grita enquanto é chicoteado contra o chão e desaparece em um arbusto qualquer, Heiwas a todo o momento gritando seu nome em desespero.

Round 1:

Com a adrenalina cantando em suas veias e sabendo que a eletricidade de Alattí talvez não fizesse muito, Minkah pega sua pokébola e a joga com confiança no ar. A esfera estala e se abre, projetando uma ave de longas asas e penas cumpridas e desgrenhadas. Ele guincha com raiva, encarando com desdém o oponente e bufando de raiva por ter sido incomodado.

O réptil, apesar de muito maior e ser, aparentemente, um predador natural de pássaros —coisa que o cérebro assustado da garota não pensou antes de mandar Pidgey para batalha —; se encolhe, literalmente, sob o olhar torturador da ave, sentindo que o pokémon podia ser muito mais perigoso do que é. Ficando dezenas de vezes menor com Minimize, Silicobra se agita, sua figura diminuta nunca deixando os olhos sair do pássaro.

Anttochí aproveita este momento para dar alguns passos na direção de onde seu pokémon sumiu, no entanto, para alívio de seu velho coração, a criatura reaparece dos matos com uma expressão determinada.

Round 2:

—Gust, agora!

Pidgey continuou esvoaçando em seu lugar, parado, como se não a tivesse escutado —o que era meio estranho já que, naquele momento, ela estava gritando com desespero. Em recompensa a isso, o pokémon serpentino apenas abriu a sua boca e usou a areia armazenada em seu pescoço para sobrar uma rajada de poeira em direção ao pássaro. O tipo voador piscou e pousou para esfregar os com as asas, ficando cada vez mais irritado com os grãos intrometidos.

Round 3:

Suspirando de decepção e temendo que a cobra pudesse arrebatá-lo com uma única mordida, a treinadora retornou seu pokémon e deixou-se pensar. No momento sua assustadora Buneary era a melhor opção, mas… ela tinha medo que a cobra não viveria mais um dia depois que ela terminasse com ela. Enquanto pensava Ìlléos tinha se colocado furtivamente na frente da serpente, o pelo desgrenhado e cheio de folhas ereto e as presas a amostra.

Ele correu pra frente, contudo a Silicobra o encontrou no meio, sua cauda enrolando-se à sua volta e prendendo-o em um abraço de morte.

Round 4:

—Inferno, Ìlléos! —Ela esbraveja, agitando-se e preparada para saltar na cobra para arrancá-lo à força dali —Contra ataque!

A raposa rosna e bate suas patas como se estivesse em pânico, porém, quando o predador se aproxima, ela golpeia suas patas duramente no rosto, forçando-o para baixo ao mesmo tempo em que tenta mordê-la. O movimento é estranho, já que o pokémon está amarrado pela cauda da cobra; cauda essa que se aperta ainda mais depois do ataque.

Round 5:

As coisas parecem ser um loop. Em determinado momento a coisinha raivosa que é o tipo normal consegue escapar, deslizando do aperto e investindo contra a serpente com outro Covet. Heiwas comemora por exatos 0,1 segundos antes da cauda da Silicobra voltar a se enrolar.

Round 6:

—O que é… —Minkah pisca para a visão trêmula e impaciente do oponente. Parece que sua resistência estava se minando e a força colocada para conter a energia furiosa de seu pokémon era muito desgastante para alguém acostumado a se esconder —Você consegue, meu Dom. Dê-lhe o mais forte Quick Attack que você conseguir!

Motivado, ele saltou do abraço da morte e mergulhou com uma cabeçada contra a cabeça enorme da Silicobra, que desmaiou, caindo mole no chão como se fosse uma marionete com as cordas cortadas.

Round 7:

—Eu não sou doida de deixar você por aqui.

Concluiu, após refletir que um pokémon daquele tamanho e tipo não se encaixaria ao viver tão perto da cidade. As pessoas não saberiam como tratá-lo e poderia ser perigoso para os dois lados. Então, depois de parabenizar seu amigo, ela atirou uma pokébola e esperou a assistiu a esfera sugar e capturar rapidamente o pokémon desmaiado.

Depois de toda a provação a pesquisadora seguiu caminho. O sol ia baixando e seu ânimo ia caindo com ele conforme andava. Com um companheiro desgastado no braço e outro preocupado e vendo que talvez não houvesse nada a temer, a jovem desistiu de persistir e já ia dando meia volta quando um par de olhos cintilantes a fitou na escuridão.

Eram afiados e brancos e vagamente familiares. Quase hipnóticos. Quanto mais a jovem olhava para eles, mais ela sentia sua visão turvar e sua mente começar a se arrastar... Então, à semelhança de uma pessoa que acorda de um pesadelo, a garota despertou com a lembrança de um movimento muito comum entre os treinadores.

Sem hesitação, ela ergueu o braço pra frente e ordenou:

—Ìlléos, Protect!

A barreira cintilante e colorida subiu facilmente, pairando entre eles e o dono daquele par de olhos interessantes. O efeito foi cortado na hora e aqueles orbes brancos escureceram e se transformaram em poços de vazios opacos e enegrecidos, mortos para vida. Heiwas se arrepiou e cambaleou para trás conforme o Confuse Ray se dissipava e um cervo filhote, de pelagem arroxeada e flor murcha da mesma cor no topo de sua cabeça, avançava com passos trêmulos e inconstantes, como se não pisasse no chão, mas também como se não flutuasse.

Minkah nunca tinha visto algo assim. "Bem, pelo menos isso explica o que os trabalhadores disseram. Confuse Ray estava fazendo eles se atacarem"

Round 8:

—Quem é você? —Perguntou, insegura do que fazer. Alattí deu alguns passos à frente, faiscando e murmurando protetoramente e Anttochí se adiantou para içar o Eevee em seus braços novamente.

O Deerling medonho gritou, apoiando-se pesadamente na parte da traseira antes de um turbilhão de energia corrupta, roxa e densa emergisse de seu corpo e viesse em direção ao Pichu. O roedor é atingido em cheio e ele grita, trôpego, sua dor alimentando e animando o Deerling, fazendo seus status se elevarem.

Round 9:

—Alattí!

Alattí ataca, compreendendo o que tem que fazer. O tipo elétrico se lança para cima com a cauda cintilando em prata, transformando-se em ferro puro. A cauda de ferro desce sobre o filhote do certo, entretanto este salta para o lado no último segundo, as longas pernas chutando o solo e ajudando-a a se posicionar para um novo ataque… —Cuidado![/color]

Pichu ver o momento em que o Deerling investe contra ele, a cabeça abaixada e os olhos fitos em seu pequeno corpinho. Sem muito tempo para reagir e sabendo que, definitivamente, ele seria acertado, Alattí reuniu o máximo de eletricidade que podia reunir em poucos segundos e faiscou, a energia fluindo de seu corpo quando Aurillian Deerling esmagou-o com seu próprio corpo.

Round 9:

—Não desista! —Heiwas apertou Ìlléos contra seu corpo para impedir que ele saltasse de volta na ação —Vamos tentar de novo!

O humor de seu principal parceiro certamente caiu depois de fracassar e ele recuou, um tanto inseguro quanto a possibilidade de falhar novamente. Os gritos de apoio de sua treinadora e amigo mais antigo, porém, o fez querer continuar e ele repetiu o mesmo conjunto de movimentos, dessa vez conseguindo acertar uma cauda de ferro bem nas costas do tipo grass. O pobre Deerling nem conseguiu escapar ou ao menos se mexer, visto que seus músculos travaram, totalmente paralisados pela corrente elétrica invasora.

Round 10:

Logicamente, as coisas não mudam depois disso, exceto pelo pokémon fantasma que fica um pouco mais recuado. Aproximando-se, Alattí tenta ganhar terreno rapidamente, mas Deerling se afasta e escoiceia o chão, atirando areia nos olhos de Pichu. O pequeno esfrega as mãos nos olhos, no entanto isso parece apenas piorar sua situação.

Round 11:

—Mais uma vez! Este é o único ataque que podemos confiar!

Ataque. Acerte. Repita.

Era quase como se estivessem presos no tempo, um limbo sem fim. Pichu ataca e, dessa vez, acerta. Deerling Aurillian recua, mancando em sua pata traseira e agindo apavorado. Ele é feroz e perigoso e Heiwas sabe que aquilo precisa acabar antes que o pokémon machucado resolva parar de respeitar as normas de uma batalha comum e avance em cima dela. Por hora ele está satisfeito em apenas atirar mais areia em seu pobre Pichu, mas ela não sabe até onde isso vai durar.

Round 12:

Ataque. Acerte. Repita.

Heiwas sente suas juntas rangerem quando se inclina, repetindo os mesmos conjuntos de palavras. Seu amigo segue a risca a ordem, confiante e acostumado. Como de praxe —e não por pura sorte, como o rato acreditava —sua cauda de ferro é certeira e golpeia a cabeça do veado com ferocidade.

Em puro instinto, a vítima reage, projetando aquela aura pesada em turbilhão que atira o roedor para o outro, o golpe atingindo-o em cheio quando ele ainda tinha a cauda pousada contra sua cabeça. A dor nubla aqueles olhos mortos e o pokémon sede, caindo das patas traseiras e enrolando-se. No momento apenas o medo e a pura determinação o mantém atacando. Heiwas, sinceramente, não sabia se se admirava ou se se chateava com aquilo.

Round 13:

—Alattí, eu confio em você! Thunder Shock!

Minkah sabia que seu melhor amigo estava por um fio, porém era desse único fio que eles precisavam. Com as bochechas faiscantes e os olhos brilhantes, ele gritou e disparou um raio de pura eletricidade que atravessou o campo em um piscar de olhos, levantando poeira e atingindo o corpo do Aurillian Deerling em cheio.

O pokémon caiu e Heiwas imediatamente atirou uma pokébola, ansiosa para acabar com o problema e manter a passagem segura o suficiente para o abastecimento chegar. Ela ainda precisava descobrir porque aquele pequeno e raro pokémon estava atacando as pessoas.

Isso ia ter que ficar para depois. Agora ela tinha um Centro Pokémon para voltar e quilômetros para percorrer.

Round 14:

registros:

Hapiness escreveu:

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Eevee {10/10} +1 Hapiness

Depois de caminhar por vários e vários quilômetros de volta sob a lua alta, Heiwas estava finalmente próxima do Centro. Ela havia se perdido no meio da caminhada, seguido para o oeste (ou era leste) sem querer e terminado em um lugar que parecia estar preso entre a calmaria e o começo de um apocalipse.

Era uma rota simples, não pavimentada, mas com pedras grandes delimitando o caminho. A grama era alta e a luz das estrelas beijavam suavemente suas folhas e o arame e pedaços de metal atirados aqui e ali. Heiwas parou e colocou Alattí em seu ombro, temendo que pisasse em algo afiado.

Contudo, enquanto se abaixava, um brilho azulado chamou-lhe a atenção. Era o mesmo que na rota anterior, mas dessa vez a planta não estava afundada dentro de uma árvore enorme —, mas jazia pacificamente entre a grama, brilhando ocultamente nas sombras. Sentindo-se como da última vez, como se a aura a chamasse, Heiwas se aproximou e estendeu as mãos, fazendo a coisa se abrir e o ambiente mudar para uma época distante onde a grama não era tão alta e flores estavam plantadas dos dois lados do caminho.

Ela podia ouvir vozes de pessoas e pokémon, gritos de alegria e, quando se virou, ficou deslumbrada com a magnífica construção que se erguia. Enorme, ostentando vários andares, de paredes amareladas e telhado triangular. Era simpática e Minkah podia assistir com fascínio alguns pokémon filhotes brincando em seu quintal, vigiados por um protetor invisível.

Anttochí deu alguns passos para frente, como em transe, e, então, as coisas se desmancharam e o holograma se dissolveu até se tornar um pequeno cristalzinho azulado e o resquício da luz azulada revelar um pequeno doce caído o chão. Com a ilusão terminada e o coração deslumbrado, a pesquisadora resolveu dar continuidade ao fim de sua jornada, almejando com fervor uma cama calorosa no Centro Pokémon. A cama chegou, mas o sono, infelizmente, não…

—Heiwas!!! —Algo agarrou seus ombros finos e chacoalhou-a, fazendo-a despertar abruptamente.

Um de seus punhos subiu para golpear e Eevee saltou sobre o estranho, embora fosse parado logo em seguida por fitas coloridas. A visão turva e obscurecida clareou e a figura esguia e levemente em pânico de Jonnar se acentuou, as listras rosa e azuis destacando-se em seu cabelo negro e seu rosto fino.

—O que diabos?!
—Eu preciso de sua ajuda…
—Você me acordou do nada, então, por que no inferno você tá sussurrando?!

Jonnar apenas se endireitou com uma careta e arrancou seus lençóis antes de gritar: —Rápido, algum dos idiotas vai acabar se machucando!

Ele jogou seu casacão preto e ele só o vestiu por cima de camiseta branca e sua calça de pijama. Não houve tempo nem de calçar suas botas, as chinelas de Pikachu mais que fazendo trabalho de levá-la por ruas de areia estreitas até de volta ao velho dojo, onde um grupo de pessoas se acumulava do lado de fora da dispensa principal.

A construção estava indo bem, algumas paredes já estavam sendo levantadas e pilhas e pilhas de madeira para sustentação estavam empilhadas na lateral. Heiwas não tinha ideia de como ia ficar, mas os boatos que corriam entre os trabalhadores é que seria uma bela construção. Nisso Minkah acreditava. O que ela não acreditava é na quantidade de pessoas receosas olhando para dentro do armazém escuro como se acabassem de ver a morte.

—É a viúva negra —Diziam os trabalhadores entre sussurros assustados —Quem vai matar? Não olhe pra mim, aquele troço tem um veneno mortal…

E os sussurros só aumentavam conforme se aproximavam.

Ao ouvir isso, um sentimento de mal estar penetrou no peito da pesquisadora e ela abriu a força o caminho entre eles, gritando para que saíssem do meio e que ninguém ia matar ninguém. Jonnar a agarrou pelo braço antes que entrasse, mas ela se desvencilhou com um “Não se preocupe” e adentrou o local com passos firmes e um meio pijama balançando na brisa fria da noite.

Quase que imediatamente, dois pares de olhos vermelho sangue a cumprimentam. Heiwas engole, sentindo que acabou de ser vista por um monstro de filme de terror, um predador implacável, mesmo que os olhinhos sejam minúsculos. A criatura chia e rasteja para frente, pequenas garrinhas peludas sendo iluminadas pela luz lunar projetada de trás de Minkah, onde a única porta do lugar jazia.

Por algum motivo inexplicável sua mão alcança a pokébola de Pidgey. Ela sabe que não pode contar com ele, que não tem confiança nele, mas também sabe que não pode simplesmente ignorá-lo. Talvez ele a escute agora. “Eu nunca vou saber se não tentar”.

—Pidgey, por favor! —Então, ela tentou, optando por uma fala mais mansa para persuadir a ave. Não pareceu adiantar muito —Gust!

A criatura simplesmente a ignorou, dessa vez não perdendo tempo em lhe dar uma resposta. Até parecia que não tinha a ouvido e, quando a Joltik negra —estranha e misteriosa Joltik, Minkah percebeu ao ver a aranha sair de seu esconderijo escuro, de coloração negra e escarlate —disparou um raio vermelho que acertou em cheio o peito emplumado do pássaro, ele nem mesmo emitiu algum ruído. Era quase como se nem o inimigo nem a sua tutora valessem a pena.

“Caramba, que idiota!!!”

—Você vai se matar assim!

Round 1:

Não adiantou e Eevee teve que entrar no lugar dele para evitar uma possível morte por envenenamento…

A teia veio assim que a raposa entrou, as linhas brancas e grudentas prendendo as patas da raposa mesmo depois que ela saltou para trás na vã tentativa de escapar. O negócio grudou, prendendo-o no chão e o Eevee gritou de frustração.

Round 2:

—Não a deixe te morder! —Gritou, lembrando-se dos sussurros dos trabalhadores.

A pesquisadora podia muito bem estar gritando para as inúmeras caixas e materiais de construção enfiados naquele armazém improvisado, já que a primeira coisa que aconteceu naquele combate foi o encontro das pequenas presas pontiagudas e reluzentes da Joltik com a cauda felpuda do raposo.

—Só fez eu falar! —Ela colocou as mãos nos olhos em frustração, Alattí murmurando ao seu lado —Covet!

Ìlléos irritou-se com a aranha e sacudiu o rabo com tanta força que lançou o inseto longe. Seu pelo se arrepiou e um rosnado feroz escapou de seus lábios antes que ele saltasse sobre a outra criatura, acertando-a com as patas e esmagando-a no chão com todo o peso do seu corpo.

Round 3:

Com as almofadas das patas um pouco ainda grudentas, Ìlléos tentou se mover para longe da aranha venenosa, mas seu recuo (não fuga!) foi brutalmente interrompido pelas garras peluda e envolvida em uma energia rubra nefasta que o golpeou com malícia. O impacto foi forte, mirada no bem no rosto do canino, e Eevee gritou alto, cambaleando de dor.

—Ìlléos! —Heiwas o chamou com alarme, entretanto tudo que seu pokémon fez foi responder com um balançar de cabeça frenético.

Reorganizando seus membros, ele correu em direção à aranha e investiu, imitando seus movimentos anteriores.

Round 4:

—Você está bem?

—Eeee!

—Está bem, vamos acabar com isso! Quick Attack!

Eevee disparou em direção à viúva negra e acertou-a bem em cheio, sua figura piscando de um lado para o outro com a velocidade impressionante de seus passos. Ele se joga contra a aranha com toda a força e, esta, é lançada contra um caixote de madeira.

Round 5:

Sem pensar muito, Heiwas repete a ação que tem se tornado muito comum para ela naquele momento: a pokébola vazia escapa de sua mão e acerta a pequena coisinha com um barulho seco. Ela se abre e suga sem muitos problemas o inseto para dentro. —Este não é seu lugar.

Joltik não pareceu ter a mesma opinião quando eclodiu da esfera em uma explosão de luz prateada. Ela não perdeu tempo e, com um chiado agressivo, se lançou sobre Eevee, abocanhando sua cabeça com suas presas miseráveis. Eevee contra atacou quase que imediatamente, balançando a cabeça —com o inseto —contra a madeira de um caixote próximo e esmagando-a. Depois que ele se afastou, ofegante, a pesquisadora não perdeu tempo para atirar outra de suas pokébolas, dessa vez capturando-a efetivamente.

Round 6:

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {05/10}
Eevee {05/10}

Mesmo depois de ser forçada fisicamente a descansar a manhã toda no Centro Pokémon, Jonnar vindo visitá-la repetidamente com mensagens e presentes de gratidão dos trabalhadores —e de suas famílias e conhecidos da região —e o Mr. Dyce esforçando-se pra remunerá-la pelo acidente —e não, ela não queria aquela CARTELA DE BINGO que ele estava jogando em suas mãos! Pelo amor, eu já sou paga pra isso! —; Heiwas não dormiu muito.

Nem comeu.

Ou fez qualquer coisa que lembrasse o descanso em geral.

Como ela podia quando sua check list imaginária só crescia e crescia de maneira viciosa. Sua Haunted Buneary ainda estava trancada desde o último acontecimento (mesmo que Minkah estivesse disposta a tentar e houvesse prometido lhe dar outra chance) e a pesquisadora mal sabia por onde começar com ela. Seu Pidgey estava tão arrogante e teimoso quanto antes e a pessoa que podia ajudá-la com isso, que estava naquela cidade, era alguém chamado de Caçadora. Um apelido legal, embora muito comum e pouco revelado —Ela só não era mais difícil de encontrar do que Nayra que, apesar de saber que também estaria ali, a jovem não teve nenhuma informação da policial quando perguntou por aí. Some isso a uma cobra enorme fora de habitat, um cervo fantasma estranho e ferido e uma aranha venenosa raramente encontrada em lugares muito populosos (sem contar dos cogumelos que continuavam aparecendo de alguma forma e por algum motivo) e você terá uma Heiwas pronta para arrancar o visor do PC e atirá-lo pela janela do Centro.

—Se pelo menos Apollo me respondesse.

Cansada de enlouquecer sobre o leite derramado, a pesquisadora reuniu sua energia e saiu pela porta, pronta para trabalhar mais uma tarde naquela construção infernal. Ela detestava o barulho e os gritos que vinham com as construções e como tudo era alto e bagunçado, alguém sempre fazendo ou exigindo que algo seja feito, no entanto, para o crédito deles, a coisa estava ficando bonita. Em apenas três dias estavam prestes a terminar, o telhado sendo forrado e os últimos detalhes sendo revisados.

Heiwas estava ansiosa para ver o resultado. Ela imaginou que a essa hora todas as peças estariam encaixadas e toda a imagem faria sentido.

Ao invés disso o que a cumprimentou foi o absoluto caos.

Havia pessoas gritando enquanto seguravam ou evitavam que algum equipamento relativamente caro ou material despencasse. Outros corriam para se reunir em um circulo ou afugentar seja lá o que fosse que se lançava contra eles com raiva. Minkah amaldiçoou sua sorte e correu pra lá, não vendo Jonnar em lugar nenhum e se preocupando por isso.

—O que tá acontecendo?

—Um Skiddo acabou preso aqui e está muito nervoso. Tentamos afugentá-lo, mas isso só o deixou com mais raiva —Um deles respondeu. Era atarracado como o resto deles: uma figura masculina clichê. No entanto, havia gentileza em seus olhos —Está causando um caos e se isso continuar pode derrubar as vigas que acabamos de colocar.

—É só um Skiddo.

—Não. É um Skiddo furioso.

Minkah avançou para olhar mais de perto, Alattí e Ìlléos a flanqueando. Seus olhos captaram um flash de verde que se acentuou em camadas de folhas, como as de um arbusto, de onde uma cabeça de cabra se projetava. Longos chifres pretos tentavam apunhalar as pessoas que ameaçavam se aproximar e pernas finas e fortes o faziam saltar por cima de sacos de cimentos e pilhas de madeira.

Antocchí apontou a pokédex para registro futuro e abraçou seu novo papel de controladora de danos. Essa era a terceira vez que admita para si mesmo que não era esse tipo de treinadora, que não nasceu pra lutar, no entanto aqui estava ela: prestes a encarar um bode de grama.

—Às vezes temos que fazer o que temos que fazer —Disse, entrando na zona de perigo —Ìlléos?

Ela não precisou pedir de novo. Como um torpedo, Ìlléos mergulhou contra a cabra, pousando em cima de suas costas e empurrando-a contra o solo. Ele rugiu de dor e cipós de vinha emergiram das folhas de sua pelagem, amarrando as patas do Eevee e atirando-o longe com força.

Round 1:

Eevee girou no ar para posicionar seu corpo para um pouso mais fácil. Suas patas traseiras tocaram primeiro o chão e ele teve que rolar para direita para ganhar equilíbrio o suficiente. Tudo isso, entretanto, se passou em questão de segundos e, tão rápido quanto aconteceu, a figura do raposo disparou novamente contra o cabrito.

—Covet!

Ele saltou mais uma vez no tipo grass, acertando-o na lateral com força. Apesar disso, Skiddo não se assustou e continuou firme, uma cúpula esverdeada de pura energia cintilando ligeiramente antes de explodir em um brilho incandescente.

Round 2:

De repente, um flash de prata iluminou a visão de Minkah e um pássaro se materializou na frente de onde o Eevee estava, suas longas asas batendo com agitação enquanto emitia um zumbido de desagrado. Seus olhos negros julgaram a pesquisadora, olhando-a com tanta firmeza e fúria que até parecia que Heiwas houvesse insultado sua mãe. Na verdade, ela sentia como se o tivesse insultado.

Ao mesmo tempo em que essa situação constrangedora acontecia, todo mundo ao seu redor sussurrando sobre o ocorrido como se estivessem testemunhando a reviravolta em um filme de drama, Skiddo se aproveitava para disparar uma pequena semente esverdeada que, ao atingir o peito de Pidgey, abriu-se em várias raízes que amarram e envolveram todo o corpo emplumado em um abraço sanguessuga.

Round 3:

—Você queria lutar? —Heiwas murmurou, confusa. Mas, talvez ele finalmente esteja se aquecendo a ela, afinal, dessa vez, ele optou por sair. Animada, Minkah implorou para que Eevee recuasse e desse lugar para o pássaro, sorrindo amavelmente quando ele o fez —Certo, então, Pidgey, use Gust!

Pidgey apenas levantou o bico e a ignorou, fingindo que não a ouvia. Ele parecia com raiva por algum motivo e seu desdém era tanto que irritou Alattí, fazendo o Pichu faiscar em advertência. Em contrapartida, Skiddo só se aproveitou para aumentar ainda mais seus status de ataque e especial ataque com Growth, sua pele de grama cintilando lindamente na luz solar.

Round 3:

—Por que você vai entrar se nem ao menos me escuta?! —Repreendeu, frustrada. Pidgey não pareceu gostar muito do tom, pois esvoaçou, debatendo-se em suas amarras e esbravejando com raiva. Heiwas não se encolheu de medo ou recuou, franzindo a testa e fitando com a mesma ferocidade de volta. "Eu não entendo. O que há de errado com ele? Comigo?!" —Eu sei que não sou a melhor pessoa a se estar preso, mas estou tentando, okay? Todos nós estamos —Gesticulou para os seus outros dois pokémon, ação essa que pareceu irritar ainda mais o pássaro —E tudo que você faz é ficar de mau humor e me ignorar, seu maldito pássaro orgulhoso!

Um mar de silêncio se instalou após aquela explosão, no entanto Heiwas não se sentiu nenhum pouco culpada com isso. Ela queria chegar em Pidgey, queria estar em sintonia com ele, mas não podia fazer isso até que ele a deixasse entrar… Entretanto, uma parte dela, mais velha e amarga; sussurrou que isso era como lá em Pallet, onde sua Buneary fugia por uma tempestade de neve mortal e Heiwas ficava para trás com pesar e culpa.

Então, a careta de Pidgey se aprofundou e ele avançou contra ela com fúria. Heiwas foi rápido em retorná-lo antes que pudesse atingi-lo, porém a frustração só cresceu, alimentada por um medo doentio. Ele ia atacá-la?

À medida que seus pensamentos entravam em uma espiral, um chicote de vinha desceu sobre o Eevee, golpeando com tanta força que deixou uma marca na lateral de seu rosto.

Round 4:

—Ìlléos…

Como na última vez, Ìlléos não precisava ouvir mais do que os sussurros quebrados de sua treinadora para saber o que fazer. A jovem parecia estar estática, presa em sua mente, e isso apenas impulsionou o pokémon para frente. Como uma flecha, ele disparou contra o Skiddo, derrubando-o e jogando-o para trás com a força de seu corpo.

Round 5:

A batalha se encerrou e Heiwas rapidamente engoliu todas as suas emoções, mesmo que essas fossem dolorosamente visíveis, para fazer a realocação do pokémon junto com os construtores. Mesmo durante e depois disso, o seu Pidgey nunca saiu de sua mente.

Ela precisava de ajuda e precisava rápido.

registros:

Hapiness escreveu:

Alattí {10/10} +1 Hapiness
Eevee {10/10} +1 Hapiness

Heiwas não aparece para a inauguração do dojo, que se dá dois dias depois de sua discussão pública com Pidgey. Ela não se sente mal pela vergonha que passou, mas sua cabeça está confusa e ninguém naquela cidade abandonada por Arceus parece conhecer uma "Caçadora" que não seja algum visitante capturador ocasional. É um caminho perdido, Minkah tem que engolir a frustração e aceitar que perdeu.

Ela precisa resolver isso sozinha.

Pelo menos é o que diz quando Jonnar aparece com uma careta de preocupação e seu jantar nas mãos. É o que ela sussurra quando Mr. Dyce a agradece pelo apoio e pergunta se pode a ajudar com algo. Ela agradece aos dois, o coração comovido pelo ato, e eles se sentam em momentos distintos para conversas curtas e desajeitadas. A pesquisadora se sente um pouco melhor, sua mente distraindo-se com seus outros problemas, e ela ganha força o suficiente para sair de seu quarto abafado do Centro Pokémon e dar uma volta por aí.

É durante uma dessas caminhadas reflexivas que Minkah se depara com uma cena curiosa.

Há uma mulher, de cabelos negros e longos e pele morena, ornada com um vestido vermelho cheio de babados e uma linda flor na cabeça. Ela gira e gira, fazendo a bainha da roupa rodar e esvoaçar; o pássaro vermelho ao seu lado erguendo suas lindas asas com espirais negras. Minkah não o reconhece e se ver tirando a pokédex com olhos hipnotizados, tão encantada pela dançarina quanto às crianças ao seu redor que tentam copiar seus movimentos.

Tardiamente, depois que Eevee chilreia aos seus pés e Alattí se mexe em seus braços, Minkah percebe que não é a única a observar. Olhos castanhos serenos a fita de volta com curiosidade e, mesmo que a dama de vestido florido mova-se de um lado para o outro, eles nunca a deixam. Assim, Minkah espera com a respiração suspensa aquele show acabar enquanto relaxa os ombros e tenta não ficar nervosa pelo julgamento silencioso da dançarina.

Não demora muito para que a mulher encerre o ato com batidas de palmas ritmadas e arrebanhe as crianças, instigando-as a repetirem os movimentos que Oricorio está começando a fazer. Anttochí toma isso como permissão para se aproximar, uma de suas mãos acenando rapidamente ao mesmo tempo em que exclama um "Isso foi demais!" e "Você é incrível!". Alattí só pode se contorcer de vergonha alheia.

A treinadora do Oricorio sorrir amigavelmente antes de apertar sua mão.

—Obrigada, você é muito gentil.

—Não é gentileza, é a verdade! —Heiwas acena com sabedoria, sua curiosidade aumentando ainda mais conforme observava a pequena ave lidar com os pequenos —Isto é um Oricorio? Nunca havia visto.

—Isso mesmo, é uma ave típica de Alola. Bem, era, antes daquilo…

A palavra Alola soa muito estranha para Heiwas, como se fosse algo tirado de um sonho louco. Minkah já havia tido essa mesma sensação quando havia se apossado de um livro de história e coisas como Hoenn, a mãe dos contests, e Sinnoh faziam sua cabeça doer de confusão. Por este motivo —e por causa da preocupação afundada em sua mente tal qual uma pedra no mar —ela ignorou o desconforto e se concentrou em algo mais interessante.

—Daquilo? O que seria "Daquilo"?

—A Grande Destruição —Uma tristeza se apoderou de seu olhar quando os orbes negros dançaram, à sua volta, avistando as crianças que, obedientemente, tentavam copiar o pequeno pássaro vermelho —Muitos veem seu resultado, mas pouco se lembram dele —Se possível, isso desperta ainda mais o interesse da pesquisadora —O que você faz aqui? Pensei que já teria partido a essa hora.

—Como você me conhece?

—Seu nome está ficando curiosamente famoso por aqui depois do dojo, mas a verdade é que eu a vi quando você enfrentou a viúva negra.

—Oh, aquilo? Aquilo não foi nada. Qualquer um podia ter feito —Heiwas corou, as mãos puxando nervosamente a bainha do casaco verde.

—Qualquer um podia ter feito, mas ninguém queria. Você tem coragem.

—Alguns chamam de imprudência —Ela riu, arrancando um sorriso completo da mulher —Eu meio que tendo a cair de cabeça nas coisas. É um dom e uma maldição.

—Você faz as coisas com o coração. Ou fazia…—Ela virou-se e caminhou lentamente para longe, suas palavras calmantes pairando no ar —Você tem muito medo e frustração presa e isso limita o que pode fazer...

—E como você sabe?! Você não sou eu —Murmurou, franzindo a testa enquanto cruzava os braços —Eu estou bem. Posso resolver isso só. Pidgey só precisa de um pouco de disciplina, só isso.

—Disciplina não é a única coisa que as crianças precisam. Não é, Oricorio? —O pokémon grunhiu algo enquanto batia as asas e insistia que as crianças fossem se sentar —Eu estou ensinando tudo que sei às crianças enquanto a escola não é terminada. Hoje nós iremos falar sobre pokémon e treinadores.

Minkah não pode deixar de se entender o que estava acontecendo: Solaceon estava destruída e claro que as crianças não tinham o mínimo de educação básica que mereciam. Ela não poderia recusar uma simples batalha. Nem mesmo se quisesse.

Seus problemas vão ter que esperar.

De novo.

—Okay, Alattí, essa é sua!
—Oricorio?

Ambos não precisaram de um segundo chamado para se apresentarem. As crianças soaram um ohhhh em uníssono quando o roedor faiscou, eletricidade pesando o ar. O pássaro vermelho e preto valsou até ficar de frente para ele, cabeça erguida e olhos semicerrados.

—Ember!
—Defenda-se!

A barreira de luz subiu muito tarde, as brasas que a pomba produzia ao dançar, as asas levantando-se e o corpo girando a semelhança dos movimentos feitos no flamenco. No entanto, uma vez que a parede de vidro foi erguida ela permaneceria ali por alguns rounds. Era um investimento a longo prazo.

—Vamos ver se sua parede aguenta isso. Oricorio, Incinerate!

Com um balançar de asas, essas se abrindo e fechando até que uma esfera do tamanho de uma bola de boliche e feita de energia pura surgisse entre elas. Levantando uma de suas perninhas, ela endireitou o corpo perfeitamente antes de rodopiar e atirar a esfera no Pichu. Esta perdeu força conforme atravessava a parede de luz e explodia contra o peito do ratinho. —Contra ataque com Thunder Shock!

Ele nem ao menos perdeu tempo ao lamentar suas novas queimaduras. Um raio amarelo disparou de seu pequeno corpo e acertou o outro em cheio. A luz era tanta que as crianças taparam os olhos por instinto.

Round 1:

—Vejam, meninos, como ela não hesitou em atacar mesmo sofrendo dano —Explicou, acenando para o modo que Pichu se portava —Ela sabia que ele superaria aquilo facilmente. Assim como nós! Peck!

—Thunder Shock!

O pássaro alçou voo e mergulhou contra o tipo elétrico com seu bico afiado. Acertou-o bem no meio da testa, derrubando-o antes dele tentar se afastar, contudo o Pichu, mesmo caído, estava atirando mais um relâmpago no pássaro em retirada.

—Prestem atenção, um companheiro fiel cumprirá até as ordens mais absurdas, como usar um Peck num tipo elétrico —Ela acenou para o tipo voador que se esforçava no ar —Um bom treinador nunca deve se aproveitar disso, mesmo que tivéssemos uma dificuldade como o Light Screen…

—Então você deveria ouvir seus próprios conselhos! Alattí, Dispare!
—Incinerate!

O pokémon rato se eriçou, ficando de pé com um olhar determinado. Oricorio fez aquele estranho conjunto de movimentos e, previsivelmente, mesmo na hora em que um trovão projetou-se do corpinho dele; a esfera de puro fogo condensado foi disparada contra ele.

Ambos os ataques colidiram ao mesmo tempo, produzindo uma cortina de areia que subiu e rapidamente encobriu todo o campo em um véu sombrio. Quando esse véu se desfez, apenas um deles permanecia de pé. Heiwas não tinha dúvida que era Alattí.

Round 2:

—Viram? Em uma batalha, qualquer decisão pode ser final —Ela falava isso com uma serenidade que fez Minkah franzir a testa. “Ela estava perdendo, então por que não se irritar?” —Para o meu próximo eu mandarei você!

A pokébola se abriu e outro daqueles pombos se materializaram, dessa vez um rosa, vestido com uma espécie de cocar e saia branca. Suas asas estavam estendidas à sua frente como se estivesse prestes a dançar a ula e seus olhos estavam caídos, sonolentos, entediados. Heiwas, percebendo os pés trêmulos de Pichu, resolveu trocá-lo por Ìlléos que já estava fervendo de empolgação. Foi arriscado, visto que sacrificou sua vantagem e uma rodada de Light Screen.

“Talvez essa seja a burrice que a dançarina chamou de coragem”

—Psybeam!
—Vamos de Covet!

O raio colorido e cintilante cortou o campo em um flash, golpeando o Eevee que apenas continuou sua investida, superando o brilho púrpuro residual e golpeando o pássaro com suas patinhas dianteiras. Ele rosnou, a gola levantando-se e cauda inchando com raiva.

Round 3:

—Ìlléos, para cima dele! —Heiwas apelou para o ataque com um movimento de mão urgente. A barreira de luz se desfazia, deixando o Eevee vulnerável. —Covet!

—Não se afobe. Ataque com Confusion.

Heiwas não sabe por que ela advertiu a criatura sonolenta, visto que já parecia bem calma —calma demais para o gosto da pesquisadora. Uma bola amarela surgiu entre as penas das asas e, sem nenhuma hesitação, foi jogada na figura em movimento do raposo. Eevee, com seu ataque já decorado, apenas balançou a cabeça para dissipar a confusão causada pela luz amarelada e avançou para golpear o peito da pomba com suas patas. Eles caíram em uma confusão de membros, rolando pela areia.

Percebendo que aquela poderia ser sua oportunidade, Minkah fechou uma das mãos em punho apertado e socou o ar enquanto gritava "Quick Attack!” para o seu parceiro. O canino afastou-se só o suficiente para conseguir velocidade para sua investida, sua figura piscando de um lado e do outro em um flash singelo de branco. O impacto foi tamanho que o pokémon emitiu um som de dor horrível antes de desmaiar, seu corpo deslizando pela areia batida até parar aos pés da mulher estranha.

Round 4:

Heiwas está sorrindo amplamente durante todo o processo de troca. Seu sangue ruge em suas veias e os olhos estão dilatados, pensamentos e estratégias sufocando todo o resto. O sentimento estranho que vinha toda vez que pensava sobre sua relação com Pidgey ou o perigo que sua Buneary guardava simplesmente desaparece quando assiste seu Eevee saltar na direção do novo pokémon com mais um Covet bem calculado.

—Você está finalmente se soltando —Comentou com humor, o vestido florido balançando conforme se agitava —Observem bem meus pequeninos, pois o jogo ainda não terminou. Thunder Shock!

A raposa se lança mais uma vez como uma flecha. O Oricorio amarelo com pom poms é, entretanto, mais rápido, disparando um raio de eletricidade tão forte quanto o que o Pichu havia disparado. Este é o segundo oponente do filhote e as feridas e arranhões que colecionou do último combate deveriam, no mínimo, desacelerá-lo.

Isso não acontece. Pelo contrário, o pequeno raposo apenas rosna um rosnado vicioso e se endireita, quebrando a eletricidade. Ele salta e pousa com força no peito do outro, suas patas esmagando-o no solo abaixo.

Round 5:

—Acabe com isso!

Imitando a estratégia anterior, Eevee parte para um ataque rápido. Um segundo ele está parado na frente de Heiwas e, no minuto seguinte, sua cabeça encontra o peito emplumado de Oricorio. Como aquela que veio antes dele, esse também não se mexe mais até que sua treinadora o retorna para dentro da pokébola com um sorriso tenso.

Round 6:

Talvez fosse a emoção de estar vencendo ou a sensação de leveza que a tomou —ou talvez fosse as palavras gentis daquela cigana que finalmente estavam fazendo sentido. "Você sempre fez tudo com o coração. Então, por que mudou?". Seja lá o que fosse, Minkah se encontra tirando seu amigo mais animado da batalha e fazendo algo que tem feito repetidamente nesses ultimo mês.

Pidgey entra na batalha ao mesmo tempo em que o quarto Oricorio é colocado, as penas marrons, bagunçadas e longas do Pidgey contrastando perfeitamente com o roxo bem alinhado de seu adversário, que se curvava respeitosamente antes de balançar as pontas das asas como se fossem dois leques.

—Vamos fazer direito dessa vez! Gust!

Pidgey nem sequer olhou para ela, rindo maniacamente para si mesmo enquanto esvoaçava pelo campo. A risada trouxe um arrepio para Heiwas e sua equipe e ela mordeu o lábio, assistindo o Sensu atacar como o Oricorio anterior, seu bico atingindo o espaço entre o ombro e as asas da outra ave, arrancando guinchos de dor dele. Ela não aguentou mais ver aquilo e rapidamente o tirou de campo.

Round 7:

Heiwas trinca os dentes e engole o aborrecimento. Ela comete um erro, mas não para por aí. Buneary está fora na sua próxima respiração ofegante e os olhos assombrados de todos registram-na com espanto. É tarde demais para voltar atrás, então Anttochí tenta demonstrar o máximo de confiança.

—Vai dar certo —Sussurra, tentando se acalmar.
—Ominous Wind!

O vento sombrio, projetado como argolas de um roxo sombreado, sopra contra a pele de tecido de Buneary, empurrando-a ligeiramente para trás, mas, além desse pequeno deslocamento, nada aconteceu. Isso pareceu assustar ainda mais os pequenos seres humanos e o medo deles trouxe um mal estar, tanto para o pokémon quanto para seu treinador.

—Okay, Shadow Punch!
—Peck!

Plush Buneary era o primeiro e único pokémon da menina a ser mais rápido que o quarteto de pássaros, seu punho sendo engolfado por um conjunto de sombras arroxeadas e negras. O coelho correu determinado contra o adversário, golpeando com tanta força que o bicho foi atirado longe. O corpo embolou e um barulho seco pairou no ar quando atingiu o solo. No entanto, para o crédito e o orgulho do público, o herói emplumado se esforçou para levantar e atacar com mais um Peck, o bico quase arrancando o olho de botão.

Round 8:

Heiwas nem precisou falar nada para que Buneary fizesse sua sombra se projetar e descolar do chão em um conjunto de garras negras impressionantes. Nem uma única palavra saiu de seus lábios depois que as ditas garras arranharam o rosto do Oricorio com ferocidade, fazendo-o recuar alguns passos e contra atacar com mais uma bicada. No segundo ataque ele não teve tanta sorte, as garras desceram na horizontal e cortaram seu peito, fazendo-o desmaiar instantaneamente.

Round 9:

Minkah parou meio sem graça com um final anticlimático, mas a adulta se aproximou com tranquilidade, parabenizando-a e explicando às crianças que perder ou vencer era parte do processo. Mesmo assim, a garota retornou o pokémon para sua pokébola, sussurrando um agradecimento silencioso para ela.

—Sinto muito, eu acho que assustei as crianças.

—Não se preocupe com isso. Foi um bom aprendizado pra elas —Ela estendeu a mão —Sua fama realmente precede você. Eu sou Melissa.

Não fazia sentido ela se apresentar só agora e, muito menos, que Heiwas sorrisse e suspirasse um tímido: “E eu sou Heiwas” ao apertar a mão dela mesmo sabendo que ela já sabia quem era ela. Mas ali, depois de ter mostrado sua alma e insegurança naquela batalha —depois de entender que aquela batalha era mais para ela que para as crianças —Minkah entendeu.

—Eu vou fazer um show de dança essa noite para a divulgação da nova escola. Apreciaria muito sua ajuda.

E Minkah ajudou, entregando panfletos e organizando as pessoas. Naquela noite ela liberou seu passarinho desobediente e assistiu enquanto Melissa acendia velas com um perfume doce e agradável. Um presente de um viajante misterioso, disse Melissa, ao colocar duas velas perto de Heiwas e seus pokémon. Aquilo parecia abrandar um pouco o coração de Pidgey que, pela primeira vez, permaneceu quieto, assistindo a mulher dançar e dançar com sua trupe. Eevee e Pichu haviam desaparecido, entretanto a pesquisadora não se preocupou sabendo que Alattí manteria Ìlléos perto e salvo.

—Eu não queria ofender você. Fiquei com medo de que não me ouvisse.

Pidgey não respondeu, embora, de alguma forma, Heiwas soubesse que estava ouvindo.

—Eu sei que você não gosta de receber ordens, mas eu gostaria que pudesse me ouvir.

—…

—Não como sua treinadora. Como uma amiga —Ela voltou seus olhos para o fogo tremulante na vela —Me dê uma chance e, se ao final disso, você ainda não quiser eu abrirei mão de você…

Era terrivelmente doloroso dizer isso e ela gostaria de pegar de volta assim que as palavras saíram de seus lábios. Mas era preciso. Ele precisava saber que tinha uma opção.

—Eu só quero que você seja feliz… Mesmo que eu não esteja nessa felicidade…

registros:

Hapiness escreveu:[center] Alattí {05/10}
Eevee {05/10}